segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

“O futuro pertence ao socialismo”, diz a historiadora Anita Prestes em entrevista à 94FM



A historiadora Anita Leocadia Prestes, 77 anos, esteve em Dourados na última sexta-feira (06), realizando a conferência  de encerramento da Semana de História da UFGD (Universidade Federal da Grande Dourados).

Anita Prestes é presidente do Instituto Luiz Carlos Prestes, professora do Programa de Pós-Graduação em História Comparada (PPGHC) da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) e pesquisadora do CNPQ (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico).
Em entrevista à 94FM, Anita falou que existe muita falsificação e deturpação na história que muitos brasileiros ouviram sobre Luiz Carlos Prestes. A historiadora afirma que as distorções foram geradas pelas classes dominantes, que sempre viram seu pai como um inimigo do grande capital. Ela conta que por muitos anos Prestes foi colocado como um vilão na história do país, já que, segundo ela, a história oficial apenas atende aos interesses de quem está no poder.
Ao divulgar a história real, Anita fala também do legado de Prestes para a sociedade brasileira. Ela conta que apesar de não ter conseguido implantar o socialismo no Brasil, o pai deixou enraizado na consciência nacional o espírito da mobilização social e a necessidade do surgimento de lideranças não corrompidas para guiarem a nação nos trilhos de um futuro melhor.
O fim do capitalismo
A pesquisadora acredita que o capitalismo é um sistema econômico com os dias contados, mas garante que ainda deve durar um bom tempo, porém, quando entrar em colapso definitivo deverá ser substituído pelo socialismo. “A formação econômica capitalista se move por conflitos e contradições que devem se aguçar cada vez mais. E quanto mais desenvolvido o capitalismo maior é a corrupção”, complementou.
A maior mazela do capitalismo, conforme Anita, é o fato de produzir riqueza para alguns poucos, as custas da miséria de muitos. Sendo assim, a crescente e inevitável desigualmente social é que futuramente irá decretar a morte do sistema.
Ela fala ainda que, segundo Fidel Castro, o socialismo não tem receita, não há um manual detalhando perfeitamente como deve ser implantando, por isso, houve tantos erros na tentativa de se criar uma sociedade igualitária. “Mas ao contrário do capitalismo que existe há séculos, o socialismo ainda não completou 100 anos, então ainda tem muito o que amadurecer. Por isso afirmo que o futuro pertence ao socialismo”, explicou.
Sobre o Brasil, ela explica que a corrupção é um grande problema, contudo, não é o maior vilão da economia tupiniquim. “Hoje em dia ninguém mais fala da sangria da economia brasileira, através da remessa de lucros para o exterior das empresas multinacionais imperialistas. No passado, o ex-presidente João Goulart criou uma lei que limitava a evasão de divisas, mas isso infelizmente contribuiu com a sua queda no golpe militar de 1964”, acrescentou.
Cuba
Questionada sobre o evidente declínio do socialismo no mundo desde o fim da União Soviética em 1991, Anita explica que atualmente o ideal da sociedade igualitária ainda sobrevive apenas em Cuba, onde os irmãos Castro lutam contra o sistema para manter o sonho vivo. Sobre a polêmica Coreia do Norte a pesquisadora preferiu não comentar.
Anita é honesta ao relatar que Cuba possui mazelas, a maioria delas geradas por uma série de fatores desfavoráveis à ilha. “Primeiramente devemos lembrar que Cuba é um país pobre, com poucos recursos naturais. Praticamente o único minério encontrado no país é o níquel. Outro problema é a proximidade com os Estados Unidos e o embargo econômico internacional que há 50 anos prejudica a economia cubana”, disse.
Movimentos Sociais
A pesquisadora também comentou os movimentos sociais que agitaram o Brasil em 2013. Conforme Anita, as manifestações somente ocorrem quando há ambiente favorável, ou seja, insatisfação, que no período em questão foi motivada pelas deficiências do transporte público, que carece de melhor qualidade e menor custo.
Anita salientou que o maior problema do movimento foi a descentralização, a falta de liderança e de um projeto bem elaborado e viável para a implantação das mudanças. Ela conta que as ações tiveram legitimidade, mas foram apenas o primeiro passo.
Apesar da desorganização, Anita afirma que os manifestantes obtiveram êxitos, mas poderia ter sido melhor. Conforme a entrevistada, líderes não se criam, eles surgem e, por este motivo, ela acredita que as próximas manifestações serão menos desordenadas.
Para a historiadora, alcançar todas as mudanças desejadas necessita da elaboração de um projeto sério, completo e, principalmente, viável. Para atingir este patamar ela ressalta que a mobilização social deve ser guiada por pessoas que conheçam a realidade brasileira e tenham uma boa base teórica para compreender todas as variáveis e dificuldades da sociedade, tudo com mais racionalização e menos utopia.
Mídias Sociais
Ao falar da participação das mídias sociais nos últimos movimentos, Anita adverte que a ferramenta é uma faca de dois gumes, pois ao menos tempo que serve para difundir de forma rápida as reivindicações, também pode resultar em comodismo, ao gerar manifestantes que não vão às ruas, por acreditaram que apenas postagens na internet possam mudar o mundo
Livros
Anita já escreveu 11 livros sobre a história e o legado de seus pais, o último deles, ‘Luiz Carlos Prestes - O combate por um partido revolucionário (1958-1990)’, foi lançado em Dourados durante o encerramento da semana acadêmica de história na última sexta-feira (06). A autora contou à redação da 94FM, que Dourados é a 32ª cidade a receber o lançamento da obra, distribuída pela editora Expressão Popular.

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