sábado, 28 de setembro de 2019

Heroína absoluta e brasileira referencial: Leocadia Prestes nas palavras da atriz Fernanda Montenegro

"Senhora, fizeste grande, tão grande a nossa América/deste-lhe um puro rio, de águas colossais:/deste-lhe uma árvore alta de infinitas raízes:/um  filho teu, digno de sua pátria profunda" (trecho do poema Dura Elegia, escrito pelo poeta chileno Pablo Neruda, especialmente para o triste momento do falecimento de Leocadia Prestes, em junho de 1943)

Leocadia Prestes durante a Campanha Prestes em Londres, na Inglaterra, junho de 1936. Fernanda Montenegro interpretando Leocadia Prestes no filme "Olga" (2004).


Fernanda Montenegro faz 90 anos no próximo dia 16 de outubro. Somando 70 de teatro, ela lança, com a colaboração de Marta Góes, a autobiografia “Prólogo, Ato, Epílogo” (Editora Companhia das Letras, 2019), pontuada por testemunhos da grande atriz do teatro brasileiro, mas também do cinema, da TV e do rádio. Na página 240, Fernanda Montenegro afirma que "às vezes os personagens de uma história são também determinantes para que eu aceite um convite". explicando que foi o que aconteceu ao aceitar participar do filme Olga, de Jayme Monjardim, interpretando a mãe do líder comunista Luiz Carlos Prestes (1898-1990). Em um parágrafo, Fernanda Montenegro faz uma exaltação à figura de Leocadia Felizardo Prestes (1874-1943), classificando-a como pertencente "à galeria das heroínas absolutas" e "uma brasileira referencial".

Abaixo a imagem do parágrafo na página 240 do livro “Prólogo, Ato, Epílogo”, autobiografia de Fernanda Montenegro.



PRÓLOGO, ATO, EPÍLOGO
 (392 págs.)
Autor Fernanda Montenegro, com a colaboração de Marta Góes
Editora Companhia das Letras



Veja também:



Fotos do funeral de Leocadia Prestes na Cidade do México, junho de 1943.
Fotos do livro "Luiz Carlos Prestes: um comunista brasileiro" (Boitempo, 2015)

Resistentes antifascistas rejeitam «falsificações históricas» promovidas pela UE

Por AbrilAbril     28.Sep.19  

O Parlamento Europeu, onde a direita e a extrema-direita ganharam maior expressão nas últimas eleições, mostra serviço. Agora, 535 deputados – incluindo o grupo “socialista” – aprovaram uma resolução em que se «equipara e condena nazi-fascismo e comunismo». A vergonhosa falsificação da história que pretende oficializar tenta ajustar contas, não com o fascismo, mas com aqueles que foram (e continuam a sê-lo) fundamentais para a sua derrota.

A Federação Internacional de Resistentes (FIR) rejeita, numa nota, a resolução do Parlamento Europeu (PE) aprovada no passado dia 19 em que se «equipara e condena nazi-fascismo e comunismo».

A 27 de Janeiro de 1945, as tropas soviéticas libertaram o campo de concentração de Auschwitz


Tanto a FIR como as federações que a integram – como é o caso da União de Resistentes Antifascistas Portugueses (URAP) – não podem de modo algum concordar com a resolução que, a 19 de Setembro de 2019, foi aprovada no PE, com os votos favoráveis de 535 deputados, a oposição de 66 e a abstenção de 52, e que alegadamente abordava «o significado do passado europeu (ou consciência histórica europeia) para o futuro da Europa».

Para a FIR, o «texto da declaração não mostra o futuro da Europa, mas é uma recaída ideológica nos piores tempos da Guerra Fria, que estão expressos nesta resolução, que surgiu por iniciativa dos estados Bálticos e da Polónia».

«Contrariamente a todas as evidências científicas», o texto alega que foi apenas com o Tratado de Não Agressão Germano-Soviético que «ficou marcado o rumo para a Segunda Guerra Mundial», denuncia a FIR, sublinhando que «a reconstrução dos acontecimentos que conduziram à Segunda Guerra Mundial é limitada, tendenciosa, instrumental e não tem qualquer base científica».

«Junta opressores e oprimidos, vítimas e carniceiros, invasores e libertadores. A resolução é um grosseiro texto de propaganda ideológica, digna dos piores momentos da Guerra Fria», declara-se na nota.

A FIR questiona os deputados sobre a ameaça externa actual a que se referem quando, na resolução aprovada, se afirma, «perversamente», que «assume uma importância decisiva para a unidade da Europa e dos seus povos e para o fortalecimento da resistência da Europa às actuais ameaças exteriores que as vítimas dos regimes autoritários e totalitários sejam lembradas».

«Não» às falsificações da história

«A declaração criticou de facto um novo revisionismo histórico». No entanto, «se os membros do PE condenam nalguns estados europeus a glorificação das pessoas que colaboraram com os nazis, ao mesmo tempo adoptaram a narrativa histórica desses mesmos estados europeus de que a Rússia alegadamente falsifica factos históricos e encobre os “crimes cometidos pelo regime totalitário da União Soviética”», denuncia a Federação de Resistentes.

Neste sentido, a FIR e todas as federações dos «sobreviventes da perseguição fascista, os combatentes contra a barbárie nazi e todos os antifascistas dizem “não” a tais falsificações históricas» e acusam a resolução do PE de «escolher um caminho de divisão lacerante, em vez de uma responsável e rigorosa unidade», num tempo de «perigo crescente de fascismo, racismo e nacionalismo».

A FIR, que rejeita a recente resolução do PE em que se equipara e condena nazi-fascismo e comunismo, lembra as palavras do escritor alemão Thomas Mann, que, em 1945, avisou: «Colocar comunismo russo no mesmo plano moral que o nazi-fascismo, porque ambos seriam totalitários, é, na melhor das hipóteses, superficial; na pior, é fascismo. Quem insiste nesta equiparação pode considerar-se a si próprio um democrata mas, na verdade e no fundo do seu coração, é um fascista, e irá seguramente combater o fascismo de forma aparente e hipócrita, e deixa para o comunismo todo o ódio.»

FONTE: ODiario.info

Museu da República tem Primavera Literária 0800 com feira e mais!

Em homenagem à Amazônia, a 19ª edição reúne 70 editoras e promove atrações como debates, lançamentos, música e festival de poesia

Por: Redação do Catraca Livre

A partir de
03
de outubro 2019
Quinta - Sexta - Sábado - Domingo
Das 10h às 20h

Amazônia sim! 💚 De volta ao Museu da República, a Primavera Literária homenageia nossa região Amazônica em sua 19ª edição, que acontece de 3 a 6 de outubro. Neste ano, o evento traz como tema “Equidade, Sustentabilidade e Bibliodiversidade”. Mais atual impossível, né?

São quatro dias de evento e uma programação cultural diversa, dividida em cinco espaços. Além de conferir a tradicional feira de livros (com 70 editoras!) e estar ao lado de escritores nacionais e internacionais, você pode participar de oficinas, atividades educativas, debates, lançamentos e muito mais! Tudo 0800!



A Rua do Desenho e um Bar Literário com shows nos jardins estão entre as novidades desta Primavera Literária no Museu da República. Além disso, a programação conta com um festival de poesia, encontro de podcasters e mesas de debate sobre assuntos como arteterapia, mitos, feminismo, ecologia social, gastronomia, oralidade e mercado. Sempre reforçando o papel das editoras independentes nas discussões destas pautas contemporâneas.

A tradicional feira de autores e editoras independentes é organizada pela LIBRE desde 2002. A proposta desta edição é aproximar o mercado editorial de outras frentes da indústria criativa e do empreendedorismo.

Para o passeio ficar completo, você pode se deliciar na área gastronômica e ainda levar os pequenos para aproveitar atividades educativas como contação de histórias e oficinas de ilustração!





