sexta-feira, 11 de março de 2016

Livros de Wilfred Burchett para download

Wilfred Burchett (1911-1983), grande jornalista australiano. Um dos jornalistas revolucionários mais perseguidos pelo imperialismo. Wilfred Burchett conheceu profundamente a história e o povo vietnamita e os seus mais destacados dirigentes.



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A seguir, artigo de Miguel Urbano Rodrigues sobre Wilfred Burchett.



A história inexplicável do povo do Vietnam contemplada e evocada por Wilfred Burchett

Por Miguel Urbano Rodrigues

Catapulta para a liberdade - como sobreviveram os vietnamitas.

O título desse livro de Wilfred Burchett, editado em Portugal pela Caminho em 1979, é demasiado extenso, não atrai. Mas a obra agarra o leitor desde o início.

Conheci Burchett numa das suas visitas a Portugal após a Revolução de Abril sobre a qual escreveu um livro e muitos artigos.

Ele quis ir ao Alentejo para visitar UCPs da Reforma Agraria. Tive a oportunidade de conviver com ele durante dois dias. Falamos muito de Revolução e contra-revolução madrugada adentro, numa cooperativa de Montemor-o Novo onde pernoitamos apos uma jornada exaustiva.

Estabelecemos uma relação amistosa e passou a colaborar gratuitamente em o diario. Enviou-nos trabalhos seus até 1983, ano em que faleceu em Sofia, na Bulgária.

No prefácio de Catapulta para a Liberdade, o jornalista britânico James Cameron discorda do título. O Vietnam, afirma, «não catapultou, aguentou».

Burchett foi um dos jornalistas revolucionários mais perseguidos pelo imperialismo. O governo australiano retirou-lhe o passaporte e a nacionalidade. Durante anos viajou com um documento vietnamita. Posteriormente, Fidel Castro entregou-lhe um passaporte cubano.

VINTE SECULOS DE INVASÕES

Burchett não escreveu uma história da guerra de libertação do Vietnam.

Tenta explicar porque eles venceram sempre. Ao longo de dois mil anos foram invadidos por nações muito mais poderosas.

Os chineses ocuparam o país durante seculos. Invadiram-no umas cinquenta vezes. Foram derrotados e expulsos.

Os mongóis, que em cavalgada prodigiosa tinham esmagado todos os adversários do Adriático ao Pacifico, construindo um império gigantesco, foram derrotados em três invasões e expulsos.

Os tailandeses também invadiram e foram expulsos.

Os franceses ocuparam o país durante oito décadas; foram derrotados e retiram-se.

Os americanos também ali sofreram uma derrota militar. Mantiveram-se durante dez anos no sul do país, cometeram crimes hediondos e retiraram-se derrotados e humilhados.


Burchett pergunta como foi possível aos vietnamitas defender vitoriosamente, durante tantos seculos, a sua pátria, “o seu estilo de vida, o seu idioma, o seu humor e a sua maneira de pensar?»
O seu livro é sobretudo uma tentativa de resposta a essa questão embaraçosa.

Subindo pelo tempo, recordou os antepassados dos atuais vietnamitas. Eles principiaram a cultivar o arroz um milénio antes dos chineses. Construíram diques e escavaram canais para irrigação antes dos sumérios e dos babilónios

AS FRONTEIRAS DO ABSURDO 

Transcorreram mais de 40 anos da tomada de Saigão e os historiadores não conseguiram ainda explicar o inexplicável. Não há precedentes na história da humanidade para epopeia comparável à vietnamita: a vitória politica e militar de um pequeno povo, pobre e economicamente atrasado, sobre os Estados Unidos, a mais poderosa e rica potencia mundial.

Burchett seleciona episódios na cadeia ininterrupta de guerras justas. Evoca o choque com os guerreiros do imperador mongol Kubilai Khan e com os ming chineses.

Dedica dois capítulos à «presença» dos franceses. Eles chegaram como conquistadores, alegando que vinham em missão civilizadora. Mentiram. Os vietnamitas eram em meados do seculo XIX um dos povos mais cultos da Ásia. O sistema educacional era democrático. Privilegiava a literatura e formava professores, economistas, diplomatas, filósofos, funcionários competentes. Na Idade Média, a qualidade do ensino nas universidades vietnamitas era comparável à das europeias. Os colonialistas franceses destruíram esse sistema educacional, semearam o analfabetismo, saquearam os recursos naturais e impuseram uma administração brutal. Nas escolas diziam às crianças vietnamitas que descendiam dos gauleses e forçavam-nas a aprender os nomes das cidades, dos rios, das montanhas da França, mas não os do seu país.

Burchett, que percorreu dezenas de vezes o Vietnam de Hanói ao delta do Mekong, do Planalto Central às planícies costeiras, acompanhou como jornalista a batalha de Dien Bien Phu cujo desfecho anunciou o fim da dominação francesa.

Pham Van Dong, o ex-presidente, companheiro de Ho Chi Minh, lembra que ao longo do tempo o seu povo travou uma luita permanente contra catástrofes naturais e os invasores, mas venceu sempre.
O Vietnam foi o primeiro estado a estabelecer o serviço militar obrigatório, criando uma reserva de camponeses–soldados que guardavam as armas nas próprias casas.

As proezas dos seus heróis roçam o sobre-humano. Trieu Qung, Le Duk Tho, Giap e Van Tien Dung trazem à memória os heróis míticos da guerra troiana. Eles e outros foram os Aquiles, Heitores, Ulisses e Eneias do Vietnam. Com a diferença de que na pátria de Ho Chi Minh, sobrepondo-se a todos, houve sempre um herói coletivo: o povo.

GIAP, ESTRATEGO GENIAL

Vo Nguyen Giap, o estratego que muitos historiadores militares consideram superior a Napoleão, é tema de um capítulo. Mas o estratego genial foi também um pensador que condensou nos seus livros reflexões sobre as suas vitórias, que são estudadas nas academias militares do Ocidente. O Problema Camponês, por exemplo, é um trabalho analítico do qual transparece a ilimitada confiança do autor no seu povo, nomeadamente no campesinato, como força mais poderosa do que as armas. O estudo das três campanhas contra os mongóis influenciou o seu conceito de «guerra do povo» que ele elevou a um nível de perfeição.

