sábado, 29 de novembro de 2014

Filha de Prestes critica PT, Bolsa Família e diz que esquerda não consegue representar insatisfação dos brasileiros

Por Paulo Veras


Noventa anos depois do levante que levou ao início da Coluna Prestes, a historiadora Anita Leocádia Prestes, 78 anos, filha do político e guerrilheiro Luis Carlos Prestes com a comunista Olga Benário, critica a política econômica do PT, diz que o Bolsa Família acalma as massas populares e diz que a esquerda brasileira não é capaz de representar as insatisfações existentes no País.
“Acho que a esquerda no Brasil está muito mal, falando francamente. E não consegue liderar esse movimento de insatisfação que existe no País, que ficou bastante patente com as manifestações de junho do ano passado”, afirmou Anita, no Recife, nesta quinta-feira (27), após uma palestra no Colégio Apoio. Ela se desfiliou do PCB em 1979 e desde então não entrou em nenhum partido.
“Houve muita ilusão com o PT. Diga-se de passagem o Prestes nunca teve essa ilusão nem no Lula, nem no PT”, lembra a filha do homem que ficou conhecido como o “cavaleiro da esperança”. “Lula concorreu três vezes à Presidência da República e foi derrotado. Na quarta ele entendeu que para ser vitorioso e conseguir se eleger precisava fazer concessões ao grande capital internacionalizado”, explica.
“A política econômica que foi aplicada nesses governos do Lula, e depois da Dilma, agora nesse último quadriênio é uma continuação da política neoliberal”, critica Anita Prestes, que lembra que o ex-presidente nomeou Henrique Meirelles para comandar o Banco Central após uma viagem aos Estados Unidos.
“E ao mesmo tempo fazer política compensatória que acalme as massas populares e não permitam revoltas e maiores lutas. Então aí vem Bolsa Família e todas essas medidas que são tomadas que acabam sendo positivas, porque é melhor do que nada. Mas de qualquer maneira, acaba sendo uma migalha diante dos grandes lucros dos banqueiros, dos empresários e dos capitalistas das multinacionais”, diz.

DITADURA, ANISTIA E HISTÓRIA – Questionada sobre as manifestações que pedem a volta do Regime Militar no País, a historiadora marxista acredita ser um grupo inexpressivo. “É uma parte bastante restrita, bastante pequena pelo que eu tenho visto; amplamente minoritária”, avalia.
Anita, que teve deixar o Brasil como exilada, ao lado do pai, após o golpe militar de 1964, defende a revisão da Lei da Anistia. “A Comissão da Verdade faz um trabalho de resgate histórico, mas não tem punição”, afirma.
Professora aposentada, a historiadora tem percorrido várias cidades do País para lembrar os 90 anos da Coluna Prestes, cujo primeiro levante ocorreu no dia 28 de outubro de 1924. O movimento durou mais de três anos, percorreu 25 mil quilômetros, enfrentou 53 combates e não enfrentou nenhuma derrota; embora também não tenha conseguido depor o então presidente Artur Bernardes.
“O Nordeste foi importante na marcha da coluna”, reconhece Anita. O movimento passou por Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba e Pernambuco; onde a Coluna passou pelo Vale do Pajeú, no Sertão, até cruzar o Rio São Francisco em direção a Bahia.
Anita Prestes nasceu na prisão feminina do Campo de Concentração de Barnimstrasse, na Alemanha, para onde Olga Benário foi enviada após ajudar Prestes a realizar um levante comunista, em 1935. Anita conviveu 14 meses com a mãe antes de ser entregue à avó brasileira. Olga foi executada na câmara de gás. Luiz Carlos Prestes faleceu em 1990, no Rio de Janeiro, cerca de dez anos depois de retornar ao Brasil após a Anistia.
No Recife, Anita ainda promove palestra nesta sexta-feira (28), às 14h, no Centro de Educação da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). No périplo pelo País, ela já passou por Lagoa dos Gatos e Gravatá, no interior de Pernambuco. Na última semana, também foi a João Pessoa e Campina Grande, na Paraíba, e Maceió, em Alagoas. Na próxima semana, ela irá a Fortaleza, no Ceará.

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