✽ PROGRAMAÇÃO - PRIMAVERA LITERÁRIA RIO 2019 ✽

◤ 3 DE OUTUBRO - QUINTA-FEIRA ◢

⫷ Espaço Educativo ⫸

14h - O gângster e outros monstros - Um bate-Papo sobre crime e literatura.

16h - Sustentabilidade 4.0 - O novo mindset do desenvolvimento sustentável.

⫷ Auditório ⫸

➥ Dia do Editor 2019 - O livro encontra outros mercados

9h - E esse tal de marketplace?
O que é preciso entender e fazer para começar a vender direto através de outros canais?

10:30h - Números de mercado e a questão das listas: onde estão os números das editoras independentes e dos nichos?

11:45h - Processos pra que te quero. Colocar a casa em ordem pode te ajudar a salvar os $.

14h - Ser a agulha no palheiro: como se diferenciar em um mercado de similares.

15h - Curadoria: do pessoal à inteligência artificial, tudo são dados.

16h - Meu livro imigrante: apresentando o cenário e soluções para internacionalização do livro.

17h - Livro para todos: inclusão se faz com acessibilidade"

⫷ Tenda Taperebá ⫸

18h - CENSURA - Como sobreviverá nossa democracia?

⫷ Tenda Curumim ⫸

10h - Contação e Criação de Histórias

14h - Fubá - um conto para crianças

15h - Contação de Histórias Fada Banguela

16h - Oficina Criando Poemotes

◤ 4 DE OUTUBRO - SEXTA-FEIRA ◢

⫷ Espaço Educativo ⫸

12h - Apresentação do aplicativo Vem CA - lançamento da plataforma de cultura acessível da Escola de Gente.

14h - Escola Multimídia

16h - Histórias Orais – Escuta, afeto e os desafios de registros

18h - Positividade tóxica: Ser feliz não é uma obrigação.
Auditório

➥ Ocupação Afroliterária:

14h às 19h - Formação de Professores/as
Atualização pedagógica de professoras e professores da Educação Básica para o ensino das Literaturas Africanas e Afro-brasileira.

⫷ Tenda Taperebá ⫸

10h - Adolescência: construindo caminhos - Comportamentos adolescentes baseados em suas vivências ou observação.

12h - Ecologia e Sociedade – Os impactos políticos da sociologia, com um viés da ecologia social e seus desdobramentos.

14h - Moda e Sustentabilidade: inclusão, hábitos e processos.

16h - Folclore – Lendas, mitos e Amazônia na construção da subjetividade brasileira

18h - Fascismo – Que #@$% é essa e o que temos a ver com isso?

⫷ Tenda Curumim ⫸

14h - Cantar e Contar - Contação e cantação de histórias. Lançamento do Livro Um Presente Fabuloso

15h - Escrevendo e ilustrando: o casamento entre texto e imagem

16h - Tem coragem de abrir a caixa? Uma caixa não só guarda objetos, também prende suas histórias. Você tem coragem de conhecê-las?

⫷ Bar Literário ⫸

10h - PNLL e os eventos literários – Políticas públicas do livro e leitura, em conversa com as festas literárias e o valor simbólico do livro

12h - Arquitetura que viaja.

14h - Amor e outros temas íngremes

16h - Quem conta um conto aumenta o quê? Mediadores de leitura contam suas histórias.

18h - Encontro de Podcasters

➥ Lançamentos:

10h - Rio Count Zero - Garotas Ciborgues e Punk Rock. Autor Peter LaRubia, Editora Luva

14h - Inversos. Autora Carol Dias, Editora The Gift Box

16h - O cheiro da sauduade. Autor Luís Pimentel, Editora Lago de Histórias

◤ 5 DE OUTUBRO - SÁBADO ◢

⫷ Espaço Educativo ⫸

10h - Literatura contemporânea amazônica - O que andam produzindo os escritores e ilustradores da Amazônia.

12h - Cinema de Brincar e processos subjetivos - questões em torno dos processos subjetivos colocados no livro "Cinema de Brincar"

14h - Afrovisualidades: política e estética da imagem negra

16h - Literatura Marginal - quem conta as histórias silenciadas?

18h - Lima Barreto em quatro tempos - conversa e lançamento de livro.

⫷ Tenda Taperebá ⫸

10h - Algum lugar para cair e fechar os olhos - Escritores falando sobre literatura e a cidade.

12h - A condição atual da pesquisa científica no Brasil

14h - A importância da liberdade religiosa – com um babalaô e um pastor.

16h - Lançamento coletivo Ibis Libris

18h - XIII Festival de Poesia da Primavera Literária Rio de Janeiro

⫷ Tenda Curumim ⫸

10h - Oficina de ilustração para pequenos

14h - Contação de histórias: A menina dos olhos.

16h - Bate Papo sobre o processo de escrita e desenvolvimento do livro "Esse turu turu"

18h - Confecção do Lápis Semente Viva.

⫷ Bar Literário ⫸

12h - Show Lia e Mila.

14h - Maternidade e Empreendedorismo - Redes, trocas, parcerias e finanças associadas à maternidade.

16h - Mulheres na política – A importância da presença de mulheres no executivo e legislativo nos dias atuais.

18h - Como se escreve Índio? - Protagonismo indígena, cultura e território

➥ Lançamentos:

10h - Reflexões aos sessenta. Autor Sérgio Afonso, Editora Jaguatirica

12h - Algum lugar para cair e fechar os olhos. Autor Raphael Vidal, Editora Pallas

14h - Limite. Autor Luiz Costa Lima. Editora Relicário

14h - Coleção Profissas. Editora Oficina Raquel

16h - GÓTICO SUBURBANO + gothic - Horror no Século XIX?. Autor Hedjan C.S., Editora Luva

18h - Diamantes no sertão garimpeiro. Autor Rogério Reis Devisate, Editora Jaguatirica

◤ 6 DE OUTUBRO - DOMINGO ◢

⫷ Espaço Educativo ⫸

10h - Leitor – Quem és tu?

12h - Como ler os clássicos?

14h - Racismo no mercado de trabalho e discurso de ódio

16h - Dando asas às narrativas – o poder mágico da palavra.

18h - Amazônia: quem inventou o fogo?

⫷ Auditório ⫸

➥ Ocupação Afroliterária:

10h - Contação de histórias do Benin

11h - Escritoras negras da Literatura Infantojuvenil brasileira

12h - Homenagem à Marielle Franco e ao Machado de Assis

14h - Intelectuais e ativistas negras na luta antirracista

15h - Escrita criativa de mulheres negras e de homens negros

16h - Literaturas e estéticas de mulheres negras

⫷ Tenda Taperebá ⫸

10h - A questão étnico-racial na formação de professores

12h - Bibliodiversidade: direito de todos

14h - As narrativas de um romance para o público adolescente e jovem adulto.

16h - Feminismos de gerações - Sobre a literatura “para mulheres” e a construção do feminismo.

18h - Lançamento e debate sobre o tema "Biografia Política: como pesquisar e escrever?"

⫷ Tenda Curumim ⫸

10h - Oficina de Atividades - Construa este Diário

14h - Contação o Feijão Fujão

15h - Em Busca do Mar

16h - Oficina Como Desenhar um dinossauro

18h - Oficina de Construção de um livro para crianças

⫷ Bar Literário ⫸

10h às 12h - Quem tem coragem de falar de preconceito?

12h às 14h - O impacto social da cerveja artesanal no Rio de Janeiro.

14h às 16h - Com quantas letras se escreve família?

