
terça-feira, 29 de junho de 2010
À memória da democracia

sexta-feira, 25 de junho de 2010
A condenação do Cristo marxista

Que estranhos desígnios inspiraram o "L'Osservatore Romano" a atacar,em editorial, o escritor José Saramago, falecido recentemente na Espanha? Chamá-lo de populista extremista, que se referia “com comodidade a um Deus no qual jamais acreditou por considerar-se todo poderoso e onisciente”, não revela apenas uma atitude fria e inflexível com um humanista ateu. Vai além. Reforça apreensões em relação aos objetivos políticos do Vaticano e suas consequências éticas.
Se a eleição do cardeal Ratzinger como supremo pontífice da Igreja Católica constituiu um acontecimento cuja gravidade poucos subestimaram, a superação integrista das contradições do Concílio Vaticano II já se delineava claramente no pontificado de seu antecessor, João Paulo II, quando as bases sociais da Teologia da Libertação foram firmemente atacadas.
Em 1983, ao visitar a América Central, suas homilias mantiveram fina sintonia com o projeto do governo Reagan para a região. Em Manágua, o papa não apenas não correspondeu às expectativas do povo nicaraguense de condenação clara às agressões incentivadas pelo imperialismo estadunidense, como também deu ênfase ao que mais dividia o governo sandinista e a hierarquia eclesiástica, à época: o da fidelidade dos sacerdotes e religiosas à igreja e à exigência de não participarem na responsabilidade da gestão governamental. Uma declaração de guerra aos partidários de um cristianismo progressista. Reafirmação classista de uma instituição multissecular.
Na Guatemala, um dos países em que a repressão dos governos militares fez mais vítimas entre os religiosos, João Paulo II não só visitou o presidente Ríos Montt, conhecido por ordenar massacres contra a oposição, como permitiu que o general lhe pedisse o afastamento de sacerdotes da política. Nos discursos papais não houve qualquer protesto contra fuzilamentos sistemáticos; apenas menções genéricas a Direitos Humanos. O Cristo do Vaticano, ao contrário do de Saramago, não deu ouvido a comunidades indígenas e camponesas tratadas como estrangeiras em seus próprios países.
Embora saiba muito bem que estão implícitas, na violência que se expande, a questão do poder, dos interesses econômicos nacionais e internacionais, além das considerações geopolíticas, o Jesus do "L'Osservatore" ignora que a promessa anunciada só se efetivará provocando uma transformação radical da condição social do homem. No livro de Saramago, Jesus, filho de José e amante de Madalena, vive a Paixão dos novos sujeitos. Seu sacrifício é a labuta das populações negras, o sofrimento das índias e o sangue camponês que jorra nos latifúndios.
A coexistência de um papado ultra-reacionário com governos de extrema-direita, como foi o de Bush, implica uma luta mundial de idéias que, não duvidem, será muito intensa. A crítica a uma religião de mercado, que exige o sacrifício de vidas humanas e o aniquilamento de natureza é a batalha da esquerda de nosso tempo.
Nessa guerra, ao contrário do que afirma o Vaticano, o Cristo de Saramago é aliado fundamental. Nas páginas do “Evangelho segundo Jesus Cristo", a grande heresia não está no fato de o personagem pedir perdão pelos pecados de Deus. O que o Vaticano não pode perdoar é a denúncia corajosa a um cristianismo imperial e colonialista. Um sistema de crenças que, para validar a opressão, necessita de uma metafísica negativa sobre os homens e sua história.
Saramago provocou a ira da cúpula da Igreja Católica ao reafirmar a modernidade e os valores de igualdade e liberdade. Foi isso que seu Cristo Marxista proclamou. Não de maneira idílica, mas de forma dialética, como reafirmação de vidas que devem transcender a si mesmas, eliminando práticas e relações que geram opressão e miséria.
* Gilson Caroni Filho é professor de Sociologia das Faculdades Integradas Hélio Alonso (Facha), no Rio de Janeiro, colunista da Carta Maior e colaborador do Jornal do Brasil.
DEBATE SOBRE O PAPEL DA MÍDIA HOJE, CRIMINALIZAÇÃO E REFORMA AGRÁRIA.
Lançamento da Rede de comunicadores e do Blog da Reforma Agrária no Rio de Janeiro: 30 de Junho às 18:30 na ABI, rua Araújo Porto Alegre 71, auditório do 7º andar.
Debatedores:
Paulo Henrique Amorim - Jornalista e blogueiro
João Paulo - Direção Nacional do MST
Está em curso uma ofensiva conservadora contra a reforma agrária, e contra qualquer movimento que combata a desigualdade e a concentração de terra e renda, como o MST.
Nesse sentido há uma ação orquestrada tendo a imprensa como um dos principais instrumentos desse movimento.
A necessidade tem sido urgente de seguirmos debatendo papel da mídia e as alternativas. A rede de comunicadores pela Reforma Agrária cumpre papel importante neste cenário, como proposta de uma articulação nacional de comunicadores em defesa da Reforma Agrária.
quarta-feira, 23 de junho de 2010
Para a compreensão crítica da realidade brasileira
Por Ana Cristina
Quais as pesquisas que o senhor realizou até agora podem ser classificadas como as mais importantes?
R.: Ao longo de minha carreira concluí 20 projetos de pesquisa que podem ser classificados em três modalidades: Política da educação e legislação educacional; filosofia da educação no Brasil; e Teorias da educação e pedagogia.
Na primeira modalidade destacam-se “O conceito de sistema na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei 4.024/61)”, que foi minha tese de doutorado, publicada com o título “Educação brasileira: estrutura e sistema”; “O congresso nacional e a educação brasileira”, minha tese de livre-docência, publicada com o título “Política e educação no Brasil”; e “A nova lei da educação (LDB): trajetória, limites e perspectivas”, que versou sobre a atual LDB.
Na segunda modalidade registro “Tendências e correntes da educação brasileira”, publicada no livro “Filosofia da educação brasileira”.
E na terceira modalidade sobressaem “Pedagogia histórico-crítica”; “História das idéias pedagógicas no Brasil; e “O espaço acadêmico da pedagogia no Brasil: perspectiva histórica e teórica”, que resultou no livro “A pedagogia no Brasil: história e teoria. Estes dois últimos projetos contaram com financiamento do CNPq na modalidade “Bolsa de produtividade em pesquisa”.
O senhor recebeu o prêmio Jabuti, em 2008, por um livro que é resultado de uma pesquisa. Pode nos dar mais detalhes sobre a pesquisa e sobre o livro?
R.: Nesse caso trata-se do projeto “História das idéias pedagógicas no Brasil”, cujos estudos preliminares se iniciaram em 1989. Sistematizada a proposta, o projeto foi encaminhado ao CNPq para apoio na modalidade da “Bolsa de Produtividade em Pesquisa” que, uma vez aprovada, entrou em vigência em agosto de 1996, estendendo-se até fevereiro de 2004. Após o término da bolsa organizei o material e publiquei o livro com o mesmo título “História das idéias pedagógicas no Brasil”, em 2007. É esse livro que foi agraciado, em 2008, com o prêmio Jabuti ao ser classificado como a melhor obra nas áreas de Educação, Psicologia e Psicanálise.
Nessa pesquisa analisei o desenvolvimento das idéias pedagógicas na história da educação brasileira a partir da identificação, classificação e periodização das principais concepções educacionais, desde suas origens no século XVI até os dias atuais. Começo abordando a educação indígena que precedeu a chegada dos portugueses e abordo as idéias pedagógicas distribuindo-as em quatro grandes períodos, a saber:
1º Período (1549-1759): Monopólio da vertente religiosa da pedagogia tradicional, subdividido nas seguintes fases:
1. Uma pedagogia brasílica ou, o período heróico (1549-1599);
2. A institucionalização da pedagogia jesuítica ou o ratio studiorum (1599-1759).
2º Período (1759-1932): Coexistência entre as vertentes religiosa e leiga da pedagogia tradicional, subdividido nas seguintes fases:
1. A pedagogia pombalina ou, as idéias pedagógicas do despotismo esclarecido (1759-1827);
2. Desenvolvimento da pedagogia leiga: ecletismo, liberalismo e positivismo (1827-1932);
3º Período (1932-1969): Predominância da pedagogia nova, subdividido nas seguintes fases:
1. Equilíbrio entre a pedagogia tradicional e a pedagogia nova (1932-1947);
2. Predomínio da influência da pedagogia nova (1947-1961);
3. Crise da pedagogia nova e articulação da pedagogia tecnicista (1961-1969).
4º Período (1969-2001): Confronto entre a concepção produtivista de educação e as pedagogias críticas, subdividido nas seguintes fases:
1. Predomínio da pedagogia tecnicista, manifestações da concepção analítica de filosofia da educação e concomitante desenvolvimento da visão crítico-reprodutivista (1969-1980);
2. Ensaios contra-hegemônicos: pedagogias da “educação popular”, pedagogias da prática, pedagogia crítico-social dos conteúdos e pedagogia histórico-crítica (1980-1991);
3. O neoprodutivismo e suas variantes: neo-escolanovismo, neoconstrutivismo e neotecnicismo (1991-2001).
Seu trabalho é pontuado pela orientação marxista num ambiente em que há, tradicionalmente, rejeição às ideias de Marx. Como se dá essa relação? Qual o segredo de tamanha aceitação pela comunidade científica?
R.: Desde que iniciei minha atividade docente, em 1967, simultaneamente na universidade e no ensino médio, considerei que o trabalho intelectual deveria se pautar pela busca da verdade sem quaisquer constrangimentos. Estávamos em plena ditadura militar e eu tinha a impressão de que, em boa parte, a autocensura parecia ainda mais forte do que a censura. Ou seja, eu observava que vários colegas tendiam a evitar tratar de temas que tivessem alguma implicação política, considerados perigosos na situação em que vivíamos.
De minha parte procurei afastar toda espécie de autocensura tratando dos problemas sociais e políticos com a mesma objetividade com que tratava das questões geográficas, físicas, biológicas. E fui me aprofundando na compreensão crítica da realidade brasileira, o que exigia um referencial também crítico que me foi fornecido pelo marxismo.