Burchett recorda que ouviu de Giap uma pormenorizada descrição da batalha de Dien Bien Phu. A preparação foi lenta, porque o transporte de armas pesadas através de uma região inóspita foi muito difícil. As tropas francesas encontravam-se no fundo de um vale apertado entre montanhas. Quando Giap ocupou as alturas e fechou o cerco, os franceses ficaram presos numa ratoeira. A sua capitulação foi apenas uma questão de tempo.

Burchett, que o conheceu intimamente, conta que Giap nas suas campanhas, incluindo a do Tet contra os americanos, forçou os adversários a opções contraditórias que os conduziram à derrota: «se dispersavam ele obrigava-os a concentrarem-se; se optavam pela concentração ele obrigava-os a dispersar, conservando sempre a iniciativa estratégica».

O TIO HO

Ho Chi Minh merece uma atenção especial de Burchett.

«Revelou-se – sublinha - o herói que a situação pedia. Não se pode escrever nada coerente a respeito do Vietnam de hoje sem compreender o que foi a obra de Ho Chi Minh, aquilo que ele fez para tornar o Vietnam e os vietnamitas naquilo que são hoje. O Tio Ho representou a síntese dos grandes patriotas da história multisecular do seu país».

Raramente um líder em qualquer outra nação conquistou um prestígio tao grande e permanente como ele.

Jovem ainda, correu pelo mundo para tentar conhecer os homens e os povos. Fê-lo viajando num veleiro como ajudante de cozinheiro. Trabalhou então nos EUA, na Inglaterra e em França onde se tornou militante do Partido Comunista.

Nunca sentiu aversão pelo povo francês. No contacto com a classe trabalhadora percebeu que essa gente francesa, explorada pela burguesia, era estimável, muito diferente dos colonialistas que oprimiam a sua pátria.

Visitou também a União Soviética onde estudou marxismo, a ideologia que seria a do partido revolucionário que anos depois fundou no seu país.

Na China, como secretário de Mikhail Borodine, então representante da III Internacional junto de Chiang Kai Chek, aprendeu muito.

Quando o sucessor de Sun Yat Sen começou a massacrar os seus ex.aliados comunistas, Ho passou à clandestinidade, desenvolvendo um intenso trabalho de formação de quadros que depois seguiam para o Vietnam. Mas acabou por ser preso e sofreu horrores nos presídios da ditadura de Chiang.

Transcorreram quase vinte anos até ao dia em que Ho considerou estarem reunidas as condições mínimas necessárias para iniciar a luta armada contra os franceses Segundo ele, a preparação política era insuficiente e as concepções militares estavam erradas, os quadros careciam de formação para uma luta prolongada.

Uma das virtudes do revolucionário deve ser a paciência.,

Para o Tio Ho o êxito da primeira ação devia ser decisivo de modo a empolgar todo o povo. E assim aconteceu.

Quando em Dezembro de 1944 Giap comandou na província de Cao Bang o ataque a dois fortes franceses, apoderando-se todas as armas e equipamento das guarnições, essa vitoria teve uma imensa repercussão. A data ficou a assinalar o nascimento do futuro Exercito Popular do Vietnam.

Foi o início de uma luta armada, primeiro contra os franceses, depois contra os americanos, que somente terminaria em Abril de 1975,trinta anos depois.

O DESAFIO VITORIOSO AO IMPOSSIVEL 

Apos o Acordo de Genebra de 1954 que reconheceu a independência da Republica Democrática do Vietnam no Norte e manteve a monarquia no Sul, os Estados Unidos, inconformados com a derrota da França, decidiram intervir, opondo-se à reunificação do país.

Uma guerra devastadora que abalaria o mundo principiou com a chegada dos conselheiros militares americanos. Na realidade eram tropas de combate, mais de 22.000 oficiais e soldados. Posteriormente começou a intervenção direta, oficial, por decisão do presidente Johnson, aprovada pelo Congresso.

Os EUA cometeram no país crimes monstruosos. Numa guerra genocida destruíram centenas de aldeias, massacraram centenas de milhares de vietnamitas, queimaram florestas com napalm, envenenaram terras férteis e rios com produtos tóxicos, patrocinaram o assassínio do presidente Ngo Dinh Diem.

No auge da intervenção o corpo expedicionário americano superou o meio milhão de homens.

Mas ante a incapacidade de obter a vitória fácil que os generais do Pentágono tinham previsto, os invasores começaram a bombardear Hanói.

Acumularam derrota sobre derrota.

A solidariedade com o povo do Vietnam martirizado ganhou uma dimensão mundial. As manifestações contra a guerra, exigindo a Paz, mesmo nos EUA, adquiriram uma amplitude gigantesca.

Washington acabou por se sentar à mesa das negociações com os delegados vietnamitas.

A retirada das últimas tropas americanas ficou assinalada por situações caóticas. O presidente Thieu já tinha alias fugido para Taiwan.

O escritor australiano dedica os últimos capítulos à fase final da guerra de libertação.

Washington acreditava que o Sul se poderia manter sem a presença militar americana. O governo de Saigão contava com um exército de 1.300.000 homens, dotado das armas mais modernas, e de uma força aérea poderosíssima. A desproporção de forças era transparente.

Mas, uma vez mais, a marcha da Historia desmentiu os computadores do Pentágono.

Ho Chi Minh e Giap admitiam que a vitória sobre Saigão poderia tardar dois anos. Enganaram-se.

A chamada Ofensiva da Primavera, em 1975, começou no Planalto Central, o que surpreendeu o governo de Thieu. Numa única batalha, em Buan Me Thuot, o exercito de Saigão foi esmagado e as forças da Região Militar do Planalto Central foram totalmente destruídas na sua fuga para as planícies costeiras.

Os acontecimentos precipitaram-se. Uma serie de fulminantes vitórias conduziram o Exercito Popular, então comandado por Van Tien Dung, outro grande estratego, às portas de Saigão.

A cidade caiu a 30 de Abril.

Ho Chi Minh dissera no seu testamento que finda a guerra «temos de construir o nosso país dez vezes mais belo».

Burchett absteve-se de prever o futuro. Mas a concretização desse novo desafio será ainda mais difícil do que a grande saga popular de seculos de guerras sempre vitoriosas contra a lógica da Historia.