16h às 18h - Homens que choram – Masculinidade e empatia

18h às 20h - Sarau Afro

➥ Lançamentos:

10h - A menina dos olhos. Autores Ed Vasconcellos e Edilma Trajano. Editora Jaguatirica

12h - Dança dos sabres. Autor Rodrigo Rosa, Editora Jaguatirica

16h - Matalauê está me chamando. Autora Vera Moll, Editora Alameda

Cientistas descobrem continente perdido debaixo da Europa

Representação gráfica criada para o estudo sobre o continente Grande Adria. Imagem: Divulgação


Colaboração para o UOL 28/09/2019

RESUMO DA NOTÍCIA
  • Análise geológica aponta enorme território submerso
  • Estudo levou 10 anos para ser concluído
  • Continente se separou há cerca de 240 milhões de anos

Pesquisadores encontraram um continente escondido enterrado ao sul da Europa. É a Grande Adria, um território que já teve o tamanho da Groenlândia. 

O achado geográfico foi publicado neste mês na revista científica Gondwana Research e é resultado de mais de dez anos de pesquisa.

"Esqueçam Atlântida", disse Douwe van Hinsbergen, um dos principais autores do estudo, professor de placas tectônicas globais e paleontologia na Universidade de Utrecht, na Holanda, à CNN. "Sem perceber, muitos turistas passaram as suas férias no continente perdido de Adria", brincou. 

"A maioria das cadeias montanhosas que investigamos teve origem num único continente, que se separou do norte de África há mais de 200 milhões de anos", contou Van Hinsbergen. "A única parte que restou deste continente foi uma faixa que vai desde Turim, via mar Adriático, até a ponta da bota que forma a Itália." 

Esta região é chamada pelos geólogos de Adria. Por isso, os pesquisadores deste estudo chamam o continente perdido de Grande Adria.

Ele se separou da chamada Gondwana —o supercontinente que incluía África, América do Sul, Austrália, Antártida, parte da Índia e da Península Arábica— e, há cerca de 240 milhões de anos, começou a se mover para o norte.

No entanto, a Grande Adria acabou se chocando com a Europa, há cerca de 100 milhões de anos, se quebrou e afundou.

Todo esse processo foi lento. A colisão se deu em uma velocidade de 3 a 4 quilômetros por ano, o suficiente para quebrar uma placa tectônica de mais de 100 quilômetros de espessura e mandá-la para debaixo do manto terrestre.

Durante a colisão, uma parte das rochas da Grande Adria se lascou e permaneceu na superfície. É exatamente isso que temos de resquícios do continente perdido. São rochas e calcário que foram achados nas cordilheiras do sul da Europa.

Vista das montanhas Taurus, na Turquia. Imagem: Zeynel Cebec/Wikimedia.


Mais de 30 países possuem vestígios da Grande Adria, inclusive locais longínquos como o Irã. Por isso, o processo de juntar toda a informação sobre o continente foi trabalhoso e demorado.

Os pesquisadores levaram mais de dez anos para coletar informação sobre a idade geológica das rochas que presumiam ser da Grande Adria. Eles também recolheram dados sobre a direção de seus campos magnéticos, para quando e onde se formaram.

Com a ajuda de um software, os cientistas fizeram uma viagem no tempo para quando os continentes era muito diferentes de hoje em dia. Eles descobriram uma verdadeira "confusão geológica".

A zona do Mediterrâneo se difere daquilo que os pesquisadores tinham como consenso sobre placas tectônicas. Elas não deveriam se deformar quando se movem em áreas com grandes falhas, mas é exatamente o que aconteceu com a Grande Adria.

"Aqui tudo é curvado, partido ou empilhado", disse Van Hinsbergen para a CNN. "Comparado a isso, os Himalaias, por exemplo, representam um sistema bastante simples. Lá é possível seguir várias falhas por mais de 2.000 quilômetros."

Partes do continente perdido podem ser vistas nas montanhas Taurus, na Turquia. 

"Nossa pesquisa forneceu um grande número de informações, também sobre vulcanismo e terremotos, que já estamos aplicando em outros lugares. Você pode até prever, em certa medida, como será uma determinada área no futuro distante", afirmou Van Hinsbergen.


domingo, 22 de setembro de 2019

¿Quién es Mario Vargas Llosa? Atilio Boron lo explica en “El hechicero de la tribu”

By Redacción - Maremoto (Maristain) - marzo 28, 2019

Mario Vargas Llosa en la FIL Guadalajara. Foto: Fil en Guadalajara
Con autorización de Akal publicamos un fragmento del libro El hechicero de la tribu. Vargas Llosa y el liberalismo en América Latina, de Atilio Borón. Hoy Mario Vargas Llosa cumple 83 años y aquí está su desmantelamiento político.

Ciudad de México, 29 de marzo (MaremotoM).- Para ser fecunda, la crítica no debe arremeter contra un hombre, sino trabajar en las ideas. La fuerza del presente análisis surge del ejemplo que Atilio Borón (Buenos Aires, 1943) aporta a sus lectores: la belleza en el discurso no debe distraernos del planteamiento ni de los argumentos (si es que existen). Es bajo esta convicción que ante nosotros —y sin anestesia— se practica un desmantelamiento político con rigor y demanda, a la altura de una leyenda.

Así, con la intención de entrar en el núcleo de Mario Vargas Llosa (Arequipa, Perú, 1936), partimos de su elogio al sistema neoliberal —del que se ha convertido en gran defensor público— para descubrir a un prolijo allegado al poder y su ideología, a un divulgador oculto tras las ramas de la literatura y del boom latinoamericano.

El propio Boron lo señala: “Pese a su elemental y tendencioso manejo de las categorías y las teorías del análisis político o tal vez debido a la maestría con que maneja los sofismas y las ‘posverdades’, Vargas Llosa es una pieza fundamental en el masivo dispositivo de ‘lavado de cerebros’ y de propaganda conservadora que con tanto esmero practican las clases dominantes de las metrópolis y sus secuaces en la periferia”.

FRAGMENTO DE EL HECHICERO DE LA TRIBU. VARGAS LLOSA Y EL LIBERALISMO EN AMÉRICA LATINA, DE ATILIO BORON, CON AUTORIZACIÓN DE AKAL EDITORES.

A MANERA DE PRÓLOGO

Ana María Ramb


El hechicero de la tribu. Vargas Llosa y el liberalismo en América Latina es un libro absolutamente válido, incluso sorprendente y, sobre todo, necesario. Se trata de una clase magistral sobre la cuestión del compromiso y la responsabilidad de los intelectuales, a través del estudio de la personalidad y trayectoria de una figura paradigmática.

Su autor, Atilio Boron, no eligió como eje a un dreyfusiano, es decir, a un intelectual que, más allá de sus trabajos literarios, es capaz de dejar la pluma para tomar partido en la arena pública y así ejercer el pensamiento crítico y levantar los valores de la justicia, como en su tiempo lo hizo Émile Zola al defender la inocencia del capitán Dreyfus, en contradicción con la “razón de Estado”. Tampoco es Federico García Lorca o Raúl González Tuñón, ambos —como muchos otros notables—, involucrados con sus semejantes, con su comunidad nacional e internacional, así como con el género humano en su conjunto, a través de su adhesión a la causa republicana durante la Guerra Civil española.

Eso sí, el protagonista es un grande, surgido del llamado Boom de la literatura latinoamericana. Pero no es Julio Cortázar, para quien conocer de cerca la causa de la Revolución cubana resultó una vivencia determinante, que lo llevaría a asistir a la inauguración de la presidencia de Salvador Allende en el Chile del 70 y, tres años más tarde, a ceder los derechos de autor de El libro de Manuel, en solidaridad con los presos políticos de la dictadura argentina; o también a apoyar, con todos los medios a su alcance, la Revolución sandinista.