Meu trabalho com os alunos, primeiro na graduação e depois também na pós-graduação, deu-se nessa linha de aprofundamento articulando a teoria com a prática, o que implicou uma forte ligação entre as pesquisas que fui desenvolvendo, cujos resultados eram publicados na forma de livros e artigos e as atividades de ensino.
Rompi, assim, com uma divisão muito freqüente entre os intelectuais que tendem a considerar que a academia, a universidade, é o lugar da teoria, da discussão de idéias; e que a luta política se dá nos partidos, nos sindicatos, nas fábricas, no parlamento, nas instâncias governamentais. Diferentemente disso, sempre encarei meu trabalho na universidade como integrado à luta política mais ampla pela transformação da sociedade, pela defesa dos interesses dos trabalhadores a partir do entendimento científico do desenvolvimento do modo de produção da existência humana no processo histórico, entendimento esse que se explicita nas análises elaboradas por Marx que vêm tendo continuidade nas contribuições dos demais teóricos do marxismo.
Para desenvolver um trabalho com essas características na universidade avaliei que era necessário assegurar os espaços para a investigação séria e objetiva e para a discussão aberta dos resultados alcançados. Isso implicava assumir tarefas organizativas e administrativas, o que me levou à implantação de programas de pós-graduação e à sua coordenação, à organização de orientação coletiva de dissertações e teses, assim como à organização e direção de grupos de pesquisas, além de participar da fundação de sociedades científicas no campo da educação.
Nesse procedimento guiei-me sempre pelo critério de que as atividades administrativas e burocráticas são atividades-meios devendo, portanto, estar sempre subordinadas e a serviço das atividades-fins. Assim, elas devem ser realizadas com cuidado observando-se suas regras sem desperdício de energias, as quais devem ser dirigidas para as atividades-fins.
Esse entendimento é de grande importância para nós, que nos situamos à esquerda no espectro político, porque, em geral, as dificuldades ao nosso trabalho muito frequentemente provêm da cobrança de determinadas exigências formais que nós tendemos a descurar por considerá-las de menor importância.
Diversamente, procurei sempre considerar que, exatamente por serem secundárias, não vou me desgastar com as questões formais. Simplesmente procuro cumpri-las, sujeitando-as ao trabalho principal voltado para a pesquisa e o ensino. Com isso, creio ter conseguido aliar uma produção acadêmico-científica consistente e relevante a um comportamento de certo modo exemplar no que se refere à observância das regras de convivência acadêmica. Penso que é nesse quadro que se encontra a razão da aceitação e do prestígio angariados junto à comunidade científica.
Em sua opinião, quais são as perspectivas da Educação e da Pedagogia enquanto ciência?
R.: Digamos que educação é o fato, um fenômeno empiricamente verificável; um dado da realidade que se manifesta em todas as sociedades. Esse fato pode ser conhecido, analisado, produzindo-se a seu respeito ideias, representações, teorias. A pedagogia está visceralmente ligada à educação como conhecimento, como teoria que a ela se refere. No entanto, importa ter presente que, se toda pedagogia é teoria da educação, nem toda teoria da educação é pedagogia. Como assinalei em meu livro “A pedagogia no Brasil: história e teoria”, p. 80-81, o conceito de pedagogia se reporta a uma teoria que se estrutura a partir e em função da prática educativa. A pedagogia, como teoria da educação, busca equacionar, de alguma maneira, o problema da relação educador-educando, de modo geral, ou, no caso específico da escola, a relação professor-aluno, orientando o processo de ensino e aprendizagem. Assim, não se constituem como pedagogia aquelas teorias que analisam a educação pelo aspecto de sua relação com a sociedade não tendo como objetivo formular diretrizes que orientem a atividade educativa, como é o caso das teorias que chamei de “crítico-reprodutivistas”. Considerando que a ideia dominante de ciência traz a marca forte da concepção positivista, que a limita à emissão apenas de juízos fatuais, excluindo os juízos de valor, a relação da pedagogia com a ciência se revestiu de um caráter problemático. Embora no campo educacional tenha havido uma tendência a dotar a pedagogia de cientificidade, essa aspiração era sempre objeto de contestação. Hoje é comum falar-se em ciências da educação, no plural, incluindo-se nesse âmbito várias modalidades como a sociologia da educação, a psicologia da educação, a biologia educacional, a economia da educação, demografia educacional etc. Tais ciências, vê-se claramente, se constituem como teorias preocupadas apenas com o conhecimento do fenômeno educativo e não com a realização do ato educativo, como é o caso da pedagogia. Por vezes se considera a pedagogia como uma das ciências da educação; outras vezes nega-se à pedagogia o caráter de ciência tendo em vista seu direcionamento à prática e, em consequência, seu envolvimento com a questão dos valores. Entretanto, hoje em dia, tendo em vista a tendência em se superar a visão positivista de ciência, reconhece-se, sem maiores contestações, o caráter científico da pedagogia, entendida como ciência da e para a prática educativa.
O que significa receber o título de pesquisador emérito do CNPq?
R.: Sem dúvida, trata-se de algo bastante gratificante, por várias razões. Em primeiro lugar, porque se trata da mais importante agência de apoio à pesquisa científica e tecnológica do país. Em segundo lugar porque participo diretamente das atividades desse órgão desde 1981 estando, portanto, ligado ao CNPq por quase 30 anos, ou seja, metade de sua existência, já que foi criado em 1951. Com efeito, integrei o Comitê Científico do CNPq na área de Ciências Humanas como representante da educação por dois mandatos consecutivos, de 1981 a 1984, momento em que contribuí para a criação do Comitê Assessor de Educação que passou a contar com 5 membros, todos eles dedicados a tratar das demandas específicas da produção científica na área da educação. A partir daí atuei constantemente como assessor “ad hoc” e vim a participar novamente, em 1998 e 1999, do Comitê Assessor de Educação do qual fui coordenador. Daí decorre a terceira razão de minha satisfação com o título de pesquisador emérito, pois ele expressa uma valorização da área de educação no âmbito do CNPq, sendo esse o primeiro título desse tipo conferido por esse Conselho Nacional a um representante da área educativa. Gostaria, portanto, de dividi-lo com todos os colegas que integram a comunidade científica do campo educacional que, a meu ver, está sendo homenageada com esse reconhecimento oficial.
Em que o senhor está trabalhando agora? Quais são os seus projetos?
R.: Atualmente estou dando prosseguimento às atividades regulares como a coordenação geral do Grupo de Estudos e Pesquisas “História, Sociedade e Educação no Brasil” (HISTEDBR), orientação de dissertação de mestrado e teses de doutorado, supervisão de projetos de pós-doutorado, elaboração de textos sobre temas específicos decorrentes de convites para proferir conferências e participar de seminários e congressos, os quais normalmente se convertem em artigos publicados em revistas científicas. Além disso, estou, no momento, organizando o livro “Educação em diálogo” que espero publicar ainda neste ano. Em seguida pretendo me dedicar a um projeto de pesquisa sobre as máximas e provérbios na educação.
terça-feira, 22 de junho de 2010
A ESCOLA NACIONAL FLORESTAN FERNANDES PRECISA DE VOCÊ! *
Os recursos para a sua construção foram obtidos com a venda de fotos de Sebastião Salgado e do livro Terra (fotos de Salgado, texto de José Saramago e música de Chico Buarque) e mediante a contribuição de entidades da classe trabalhadora do Brasil, da América Latina e de várias partes do mundo. Os recursos para a sua manutenção e funcionamento são obtidos por meio de financiamento de projetos nacionais e internacionais, por organizações institucionais e privadas, além da colaboração individual.
Atualmente, a ENFF encontra-se ameaçada pelo estrangulamento econômico, graças à ofensiva orquestrada pela direita contra os movimentos sociais, particularmente o MST. A escola também é alvo: o capital não aceita a ideia de que os trabalhadores tornem-se sujeitos conscientes de sua história. Sem recursos, a escola corre o risco de encerrar suas atividades. Por isso, sua contribuição é mais do que nunca necessária.
O espaço físico da ENFF
A escola está erguida sobre um terreno de 120 mil m2, com instalações de alvenaria de tijolos fabricados pelos próprios trabalhadores. O projeto arquitetônico, oferecido voluntariamente, teve como princípio causar o menor dano ao meio ambiente e, ao mesmo tempo, propiciar o melhor resultado para o sujeito da escola: trabalhadores, alunos, assessores e visitantes.
O trabalho coletivo, voluntário, é uma característica da construção
da ENFF. Trabalhadores, vindos de todo o Brasil e organizados em brigadas,
construíram uma escola para os seus próprios compamheiros e para o
desenvolvimento da luta.
Ao todo, são três salas de aula, que comportam até 200 pessoas, auditório, dois anfiteatros, uma biblioteca com 40 mil livros (obtidos por meio de doação). Além disso, a escola conta com quatro blocos de alojamento, refeitórios, lavanderia, estação de tratamento de esgotos e casas destinadas aos assessores e às famílias de trabalhadores que residem na escola. Dispõe, ainda, de horta que produz para consumo local, e árvores frutíferas espalhadas. Para o lazer, oferece um campo de futebol e uma quadra multiuso coberta.