Serpa, Março de 2016

FONTE: ODiario.Info

quinta-feira, 10 de março de 2016

A crise do PT: o ponto de chegada da metamorfose

Por Mauro Luis Iasi.
“Na luta política, não se pode macaquear
os métodos de luta das classes dominantes
sem cair em emboscadas fáceis”.
– ANTONIO GRAMSCI


No momento em que encerrava meus estudos de doutorado sobre o PT em 2004 (As metamorfoses da consciência de classe: o PT entre a negação e o amoldamento. São Paulo: Expressão Popular, 2006) utilizei uma citação de José Genoino que me parecia bastante representativa do ponto a que chegara este importante partido em sua trajetória. O mais interessante é que no texto, que foi publicado em 1989, o ex-presidente do PT que na época se localizava nas fileiras da esquerda daquela agremiação, buscava descrever as características dos partidos conservadores, próprios da estrutura política tradicional. Por uma das ironias da história, pareceu-me que tal descrição poderia bem ser utilizada para descrever o ponto a que chegou a metamorfose do PT.
Dizia Genoino:
“Genericamente, na sociedade industrial moderna, os partidos políticos da ordem nascem e atuam fundamentalmente no terreno das instituições representativas do Estado. O seu modo de ser e sua atuação política têm como referência e destino estar aí, operando em algum dos aparatos do Estado. A forma como estes partidos se organizam e se estruturam já vem marcada por este objetivo interesseiro, o de conservar a funcionalidade do estado de coisas estabelecido. Ou, no máximo, moldando as exigências de mudanças a um esquema de representações significativas que não abalem os alicerces das relações sociais determinadas pelo conservadorismo. Estes partidos mantêm uma relação com as massas populares essencialmente manipulatória, fazendo-as crer que a sociedade (e o Estado) só terá garantias de funcionamento se determinados limites não forem ultrapassados e se determinados esquemas funcionais forem mantidos. E não poucas vezes, a manipulação e a mentira são revestidas com discursos moralizantes para encobrir a sua descarada hipocrisia”.
(GENOINO, José. “Um projeto socialista ainda em construção”In: GADOTI, Moacir. Pra que PT?. São Paulo: Cortez, 1989. p. 356)
O paradoxo é que o PT não nasceu no terreno das instituições representativas do Estado, mas no terreno fértil da luta de classes. Entretanto, a descrição acima indica com clareza o ponto de chegada de uma organização que, nascida no solo da luta de classes, deslocou seu ser para o terreno perigoso do “estar aí, operando em alguns dos aparatos de Estado”, com todas as consequências que daí derivam. Não apenas o respeitar dos limites, afirmados como intransponíveis pois ancorados nas restrições da “funcionalidade do estado de coisas estabelecido”, mas sobretudo aquilo que hoje se torna dramático: fazer crer às massas que a garantia de sua vitalidade só de dará na medida em que sejam respeitados tais limites, levando à uma ação marcada pela “manipulação e a mentira” revestidas por um discurso moralizante que tenta encobrir sua descarada hipocrisia.
Seria este um destino inescapável para aqueles que buscam o poder? Creio que não. Tal conclusão nada mais é que a expressão mais sofisticada da máxima do senso comum segundo a qual o “poder corrompe”. Caso nos rendêssemos a esta conclusão, teríamos que nos aprofundar nosescritos de John Holloway buscando os caminhos para mudar o mundo sem tomar o poder, apenas para descobrir que ele também ainda não os encontrou.
Continuo convencido de que a explicação para a metamorfose do PT tem de ser buscada na própria estratégia adotada pelo partido e seus limites. Ainda que o desfecho atual não possa ser entendido como o único desenvolvimento possível desta estratégia (governos como o da Venezuela e da Bolívia comprovam que haviam outras trajetórias possíveis, ainda que não isentas de impasses semelhantes), é seguro afirmar que o ponto de chegada guarda uma coerência com o caminho escolhido.
A TRAJETÓRIA DA ESTRATÉGIA DEMOCRÁTICA POPULAR
O caminho que leva das intenções iniciais da Estratégia Democrática Popular à sua implementação numa situação de governo é muito longo e cheio de matizes que não é possível aqui reproduzir. Desta maneira, vou centrar a atenção em alguns pontos que considero centrais para jogar um pouco mais de luz no desfecho trágico que agora presenciamos e pensar sobre perspectivas que se abrem.
Em sua substância mais essencial, a Estratégia Democrática Popular esperava, através de uma combinação de dois movimentos em “pinça” (a construção de um movimento socialista de massas de um lado, e assegurar as expressões institucionais destas lutas na conquista de espaços institucionais de outro), chegar ao Governo Federal para executar um programa anti-latifundiário, anti-imperialista e anti-monopolista. Buscando diferenciar-se da antiga formulação do PCB sobre a Revolução Democrática Nacional, um governo nestas condições que busca realizar este programa não representaria uma nova teoria de “etapas”, uma vez que sua implementação só poderia se dar por um governo “hegemonizado pelos trabalhadores”, sem nenhuma aliança estratégica com a burguesia.
Completa tal formulação a afirmação presente no V Encontro Nacional do PT (1987) segundo a qual a superação do capitalismo e o início da construção socialista marcava uma “ruptura radical” que pressupunha a necessidade dos trabalhadores tornarem-se classe “hegemônica e dominante no poder de Estado”, eliminando o “poder político exercido pela burguesia”.
A conjunção de vários fatores (a derrota eleitoral para Collor, a reestruturação produtiva do capital, a crise nas experiências de transição socialista, etc.) fará com que um processo de inflexão moderada se iniciasse a partir do VII Encontro Nacional (1990). A diferença sutil, mas cheia de significado, aparece nas resoluções deste encontro quando cita a formulação do V Encontro que apresentamos antes, afirmando que os trabalhadores devem se tornar hegemônicos na sociedade civil e no Estado, deixando outros aspectos do projeto socialista como “desafios em aberto”.
Para os bons observadores, é fácil notar que o que desaparece da frase é a necessidade dos trabalhadores tornarem classe dominante no Estado destruindo o poder político da burguesia e a desconsideração explicita na primeira formulação segundo a qual não haveria “qualquer exemplo histórico de uma classe que tenha transformado a sociedade sem colocar o poder político – o Estado – a seu serviço”.