Ustedes, estimados lectores y lectoras, a partir del título de este libro de Atilio Boron, ya saben quién será objeto de sus análisis. Nada menos que Mario Vargas Llosa, hoy por hoy, Jorge Mario Pedro, marqués de Vargas Llosa, según título nobiliario concedido por Juan Carlos I, rey de España. VLl —para nombrarlo en forma breve— es, por propio derecho, uno de los más importantes escritores contemporáneos, con una larga obra que ha cosechado numerosos premios, entre los que destacan el Nobel de Literatura, el Cervantes, el Rómulo Gallegos, el Príncipe de Asturias de las Letras y el Planeta, entre otros. Fue candidato a la presidencia de Perú en 1990 por la coalición política Frente Democrático (Fredemo), del “centro-derecha”. Desde hace años preside la Fundación Internacional para la Libertad. Y en esa función visita con frecuencia Argentina. En abril de 2018, como alternativa de agenda a la cena anual de la Fundación Libertad, VLl ofició de moderador con preguntas dirigidas a los presidentes Mauricio Macri (Argentina) y Sebastián Piñera (Chile). Tema principal: “La crisis en Venezuela”.

A quien le inquiete saber cómo VLl se presenta a sí mismo, podrá leer El pez en el agua, relato autobiográfico donde el “ilustrísimo señor marqués” pinta dos retratos: el del adolescente que se impuso la literatura como mayor pasión de vida y el del adulto que ejerció su vocación política hasta quedar “exhausto”. Sin embargo, las noticias donde a VLl se lo ve hoy en la prensa del establishment muestran lo contrario. Lejos de parecer extenuado, VLl sigue nadando en aguas políticas, pero no en un océano proceloso, sino en las enrarecidas aguas de un acuario con algas de plástico, cuidado por guardianes del sistema. Como nota de color, las cámaras de las revistas del corazón y el canal ¡Hola! tv lo enfocan también con cierta frecuencia.

En sus comienzos como escritor, visitaba la Casa de las Américas, institución cubana que tuvo mucho que ver con el espaldarazo que recibieron los primeros títulos de VLl y que lo consagró con La ciudad y los perros como uno de los cuatro pioneros de lo que sería el citado Boom —los otros tres eran Julio Cortázar (Los premios), Gabriel García Márquez (El coronel no tiene quien le escriba) y Carlos Fuentes (La muerte de Artemio Cruz)—. La adhesión de VLl a la causa de la Revolución estaba presente cuando en 1962 viajó a la Isla para cubrir como reportero los efectos de la Crisis de los misiles.

¿Cómo fue que ese muchacho tan talentoso y crítico de la realidad de Nuestra América, militante del pc de su país, derrapó para convertirse en el más descollante intelectual orgánico y paradigmático del neoliberalismo, sistema que se pretende a sí mismo universalmente hegemónico y triunfante? ¿Cómo fue que VLl, adulto, se transformó en paladín de la ideología capitalista y responde actualmente a las estructuras tradicionales y a los intereses constituidos?

En tal sentido, Adolfo Sánchez Vázquez advierte que, por su contenido en ideas, por la acogida que la sociedad le da a la obra de un intelectual de relieve y por el uso que de ella hace, el producto tiene efectos prácticos en la realidad, al criticarla, apoyarla o transformarla. Nadie puede afirmar hoy que VLl intente siquiera criticarla ni, muchos menos, transformarla. Al contrario, la apoya e intenta fundamentarla en sus ensayos, entrevistas, paneles y conferencias.

Con autorización de Akal publicamos un fragmento de este libro. Foto: Cortesía
A éstas y a otras más complejas cuestiones encontraremos respuesta en El hechicero de la tribu. Vargas Llosa y el liberalismo en América Latina. Es una fortuna contar con un intelectual como Boron para desmontar las ficciones que se incrustan sobre la sociedad y generan un pensamiento, una manera de existir adoptados, al principio, por el campo de la comunicación y de la cultura y, después, por algunas mayorías. Porque Atilio Boron, cuya espléndida obra y brillante itinerario podrían asegurarle una dorada y confortable torre de marfil, no es un intelectual que se debate entre la lucidez de sus análisis de la realidad y la imposibilidad de actuar sobre ella —contradicción que a no pocos desespera y hace languidecer—, sino que trasciende su actividad académica, ensayística y, desde ya, la filosófica, y, mediante un compromiso docente y político cotidiano, la convierte en práctica concreta. ¿Hace falta decir que Atilio pertenece a la Rayuela cortazariana? Decía Julio:

Sé muy bien que mis lectores no se contentan con leerme como escritor, sino que miran más allá de mis libros y buscan mi cara, buscan encontrarme entre ellos, física o espiritualmente, buscan saber que mi participación en la lucha por América Latina no se detiene en la página final de mis novelas o de mis cuentos […].

Creo que la responsabilidad de nuestro compromiso tiene que mostrarse en todos los casos en un doble terreno: el de nuestra creación, que tiene que ser un enriquecimiento y no una limitación de la realidad y el de la conducta personal frente a la opresión, la explotación, la dictadura y el fascismo, que continúan su espantosa tarea en tantos pueblos de América Latina.


CAPíTULO I Introducción.

¿Por qué Vargas Llosa? El más reciente libro de Vargas Llosa, La llamada de la tribu, es un racconto de la aventura —o si se prefiere, del extravío— intelectual y política de su autor desde los remotos días en que era un joven comunista peruano que devoraba con pasión los ejemplares de Les Temps Modernes y que leía a Jean-Paul Sartre “devotamente” hasta la consumación de su apostasía y la execración de todo lo que alguna vez admirara. Con el paso del tiempo, todo aquello que en su juventud le otorgara sentido a su vida años después se convertiría en objeto de una incesante, inagotable y enfermiza animosidad. Como lo asegura uno de los más importantes estudiosos de su obra, “Vargas Llosa no sólo dejó de ser un marxista, según su criterio y convicción, sino que al convertirse en un converso confeso y apasionado por su nueva verdad se transformó en implacable enemigo de las luchas sociales de los pueblos que tratan de liberarse de las cadenas de la colonialidad que ha impuesto el liberalismo”.

Nuestro autor comenzó su vida política en el Partido Comunista Peruano. Nos asegura que “participó primero como simpatizante y después como militante” en Cahuide, una célula clandestina del pcp en la Universidad de San Marcos. Ya como militante y con el pseudónimo de “Camarada Alberto”, VLl asumió otras responsabilidades y “además de escribir en el periódico partidario (tuvo que) representar públicamente al Partido”. Pero en 1954 se aleja del PCP y en un espectacular giro pasa a militar en la Democracia Cristiana. Como afirma un estudioso de su vida y obra, “el novelista se desenvuelve con facilitad en los extremos”.

Prueba de ello es su veloz abandono del espiritualismo y la “democracia cristiana” y, ya instalado en París, su ardiente adhesión a la Revolución cubana poco después de la entrada de Fidel y sus barbudos a La Habana. Pocos años más tarde, VLl emprendería un camino sin retorno hacia un liberalismo radical, con el que, a través del tiempo, no haría sino agriarse y, en lugar de intentar ser con los años algo más sabio, más noble, más leal, honrado y generoso, derrapó hasta convertirse en un desembozado apologista de la monarquía española, el imperialismo norteamericano y toda la derecha mundial.

Vargas Llosa explica en la primera página de su nuevo libro que la inspiración para escribirlo provino de la lectura de un texto notable: Hacia la estación de Finlandia, del norteamericano Edmund Wilson. En esta obra se reconstruye el itinerario de la idea socialista hasta su culminación —y según Wilson y el propio Vargas Llosa, su definitiva degeneración— con el triunfo de la Revolución bolchevique en octubre de 1917. Pero hay una diferencia fundamental que separa la obra de Wilson de la del escritor peruano: mientras que aquél procura trazar el recorrido de la presunta descomposición del ideario socialista, en el caso de VLl se trata, aunque no lo parezca según él, “de un libro autobiográfico”. Más concretamente asegura que esta obra describe mi propia historia intelectual y política, el recorrido que me fue llevando, desde mi juventud impregnada de marxismo y existencialismo sartreano, al liberalismo de mi madurez, pasando por la revalorización de la democracia a la que me ayudaron las lecturas de escritores como Albert Camus, George Orwell y Arthur Koestler (p. 11).