O seu pleno funcionamento demanda a dedicação integral de 35 trabalhadores militantes residentes no local, de todas as áreas (da administrativa ao setor pedagógico, passando pela infraestrutura elétrica e sanitária e outros). Além disso, todos os que frequentam os seus cursos se encarregam da limpeza, dos cuidados com a horta e outros trabalhos que a manutenção da escola exige. Para assegurar a possibilidade de participação das mulheres, foi construída a “Ciranda Infantil Saci Pererê”, onde as crianças permanecem em ambiente sadio e cuidadoso enquanto seus responsáveis, principalmente as mães, estudam e/ou trabalham.



O trabalho de formação da ENFF
Nos cinco primeiros anos de sua existência, passaram pela escola 16 mil militantes dos movimentos sociais do campo e da cidade, de todos os Estados do Brasil e de outros países da América Latina e da África.
A escola tem o apoio de mais de 500 professores voluntários – do Brasil, da América Latina e de outras regiões –, nas áreas de Filosofia Política, Teoria do Conhecimento, Sociologia Rural, Economia Política da Agricultura, História Social do Brasil, Conjuntura Internacional, Administração e Gestão Social, Educação do Campo e Estudos Latino-americanos. Além disso, oferece cursos superiores e de especialização, em convênio com mais de 35 universidades e mestrado sobre Questão Agrária, por meio de convênio com a UNESP e UNESCO.