O que parece ficar implícito é que os trabalhadores poderiam ocupar a máquina do Estado burguês e colocá-la a seu serviço. Tal raciocínio se explicita já no I Congresso em 1991, quando as resoluções afirmam, para apontar o tipo de socialismo que se desejava e diferenciá-lo das experiências históricas do século XX, que no caso petista o socialismo deveria se dar no quadro de um “Estado de Direito”. Ainda que tal debate se dê no contexto de uma avaliação necessária da relação entre democracia e socialismo e os problemas nas experiências de transição realizadas, no caso do PT isso, parece-me, acaba desembocando para muito além. Vejamos mais de perto a passagem das resoluções do I Congresso que trata do tema:
“O socialismo pelo qual o PT luta prevê, portanto, a existência de um Estado de Direito, no qual prevaleçam as mais amplas liberdades civis e políticas, de opinião, de manifestação, de imprensa, partidária, sindical etc.; onde os mecanismos de democracia representativa, libertos da coação do capital, devem ser conjugados com formas de participação direta do cidadão nas decisões econômicas, políticas e sociais. A democracia socialista que queremos construir estabelece a legitimação majoritária do poder político, o respeito às minorias e a possibilidade de alternância do poder”. (Resoluções do I Congresso (1991)
Quando analisamos mais detidamente a afirmação, percebemos que trata-se do mesmo Estado Burguês na forma “democrática”, com todas seus princípios tornados universais (ordenamento jurídico como fundamento das relações, liberdades civis, democracia representativa combinada com formas de democracia direta, legitimação da maioria, respeito às minorias e alternância de poder), as famosas “regras do jogo”, tal como define ninguém menos que Norberto Bobbio e que foram invocadas pelo ex-presidente Lula em seu discurso recente. A diferença é que esta máquina política seria, agora, liberta da “coação do capital”.
O problema é que se estas concepções navegam em um inevitável terreno de abstrações, na situação concreta da possibilidade de chegar ao governo do Estado burguês elas ganham materialidade. A principal alteração na operação da estratégia surge exatamente da possibilidade de chegar ao Governo Federal antes que o trabalho da “pinça” estivesse avançado o suficiente para criar uma correlação de forças que permitisse implementar o programa anunciado.
Tal dilema se expressa em algumas perguntas: É possível, mesmo nesta situação, chegar ao governo? É desejável? Caso se chegue é possível manter-se, isto é, não ser derrubado por um golpe? As respostas a estas questões são chave na compreensão de nosso tema. Porque depois de avaliar que por conta crise econômica, das contradições dos governos burgueses de plantão, etc. essa era sim uma alternativa possível, e depois de definir que ela era de fato desejável, a discussão passa a se centrar nas condições para manter-se no governo.
O sentido geral desta equação resolveu-se da seguinte forma. É possível chegar ao governo mesmo sem a correlação de forças necessária, mas isto implica que não seria possível implementar o programa anti-latifúndio, anti-imperialista e anti-monopolista, o que significaria seguir o acúmulo de forças em novo patamar – agora numa situação privilegiada de poder por se encontrar no governo.
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REGRAS DO JOGO
Neste ponto, no entanto, a operação da estratégia se torna complexa, pois a chegada ao governo significava, no esquema anterior, a oportunidade para desencadear o programa democrático popular e, num segundo momento, confirmada a impossibilidade de levá-lo a cabo em sua integralidade no interior da ordem burguesa (até pela resistência óbvia dos segmentos conservadores), a possibilidade de seguir com uma ruptura mais radical em direção ao socialismo. Agora, no novo contexto, trata-se de seguir a acumulação de forças utilizando-se do espaço de governo, para depois buscar este desfecho. Mas, para isso, é preciso e essencial permanecer no governo e a única forma de fazê-lo era não implementar os eixos do programa e sua radicalidade para não despertar a reação das classes dominantes.
A forma do Estado proposta e os termos deste dilema se resolvem, no andar da carruagem, na equação que conduziria à inflexão moderada: rebaixar o programa, ampliar alianças, ganhar as eleições e garantir a governabilidade.
Durante todo o tempo em que, nas novas condições apresentadas, o PT levaria o processo de acúmulo de forças para uma situação de governo, o Estado burguês não interviria no sentido da interrupção do processo, uma vez que o PT estaria comprometido a respeitar as regras do jogo.
Acontece que as regras não dizem respeito apenas ao tabuleiro político. O jogo principal se dá na luta de classes, e é em seu terreno (que são as relações sociais de produção e as formas de propriedade) que se encontram as principais regras que a burguesia quer ver respeitada. O equilíbrio não estaria, portanto, apenas na aceitação das regras da disputa política e do exercício de governo, mas na aceitação explícita que ninguém estava disposto a chutar o tabuleiro da acumulação capitalista, ou nas palavras do jovem Genoino, “moldando as exigências de mudanças a um esquema de representações significativas que não abalem os alicerces das relações sociais determinadas pelo conservadorismo”, diríamos nós, determinadas pela forma capitalista de produção e a sociabilidade burguesa que dela deriva.
É neste ponto que a estratégia petista desemboca no pântano do pacto social e da conciliação de classes como condição de sua governabilidade. Os termos do XII Encontro Nacional em 2002, às vésperas da eleição que levaria Lula ao seu primeiro mandato é reveladora desta intenção ao falar da necessidade de um “novo contrato social”, uma ampla aliança entre forças políticas para dar “suporte ao Estado-Nação”, leque de forças que deveria incluir “empresários produtivos de qualquer porte”. O problema era como atrair o empresariado de qualquer porte e a resposta é os benefícios de superar a lógica rentista, a ampliação do mercado de massas e garantir a “previsibilidade para o capital”.
Ora, previsibilidade para o capital significa garantir para a burguesia que não se mexerá nas formas de propriedade, nas relações sociais de produção e, conjunturalmente, não se alteraria o rumo da contra reforma em curso e seus mecanismos macro-econômicos. Ou seja, exatamente o que foi depois expresso na “Carta aos brasileiros”, de Lula em 2002.
Quatro mandatos presidenciais demonstram, é certo, a eficiência tática do caminho do pacto social. Mas algo salta à vista de qualquer analista atento: a tática de permanência no governo não acumulou forças no sentido esperado no quadro da estratégia democrática popular. Pelo contrário: desarmou a classe trabalhadora de sua autonomia necessária, a desorganizou, despolitizou, e deslocou o campo de luta para o terreno do inimigo: seu Estado. Aí está um nó principal no grande equívoco de implementação da estratégia na situação de governo. O Estado não é neutro, nem altera sua natureza de classe pela ocupação de seus espaços por forças sociais oriundas de outras classes, segue funcionando como Estado-classe, nos termos gramscianos.