Alguien podría de buena fe objetar por qué razones el autor de este libro, volcado durante largos años a la enseñanza de la teoría y la filosofía políticas y al estudio del imperialismo debería dedicar su escaso tiempo a criticar la obra de un notable novelista, pero, a su vez, un tosco aficionado si de examinar los grandes temas de la tradición filosófico-política se trata. Como escritor se dedica, según lo dijera más de una vez, a “escribir mentiras que parezcan verdades”. ¿Para qué perder tiempo en un libro que, como veremos, está también saturado por mentiras que parecen verdades? ¿Para qué criticar un libro que es un inmenso océano de sofisterías y artimañas retóricas salpicado con unos pocos y pequeños islotes en donde asoma un gramo de verdad?

La respuesta es simple y contundente. Nos guste o no, VLl es hoy por hoy el más importante intelectual público de la derecha en el mundo hispanoparlante y tal vez uno de los de mayor gravitación a nivel mundial. Su incansable labor como propagandista de las ideas liberales a lo largo de casi medio siglo y la formidable difusión de sus escritos —reproducidos ad nauseam en toda la prensa iberoamericana y en los grandes medios de comunicación de Estados Unidos y Europa— convirtieron al peruano en el profeta mayor del neoliberalismo contemporáneo. Ninguno de los autores que examina en su libro tiene —o tuvo— una llegada al gran público ni siquiera remotamente similar a la del autor de La casa verde o la capacidad de reclutar una legión de divulgadores que a través de los medios de comunicación hegemónicos disemina sus ideas por todo el mundo hispanoparlante. Ninguno, tampoco, tuvo la posibilidad de VLl de alternar con gobernantes y monarcas con la frecuencia y familiaridad que posee el arequipeño.

Su cruzada en contra de toda forma de colectivismo: el socialismo, el comunismo, el estatismo, y el “populismo” (concepto etéreo y confuso si los hay) ha ejercido una influencia social y política sin precedentes en América Latina y también en España, su patria de adopción. Pese a su elemental y tendencioso manejo de las categorías y las teorías del análisis político o tal vez debido a la maestría con que maneja los sofismas y las “posverdades”, VLl es una pieza fundamental en el masivo dispositivo de “lavado de cerebros” y de propaganda conservadora que con tanto esmero practican las clases dominantes de las metrópolis y sus secuaces en la periferia. El daño que ha hecho al atacar con su elegante prosa a cuanto gobierno o fuerza política se aparte de los cánones establecidos por el neoliberalismo o rechace los mandatos emanados de la Casa Blanca ha sido enorme. Lo mismo el perjuicio ocasionado con sus arremetidas en contra de la tradición del pensamiento crítico en todas sus variantes; o la confusión que ha creado entre las legiones de gentes que ansían y necesitan construir un mundo mejor; o el desánimo que ha sembrado en millones de personas y la resignación que ha promovido ante las atrocidades del capitalismo y la farsa democrática que éste escenifica tanto en los países centrales como en la periferia. Todo este cúmulo de razones torna imprescindible poner al desnudo las falacias, sofismas y argucias de su labor como propagandista de un orden social insanablemente injusto, develando las trampas argumentativas ocultas en sus seductores escritos.

De ahí el título de nuestro libro. Una de las acepciones de la palabra “hechicero” dice que es la “persona que realiza actos de magia o hechicería para dominar la voluntad de las personas o modificar los acontecimientos, especialmente si provoca una influencia dañina o maléfica sobre las personas o sobre su destino”. La magia de una prosa elegante y bien definida, la hechicería de la palabra justa, de agradable sonoridad, y una especial aptitud para el arte de fabular y mentir con la perversa habilidad del flautista de Hamelin no sólo en sus novelas, sino en sus ensayos políticos, le otorgaron a VLl la capacidad de ejercer una influencia perniciosa sobre el común de la gente, y altamente beneficiosa para los dueños del mundo, que recompensaron sus servicios colmándolo de honores y todo tipo de premios y distinciones. Su palabra es la del partido del orden; los sucesivos ocupantes de la Casa Blanca hablan por su voz; la derecha europea lo ha colmado de premios y reconocimientos de todo tipo; sus escritos se leen en buena parte del mundo, comenzando por el hispanoparlante. Si tuviéramos que nombrar a un escritor, un intelectual, un personaje público que ha trabajado incansable y eficazmente para introducir en las sociedades latinoamericanas el engañoso sopor mental del liberalismo, o para perpetuar la sumisión de las grandes masas, la desinformación programada, el atraso cultural de sujetos que no pueden percibir alternativa alguna a un mundo cruel que los victimiza y embrutece, esa persona es, precisamente, VLl. Por eso nadie podría arrebatarle el título de hechicero que, con sus malas artes, perpetúa el sometimiento y la resignación de una enorme tribu formada por millones de personas, ofuscando su entendimiento, y que, al hacerlo, presta con el embrujo de sus palabras un servicio invaluable para las clases dominantes del mundo capitalista y para un imperio que, según sus más lúcidos voceros, comenzó a transitar la ruta de su irreversible decadencia.

Unas breves palabras antes de poner fin a esta sección acerca de una —¿sólo casual?— coincidencia de esta inesperada aparición de la palabra “tribu” en el pensamiento de la derecha latinoamericana. Pocos meses antes de la publicación del libro de VLl, aparecía en México La tribu. Retratos de Cuba (Sexto Piso, 2017), de Carlos Manuel Álvarez, un joven escritor y periodista cubano que fue presentado en Argentina como una de las nuevas voces críticas de la Revolución. Álvarez es frecuente colaborador en medios como el New York Times, BBC Mundo, Aljazeera y la cadena Univisión. La editorial mexicana definió su libro como “un volumen de crónicas sobre la Cuba post revolucionaria”, con lo cual está todo dicho: la Revolución cubana ha muerto y Álvarez emitió su certificado de defunción. Su libro fue presentado en Buenos Aires en la Universidad Nacional de San Martín, con el auspicio de CADAL, una muy activa organización anticastrista radicada en la Argentina. ¡Otra vez “la tribu”!, que ahora es Cuba. No creemos que haya sorpresa alguna en cuanto a la futura carrera de este escritor, ya integrado al Olimpo de los autores “consagrados” por el mandarinato imperial. Y este reconocimiento, como en el caso de VLl, no es gratis. Es la generosa recompensa del imperio a una activa militancia contrarrevolucionaria.

La “batalla de ideas” a la que convocaran Martí y Fidel exige recoger el guante que arroja el peruano con sus escritos. Callarnos ante sus argucias y patrañas sólo servirá para prolongar la victoria ideológica del neoliberalismo y obturar las vías de escape ante los horrores causados por las políticas que publicita VLl en sus intervenciones públicas.

RADIOGRAFÍA EN MOVIMIENTO

A la luz de lo planteado, vemos que hay razones suficientes para enfrascarnos en una lectura crítica del libro que nos ocupa. Nuestra labor, digámoslo de entrada, no tiene pretensión alguna de ser una biografía de VLl, sino de ofrecer una radiografía en movimiento de su metamorfosis política y de las teorías y doctrinas de los autores que, según él, lo indujeron a dar su (mal)paso. Un aliciente complementario para nuestra empresa es que VLl representa uno de los casos más espectaculares de apostasía y conversión al neoliberalismo de un intelectual de izquierda. Obvio, está lejos de ser el único que se embarcó en esta travesía regresiva, pero sin duda es el más notable de todos, al menos en el ámbito latinoamericano y caribeño, por la gravitación mundial del personaje y por la amplitud del recorrido en un extenso arco que va desde un “marxismo sartreano” hipersectario hasta un neoliberalismo puro y duro, ambos condimentados con el mismo fanatismo que con tanto ardor y desde sus vísceras pretende combatir en su libro.