PARTICIPE DA LUTA EM DEFESA DA ENFF
Em dezembro de 2009, um grupo de intelectuais, professores, militantes e colaboradores resolveu criar a “Associação dos Amigos da Escola Nacional Florestan Fernandes”, com os seguintes objetivos:
• Divulgar as atividades da escola • promover campanhas pela adesão de novos sócios e de solidariedade para angariar recursos, incluindo doações de livros, revistas, publicações e material audiovisual para a Biblioteca • apoiar e incentivar o desenvolvimento de projetos de educação e escolarização de crianças, jovens e adultos do campo, da cidade, das comunidades indígenas e quilombolas, bem como projetos contra as discriminações de raça, cor, gênero, sexo e religião • desenvolver parcerias com instituições que atuem na área da formação e educação • viabilizar projetos que estimulem estudos acerca da tradição do pensamento crítico • estimular intercâmbio de atividades internacionais de formação.
***VEJA COMO VOCÊ PODE SE ASSOCIAR:
Para se tornar associado, é indispensável preencher a ficha de adesão com o compromisso de contribuir mensalmente com um valor mínimo de R$ 20,00, ou com contribuições solidárias de qualquer valor. Os fundos angariados serão diretamente destinados à escola e/ou usados para organizar atividades com o objetivo de levantar mais recursos.
Faça uma visita monitorada à ENFF, organizada periodicamente por nossa associação [Associação dos Amigos da Escola Nacional Florestan Fernandes]. Você sentirá orgulho de pertencer ao grupo de colaboradores que viabilizará o projeto ENFF.
Para obter mais informações sobre como contribuir, procure a secretaria executiva:
Rua da Abolição nº 167 – Bela Vista – São Paulo – SP - CEP 01319-030
Telefones: (11) 3105-0918; 9572-0185; 6517-4780
e-mail: associacao@amigosenff.org.br site: www.amigosenff.org.br
Núcleo RJ - contato: amigosdaenff.rj@gmail.com
* Texto reproduzido do comunicado da Associação dos Amigos da Escola Nacional Florestan Fernandes
“Para nós o Poder Popular não é outro senão o Socialismo”
Para os comunistas gregos a única opção [para a presente crise do
capitalismo] é a saída popular, que não pode ser outra senão o socialismo. Não
há saídas intermédias, tão pouco reformistas, num mundo, a seguir à derrota
soviética, em que sectores da pseudo-esquerda sentem pânico da luta pela
transformação revolucionária da sociedade.
Aleka Papariga é a Secretária-Geral do Partido Comunista da Grécia (KKE) desde a década de noventa, depois de se ter destacado como dirigente estudantil. É uma aguerrida parlamentar, cujo protagonismo é extraordinário na actual conjuntura, pois a sua voz levanta-se no Parlamento para se opor às soluções burguesas e, sem nenhum temor, chama as massas populares a rebelarem-se e a resistirem à ofensiva capitalista. A entrevista é um documento de singular valor, esclarece o fundo da situação da crise no velho continente e as causas da mesma.
A Aleka, miúda e de pequena estatura, sobra-lhe coragem. Diz que para os comunistas gregos a única opção é a saída popular, que não pode ser outra senão o socialismo. Não há saídas intermédias, tão pouco reformistas, num mundo, a seguir à derrota soviética, em que sectores da pseudo-esquerda sentem pânico da luta pela transformação revolucionária da sociedade. A postura desta mulher, que orgulha as mulheres e os comunistas, homens e mulheres de todas as latitudes, é medular, interpreta o mais alto da maré da luta de classes e a sua acção está na crista da onda, é um exemplo para o seu país e para o mundo.
Crise cíclica capitalista
Carlos Lozano A Lozano Guillén (CL): - Quais são as causas da actual situação na Grécia?
Aleka Papariga (AP): - A causa da profunda crise em que a Grécia se encontra é a mesma de todos os países capitalistas desenvolvidos. Trata-se de uma clássica crise cíclica da economia capitalista. De facto, é uma crise generalizada e profunda. Independentemente da forma em que se manifesta neste ou naquele país, é o resultado da sobre-acumulação de lucros e capitais e da dificuldade em encontrar novas saídas, sem obstáculos, de rentabilidade contínua, o que é impossível de ultrapassar sem uma depreciação do capital.
Isto é o que os governos, os organismos internacionais imperialistas e os vários
analistas, utilizando todos os meios, tratam de ocultar aos povos.
Na Grécia, a crise apresenta-se como um problema de grande dívida pública e de grande défice estatal. Vale a pena mencionar que no nosso país, nos últimos 15-20 anos, houve altas taxas de crescimento, com um aumento escandaloso dos lucros de todos os sectores da plutocracia. Este «milagre» grego foi levado a cabo por governos social-democratas e liberais, tendo como guia uma estratégia comum que foi apoiada pela União Europeia (UE): medidas contra os trabalhadores, reformas reaccionárias em todos os sectores, reformas laborais e na segurança social, privatizações, mercantilização da saúde e da educação, financiamento estatal e provocadoras medidas de isenção de impostos para o capital.
O objectivo foi o de fortalecimento dos monopólios, tanto gregos como europeus, nas suas actividades dentro e fora da UE.
Ao povo grego foi dito que esta é a via, que esta estratégia assegura o desenvolvimento contínuo e que o resultado final beneficiará também o povo. Os factos vieram dar razão ao Partido Comunista da Grécia [KKE, sigla em grego], que desde o princípio advertiu que esse caminho só ia trazer problemas ao povo e crise.
O povo a pagar a crise
Agora, a classe burguesa e os seus partidos políticos cooperam para que o povo pague a crise e os impasses do capitalismo. Querem descarregar nas costas dos trabalhadores e dos sectores pobres do povo os novos empréstimos públicos para financiar a concentração de capitais que se asfixiam e correm o risco de desaparecer. Ao mesmo tempo, utilizam a crise para aplicar medidas reaccionárias que queriam implementar há vários anos, a fim de embaratecer a força de trabalho e retirar da produção grandes sectores de trabalhadores autónomos e pequenos empresários.
A crise capitalista não é a doença, mas um sintoma da incurável doença do capitalismo, cujo desenvolvimento continua a ser anárquico e desigual, em todos os sectores da economia e na fase em que prevalecem os monopólios. As medidas anti-populares dos governos, na fase de desenvolvimento, bem como na própria crise, são uma demonstração evidente de que o capitalismo está obsoleto. Todas as suas contradições se agudizaram ao máximo e sobretudo a contradição fundamental entre o capital e o trabalho.
CL: - Como pretende resolver a crise o governo social-democrata?
AP: - Antes das eleições, em Outubro passado, advertimos o povo grego, da maneira mais explícita, para as duras medidas que estavam para vir depois das eleições.
Inclusivamente, indicámos a razão pela qual a plutocracia e os mecanismos do sistema escolheram e apoiaram o estabelecimento de um governo social-democrata.
Considerávamos que era mais capaz de impor as duras medidas anti-laborais do que o governo conservador, já que controlava a liderança do movimento sindical, dos pequenos comerciantes e dos trabalhadores autónomos. Assinale-se que, tanto no período pré-eleitoral como agora, o actual governo apresentou a crise, o aumento do défice e da dívida pública como resultado de uma má gestão, de falta de transparência e de corrupção dos governos anteriores.
O governo do PASOK (social-democracia) pretendeu e pretende desorientar e submeter o povo, utilizando truques e dilemas para o intimidar. Ainda que o seu programa contenha as medidas anti-laborais que actualmente implementa e que, inclusivamente, haviam sido votadas e apoiadas pela União Europeia, ao princípio parecia não querer implementá-las e que se viu a isso obrigado pelo curso dos acontecimentos, pelas pressões da UE e do FMI. Ambos os organismos apoiam e ajudam o Governo, propondo as mesmas bárbaras medidas contra os trabalhadores.
Para lançar uma guerra implacável contra o povo utilizou o dilema: ou grandes sacrifícios ou bancarrota. Desta maneira, tratou de apresentar estas medidas, que são necessárias para o capital, como necessárias também para o povo. Apresentou as agudas contradições do capital e dos governos, dentro e fora da UE, como uma guerra de especuladores, à custa do país. Igualmente pretendeu e pretende apresentar e utilizar o apoio de todos os sectores da plutocracia e dos meios de comunicação, como apoio de parte do povo.
Abrindo caminho ao protesto popular
CL: - Qual é a reacção ou a resposta dos trabalhadores?
AP: - Lamentavelmente, a maioria da classe trabalhadora e dos sectores populares pobres não tiveram em conta, com a seriedade requerida, as advertências do KKE.
Imediatamente depois das eleições, como KKE e como PAME (Frente Militante de todos os Trabalhadores), tomámos iniciativas para desencadear e organizar a tempo a luta contra a ofensiva anti-operária que estava para vir. A primeira greve que o PAME convocou, a 17 de Dezembro, tinha a oposição, tanto do governo, dos grandes industriais e dos partidos burgueses, como dos líderes sindicais que expressam os interesses da aristocracia operária, e todos tiveram uma reacção raivosa.
Não obstante, essa greve e a luta pelo seu êxito marcaram o início do arranque do contra-ataque do movimento de classe organizado, da intervenção política do partido para se dar um golpe decisivo no fatalismo e na submissão, e abriu o caminho para a criação e expressão da disposição militante dos trabalhadores e das classes populares.
Hoje, podemos dizer com segurança, que a propaganda e os dilemas do governo e dos seus aliados não deram frutos. A maioria do povo condenou as medidas e uma grande parte dos trabalhadores e dos sectores populares, superando as várias formas de intimidação, participou nas greves e nas mobilizações, principalmente do PAME e nas manifestações do KKE.
O inconformismo popular
Neste período, constatámos que uma parte significativa dos trabalhadores e do povo sente ressentimento e descontentamento e que se desenvolvem processos significativos na sua consciência. O Governo e a totalidade dos mecanismos do sistema utilizam todas as armas de que dispõem para obstaculizar a sua radicalização. O que realmente os preocupa e querem anular, de qualquer maneira, é a emancipação das consciências populares da via de sentido único do capitalismo. Querem impedir a participação activa no movimento de classe organizado e a adopção das posições e da proposta política do KKE.
Para o conseguir, utilizam o flagrante anticomunismo, a calúnia, as mentiras, as ameaças. Inclusivamente, utilizam provocações organizadas, com mortos, tentando identificar a mobilização dos trabalhadores com a «violência cega» dos serviços secretos.
Nem sequer têm pejo em nos acusar como instigadores morais, por causa da nossa posição de desobediência popular perante as medidas antipopulares, exigindo submissão e renúncia às formas de luta escolhidas pelo movimento. Cada vez mais abertamente nos colocam o dilema «respeitam ou não respeitam a Constituição?», exigindo que deixemos de lutar pelo socialismo.
Que saibam que a nossa resposta é só uma; estão a bater à porta errada. O sistema não pode subjugar o KKE. Para nós, a lei é a razão do povo e não necessitamos de autorização de ninguém para lutar em conjunto com o povo contra a política antipopular, contra a plutocracia, para a sua derrota, e pelo socialismo.
A proposta dos comunistas
CL: - Que saída propõe o KKE?
AP: - Frente aos dilemas que os nossos adversários colocaram ao povo, em relação com a crise, a nossa resposta é que vai cair na bancarrota ou o povo ou a plutocracia. Não existe solução intermédia. Não existe saída da crise a favor do povo, sem que se toque drasticamente nos lucros, na força e, em consequência, no poder dos monopólios. Por isso, a única via que o povo tem para colocar obstáculos às duras medidas tomadas à sua custa é um contra-ataque de classe, político, decisivo.
A nossa proposta de saída da crise resume-se à consigna: «aliança popular de
trabalhadores, anti-monopolista, para o poder popular», que é necessária para conseguir mudanças radicais, primeiro, a nível da economia e, em geral, a nível do poder.
O caminho para satisfazer os direitos populares contemporâneos, para que o nosso país confronte as intervenções e os antagonismos dos organismos imperialistas internacionais, é que o povo esteja no poder, tendo nas suas mãos o controlo da economia e da produção.
Por isso, a proposta de alianças e poder para o povo têm os seguintes eixos básicos: que todas as grandes fábricas e empresas de energia e de matéria-prima, os transportes, as telecomunicações, as indústrias, o comércio e os bancos sejam propriedade social. Que se socializem os monopólios, de maneira que, com a planificação centralizada do poder popular, se utilizem todas as capacidades produtivas do país, tendo como único critério as necessidades do povo. Ao seu lado funcionarão, incluídas na planificação nacional, as cooperativas de produção dos pobres e médios camponeses e dos pequenos comerciantes. Que a terra deixe de ser uma mercadoria. Que não exista actividade empresarial nos sectores da educação, da saúde e do bem-estar social.
A base do poder popular serão as unidades de produção do sector socializado e das cooperativas, cujos representantes poderão ser substituídos e, em simultâneo, existirá o controlo operário popular, da base ao topo.
Esta Grécia do poder popular e da economia popular não cabe em nenhum tipo de organismo imperialista como são a UE, a NATO, etc. Renegociará a dívida pública e tratará de conseguir acordos internacionais e cooperações numa base completamente diferente e utilizará as contradições imperialistas na medida em que o puder fazer. Para nós, o poder popular não pode ser outro senão o socialismo.
O fracasso de Maastricht
CL: - Esta situação, em relação com as especificidades em Portugal e Espanha, demonstra o fracasso da UE e do Tratado de Maastricht?
AP: - O Tratado de Maastricht e a política dos monopólios europeus nele baseada, com o fim de serem mais competitivos e rentáveis que os seus antagonistas, trouxe resultados para o capital europeu. É claro que isto só poderia fazer-se à custa dos trabalhadores e dos povos dos países da UE, assim como dos países onde opera o capital europeu.
O fracasso da UE está subjacente no facto de que a crise demonstrou a bancarrota completa dos argumentos de todos os seus defensores, tanto liberais, como social-democratas e «esquerdas». A UE não é nem pode ser a favor dos povos. É uma construção dos monopólios europeus e, como tal, é reaccionária e perigosa para os povos. No interior da UE não foi enfrentada a desigualdade entre os países; ao contrário, agudizou-se. Não se converteu nem se converterá no contrapeso dos EUA ou de outros centros imperialistas. São aliados e atacam os povos unidos. Ao mesmo tempo, lutam ferozmente entre si, para ganhar no antagonismo, ter a maior parte dos mercados e ampliar a sua influência no mundo.
O caminho a favor do povo é só o socialismo e jogar-se-á primeiro a nível nacional. Na Europa, cada povo que escolha esta via de desenvolvimento e de organização da sociedade contra a exploração do capital e dos monopólios estará obrigatoriamente contra a UE.
* Carlos Lozano é director do semanário de Voz, jornal do Partido Comunista da Colômbia. Aleka Papariga é Secretária-Geral do Partido Comunista da Grécia (KKE)
Esta entrevista foi publicada em Voz nº 2.543, de 2 a 8 de Junho de 2010
Texto em português publicado em www.pelosocialismo.net
sábado, 19 de junho de 2010
Comunista e polemista, Saramago defendeu Cuba e a fusão de Portugal com Espanha