Para manter os termos necessários ao pacto e a conciliação de classes, o governo é obrigado a golpear os trabalhadores em seus direitos mais elementares. O preço da governabilidade não é o adiar da execução integral do programa democrático popular, é sua mais retumbante renúncia.
MAS E A OPERAÇÃO LAVA JATO?
Neste ponto da exposição, o leitor inquieto do Blog da Boitempo se pergunta: “puxa, a conjuntura explodindo em fatos dramáticos, a Presidente sob risco de impedimento, Lula sendo levado sob condução coercitiva para depor na Lava-Jato, e este cara nos falando de estratégia!?”
Pois é, o problema é que não creio ser possível entender os acontecimentos envoltos nas brumas enganosas da conjuntura, e muito menos posicionar-se politicamente, sem compreender estes fatos à luz do processo histórico mais recente. Aquele que tomar as decisões pelo fígado ou movido pelas paixões mais candentes, corre um enorme risco de errar.
Uma lembrança pessoal pode me ajudar a finalizar esta reflexão. Inúmeras vezes, quando militava no PT, era provocado pela veemente afirmação segundo a qual Lula tinha uma casa no Morumbi. Ocorre que naquela época eu morava em São Bernardo e era vizinho de Lula. Ele morava ao final da Rua São João e eu uma rua acima. Era uma casa absolutamente compatível com as condições de um operário e dirigente sindical. Desta forma, sempre respondia a tais provocações com humor, afirmando que meu pequeno apartamento na cidade do ABC paulista tinha então valorizado muito, pois não sabia que ali era o Morumbi.
Conto isso para afirmar duas coisas. Primeiro, que o que tem aparecido é apenas uma cortina de fumaça. Não se trata de bens pessoais ou favorecimentos. Não tenho o menor interesse em saber onde fica ou qual o tamanho da moradia do ex-Presidente, nem de onde ele descansa nos fins de semana. Segundo, que diferente daquela época, não estou disposto a botar minha mão no fogo para atestar a inocência de Lula, como parece ter se prontificado Fernando Morais. Não pelos fatos que o imputam, como disse, mas por algo maior que se refere à reflexão aqui apresentada.
Uma das consequências da conciliação de classes operada é uma relação promiscua entre o poder público e os interesses monopolistas privados. Vejam, não discuto a dimensão legal de tais atos, uma vez que exércitos de bons advogados podem chegar a provar que nada do que foi feito é ilícito. Não opino e não quero opinar neste campo. Interessa-me uma dimensão política e moral.
Pode ser perfeitamente legal, num exemplo hipotético, que um ex-Presidente aproveite suas viagens para apresentar a um determinado candidato em um certo país, seu amigo publicitário com um portfólio invejável de vitórias eleitorais; ou ainda, um esforçado empresário de uma grande empreiteira disposto a contribuir desinteressadamente com os custos de tal campanha e depois discutir, já que está por ali, a eventualidade de um ou outro contrato caso o candidato ganhe. Independente de discutir a legalidade de tais procedimentos, do ponto de vista moral é reprovável e do ponto de vista político tal postura é indefensável.
Em outro plano, com o perdão dos adoradores da álea singular dos acontecimentos conjunturais, o desenvolvimento da estratégia petista na situação de governo comprovou que o malabarismo do pacto social acabou por favorecer muito os interesses das camadas dominantes, ao mesmo tempo em que se operavam ataques severos contra nossa classe trabalhadora, como a reforma da previdência, o rigor na aplicação do ajuste fiscal, a lei antiterrorismo que criminaliza as lutas sociais, a entrega do pré-sal, o abandono da reforma agrária, o código florestal e o código de mineração, a liberação dos transgênicos, e uma lista que não caberia neste espaço.
Assim, nos parece que a burguesia está disposta a se livrar de seu aliado, não por suas eventuais virtudes de um líder operário que um dia foi, mas pelo simples fato de que, tendo sido muito útil para operar uma democracia de cooptação fundada no apassivamento da classe trabalhadora, torna-se agora fonte de instabilidade que pode colocar em risco os interesses dominantes. E a burguesia vai usar todos os meios para tanto, fazendo uso inclusive daqueles instrumentos de seu Estado-classe que o PT julgava que fossem “republicanos” e que estariam a serviço desta abstração chamada “nação”.
O PT não se preparou para esta eventualidade pelo simples fato de que em sua estratégia tal possibilidade inexistia – seria neutralizada pelo caminho escolhido e o respeito às regras do jogo. Não há culpados na luta de classes, não somos cristãos. Mas há responsabilidade. Se a direita, como parece ser o caso, resolver se livrar do PT com os métodos mais escusos, certamente a responsabilidade não pode ser atribuída àqueles que sempre apontaram esta possibilidade e indicaram os limites do desenvolvimento desta estratégia.
O argumento que convoca à defesa pública de Lula (e, por via de consequência, de seu partido), de que se é a direita que o ataca, a esquerda “tem a obrigação de defendê-lo”, é absolutamente falacioso. A única maneira de defender Lula é torná-lo um fetiche. Isto é, abstrair toda a particularidade concreta que o constitui para produzir um Lula simbólico muito distinto da pessoa real que ele é e que sua prática demonstrou ser. Para emergir um Lula defensor injustiçado dos mais pobres e dos trabalhadores, perseguido pelos poderosos, é necessário abstrair o Lula amigo destes poderosos, levando-os em vôos fretados para fazer negócios e criando as condições para que ganhassem dinheiro como nunca, como ele próprio gosta de dizer. Mas mesmo assim, proclamam outros, este símbolo pode ser o que nos resta para resistir contra o ataque da direita.
Os caminhos nefastos do culto à personalidade – de se acoplar o destinos da classe ao carisma pessoal de um líder independente do sentido real que sua ação política aponta – já demonstrou seus enormes riscos na história de nossa classe. Se um Lula abstrato e fetichizado – em outras palavras, o lulismo – for nossa última e única linha de resistência (o que não creio que seja verdade) contra o próximo movimento da direita, seja qualquer que for o resultado, nós já estaremos derrotados.
***
PARA APROFUNDAR A REFLEXÃO… 5 DICAS DE LEITURA DA BOITEMPO
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Mauro Iasi é professor adjunto da Escola de Serviço Social da UFRJ, pesquisador do NEPEM (Núcleo de Estudos e Pesquisas Marxistas), do NEP 13 de Maio e membro do Comitê Central do PCB.

