sábado, 2 de abril de 2011

Lágrimas pela morte de um GUERREIRO DO BRASIL!

Para conhecimento e reflexão do artigo publicado no portal “Vermelho”, do PCdoB, a propósito do falecimento do ex-presidente José Alencar, precedido dos comentários de Duarte Pereira e Caio Navarro de Toledo, professor da Unicamp.


DUARTE PEREIRA: Permitam-me acrescentar uma ponderação pessoal. Como aprendemos com Marx e Engels, os processos sociais e seus atores podem ser vistos de maneiras muito diferentes dependendo do ângulo de classe em que o observador se coloca. O artigo publicado no portal do PCdoB está claramente escrito de um ponto de vista nacionalista-burguês e não de um ponto de vista socialista-proletário; do ângulo de uma estratégia desenvolvimentista capitalista e das contradições entre a fração produtiva e a fração financeira do grande capital em torno dessa estratégia e não do ângulo de uma estratégia operário-popular de luta pelo socialismo e de uma tática antiimperialista, antimonopolista e antilatifundiária, que abra caminho para a vitória dessa estratégia.  Outro ponto que merece ser recordado: as personalidades políticas não devem ser julgadas por suas origens de classe, como faz o artigo em determinada passagem, mas por suas posições de classe atuais – ou finais, como no caso do grande empresário monopolista e político conservador José Alencar.


CAIO TOLEDO: Colegas, no portal do PCdoB, a última homenagem a um "guerreiro do Brasil" - de mascate a um dos maiores empresários do continente. Certamente, como aprendemos em todas hagiografias seculares sobre os self-made man, Alencar chegou a ser uma das maiores fortunas do continente graças apenas a seu TRABALHO honrado e honesto, sem qualquer apoio de dinheiro público e transações suspeitas (afinal, todas as denúncias de ilicitudes contra a Coteminas não foram sempre pérfidas "intrigas políticas"?). Enfim, nos "tempos globais", um modelar empresário burguês nacionalista e progressista; um raro e exemplar capitalista em cujas empresas as realidades da exploração do trabalho e da mais-valia jamais existiram. As copiosas e amargas lágrimas de Lula e setores da esquerda não estariam, pois, plenamente justificadas pela morte desta autêntica "VOZ DO POVO" ?


Abaixo o artigo publicado no portal do PC do B:

Alencar, guerreiro do Brasil

O Brasil perdeu nesta tarde um de seus filhos mais ilustres e reverenciados, o ex-vice-presidente da República José Alencar, levado por um câncer ao qual resistiu durante 13 anos e 17 cirurgias que retiraram 20 tumores de seu corpo.Ele nunca se rendeu, e esta talvez tenha sido a característica mais marcante deste personagem que entra para a história armado de amor pelo Brasil.

 
Foi um brasileiro com a cara dos brasileiros: começou a trabalhar cedo, em sua Muriaé, no interior mineiro. Primeiro na loja do pai, quando tinha sete anos de idade; depois, no primeiro emprego, aos 14. Tinha pouco mais de 18 quando abriu sua primeira loja, em Caratinga. E daí até se tornar proprietário de um dos maiores grupos têxteis brasileiros, a Coteminas, foi outro tanto: tinha 35 anos quando participou de sua fundação.

Era um grande empresário, portanto, quando Lula o escolheu como vice na eleição de 2002. Houve resistência, mas o acerto da escolha logo ficou evidente: Alencar era um dirigente empresarial importante e respeitado e um senador (foi eleito pela primeira vez em 1993, com 62 anos de idade!) de enorme prestígio, e, ao mesmo tempo, um militante da causa do Brasil e de seu povo. Foi uma espécie de ponte entre a candidatura das forças avançadas e progressistas com empresários que temiam o fantasma de um presidente operário.

 
José Alencar encarnou, partilhando a Presidência da República com Lula, uma espécie de reedição da aliança, buscada desde a década de 1950, entre o grande empresariado industrial nacional e os trabalhadores. Com a diferença sensível de que Alencar, sendo um grande empresário, se distinguia entre seus pares pela coragem política de tornar essa aliança efetiva, como deixou claro durante os oito anos em que partilhou a presidência com Lula. Era mais uma voz do povo, dos que produzem e trabalham, dentro do governo. Uma voz bem humorada mas afiada e altissonante, que ajudou a construir o êxito do primeiro governo brasileiro dirigido por um operário e sindicalista.

 
Era um político e líder empresarial que tinha um projeto e esse projeto era o Brasil. Talvez tenha sido a encarnação contemporânea daquilo que, no passado, se chamou “burguesia brasileira”, só que com mais determinação, clareza e coragem. Que, num ambiente empresarial extremamente conservador, sempre apoiou e defendeu o Partido Comunista do Brasil – amizade soldada pelo projeto comum de defesa do país e do povo.

 
José Alencar, que da mesma maneira como o presidente Lula, teve origem nas camadas mais pobres da população, homem do interior que nunca rompeu com o sonho de um país progressista, democrático e moderno, foi um guerreiro. No governo, jamais vacilou na luta contra o vampirismo financeiro que, através das altas taxas de juros, exaure os trabalhadores, o setor produtivo e a nação. E batia duro naqueles que, dentro e fora do governo, defendiam, aplicavam e se beneficiavam dessa política que sempre denunciou como uma agiotagem imposta ao país.

 
Ao longo dos oito anos em que serviu ao país como vice-presidente, diluiu todas as desconfianças manifestadas no momento de sua escolha como companheiro de chapa de Lula e ganhou o amor de seu povo.



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