“Não se repara que a democracia em que vivemos é sequestrada, condicionada, amputada”, disse ele durante um debate em Portugal.
“O poder de cada um de nós limita-se na esfera política a tirar um governo de que não gosta e colocar outro de que talvez venha a gostar. Mas as grandes decisões são tomadas em outra esfera. E todos sabemos qual é: as grandes relações financeiras internacionais.”
O escritor dizia-se obrigado a mudar um mundo injusto que encontrou. “O espaço ideológico e político onde eu podia esperar pelo menos alguma coisa que me confirmasse essa idéia era muito claro. Era a esquerda, a esquerda comunista. Aí estou”, resumiu durante sabatina do jornal Folha de S.Paulo, em 2008.
Pouco depois, em entrevista a um jornal cubano, reatou: "Não rompi com Cuba. Continuo sendo um amigo de Cuba, mas me reservo o direito de dizer o que penso, e dizer quando entendo que devo dizê-lo".
AdversáriosO líder mundial que mereceu as palavras mais duras de Saramago foi o primeiro-ministro italiano, Silvio Berlusconi, a quem apelidou de “vômito”. “Berlusconi corrompe tudo que toca. Não consigo compreender um personagem tão vulgar, tão ridículo, tão patético”, disse o escritor em um debate na Itália.
“É ofensivo que uma prostituta vá à televisão oficial. Palavra de Berlusconi. Mas parece que não é ofensivo que uma ou mais prostitutas durmam no palácio do governo com o primeiro-ministro da Itália”, atacou.
Em 2005, no auge do escândalo do mensalão, Saramago criticou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva em entrevista à revista Época. “Depois de tantas esperanças, não imaginávamos que escândalos de corrupção tomassem o governo Lula, que representava uma luz nova a um mundo cada vez mais mergulhado em interesses mesquinhos. Ele não poderia ter admitido a corrupção e não consegue combatê-la.”
A maioria dos colegas escritores portugueses protestou. Os jornais locais ganharam páginas e páginas contra a sugestão de Saramago. Outros, notaram no comentário apenas mais uma provocação feita pelo literato. Provocação de um homem hormonal.
Obras publicadas
Poesias- Os poemas possíveis, 1966
- Provavelmente alegria, 1970
- O ano de 1993, 1975
Crônicas
- Deste mundo e do outro, 1971
- A bagagem do viajante, 1973
- As opiniões que o DL teve, 1974
- Os apontamentos, 1976
Viagens- Viagem a Portugal, 1981
Teatro- A noite, 1979
- Que farei com este livro?, 1980
- A segunda vida de Francisco de Assis, 1987
- In Nomine Dei, 1993
- Don Giovanni ou O dissoluto absolvido, 2005
Contos- Objecto quase, 1978
- Poética dos cinco sentidos - O ouvido, 1979
- O conto da ilha desconhecida, 1997
Romance- Terra do pecado, 1947
- Manual de pintura e caligrafia, 1977
- Levantado do chão, 1980
- Memorial do convento, 1982
- O ano da morte de Ricardo Reis, 1984
- A jangada de pedra, 1986
- História do cerco de Lisboa, 1989
- O Evangelho segundo Jesus Cristo, 1991
- Ensaio sobre a cegueira, 1995
- A bagagem do viajante, 1996
- Cadernos de Lanzarote, 1997
- Todos os nomes, 1997
- A caverna, 2001
- O homem duplicado, 2002
- Ensaio sobre a lucidez, 2004
- As intermitências da morte, 2005
- As pequenas memórias, 2006
- A Viagem do Elefante, 2008
- O Caderno, 2009
- Caim, 2009
segunda-feira, 14 de junho de 2010
Em 14 de junho de 1928, nasceu um grande revolucionário

Abaixo, leia poema de Eduardo Galeano em homenagem a Che.
O NASCEDOR
Por que será que o Che
Tem este perigoso costume
De seguir sempre renascendo?
Quanto mais o insultam,
O manipulam
O atraiçoam
Mais ele renasce.
Ele é o mais renascedor de todos!
Não será por que Che
Dizia o que pensava e fazia o que dizia?
Não será por isso que segue sendo
tão extraordinário,
Num mundo onde palavras
e atos tão raramente se encontram?
E quando se encontram
raramente se saúdam
Por que não se reconhecem?
quarta-feira, 9 de junho de 2010
Sai na Itália o Dicionário gramsciano


Coordenado por Guido Liguori e Pasquale Voza, professores e pesquisadores vinculados respectivamente às universidades da Calabria e de Bari, na Itália, o Dicionário gramsciano 1926-1937 apresenta, pela primeira vez, todo o léxico específico do marxismo de Gramsci, reconstruindo e detalhando o significado das palavras e dos conceitos presentes nos Cadernos do cárcere e nas Cartas do cárcere. A edição é de Carocci Editore, Roma.
Trata-se de um esforço coletivo, que mobilizou o trabalho de dezenas de colaboradores de vários países (Brasil incluído). São 600 verbetes, que conjugam rigor científico e clareza de texto, operações essenciais numa obra que pretende contribuir, ao mesmo tempo, para o estabelecimento de parâmetros teóricos mais consistentes e a divulgação do pensamento de Gramsci.
A linguagem de Gramsci é específica. Traduz as reflexões criativas feitas pelo dirigente comunista no cárcere, concentradas na reelaboração teórica do marxismo e particularmente de sua teoria política. Como explicam Liguori e Voza, o léxico gramsciano “inventa palavras novas e reinventa palavras velhas mediante a incorporação enriquecedora de significados distintos”. É uma linguagem que surpreende, instiga, força à reflexão e ao uso da imaginação. Multicolorida, nem sempre sistemática, aberta a múltiplas interpretações: quer dizer, sujeita a uma plasticidade que dificulta o estabelecimento preliminar de entendimentos categóricos. Um dicionário, portanto, torna-se parte estratégica de toda operação intelectual dedicada a emprestar rigor ao relacionamento crítico com a obra de Gramsci.
O Dicionário gramsciano irá se tornar obra de referência fundamental. Os que se remetem ao pensamento de Gramsci, e com ele dialogam de diferentes maneiras, só terão a ganhar com a difusão da iniciativa. No caso dos brasileiros, valem o empenho e a torcida para que o Dicionário seja rapidamente traduzido e publicado no Brasil.
Fonte: http://www.acessa.com/gramsci/?page=visualizar&id=1247
segunda-feira, 7 de junho de 2010
sábado, 5 de junho de 2010
MST conclama solidariedade internacional à Palestina
Leia abaixo nota da secretaria nacional do MST com recomendações ao governo brasileiro diante do ataque de Israel a frota humanitária que levava alimentos e remédios aos territórios palestinos.
"É preciso transformar essa indignação diante da violência de Israel num gigantesco movimento de massas de caráter internacional que faça recuar esse mostro nazi-sionista", conclama o MST.
Abaixo, leia a versão integral da nota.
Milhares de palestinos sairam as ruas nesta semana para manifestar seu repúdio a mais esse ato de agressão contra a humanidade praticado por Israel.
O mundo se une à dor e ao sofrimento dos familiares dos mortos, que estavam na frota de barcos que levaria comida e remédios para Gaza.
A heróica tentativa de romper o ilegal e ilegítimo bloqueio israelense só reforça a idéia de que a mais poderosa arma que os povos têm na sua luta por uma sociedade mais justa é a solidariedade internacional.
Mais uma vez fica confirmado que o exercito de Israel é uma organização marcada pela covardia e pela prática de genocídio e terrorismo contra o povo palestino e contra todos que se rebelam em defesa de um Estado Palestino Laico e Democratico.
Nas ruas de varias cidades, que foram ocupadas por israelenses em 1948, bandos de sionistas-fascitas gritam "morte aos árabes" e tentam impedir tambem com violência as manifestações populares a favor de Gaza.
O MST apóia a greve dos trabalhadores e comerciantes nos territórios palestinos, ocupados em 1948 e 1967, que aconteceu nesta terça-feira, e todas as manifestações de protesto que visam pressionar Israel para que cumpra as Resoluções das Nações Unidas sobre a Questao Palestina, respeite os princípios do direito internacional humanitário e para que não interfira nos comboios humanitários que rumam para Gaza.
É preciso transformar essa indignação diante da violência de Israel num gigantesco movimento de massas de caráter internacional que faça recuar esse mostro nazi-sionista.
O expansionismo e o militarismo israelense são parte da tentativa do imperialismo de sufocar as legítimas lutas de libertação nacional e por transformações sociais que se desenvolvem neste momento em todos os países do mundo.
A coragem, a sabedoria e a resistência do povo palestino são simbolos da resistência popular.
O grito de Pátria Livre se faz ouvir em todo o território palestino. Judeus, cristãos, muçulmanos e todas as forças democráticas, progressistas e antiimperialistas dentro e fora da Palestina se mobilizam em um movimento unificado contra o inimigo de toda a humanidade: o governo do Estado de Israel e seu aliado, o imperialismo dos Estados Unidos.
Um delegação do MST que visita a Palestina entrou em contato direto com o escritório da representação diplomática do Brasil em Ramallah-Palestina e recomendamos:
1. A condenação do ataque militar israelense à frota de barcos humanitária que tentava chegar em Gaza. Esse ataque que resultou em vários mortos e feridos, inclusive uma brasileira, Iara Lee, cujo paradeiro até o momento não temos conhecimento (saudamos o Ministério das Relações Exteriores, que divulgou ontem uma nota condenando o ataque, depois do nosso pedido).
2. As representações diplomáticas em Ramallah e Tel-Aviv devem se organizar para fazer uma visita por vilarejos palestinos e cidades, que foram destruídas, e onde o Estado de Israel ainda continua demolindo casas, desrespeitando os direitos humanos e os princípios do Direito Internacional Humanitário.
3. Organizar junto com o Comité Internacional da Cruz Vermelha em Jerusalem uma visita aos presos políticos palestinos, em especial às 34 mulheres e ao representante do Conselho Legislativo Palestino, Ahmad Sadat, que vive uma situação de isolamento absoluto, não podendo receber visitas nem mesmo de sua própria família.
4. O governo brasileiro deve voltar atrás na sua decisão de firmar, ratificar e regulamentar o Tratado de Livre Comercio Israel-Mercosul. Consideramos um grande erro manter relações comerciais desse nível com um Estado que desrespeita cotidianamente os direitos humanos e resoluções da ONU, em relação à Questão Palestina e aos princípios fundamentais do Direito Internacional Humanitário;
5. O governo brasileiro deve aproveitar o momento para refletir e amparar de maneira mais intensa e efetiva os refugiados palestinos que se encontram hoje no Brasil, principalmente os 150 palestinos que saíram do Iraque e ficaram em um Campo de Refugiados na Jordânia, e que se encontram no Estado de São Paulo;
6. O governo brasileiro deve exigir mais uma vez que Israel cumpra as resoluções da ONU sobre o estabelecimento de um Estado Palestino Livre e Soberano no território da Cisjordânia, Gaza e Jerusalém Oriental, conforme resoluções já aprovadas e reiteradas em Assembleia Geral;
7. O Brasil deve utilizar todos os mecanismos disponíveis na Carta das Nações Unidas e outras resoluções internacionais para exigir do governo de Israel que cumpra a decisão do Tribunal Internacional da ONU de derrubar o “muro da vergonha”, que tem cerca de 400 km de extensão e separa o povo palestino e israelense, configurando uma situação de apartheid que priva dos palestinos o direito de ir e vir. Sugerimos uma visita à entrada dos palestinos em Belém, cidade onde nasceu Jesus, que hoje se encontra cercada.
Sigam em frente irmãos e irmãs palestinos, com uma oliveira numa das mãos e uma pedra na outra, lembrando sempre de sua história, de sua origem e de sua tarefa: lutar permanentemente contra o sionismo e o governo de Israel, mesmo estando em condicões bastante desiguais frente ao inimigo-agressor.
Quem não cansa de lutar semeia a cada dia o caminho da vitória. A Palestina será livre, justa e soberana. Esse é o seu caminho e o destino de seu povo. Liberadade e terra para o povo palestino.
Secretaria Nacional do Movimentos dos Trabalhadores Rurais Sem Terra - MST
sexta-feira, 4 de junho de 2010
Oliver Stone ataca a mídia e diz que "Ao Sul da Fronteira" dá voz aos pobres