quarta-feira, 9 de março de 2016

Anita Prestes em Porto Alegre

Palestra de lançamento do livro "Luiz Carlos Prestes: um comunista brasileiro", publicado pela Boitempo Editorial
16/03 | quarta-feira | 18h30
Auditório da Faculdade de Ciências Econômicas da UFRGS 
Avenida João Pessoa, 52 
Centro - Porto Alegre - RS
Organização, realização e apoio: NUPESAL (Núcleo de Pesquisa sobre a América Latina) e Programa de Pós-Graduação em Ciência Política.





terça-feira, 8 de março de 2016

El concepto de transición


El concepto de transición
François Houtart *
S
e habla mucho de transiciones para calificar periodos de cambio socioeconómico o político. Es el caso actualmente frente al agotamiento de las experiencias posneoliberales en América Latina por razones externas (crisis mundial) e internas, lo que no significa el agotamiento de las luchas antisistémicas. El término puede tener muchos sentidos, según la lectura de los eventos. Carlos Marx desarrolló el concepto de transición a propósito del paso del modo de producción feudal al capitalismo en Europa y Maurice Godelier, economista y antropólogo francés, lo resume de la manera siguiente: es la fase particular de una sociedad que encuentra más y más dificultades a reproducir el sistema económico y social sobre el cual ella se funda y empieza a reorganizarse sobre la base de otro sistema que se trasforma en la forma general de las nuevas condiciones de existencia(Maurice Godelier, 1982, 1165). Se trata evidentemente de procesos largos, no lineares, más o menos violentos de acuerdo con las resistencias de los grupos sociales involucrados. Muchos analistas estiman que el capitalismo llegó al fin de su papel histórico porque se ha vuelto un sistema destructor de las propias bases de su éxito, la naturaleza y el trabajo, como ya lo decía Carlos Marx. Es así que Samir Amin habla del capitalismo senil, que Immanuel Wallerstein publicó un artículo en medio de la crisis financiera diciendo que se asiste al fin del capitalismo y que István Mészarós habla de su incapacidad de asegurar el mantenimiento del metabolismo social de la humanidad (2008, 84).
Si, por una parte, se puede aceptar la idea de que estamos viviendo una transición del modo de producción capitalista a otra forma y que el proceso puede ser precipitado por la crisis climática, por la otra, no se debe olvidar que un tal cambio será el resultado de un proceso social y que no puede realizarse sin luchas ni una transformación de las relaciones de fuerza. En otras palabras, el capitalismo no caerá por sí solo y la convergencia de todas las luchas sociales y políticas es un requisito para llegar a un resultado. La historia nos enseña que el capitalismo es capaz de transformar sus propias contradicciones en un aporte al proceso de acumulación. Ya se habla de un capitalismo social y de uncapitalismo verde. La elaboración teórica del concepto en el contexto histórico de la crisis sistémica actual permitirá la elaboración de instrumentos de evaluación de las experiencias sociales y políticas en curso. Es particularmente el caso en América Latina con los regímenes que empezaron procesos de cambio y que se reclaman del socialismo del siglo XXI. La cuestión fundamental es de saber en qué medida las experiencias políticas latinoamericanas fueron transiciones hacia otro modelo social o adaptaciones del capitalismo contemporáneo a las nuevas demandas ecológicas y sociales.
Las transiciones que pueden conducir a un cambio de paradigma son numerosas, pero exigen una visión específica. De hecho muchas de las medidas presentadas como transiciones son adaptaciones del sistema y no orientaciones hacia una construcción realmente pos-capitalista. Eso se nota en todos los países del Sur y también a los tratados que se concluyen entre países del Sur o en el cuadro de las políticas del BRICS. El apoyo al desarrollo de un capitalismo moderno en América Latina, el acaparamiento de tierras en África por parte de India y de China, la extensión de los monocultivos en Asia del suroeste para la producción de agrocombustibles o de madera, no son transiciones, sino nuevos caminos hacia un capitalismo nuevo, con todas las consecuencias de concentración del poder económico y de ignorancia de las externalidades (daños ambientales y sociales) que constituyen las características de todo capitalismo, aun el verde y el social.
El concepto puede también ser aplicado a procesos particulares dentro de una transformación general, por ejemplo en los campos económicos, sociales, culturales, políticos, religiosos, etcétera. En todo caso, se trata, sin perder la radicalidad de los objetivos, de definir las acciones que pueden conducir al resultado (otro paradigma de desarrollo humano) teniendo en cuenta, por una parte, las circunstancias concretas del desarrollo material, y, por otra, las relaciones de fuerza existentes en los campos económico-social y político. Un ejemplo típico son las economías de extracción, que, a pesar de ser dañinas ecológica y socialmente y de ser dominadas ampliamente por los interés del capital, no pueden ser paradas de un día al otro en los países que, en América Latina, por ejemplo, empezaron cambios importantes, porque, entre otros factores, constituyen la fuente financiera de las nuevas políticas. Es el caso de Venezuela, del Ecuador y de Bolivia. La transición consistiría: 1) en iniciar una política económica basada sobre las necesidades del mercado interior (lo que es a largo y mediano paso); 2) en promover leyes ecológicas y sociales más estrictas para las explotaciones; 3) hacer pagar sus costos (daños ambientales y sociales) a los usuarios, y 4) promover una legislación internacional para evitar el fenómeno de las ventajas comparativas en favor de los que aplican regulaciones más laxas.
La utilización de este instrumento conceptual no puede servir de pretexto a concesiones políticas o ideológicas de tipo socialdemócrata, es decir, aceptando que el desarrollo de las fuerzas de producción exige la adopción de principios, herramientas y recetas del capitalismo. Eso se traduce en el reforzamiento del poder de las clases sociales más opuestas a un cambio de modelo, como es el caso del Brasil, a pesar de avances en otros dominios. O también, como sucede en países socialistas, se crean nuevas diferencias sociales que inevitablemente alargarán un proceso de transición, tal como en China o en Vietnam.
De verdad eso plantea un problema fundamental: ¿cómo desarrollar las fuerzas productivas en una perspectiva socialista, es decir, en función del bien común de la humanidad y cuáles fuerzas desarrollar en prioridad? Es un problema que los países socialistas y los regímenes progresistas que nacieron desde la Segunda Guerra Mundial, no pudieron resolver adecuadamente y que fue el origen, tanto de los fracasos, como de la orientación neoliberal de la mayoría de ellos. Como lo decía Maurice Godelier en sus cursos en la Universidad Católica de Lovaina: El drama del socialismo es que ha tenido que aprender a caminar con los pies del capitalismo.
Frente a esto urge, por ejemplo, desarrollar la agricultura campesina orgánica, como se lo propuso en un seminario asiático en la Universidad Renmin (popular) en Pekín en 2010 y en otro, latinoamericano, en La Paz en 2013, en vez de promover los monocultivos de una agricultura agroexportadora; o también, reorganizar la red de ferrocarriles locales en América Latina, en vez de adoptar los proyectos del IIRSA (la Iniciativa para la Integración de la Infraestructura Regional Sudamericana). Muchas otras propuestas podrían ser pensadas como elementos de una verdadera transición que no sea una simple adaptación al sistema.
*Sacerdote católico. Fundador del Centro Intercontinental de la Universidad Católica de Lovaina


