quarta-feira, 31 de janeiro de 2018

BNCC e Common Core (padronização educacional e avaliação censitária)

Por Luiz Carlos de Freitas
Professor da Universidade Estadual de Campinas - UNICAMP - (SP) Brasil.


The Washington Post publica artigo no qual descreve como Bill Gates financiou o Common Core americano, equivalente à nossa BNCC, Base Nacional Comum Curricular, mas restrita a leitura e matemática. O pressuposto equivocado foi que o problema da educação americana era a “variabilidade”, a falta de “uniformidade”. Diane Ravitch comenta em seu blog dizendo:

“Bill Gates, Arne Duncan, o presidente Obama e outros que promoveram os “Common Core State Standards” gostam de dizer que eles foram desenvolvidos pelos estados, pelos governadores, por professores, por pessoas na base. Não foi bem assim. Um artigo de Lyndsey Layton no Washington Post explica que Bill Gates financiou o Common Core do início ao fim.”
“Gates e outros erroneamente assumiram que o maior problema na educação americana era a variação, a diversidade, a falta de uniformidade. Gates fez vários discursos sobre a necessidade de padrões uniformes, comparando-os com os padrões de eletricidade, permitindo que alguém conecte um aparelho em qualquer lugar. Nunca lhe ocorreu que as crianças não são torradeiras e os professores não são meramente distribuidores de conteúdo. Ele parece ignorar completamente a estreita correlação entre renda familiar e desempenho acadêmico."
“Em alguns anos, os padrões serão esquecidos, obsoletos. Os padrões de eletricidade podem ser nacionais e estáveis. Mas, ensinar e aprender são dinâmicos, dependentes das condições sociais das famílias e das crianças, bem como da mudança do conhecimento sobre o ensino e a aprendizagem.”

É isso que copiamos com a nossa BNCC. Aqui só mudou o nome do financiador: Lemann.

No Brasil o MEC tem o discurso de que os padrões não impedem que os estados façam seus currículos e que os professores estabeleçam suas metodologias. Mas isso oculta que a política de responsabilização baseada em testes exige que as crianças, os professores e as escolas para serem consideradas “boas”, tenham bom desempenho nos testes, os quais são feitos a partir dos padrões previamente fixados. Portanto, o que é “teoricamente” concedido, é na prática retirado pela avaliação censitária das avaliações nacionais. Para que o desejo do MEC se concretizasse, as provas nacionais não poderiam ser censitárias, mas apenas amostrais. E isso está fora de cogitação, pois rompe o pilar básico da responsabilização verticalizada e autoritária que se quer criar.



VÍDEO
Aula inaugural "Bases nacionais, padronização e a política educacional atual" dos Programas de Pós-Graduação em Educação da UFSC e da UDESC, realizada em 17/08/2016, com o professor Luiz Carlos de Freitas.




Nenhum comentário:

Postar um comentário