Editor de UOL Cinema
UOL Cinema - Por que decidiu fazer um filme sobre a geopolítica sul-americana? Quando teve essa ideia pela primeira vez?
UOL Cinema - Uma das principais críticas em torno do filme aqui no Brasil é de que "Ao Sul da Fronteira" traz uma visão pronta, quase uma tese.
Oliver Stone - É claro que vão dizer isso. O filme vai ser politicamente criticado. São meios de comunicação muito fortes e poderosos. Se ficar estabelecido que eles não gostam de Chávez ou de Lula, certamente perseguirão o filme, é inevitável. Não posso me importar com isso. O filme é destinado aos 80% de pessoas que não são representados nesse tipo de filme, os 80% que foram beneficiados pelas políticas desses novos líderes. E por falar nisso tivemos uma tremenda exibição do filme em Cochabamba, na Bolívia, com seis mil pessoas. Nunca na minha vida estive numa sala com seis mil pessoas vibrando e aplaudindo. E também na Venezuela, com três mil pessoas. É algo para ser visto. É preciso entender que os filmes existem para as pessoas. E elas meio que ficam enterradas, escondidas. Especialmente os pobres, que não são ouvidos. E esses líderes representam uma mudança.
Fonte: http://www.cinema.uol.com.br/
segunda-feira, 31 de maio de 2010
Em solidariedade com as vítimas do terrorismo israelense

"Os trágicos resultados da operação militar israelense denotam, uma vez mais, a necessidade de que seja levantado, imediatamente, o bloqueio imposto à Faixa de Gaza, com vistas a garantir a liberdade de locomoção de seus habitantes e o livre acesso de alimentos, remédios e bens de consumo àquela região", trecho do comunicado do Ministério das Relações Exteriores do Brasil, que convocou hoje (31/5) o embaixador de Israel em Brasília para manifestar sua "indignação" pelo "ataque israelense" a uma frota de navios que levaria ajuda humanitária à Faixa de Gaza e sua preocupação pela situação de uma cidadã brasileira que estaria em uma das embarcações.
Novo livro de Anita Prestes

sexta-feira, 28 de maio de 2010
O que queremos para nossa agricultura

As transformações do mundo nas últimas décadas fizeram com que o centro de acumulação do capital fosse para a esfera financeira e para as corporações transnacionais. Isso trouxe graves consequências e promoveu um enfrentamento crescente entre dois modelos de produção na agricultura.
O modelo dos capitalistas é uma aliança entre grandes proprietários de terras, empresas transnacionais e sistema financeiro. As empresas fornecem insumos, compram os produtos, controlam o mercado e fixam preços dos produtos agrícolas.
Os grandes proprietários (cerca de apenas 40 mil, que possuem mais de mil hectares) entram com a terra, destruindo a biodiversidade e superexplorando os trabalhadores, para repartir a taxa de lucro da agricultura das empresas.
Esse modelo foi autodenominado de agronegócio. Adota a monocultura, para ampliar a escala de produção, com o uso intensivo de venenos e maquinaria pesada.
Essa matriz tecnológica provoca um desequilíbrio climático e ambiental para obter lucros e fazer negócios a quaisquer custos.
O próprio sindicato das empresas de defensivos agrícolas anunciou exultante que, na safra passada, utilizou 1 bilhão de litros de agrotóxicos (cinco litros por habitante). Somos o maior consumidor mundial de venenos.
Isso degrada o solo, afeta o lençol freático, contamina até as chuvas, além dos alimentos.
A Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) e o Instituto Nacional do Câncer têm alertado que o aumento de câncer está ligado ao crescente uso de agrotóxicos.
Os ricos e a classe média alta compram produtos orgânicos, mais caros. No entanto, o povo está à mercê dos produtos contaminados.
O agronegócio ainda aumenta a concentração da terra e da produção, pela necessidade de ganhar escala no plantio. O Censo de 2006 aponta que a concentração da terra é maior do que na década de 1920.
Estamos fazendo o caminho inverso ao da reforma agrária. Cerca de 80% das nossas melhores terras são usadas para produzir para exportação três produtos: soja, milho e cana. Além disso, o agronegócio é cada vez mais dependente do financiamento público.
Para produzir um valor anual de R$ 120 bilhões, esse modelo retira crédito nos bancos públicos (da poupança recolhida nos depósitos à vista), ao redor de R$ 90 bilhões.
Ou seja, é a população brasileira que financia o agronegócio, ao contrário da propaganda mentirosa que só exalta seus "benefícios".
Os movimentos sociais, junto com ambientalistas, igrejas e cientistas, temos alertado sobre esses problemas. Propomos outro modelo de agricultura, que priorize a produção diversificada, máquinas agrícolas adequadas a pequenas unidades, agroindústrias cooperativadas e técnicas agroecológicas.
Em vez de priorizar o lucro de grandes empresas e fazendeiros, temos que respeitar o equilíbrio do ambiente, produzir alimentos sadios, fortalecer o mercado interno, aproximando produtores e consumidores. Nossa proposta de reforma agrária popular é a adoção desse modelo, e não apenas distribuir lotes para os sem-terra.
O que está em jogo é a organização da agricultura brasileira.
O povo não tem dinheiro para financiar candidatos, mas o agronegócio anunciou a aplicação de R$ 800 milhões para eleger candidatos. Mas temos o voto e poder de mobilização. É preciso, nesse período eleitoral, cobrar dos candidatos posições claras. Os nossos recursos naturais devem ser utilizados em benefício do povo brasileiro.
A sociedade brasileira, cedo ou tarde, deverá decidir se o país continuará produzindo alimentos com venenos, porque dão lucros, ou se dará prioridade a alimentos saudáveis e à preservação ambiental.
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JOÃO PEDRO STEDILE , 56, economista, é integrante da coordenação nacional do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) e da Via Campesina Brasil.
Projeto Brasil África

Trata-se de uma base de dados contendo informações detalhadas sobre cada documento selecionado, tais como o nome do autor, da obra, a data, e o local da publicação. A base trás também um breve resumo de cada documento indicado. A finalidade da base é facilitar o acesso do pesquisador a inúmeras fontes relacionadas a temas diversos relativos ao continente africano, tais como viagens, escravidão, comércio, história, geografia, medicina, religião e religiosidade, entre outros assuntos.
http://www.ieb.usp.br/online/telaSubCateg.asp?id=23
domingo, 23 de maio de 2010
"Há que retirar as FARC e o ELN da lista de terroristas se se quiser avançar o processo de paz"

Em conferência de imprensa realizada em Madrid a 15 de Maio, a senadora colombiana Piedad Cordoba assinalou os seguintes pontos:
1. VISIBILIZAR A REALIDADE E O DRAMA NA COLÔMBIA
"Visibilizar... há a necessidade de que se conheça (...) Governos como o da Espanha ratificam o seu apoio à guerra na Colômbia (...) partem do desconhecimento de que na Colômbia existe um conflito social e armado".
"O argumento poderoso que esgrimem os Estados Unidos e o seu subalterno na Colômbia para justificar a presença de sete bases militares (...) é supostamente "combater o terrorismo e o narcotráfico".
2. O CONCEITO DE "TERRORISMO"
"(...) O conceito de "terrorismo" deveria ser um conceito jurídico e não um conceito político que se move ao sabor das mesmas bases militares, ou seja, ao sabor dos interesses que têm governos como o dos Estados Unidos"
"Preocupa-nos enormemente que a vice-presidenta do país (EUA) haja declarado que continuam com a sua política de apoio à "Seguridad Democrática~", com a sua política de poio à "luta contra o narcotráfico e contra o terrorismo" e de maneira muito categórica de combate contra as FARC. Preocupa-nos enormemente porque isto é uma carta de corso para um governo que expira e que, de qualquer forma, o facto de Uribe ir embora não significa que a política que traçou vá com ele".