FUENTE: La Jornada

domingo, 6 de março de 2016

Anita Prestes na PUC-SP

Lançamento de Luiz Carlos Prestes: um comunista brasileiro
10/03 | quinta-feira | 19h30
Pontifícia Universidade Católica (PUC) 
Rua Monte Alegre, 984 
Perdizes - São Paulo - SP
Sala 117A


sábado, 5 de março de 2016

O Retrato de Olga Benário

Ela foi presa há 80 anos, em 5 de março de 1936, junto com Luiz Carlos Prestes, e retratada por Candido Portinari a partir de uma foto de jornal

Por Luiza Villaméa
Coisas da História, Revista Brasileiros


Candido Portinari não conheceu Olga Benário, mas há 80 anos o pintor recortou uma fotografia dela que saiu no jornal. Era março de 1936 e Olga tinha acabado de ser presa, junto com Luiz Carlos Prestes, em uma casinha no subúrbio carioca do Méier, no Rio.

Anos depois, a partir da foto de jornal, Portinari pintou um belíssimo retrato de Olga. A obra está hoje na sala da historiadora Anita Prestes, no Rio.

Anita é a filha que Olga teve em uma prisão de Berlim, na Alemanha nazista, para onde foi deportada, grávida, pelo governo Getúlio Vargas.

Depois de uma agitada campanha internacional, ela foi entregue ainda bebê para sua avó paterna. Pude admirar o retrato de Olga quando Anita me recebeu no final do ano passado, para uma entrevista, sobre sua biografia de Prestes.

Na conversa, Anita também contou em detalhes sua própria história.  No link abaixo:




terça-feira, 1 de março de 2016

Obama hablará en Cuba sobre los derechos humanos… que viola EEUU


Por José Manzaneda


Un mensaje recorre los grandes medios internacionales: en su próximo viaje a Cuba, el Presidente de EEUU Barack Obama llevará un mensaje de exigencia y presión a Raúl Castro para que respete los “derechos humanos” (1).

Pero, ¿es esto cierto? ¿O responde solo a la reproducción mimética, por parte de los medios, de la propaganda de la Casa Blanca?

Recordemos que, a propuesta de Cuba (2), el 31 de marzo del pasado año, delegaciones de ambos gobiernos hablaron en Washington… sobre derechos humanos (3).

Allí, la delegación cubana fustigó “la brutalidad y abuso policial” con patrón racista, “las limitaciones al ejercicio de los derechos labores y libertades sindicales”, “la tortura, las ejecuciones extrajudiciales con uso de drones”, “el espionaje y vigilancia extraterritorial”, y tantas otras violaciones flagrantes de derechos humanos en EEUU (4).

Si, en su viaje a La Habana, su deseo es repasar la agenda de “derechos humanos”, Obama deberá responder a las mismas demandas.

Sin embargo ¿hemos leído algo de esto en los grandes medios? Ni una palabra. Por el contrario, la llamada “prensa liberal”, que respalda la política de soft power de Obama, ha recuperado su tradicional agresividad contra Cuba. “The New York Times”, cuyas editoriales prepararon estratégicamente el terreno a la Casa Blanca para su acercamiento a La Habana, hacía proclama, hace unos días, de la clásica arrogancia intervencionista estadounidense. En un editorial titulado “Obama debe promover la democracia en su visita a Cuba”, sentenciaba que el presidente “debería impulsar a Raúl Castro (…) a que siente las bases para una transición”, porque en Cuba sus líderes “no rinden cuentas al pueblo” y dirigen “el país como un estado policiaco” (5).

El diario español “El País”, en un editorial titulado “El régimen castrista debe dar pasos concretos de apertura tras la normalización de relaciones con EEUU” (6), repetía la propaganda clásica de la Casa Blanca: Obama “viajará a la isla para promover `los esfuerzos y avances que mejoren la vida de los cubanos´”, mientras Cuba, “ha dado escasas muestras de cambio y apertura real”.

Canales como “CNN en español”, otro peso pesado de la artillería mediática “liberal”, daba la palabra a diferentes funcionarios norteamericanos, para reforzar el mismo mensaje. Por ejemplo, entrevistaba en profundidad al embajador de Estados Unidos en Chile, Michael Hammer, que afirmaba, sobre Cuba: “No es una democracia. Hay mucho por hacer. Esperemos que algún día esto se pueda realizar (sic), y nosotros, a través de esta apertura, estamos intentando apoyar al pueblo cubano en sus aspiraciones” (7).

Otro mensaje repetido hasta la saciedad es que Obama se reunirá en la Isla con la llamada “disidencia” (8), presentada como supuesta “sociedad civil” cubana (9). Curiosa “sociedad civil” que es financiada con 20 millones de dólares que cada año aprueba la Cámara de Representantes de EEUU (10) y que, según informes de la propia diplomacia estadunidense, no tiene el más mínimo respaldo social (11).

Por otro lado, los medios abiertamente conservadores, como la Cadena Fox (12), El Nuevo Herald (13), The Washington Post (14), ABC (15) o El Mundo (16), servían de altavoz de las denuncias e insultos a Obama, desde las filas del Partido Republicano y de la ultraderecha de Miami (17), o desde colectivos como las llamadas “Damas de Blanco” (18), para quienes el citado viaje constituye, sencillamente, una traición política. En varias televisiones escuchábamos a Ted Cruz, candidato republicano: "El régimen cubano es aliado de Corea del Norte y otros de nuestros enemigos, y Obama ha regalado un salvavidas a los Castro dándoles millones de dólares que solo usarán para atacar los intereses norteamericanos". "Mi problema con los cambios hacia Cuba –afirmaba Marco Rubio, otro de los candidatos- es que no se le pide nada a cambio al régimen cubano. Sigue siendo tan represivo hoy como siempre" (19).