El Nobel hispano-peruano abjuró de sus ideas, pero mantuvo con tenacidad el celo incandescente con que defiende sus convicciones, algo que los psicoanalistas calificarían como una “formación reactiva” que lo lleva a sobreactuar su repudio a todo lo que en otros tiempos adoraba. Con algunas reservas, podríamos identificar un itinerario similar en la obra de otro gran escritor, Octavio Paz, aunque no sean casos estrictamente comparables. El mexicano también sufrió una involución política igualmente deplorable. En la década de los setenta ya nada tenía que ver con aquel joven poeta que viajara a España en 1937, en plena Guerra Civil, para participar en el II Congreso Internacional de Escritores para la Defensa de la Cultura, convocado desde París por Pablo Neruda en solidaridad con el Gobierno de la República Española. Su tránsito hacia la ignominia llega a su apogeo cuando, en el México de los noventa, se convirtió en el principal vocero de la reacción neoliberal, hipnotizado por el derrumbe del Muro de Berlín y la inminente desintegración de la Unión de Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS). A pedido del multimedios Televisa y del Gobierno de México, Paz organizó, en 1990 un gran —y costosísimo— evento académico e intelectual denominado “Encuentro Internacional – La experiencia de la libertad”, convocado poco después de la caída del Muro en medio de la euforia del supuesto “advenimiento de la libertad” en Europa del Este y del beneplácito de los poderes dominantes con la gestión presidencial de Carlos Salinas de Gortari en México. La reunión fue una fastuosa celebración y, simultáneamente, un canto a los Estados Unidos como nave insignia de la lucha por la libertad, la justicia, la democracia y los derechos humanos en el mundo. Uno de los héroes que VLl examina en su libro, Jean-François Revel, estuvo en ese encuentro y fue uno de los más rabiosos críticos de la experiencia soviética y, más generalmente, del proyecto socialista. Vargas Llosa también participó en ese cónclave y, como veremos más adelante, fue el centro de una áspera polémica. Un dato que apunta hacia el carácter poco académico y muy propagandístico del torneo fue un hecho insólito: contrariando toda la tradición de los seminarios académicos, fue televisado en directo durante toda su duración, entre el 27 de agosto y el 2 de septiembre de 1990. Y no es un dato menor que Adolfo Sánchez Vázquez, uno de los más notables marxistas del mundo de habla hispana, hubiera sido invitado a asistir al evento pero no a presentar una ponencia. Indignado ante la andanada de calumnias e infamias que impunemente proferían los invitados, a cual más macarthista, el profesor de la UNAM exigió con insistencia su derecho a réplica. Paz, quien en principio le había negado la palabra, finalmente le autorizó a dirigirse al público (y los televidentes).

Hasta ese aciago momento, ya veremos por qué decimos esto, Paz compartía junto a Vargas Llosa el podio donde se empinaban los dos más grandes hechiceros del neoliberalismo en Nuestra América. Si bien estaban hermanados por su deshonroso sometimiento a los poderes fácticos del mundo actual, un inesperado y profundo desacuerdo surgió entre ambos cuando, de modo imprevisto, en un debate sostenido en un programa especial de Televisa en horario prime time, el peruano emitió una sentencia categórica e inapelable sobre la naturaleza del sistema político mexicano, misma que lo pinta de cuerpo entero: es una “dictadura perfecta”, dijo. “México es la dictadura perfecta”, prosiguió, porque “la dictadura perfecta no es el comunismo. No es la URSS. No es Fidel Castro. La dictadura perfecta es México […] es la dictadura camuflada […] Tiene las características de la dictadura: la permanencia, no de un hombre, pero sí de un partido. Y de un partido que es inamovible”. Y remató su diatriba con un comentario cargado de veneno pero cierto: “Yo no creo que haya en América Latina ningún caso de sistema de dictadura que haya reclutado tan eficientemente al medio intelectual, sobornándole de una manera muy sutil”.

Muchos intelectuales que vivimos largos años en México, como quien esto escribe, compartíamos la definición del novelista peruano. Pero eran comentarios que circulaban con el mayor sigilo entre los exiliados y nuestros amigos mexicanos. Sin embargo, ninguno hubiera jamás tenido la osadía de decir en público lo que, años después —y con la impunidad que le otorgaba su condición de ser una celebridad internacional y, sobre todo, el lenguaraz del imperio— dijo muy suelto de cuerpo Vargas Llosa. Es que la reglamentación del famoso y temido artículo 33 de la Constitución de los Estados Unidos Mexicanos facultaba al Gobierno a expulsar del país en 24 horas a quienquiera que emitiese una opinión crítica sobre México, su política, su economía, su inserción internacional. Para muchos de los exiliados, si no para todos, dicha expulsión y el retorno a nuestros países de origen equivalían a cárcel, tortura y muerte. Por lo tanto, lo que VLl dijo años después eran verdades inocultables pero que circulaban como cuchicheos de pequeños grupos en los pasillos de la UNAM o de cualquiera de las grandes instituciones educativas de México, mirando siempre de reojo para asegurarnos de que no hubiera en las inmediaciones algún sospechoso que fuese informante de la…


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Atilio Borón. Foto: Wikipedia
Atilio Boron (Buenos Aires, 1 de julio de 1943) es una de las figuras más relevantes de las ciencias sociales en Latinoamérica. Doctor en Ciencia Política por la Universidad de

Harvard, es profesor en la Facultad de Ciencias Sociales de la Universidad de Buenos Aires, investigador del Consejo Nacional de Investigaciones Científicas y Técnicas (Conicet) y director del Pled (Programa Latinoamericano de Educación a Distancia en Ciencias Sociales).

Columnista en diversos medios, también ha sido secretario ejecutivo del Consejo Latinoamericano de Ciencias Sociales (Clacso) de 1997 a 2006. Entre sus reconocimientos, cabe mencionar el Premio de Ensayo Ezequiel Martínez Estrada de Casa de las Américas 2004, por su libro Imperio e imperialismo y el Premio Internacional José Martí por su contribución a la unidad e integración de los países de América Latina y el Caribe, otorgado por la Organización de las Naciones Unidas para la Educación, la Ciencia y la Cultura (Unesco) en 2009.



O que Marx entendia sobre a escravidão

Marx, como gerações de socialistas, viu o caráter particularmente capitalista da escravidão no Novo Mundo – e o elo inextrincável entre a emancipação dos escravizados e a libertação de toda a classe trabalhadora.
Escultura do artista plástico Sergio Romagnolo, utilizada na capa do livro Marx nas margens: nacionalismo, etnias e sociedades não ocidentais(Boitempo, 2019), de Kevin B. Anderson.



Por Kevin B. Anderson.*

Este ano marca o 400º aniversário da chegada dos primeiros africanos escravizados à Virgínia. Embora esse evento funesto esteja sendo atualmente discutido de maneiras profundas e penetrantes, poucos na grande mídia estão dando atenção para o caráter particularmente capitalista da forma moderna de escravidão do Novo Mundo – um tema que atravessa a crítica ao capital de Marx e suas extensas discussões sobre capitalismo e escravidão.


Marx não via a escravização em larga escala dos africanos pelos europeus, iniciada no começo do século XVI no Caribe, como uma repetição da escravidão Romana ou Árabe, mas como algo novo. Ela combinava formas antigas de brutalidade com a forma genuinamente moderna de produção de valor. A escravidão, escreveu ele em um rascunho de O capital, atinge “sua forma mais odiosa . . . em uma situação de produção capitalista”, na qual “o valor de troca se torna o elemento determinante da produção”. Isso leva à extensão da jornada de trabalho além de qualquer limite, fazendo pessoas escravizadas literalmente trabalharem até a morte.

Seja na América do Sul, no Caribe ou nas plantations do sul dos Estados Unidos, a escravidão não era um elemento periférico, mas central do capitalismo. Como o jovem Marx teorizou essa relação em 1846 em A miséria da filosofia, dois anos antes do Manifesto comunista:

“A escravidão direta é o eixo da indústria burguesa, assim como as máquinas, o crédito etc. Sem escravidão, não teríamos o algodão; sem o algodão, não teríamos a indústria moderna. A escravidão deu valor às colônias, as colônias criaram o comércio universal, o comércio universal é a condição da grande indústria. Assim, a escravidão é uma categoria econômica da mais alta importância.”