"(...) o facto de Uribe ir embora não significa que a política que traçou vá com ele... Muito pelo contrário... serve de argumento para que muitos candidatos presidenciais, num clima eleitoral muito complexo, em lugar de propor a defesa da soberania nacional, da soberania popular, firmem-se nestes conceitos de países como estes (EUA) para continuar uma política degradante (...)"
"E valeria a pensa mencionar resultados das 'bondades' da política de seguridad democrática que o governo nacional tanto exibe:
Cinco mil assassinatos a sangue frio que hoje são conhecidos eufemisticamente como "falsos positivos" e que foram em grande medida dirigidos por quem é hoje candidato presidencial, que era então ministro da guerra do país"
Em segundo lugar, mencionar um número escandaloso que ao invés de diminuir aumenta: 4 milhões de refugiados internos, o que nos coloca no primeiro lugar da América Latina e em segundo lugar, depois do Sudão, a nível mundial (de deslocamento forçado) (...) situações que a imprensa apenas começa a evidenciar".
4. FORNOS CREMATÓRIOS
"Com uma profunda tristeza temos que reconhecer que factos muito repugnantes que foram recusados por toda a humanidade hoje têm lugar na Colômbia, como é o caso dos fornos crematórios. Não só na zona de Catatumbo como também em regiões como o departamento de Antióquia" (minuto 05:16)
"Muitas das vítimas não só foram cremadas depois de assassinadas como também muitas da vítimas foram queimadas vivas para pô-las como escarmento daqueles que, como camponeses, recusavam a presença dos paramilitares e recusavam-se a delatar o que muitas vezes não sabiam (...) Este é um dos resultados da política da Seguridad Democrática..."
5. A UE APOIA O EXTERMÍNIO E OS DESAPARECIMENTOS
"Todo isto é muito importante que seja dito aqui na Espanha, precisamente hoje onde acaba de concluir um fórum de jornalismo no país e onde os que considerávamos que poderiam ser nossos aliados para acabar com factos desta natureza não só apoiam sem qualquer discussão o TLC entre a UE e a Colômbia como além disso continuam a apoiar uma política de guerra, de extermínio, de desaparecimentos".
6. DESAPARECIDOS: 250 MIL
"Um número muito recente revela que a nossa recusa às bases militares no país tem razão de ser... em números como este: O CODHES revela que o número de desaparecidos nos últimos três anos é de 38.255, que se somam ao total de 100 mil desaparecidos nos últimos dez anos... verificando-se um aumento impressionante (...) O promotor anterior revelou, 15 dias antes de terminar o seu mandato, um número que foi escalafriante e contudo passou desapercebido... 250 mil desaparecidos na Colômbia nos últimos anos... Ou seja, nós superámos há muito esses números que com tanto pavor deram calafrios a muitas pessoas no mundo como o que ocorreu no Chile e na Argentina, mas que superámos de maneira espantosa".
7. FOSSAS COMUNS DANTESCAS
"(...) Em cerca de duas semanas vamos receber os restos da maior fossa comum (...) a da Meta de la Sierra de la Macarena, com 2000 cadáveres nessa fossa comum, mas ao lado dessa fossa comum está a do Guaviare que segundo informações é inclusive muito maior que esta, e que está no território de uma base militar do exército na Colômbia (...) ou seja, pode-se perguntar: "O que é o que realmente estão a apoiar estes governos" Que percepção têm do que realmente está a ocorrer no país" (minuto 08:29)
8. DETENÇÕES ARBITRÁRIAS, PRESOS POLÍTICOS
"Para não falar da quantidade de detenções arbitrárias e maciças que se estão a verificar permanentemente na Colômbia; da quantidade de processados aos quais não se lhe tem em conta o processo devido, que permanecem anos e anos nos cárceres... Os senhores devem conhecer a detenção do professor Miguel Ángela Beltrán, sequestrado em outro país, e que até à data não teve um julgamento que lhe permita defender-se realmente, pois é condenado de antemão e o que se faz é um arremedo de julgamento, mas não há um julgamento que lhe dê a garantia ao devido processo" (minuto 09:07)
"Os advogados que enfrentam o tema dos direitos humanos não têm mãos a medir... é tanta a gente detida arbitrariamente que muitas pessoas não têm apoio para a sua defesa (...) entre outras razões porque o advogado que se atreve a defender qualquer destas pessoas detidas é acusado também de ser 'terrorista' e de pertencer ao ELN ou às FARC... ou seja, é um quadro realmente horripilante o que nós vivemos".
9. O DAS: ESPIONAGEM, DESPRESTÍGIO, MONTAGENS, AUTO-ATENTADOS, ASSASSINATOS
"O escândalo do DAS é de uma magnitude tão impressionante que aquilo que fez Nixon foi um jogo infantil em comparação com o que se passou na Colômbia (...) Toda uma estratégia criminosa a partir do Estado, a partir dos serviços de inteligência... Não só para fazer seguimentos a governos como o do Equador, Venezuela, Cuba (...) Como também toda uma estratégia para montar acusações, para fazer marcações... para rebaixar a condição de defensor de direitos humanos (...) Um estratégia absolutamente perversa que, há que dize-lo, deu muitíssimos resultados... e digo isto como prolegómeno ao das bases militares (...) Foi-se gerando uma matriz de opinião, foi-se preparando a opinião pública" (minuto 10;37)
E mais adiante na intervenção de Piedad Córdoba:
"seguimento da embaixada de Cuba... da embaixada da Venezuela..."
"a DEA pagava a sede onde se faziam os seguimentos".
10. COMPUTADOR MÁGICO QUE GERA "PROVAS" (minuto 12:00)
"Eu pessoalmente não pude saber qual é a marca do computador de Reyes, apesar de ter de me defender perante o supremo tribunal (...) É como a lâmpada de Aladino, cada vez que o senhor a fricciona sai a mensagem que o senhor precisa, na medida, no tamanho e na estatura da pessoa que o senhor pretenda incriminar".
"É o computador mais estranho do mundo: tem dentro de si toda a esquerda do universo, não só da Colômbia como também do universo (...) Se friccionarem um pouquinho esta semana vão sair estudantes de Porto Rico..."
"O preocupante disto, e digo-o em tom satírico, é que nenhum de nós conhece o computador... ou seja, nós que estamos no processo perante a o supremo tribunal, e que exigimos que o tragam par sabermos o que é realmente o que apareceu no computador... Ninguém sabe onde está o computador... O seja, o computador é invisível, aparece unicamente quando se necessita uma mensagem (...) mas isso sim, conseguiu fazer realmente dano frente ao respeito pelo processo devido (...) Fez muito dano em tudo o que significa direito opinar livremente... um dos maiores danos que se fizeram à sociedade colombiana, a partir de uma instância da inteligência do Estado (o DAS)".
"A partir de uma instância da inteligência do Estado... um dos membros do DAS revela de que maneira se fez o seguimento à embaixada de Cuba, de que forma se fez o seguimento da embaixada da Venezuela (...) Declara em testemunho juramentado perante a promotoria geral da nação que o DEA pagava, através da embaixada dos EUA, a casa, a sede a partir de onde se faziam todos os seguimentos... ou seja coisas que se podia prever, mas que muitas vezes as pessoas crêem que isto faz parte da imaginação daqueles como nós que estamos na oposição, pois hoje pode-se comprovar de ciência certa de que realmente existiram (...) como se fez toda uma estratégia de guerra suja ou propaganda negra".
11. MISÉRIA, EXCLUSÃO E MENTIRAS
"(...) Muito tempo desenhando toda uma imagem que deu lugar a que a opinião pública considerasse que os inimigos da Colômbia somos nós que estamos na oposição, nós que assinalamos que na Colômbia há um regime absolutamente injusto, excludente, que permite que haja 18 milhões de pobres, 7 milhões de indigentes, que haja gente que não come (...) Porque na Colômbia se chove são as FARC e se faz sol é Chávez, ou se faz sol são as FARC e se chove é Chávez... ou seja, não há nada que se passe na Colômbia que não lancem a culpa a Chávez ou às FARC (...)
"Não há coisa mais surrealista do que dizer que as FARC estão totalmente derrotadas e pretender que todos os dias apanham o chefe financeiro das FARC... ou seja, esse movimento tem algo como 700 chefes financeiros! ... Não há coisa mais surrealista que dizer que as FARC estão totalmente derrotadas e ao mesmo tempo o ministro da defesa acabar de dizer que as FARC têm totalmente sob controle a região do Cauca, no Sul do país (...) Então eles próprios geraram todo este cenário para poderem instalar as bases militares (...) Toda esta política foi a preparação para que as pessoas pudessem tragar sem qualquer explicação a instalação de sete bases militares".
12. PARAMILITARISMO CONTRA HONDURAS E VENEZUELA