Decenas de notas, noticias, crónicas, reportajes. Y, además, tertulias radiales y televisivas, e incontables artículos de opinión (20). Unos, para apoyar el viaje de Obama (21), otros para criticarlo (22). Pero todos –casi sin excepción- con el mismo mensaje: Obama deberá presionar, exigir al Gobierno de Raúl Castro “democracia” y “derechos humanos”, según el estándar avalado por el poder político occidental.

Una nueva lección de qué se entiende por pluralismo informativo y libertad de expresión dentro del actual modelo hegemónico de prensa. Un modelo cada día menos informativo, y cada día más cercano a una simple propaganda de guerra.


Notas
(1)  http://www.efe.com/efe/espana/mundo/obama-ira-a-cuba-en-marzo-para-destacar-los-avances-e-incidir-derechos-humanos/10001-2843495
(2)  http://www.abc.es/internacional/20150331/abci-primer-cara-cara-eeuu-cuba-derechos-humanos-201503311809.html
(3)  http://www.cubadebate.cu/noticias/2015/03/31/comunicado-de-prensa-acerca-de-la-primera-reunion-entre-cuba-y-eeuu-sobre-derechos-humanos/
(4)  http://www.juventudrebelde.cu/internacionales/2015-04-02/derechos-humanos-cuba-habla-abrazada-al-mundo/
(5)  http://www.nytimes.com/es/2016/02/19/obama-debe-promover-la-democracia-en-su-visita-a-cuba/
(6)  http://elpais.com/elpais/2016/02/18/opinion/1455821343_566037.html
(7)  http://www.cnnchile.com/noticia/2016/02/18/embajador-de-eeuu-en-chile-esta-bien-claro-que-en-cuba-no-hay-democracia
(8)  http://www.20minutos.com.mx/noticia/64571/0/obama-no-se-reunira-con-fidel-en-cuba-pero-si-con-la-disidencia/
(9)  http://www.cnnexpansion.com/economia/2016/02/17/barack-obama-prepara-visita-a-cuba-en-marzo
(10)  http://www.cubainformacion.tv/index.php/contrarrevolucion/63210-aumenta-de-20-a-30-millones-fondos-de-eeuu-para-la-democraciaa-en-cuba-inormalizacion-de-relaciones
(11)  http://www.cubadebate.cu/noticias/2010/12/23/wikileaks-la-diplomacia-estadounidense-y-la-disidencia-cubana-audios/#.Vs21leaulQk
(12)  http://www.foxnews.com/politics/2016/02/18/obama-expected-to-visit-cuba-in-march.html
(13)  http://www.elnuevoherald.com/noticias/mundo/america-latina/cuba-es/article61032152.html
(14)  https://www.washingtonpost.com/opinions/president-obama-breaks-his-word-in-planning-a-trip-to-cuba/2016/02/19/1bfbd668-d73b-11e5-be55-2cc3c1e4b76b_story.html
(15)  http://www.abc.es/internacional/abci-exilio-cubano-rechaza-obama-visite-isla-sin-exigir-nada-cambio-201602182325_noticia.html
(16)  http://www.elmundo.es/internacional/2016/02/18/56c62b9eca474106338b4583.html
(17)  http://www.lanacion.com.ar/1872156-marco-rubio-y-ted-cruz-criticaron-el-viaje-de-obama-a-cuba-es-una-dictadura
(18)  http://www.eluniversal.com/internacional/160218/disidentes-cubanos-confian-en-que-obama-se-reunira-con-ellos-en-cuba
(19)  http://www.antena3.com/noticias/mundo/candidatos-republicanos-critican-viaje-obama-cuba_2016021900283.html
(20)  http://www.milenio.com/firmas/hector_aguilar_camin_dia-con-dia/Cuba-paso_18_689511080.html
(21)  http://www.eluniversal.com.mx/entrada-de-opinion/articulo/editorial-el-universal/nacion/2016/02/21/congruencia-de-cuba
(22)  http://www.elmundo.es/internacional/2016/02/18/56c57e6546163fdb058b462a.html

FUENTE: Rebelión

Alberto Dines entrevista Anita Leocádia Prestes no Observatório da Imprensa

Depois de sofrer censura pela direção de jornalismo da EBC (Empresa Brasileira de Comunicação), leia-se Ricardo Melo, ex-colunista da Folha de São Paulo, a entrevista de Anita Prestes, gravada em 30/09/2015, enfim foi liberada e transmitida na última quinta-feira, dia 25/02/2016, pela TV Brasil. E já encontra-se disponível no YouTube para ser assistida pelo público internauta.

CLIQUE NO LINK ABAIXO PARA ACESSAR O VÍDEO DA ENTREVISTA 

Para entender o episódio da censura da referida entrevista leia o texto abaixo:



Memória Política: Anita Leocadia Prestes

Programa produzido pela TV Câmara - Ano 2002



Anita Leocádia Prestes nasceu numa prisão da Gestapo em Berlim. Sua mãe, a comunista Olga Benário Prestes, foi deportada grávida para a Alemanha nazista pelo governo de Getúlio Vargas. Nessa época, seu pai, o líder comunista Luiz Carlos Prestes, estava preso numa solitária no Brasil.

Ficha Técnica

Direção, Edição e Texto: Ivan Santos
Entrevista: Tarcísio Holanda, Ana Maria Lopes e Ivan Santos
Edição: Joelson Maia
Narração: Adriana Mota
Produção: Silvana Meireles
Câmera: Salvatore Casella
Iluminação: Francisco Nilton
Áudio: Emmanuel Bezerra


Sobre a série Memória Política

Documentários que resgatam fatos marcantes do passado do Brasil por meio de personagens que foram protagonistas dos acontecimentos. Inicialmente centrado nas memórias políticas, o programa ganhou abrangência ao incorporar outras questões fundamentais para a compreensão do Brasil contemporâneo. A cada novo episódio fragmentos de recordações pessoais servem como ponto de partida para a compreensão de histórias narradas nos livros de história.

Duração: 56 minutos