Tais conexões entre capitalismo e escravidão estão por toda parte nos escritos de Marx. Mas ele também abordou como várias formas de resistência à escravidão poderiam contribuir para a resistência anticapitalista. Esse foi especialmente o caso antes e durante a Guerra Civil estadunidense, quando ele apoiou fervorosamente a causa antiescravista.

Uma forma de resistência abordada por Marx foi a dos afro-americanos escravizados. Por exemplo, ele levou muito a sério o histórico ataque de 1859 a um arsenal em Harpers Ferry, Virgínia, realizado por militantes antiescravistas, tanto negros quanto brancos, sob o comando do abolicionista radical John Brown. Ainda que o ataque tenha falhado em desencadear a insurreição de escravos que os militantes esperavam, Marx concordou com os abolicionistas de que esse foi um evento importante, depois do qual a situação não seria mais a mesma. Mas ele acrescentou uma comparação internacional com os camponeses russos e a ênfase na ação autônoma dos afro-americanos escravizados em seu potencial contínuo de insurreição em massa:

“A meu ver, a coisa mais importante que está acontecendo no mundo hoje é, de um lado, o movimento entre os escravos na América, iniciado pela morte de Brown, e o movimento entre os escravos na Rússia, de outro . . . Acabei de ver no Tribune que houve uma nova revolta de escravos no Missouri, naturalmente reprimida. Mas o sinal já foi dado.”

Nesse momento, Marx parecia perceber uma insurreição em massa dos escravos como a chave para a abolição, e talvez algo mais no que tange ao desafio da própria ordem capitalista. Logo depois, quando o Sul declarou sua secessão e a Guerra Civil eclodiu, ele declarou seu apoio à causa do Norte, não obstante os ataques abrasadores a Lincoln por sua hesitação inicial em defender, sem mencionar levar a cabo, a abolição da escravidão e o alistamento de tropas negras.

Durante a guerra surgiu uma segunda forma de resistência ao capitalismo e à escravidão, não nos Estados Unidos, mas na Inglaterra. Enquanto as classes dominantes do país ridicularizavam os Estados Unidos como um experimento fracassado de governo republicano e até atacavam o plebeu Lincoln por sua falta de sofisticação, as classes trabalhadoras britânicas viam as coisas de maneira diferente. Ainda lutando por seus direitos diante da necessidade de comprovar exorbitantes qualificações de propriedade os trabalhadores viam os Estados Unidos como a forma mais ampla de democracia que existia na época, especialmente depois que o Norte se comprometeu com a abolição.

Como Marx relatou em vários artigos, as reuniões de massas organizadas pelos trabalhadores britânicos ajudaram a bloquear as tentativas do governo de intervir a favor do Sul. Nesse exemplo magnífico do internacionalismo proletário, os trabalhadores britânicos rejeitaram as tentativas de vários políticos de fomentar a animosidade em relação ao Norte com base no fato de que os bloqueios da União haviam reduzido o fornecimento de algodão, criando assim desemprego em massa entre os trabalhadores têxteis de Lancashire. Como Marx entoou em um artigo de 1862 para o New York Tribune,

“Quando grande parte das classes trabalhadoras britânicas sofre direta e severamente com as consequências do bloqueio sulista; quando outra parte é indiretamente afetada pelos cortes com o comércio estadunidense, devido, como é dito, à egoísta “política protecionista” dos Republicanos [dos EUA] . . . em tais circunstâncias, a mais simples justiça exige que se preste homenagem à sensata atitude das classes trabalhadoras britânicas, mais ainda quando contrastada com a conduta hipócrita, intimidatória, covarde e estúpida do John Bull oficial e bem-de-vida.”

Em 1864, a Primeira Internacional era formada, com muitos dos seus primeiros militantes sendo provenientes dos quadros organizadores dessas reuniões antiescravistas. Nesse sentido, um movimento antiescravista da classe trabalhadora ajudou a formar a maior organização socialista que Marx lideraria durante sua vida.

Com o fim da guerra, uma Reconstrução Radical estava em pauta nos Estados Unidos, incluindo a perspectiva de dividir as antigas plantations escravistas para viabilizar as doações de quarenta acres e uma mula para as pessoas anteriormente escravizadas. No prefácio de 1867 a O capital, Marx comemorou os seguintes desenvolvimentos: “Após a abolição da escravidão, uma transformação radical nas atuais relações de capital e propriedade da terra está em pauta”. O que não ocorreu, pois a medida foi bloqueada pelas forças moderadas no Congresso estadunidense.

No rescaldo da Guerra Civil, Marx discutiu o surgimento, novamente Estados Unidos, de uma terceira forma de resistência ao capitalismo e à escravidão, bem como ao racismo. Na sua visão, séculos de trabalho negro escravo convivendo com trabalho branco formalmente livre tinham criado enormes divisões entre os trabalhadores, tanto urbanos quanto rurais. A Guerra Civil varreu parte da base econômica dessas divisões, criando novas possibilidades. Novamente em O capital, ele discutiu essas possibilidades com evidente apreço, quando também pôs no papel sua frase mais notável sobre a dialética entre raça e classe, aqui destacada em itálico:

“Nos Estados Unidos da América do Norte, todo movimento operário independente ficou paralisado durante o tempo em que a escravidão desfigurou uma parte da república. O trabalho de pele branca não pode se emancipar onde o trabalho de pele negra é marcado a ferro. Mas da morte da escravidão brotou imediatamente uma vida nova e rejuvenescida. O primeiro fruto da guerra civil foi o movimento pela jornada de trabalho de 8 horas, que percorreu, com as botas de sete léguas da locomotiva, do Atlântico até o Pacífico, da Nova Inglaterra à Califórnia. O Congresso Geral dos Trabalhadores, em Baltimore (agosto de 1866), declarou: ‘A primeira e maior exigência do presente para libertar o trabalho deste país da escravidão capitalista é a aprovação de uma lei que estabeleça uma jornada de trabalho normal de 8 horas em todos os Estados da União americana. Estamos decididos a empenhar todas as nossas forças até que esse glorioso resultado seja alcançado.”

De fato, os líderes sindicais de 1866 estavam dispostos a pôr o capitalismo diretamente na mira, algo que posteriormente não seria visto com muita frequência nos Estados Unidos. No entanto, o sonho de Marx de solidariedade de classe com transversalidade racial não foi alcançado naquele momento devido à relutância dos sindicatos brancos em incluir trabalhadores negros como membros. O tipo de solidariedade com transversalidade racial que Marx vislumbrava pôde ser vista em larga escala algumas vezes desde então, principalmente na sindicalização em massa na década de 1930.

Quatrocentos anos após a chegada dos africanos escravizados na Virgínia, os afro-americanos continuam a experienciar o legado da escravidão nas condições de encarceramento em massa, no racismo institucionalizado tanto das políticas habitacionais como de emprego, e na crescente desigualdade de riqueza.

Ao mesmo tempo, somos confrontados com o governo mais reacionário e antitrabalhadores de nossa história, um governo que fomenta e se alimenta das mais odiosas formas de racismo e misoginia para obter apoio entre setores da classe média e das classes trabalhadoras. Sob esse prisma, a declaração de Marx, “o trabalho de pele branca não pode se emancipar onde o trabalho de pele negra é marcado a ferro”, continua sendo um lema tão relevante quanto era há 150 anos.

* Publicado originalmente na revista Jacobin, por ocasião dos 400 anos da chegada de escravizados aos EUA. A tradução para o português é de Allan M. Hilani e Pedro Davoglio, para a Jacobin Brasil.