"A instalação de sete ou mais bases militares teve como pano de fundo gerar cenários que tornaram possível que o país considerasse que era válido invadir o território equatoriano, que era válido promover o paramilitarismo (...)"
"Fazer toda uma Estratégia de Paramilitarismo que revelou que se pretendeu efectuar, a partir da Colômbia através dos paramilitares, o golpe e o assassinato contra o presidente Chávez (...) que revelou além disso o exército paramilitar que se enviou a Honduras para garantir depois de dado o golpe de Estado que se mantivesse no terror a população hondurenha... Os senhores recordam que a população hondurenha começou a sair às ruas, a participar... e de um momento para outro foi lançada para trás... foi porque chegou um exército de paramilitares a partir da Colômbia"
"Chegou a Honduras um exército paramilitar da Colômbia"
"Quando se conseguiu o controle e se conseguiu consolidar o golpe de Estado nas Honduras, e que se permitiu além disso a eleição do actual presidente golpista, o senhor Lobo... o sr. Santos diz: nós ganhámos uma batalha mas não ganhámos a guerra, porque a guerra significa derrubar Chávez".
13. SETE BASES MILITARES DOS EUA NA COLÔMBIA: EXTRATERRITORIALIDADE DA GUERRA CONTRA A AMÉRICA LATINA
"Nunca se deu o debate acerca das bases... instaladas sob pretexto de combater o narcotráfico" (...) e aqui faça um pequeno desvio: Combater qual narcotráfico?"
"A senadora Gloria Ramírez, do partido comunista, dá conta da localização de cada uma das bases num debate que inclusive está na Internet (...)"
"Cada uma destas bases está situada onde há projectos estratégicos importantes, recursos estratégicos, onde há recursos naturais importantes (...) As bases não têm nada a ver com a luta contra o narcotráfico... muito pelo contrário: O conflito colombiano é uma elemento de extraterritorialidade da guerra frente a América Latina e frente a outros países do mundo... Por isso o não reconhecimento de que na Colômbia existe um conflito social e armado não se destina simplesmente a considerar as FARC e o ELN são um grupo de facínoras e sim que obviamente por trás disso (o não reconhecimento) há toda uma pretensão com carácter de dominação política, militar, hegemónica, para expandir a guerra rumo à América Latina..."
"Contravenção à soberania nacional (...) A lei existe mas não se aplica: isso tem sido muito recorrente durante os oito anos da ditadura constitucional de Uribe, ou seja, o conceito prévio do Conselho de Estado era um requisito para a instalação da bases militares (Não foi consultado) (...) converter o território num território de ocupação estrangeira"
"O tema das bases militares é supremamente indignante porque tem a ver não só com soberania popular como também com a soberania jurídica (...) há algo semelhante com a perda de soberania que se dá no tema da extradição (...) nós renunciámos à nossa soberania jurídica para aplicar uma jurisdição que está totalmente relacionada com os interesses hegemónicos em termos do que tem a ver com a soberania dos recursos, com a nova forma de inteligência que se dá nos EUA partir do 11 de Setembro quando tomam a decisão de levantar as 800 bases militares no mundo... Mas sobretudo pela capacidade que tem um porta-avião de transportar quantidades de urânio sem ter de abastecer combustível, a capacidade fazer inteligência a partir dessas bases militares (...) é a intenção da instalação das bases militares, que foram além disso presenteadas (...) um presidente que disse aos Estados Unidos... querem 7, querem 14, aceitamos 15 (...) quantas querem?"
14. EXTRADIÇÃO PARA SILENCIAR A VERDADE
"Quando extraditaram os 14 chefes paramilitares, nós que nos opúnhamos opunham categoricamente à Lei de Justiça e Paz, opusemo-nos também à sua extradição, porque esses chefes paramilitares haviam denunciado a participação do Estado no narcotráfico e delitos de lesa humanidade, e ao que significa uma paramilitarização total do Estado colombiano..."
15. MASS-MEDIA CÚMPLICES
"Toda uma estratégia a partir dos meios de comunicação dos quais haveria que falar: jamais os meios de comunicação abriram sequer um debate frente à pertinência da instalação ou não das bases militares em território colombiano, da ocupação militar da Colômbia".
"A política de Seguridad Democrática é um fracasso total... ninguém pode dizer que a política tem que (...) vestir de guerrilheiros os camponeses, assassiná-los e mostrá-los como "positivos" do exército!... Por isso chamam-se "falsos positivos" (...) para que os militares recebam o dinheiro que a cooperação internacional dá à Colômbia para 'combater o terrorismo' ".
"Pergunto-me: o terrorismo? mas qual?... o que fazem as pessoas que estão a morrer de fome, que não têm emprego, que não podem entrar na universidade, que não podem estudar?... Ou terrorismo é o que faz o Estado ao fazer esse tipo de alianças e de instalação de bases militares no país?"
"Não foi ganha a 'luta contra o narcotráfico'... A comunidade mundial tem que começar a olhar de que maneira procuramos uma saída com ela para que se acabe o narcotráfico ou legalizá-lo em menos tempo do que canta um galo".
16. "AS FARC E O ELN TÊM DE SER RETIRADOS DA LISTA DE TERRORISTAS"
"Creio que uma das decisões que temos de tomar (e certamente isto vai ser tomado como base para a investigação que faz o Sr. Procurador na Colômbia) é que as FARC e o ELN têm que ser retirados da lista de "terroristas" para que possamos avançar rumo à discussão da saída política e negociada do conflito... Nós não podemos aceitar per se que "o terrorismo" na Colômbia se designe a um grupo de colombianas e colombianos que se levantaram em armas porque na Colômbia não há possibilidade nem para o debate nem para a discussão..."
17. A FALÁCIA DA "LUTA CONTRA O NARCOTRÁFICO" E A OFENSA À SOBERANIA DA COLÕMBIA
"Algo que para nós é doloroso e merece repúdio total é que haja não só sete como quem sabe quantas bases militares com o argumento de fazer o que não somos capazes de fazer e que eles (Estados Unidos) não vão fazer jamais (...) Eles (EUA) acreditam que põem o nariz e nós pomos a cocaína... ou seja, por onde entra nos Estados Unidos? ... Parece que os guardas de fronteira por lá são invisíveis, ou quando entra a cocaína eles desmaiam ou eu não sei o que se passa... Mas: as corrupção não será senão deste lado e lá não haverá corrupção?! (...) Poderíamos nós igualmente estabelecer uma base militar em Manhattan ou em Miami (...)?"
18. A ESPANHA ALIMENTA A GUERRA NA COLÔMBIA PARA DEFENDER OS INTERESSES ECONÓMICOS DE MULTINACIONAIS
"Um país como a Espanha amanha pode aprovar uma lei como a do Arizona e isso é uma derrota para a humanidade (...) Como nos dói, nos ofende, que a Espanha possa dizer que tem tantos interesses comerciais e económicos que vale a pena continuar a apoiar a "luta contra o terrorismo que se exprime nas FARC" ... e que isto se faça pura e simplesmente para a defesa dos seus interesses económicos e comerciais, dos interesses das multinacionais (...) chegará o dia em que algum dos seus interesses saia ... que saiam perdendo lucros porque o povo colombiano cada vez mais se levanta contra esta opressão e porque cada vez mais somos conscientes de que somos unidos na América Latina(...)"
19. OS MARINES USA TÊM IMUNIDADE PARA VIOLAR, PARA COMETER QUALQUER CRIME
"Há que estar contra as bases militares porque além disso nem sequer lhes podemos aplicar a jurisdição penal colombiana (aos marines), eles podem violar as nossas meninas (...) e não se passa absolutamente nada..."
20. "PROCURAR QUE A EUROPA RETIRE DA LISTA DE TERRORISTAS OS NOSSOS IRMÃOS COLOMBIANOS QUE SE LEVANTARAM EM ARMAS"(...)
"(...) A busca da construção de cenários da negociação, e é muito importante a UNASUR, e por isso vamos apelar a estas novas instituições da democracia da América Latina para procurar uma saída..."
"Procurar que a Europa retire da lista de terroristas nossos irmãos colombianos que se levantaram em armas porque para a sociedade colombiana é muito mais importante de uma caixa forte, porque para muitos sectores da sociedade do mundo é muito mais importante cuidar de uma caixa forte do que da vida de um ser humano".
"A presença das bases militares na Colômbia é um desrespeito à dignidade, não só como colombianas ou como colombianos, mas também como seres humanos".
17/Maio/2010
[*] Senadora colombiana, do Partido Liberal. Seu sítio web: http://www.piedadcordoba.net/
O original encontra-se em http://www.resumenlatinoamericano.org/ , Nº 2203 (as deficiências do texto devem-se ao próprio original).
Esta transcrição encontra-se em http://resistir.info/ .