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Kevin B. Anderson é professor de sociologia e ciência política na Universidade da Califórnia-Santa Bárbara. Ele é autor de Marx nas margens: nacionalismo, etnias e sociedades não ocidentais (Boitempo, 2019), Lenin, Hegel, and Western Marxism, (sem tradução) e, com Janet Afary, de Foucault e a revolução iraniana: as relações de gênero e as seduções do islamismo (É Realizações, 2011). Também editou livros sobre Raia Dunaiévskaia e Rosa Luxemburgo, e um volume sobre os cadernos etnológicos de Marx, ainda no prelo.

segunda-feira, 16 de setembro de 2019

O CAPITAL CONTRA A EDUCAÇÃO DA CLASSE TRABALHADORA

A revista Germinal: Marxismo e Educação em Debate acaba de publicar o Volume 11, Número 1, abril de 2019.

O número está disponível em:

Navegue no sumário da revista para acessar os artigos e itens de interesse.




domingo, 15 de setembro de 2019

Salim Lamrani: Cuba representa um projeto incômodo para os Estados Unidos.



A visão estadunidense de que a América Latina é seu ‘quintal’ bastaria para entender a hostilidade de Washington para tudo quanto na região ameace seus interesses, no entanto, chama a atenção a particular agressividade contra uma pequena ilha: Cuba.

Dia do Trabalhador em Cuba, Havana - 2019 | Foto: Ismael Francisco/CubaDebate


Paris -  A visão estadunidense de que a América Latina é seu ‘quintal’  bastaria para entender a hostilidade de Washington para tudo quanto na região ameace seus interesses, no entanto, chama a atenção a particular agressividade contra uma pequena ilha: Cuba.

Mais de um século de intervenções militares e guerras que se encaixam em suas diversas variantes, incluindo a econômica e a biológica, marcam o cenário bilateral e impactam com a política de bloqueio o âmbito multilateral.

Sobre o tema, é interessante para a Prensa Latina conversar com o acadêmico e ensaísta francês Salim Lamrani, que apesar de sua juventude, representa uma voz reconhecida no estudo das relações entre a superpotência e seu vizinho rebelde.

Para o professor da Universidade da Réunion, localizada no departamento francês de ultramar de igual nome, Washington ainda sofre da incapacidade de aceitar a realidade de uma Cuba livre e independente.

Não tolera que um pequeno país decida tomar ao pé da letra um direito inalienável da humanidade que é escolher seu próprio destino, ressaltou.

Lamrani declarou que a ilha encarna o princípio inegociável da igualdade soberana, não aceita ingerências em seus assuntos internos e defende que não se pode ter dignidade sem independência, o que incomoda à Casa Branca.

Por décadas, Estados Unidos tem buscado argumentos para justificar sua política para a maior das Antilhas, até chegar aos supostos ataques sônicos em Havana contra seus diplomatas, apesar da carência de argumentos científicos para sustentar tal acusação.

‘A retórica para justificar sua hostilidade é pouco crível e tem variado segundo as épocas’, advertiu com uma lista de alguns dos pretextos apresentados à opinião pública.

‘Quando triunfou a Revolução cubana, Washington justificou sua postura agressiva argumentando que Havana tinha nacionalizado e expropriado terras e empresas que pertenciam a donos estadunidenses.

‘Depois foi a aliança soviética o que constituiu oficialmente o pomo da discórdia. Mais tarde, o internacionalismo solidário de Cuba com os países em luta por sua libertação e emancipação, particularmente na África’.

De acordo com Lamrani, o desmoronamento da União Soviética, a princípios dos anos 90 do passado século, marcou a defesa pela Casa Branca da tese da violação dos direitos humanos e da falta de democracia como pontas de lança, recrudescendo o bloqueio.

Estados Unidos apostou em fortalecer o cerco como se pudesse ser melhorado o destino de um povo incrementando seus sofrimentos e se esquecendo totalmente de sua falta de autoridade moral para erigir-se em juiz, e agora chega ao ponto de evocar ataques sônicos, opinou.

O acadêmico fez questão de ressaltar que a antiquada política está condenada ao fracasso, porque o diálogo sincero e respeitoso é a única via para solucionar as diferenças, ‘sobretudo com um país como Cuba, que nunca cede sob violência, ameaça, a intimidação ou  chantagem’.

Há que respeitar o princípio fundamental do direito dos povos à autodeterminação e a superpotência deve aceitar que o destino de Cuba, seu sistema e sua orientação, são atribuições exclusivas dos cubanos, manifestou.

A MANIPULAÇÃO MIDIÁTICA

Em sua cruzada para derrubar a Revolução de 1 de janeiro de 1959, as administrações da Casa Branca têm tido na manipulação midiática um fiel aliado.

O principal papel destes meios de comunicação, que são propriedade de conglomerados econômicos e financeiros, é defender a ordem estabelecida, convencer a opinião pública da legitimidade dos privilégios estabelecidos e atacar toda aspiração a uma mudança das estruturas sociais, que poria em julgamento o sistema imperante, considerou Lamrani.

Segundo o acadêmico e ensaísta francês, Cuba é o alvo deste cenário, no qual para Washington e seus objetivos, informar o cidadão é desprezado com essa intenção.

‘A partir deste postulado, é impossível que os meios de comunicação apresentem a realidade cubana de modo honesto e imparcial, quando este país tem posto em tela de julgamento a ordem estabelecida, abolido os privilégios dos poderosos, colocado o humilde no centro de um projeto de sociedade e o fato da repartição  das riquezas ser uma prioridade absoluta’, sentenciou.

UMA APROXIMAÇÃO COM O PAI DA PÁTRIA

Os franceses tiveram neste verão a oportunidade de se aproximar da história do pai da pátria cubana, Carlos Manuel de Céspedes, graças a um profundo trabalho de Lamrani , publicado em quatro partes pelo diário L´Humanité.

Prensa Latina aproveitou a oportunidade para que o estudioso explicasse suas motivações para recordar sob o título ‘Carlos Manuel de Céspedes, em nome da Liberdade’ e o título ‘Breve história do Pai da Pátria cubana’.

‘Céspedes (1819-1874) simboliza o altruísmo puro, um homem que renunciou a seus interesses de classe e a seus bens pessoais, substituindo a felicidade de uma vida familiar pelos tormentos da guerra, pelo interesse superior da nação e o bem-estar de todos os cubanos’, comentou.

De acordo com o professor universitário, o prócer fica na história como aquele que vinculou a liberdade da ilha à abolição definitiva da escravidão.

Também é importante compartilhar que foi um ser humano fiel até as últimas consequências a seu lema ‘Independência ou morte’ e que tomou as armas contra o opressor espanhol, sem experiência militar alguma, em condições de extrema adversidade para seguir o combate contra uma potência infinitamente superior, agregou.

Para Lamrani, outra qualidade valiosa representada pelo independentista é a de viver e lutar sem rancores, apesar de ‘a ingratidão de seus concidadãos no poder’.

Após intrigas e manobras para substituí-lo, a conspiração contra o presidente da República em Armas materializou-se em 1873 com sua deposição, e apesar dessas circunstâncias optou por se opor a confrontos entre cubanos para tratar de preservar a unidade e a revolução.

A esse respeito ressaltou, o compromisso do prócer com a unidade e a vigência de seu proceder, entendendo que ‘os grandes processos de transformação social só podem ser conseguidos com a unidade de todas as forças favoráveis à emancipação humana’. Na análise de Lamrani , três aspectos caracterizam Céspedes : sua disposição a subordinar interesses pessoais ao imperativo superior de construção do edifício patriótico, sua decisão de fazer da abolição da escravidão o elemento fundador da nação e sua dedicação em conseguir o consenso entre todos os cubanos de boa vontade.(Prensa Latina)

Publicado em 3 setembro, 2019 por siempreconcuba
Tradução: Comitê Carioca de Solidariedade a Cuba