A Editora Lutas anticapital publicou recentemente o livro Herança, Esperança e Comunismo: Luiz Carlos Prestes e o movimento Comunista brasileiro – documentos (1980-1994), organizado por Gustavo Rolim.
O Livro custa R$ 55 (+ 12 de despacho). Encomendas : edlutasanticapital@gmail.com (Falar com Mariana)
Confira abaixo a entrevista com Gustavo Rolim, concedida à Editora Lutas anticapital.
1. “Herança, Esperança e Comunismo: Luiz Carlos Prestes e o movimento comunista brasileiro – documentos (1980-1994)” foi lançado recentemente pela Editora Lutas Anticapital. Antes de qualquer coisa, sobre o que é o livro?
Gustavo: o livro é um dossiê de documentos produzidos por Luiz Carlos Prestes, Anita Leocádia Prestes e o movimento comunista surgido ao entorno das posições do “Cavaleiro da Esperança”, a partir de 1980, quando este rompe com o Comitê Central do PCB. Temos, além dos textos de ambos autores mencionados acima, periódicos como o Ecos a Carta de Prestes, o Voz Operária, e os primeiros números do Jornal Avançando.
Da autoria de Luiz Carlos Prestes trazemos a Carta aos Comunistas, documento fundamental para o entendimento das posições políticas de Prestes naquele momento, dessa nova fase vivida pelo dirigente comunista; Aprender com os erros do passado para construir um partido novo, efetivamente revolucionário (1981) e Proposta para discussão de um programa de soluções de emergência – contra a fome a carestia e o desemprego (1982) são dois escritos de Prestes publicados no Voz Operária, que decidimos destacar no livro para chamar a atenção do leitor para o desenvolvimento das proposições de Prestes para o movimento dos trabalhadores. Ainda temos outros dois escritos de Prestes que entram em consonância com diversos temas presentes nos jornais do movimento comunista vinculado a ele, o Discurso em Havana na conferência da dívida externa (1985) e Um “poder” acima dos outros (1988). O primeiro trata-se de uma amostra da imensa importância que Prestes tinha a nível internacional. Mesmo em meados dos anos 1980 ele seguia sendo convidado para expressar suas visões sobre os desafios dos movimentos dos trabalhadores a nível internacional. Na época, tratando sobre um importantíssimo assunto, a dívida externa, que seria assunto onipresente na América pós-ditatorial. O segundo é um daqueles textos cuja apreensão pela esquerda é inversamente proporcional a sua importância. Prestes sempre denunciou o caráter conservador do advento da Nova República, e um desses elementos conservadores foi a presença, em nossa Constituição da possibilidade de intervenção militar. Isso demonstra (e hoje nos vemos cada vez mais presos nesta realidade) que os militares nunca saíram de uma posição de poder e de capacidade de tomada de rumos em nossa república. A espiral de acontecimentos recentes deixa apenas mais dramática esta específica ferida aberta em nosso país.
Acrescidos a estes documentos procuramos adicionar os textos de Florestan Fernandes, pela sua aguda capacidade de sintetizar em linhas gerais as contribuições de Prestes e de suas posições políticas para a revolução brasileira.
Se fossemos falar em linhas gerais, o livro é sobre ambas as disputas e polêmicas do movimento comunistas nos estertores da ditadura, assim como um livro que permite ver o desenvolvimento do pensamento de Prestes nos seus últimos dez anos de vida – posicionamentos estes que seguem via de regra nos meios políticos e acadêmicos muito mal compreendidos e incorporados.
2. Como foi o processo de organizar o livro?
Gustavo: tudo começou quando o Jornal Avançando, de 1983 acabou em minhas mãos através de militantes que compunham a Juventude naquela época. Comecei a ler também Florestan Fernandes com mais afinco e já acompanhava o pensamento de Prestes e de Anita - já havia lido a biografia de autoria da professora e os textos da Carta e A que Herança devemos renunciar. Em um segundo momento, adquiri em um sebo o Discurso em Havana na conferência da dívida externa. Comecei a perceber que havia uma série de documentos e textos que, ou não haviam sido publicados de nenhuma forma (Jornal Avançando) ou encontraram publicações completamente apartados de outros textos que poderiam ampliar o seu significado (os textos de Prestes e da Professora Anita). Quando conversei com a querida Silvia Petersen, minha professora de graduação da UFRGS, ela me deu um apoio crucial para tomar coragem de montar a publicação.
Uma pesquisa mais a fundo me revelou que grande parte da documentação (Ecos a Cartas de Prestes e Voz Operária) estava presente no Arquivo Edgar Leuenroth, o qual disponibilizou fotocópias sem problemas. Transcrevi a documentação com ajuda imprescindível de Graziele Corso e devagar o livro ia tomando forma. Tive também auxílio e ajuda da professora Anita Prestes e do professor Lincoln Secco, a quem sou deveras grato.
Entretanto vale destacar que ainda é um corpus documental incompleto. Existem alguns números a mais da Voz Operária e do Ecos a serem adicionados. O mesmo vale para os Jornais Avançando, estes não sei nem ao certo o número completo de periódicos existentes. Fora as publicações sindicais para congressos de categorias ou da CUT (Central Única dos Trabalhadores). O livro é também um convite para que historiadores e historiadoras desvelem esta documentação para futuros estudos mais aprofundados. Creio que ainda temos muito a aprender com o movimento comunista alinhado a Prestes e as posições deste.
3. Porque “Herança, Esperança e Comunismo”?
Gustavo: Herança é o termo que Anita Prestes utiliza em seu texto, resgatando um termo de Vladmir Lenin, em A que herança renunciamos de fins do século XIX. Em se tratando de um olhar sobre Luiz Carlos Prestes e o movimento geral dos comunistas e dos trabalhadores há mais de 30 anos atrás, me parece propício. Esperança é o termo pelo qual Prestes ficou designado desde a Coluna, sendo chamado de Cavaleiro da Esperança. Mostra também um pouco da utopia, necessária de termos em voga nos momentos mais duros. O último texto que trago dos “comunistas que se alinham...” se chama A Herança e a Esperança. Eu não poderia simplesmente repetir o título, adicionei “comunismo”, porque afinal de contas, era a ideologia defendida por todos aqueles indivíduos históricos. Mais: era a batalha pela permanência de um marxismo-leninismo revolucionário em um momento de assenso de massas no Brasil – e também um momento em que cresciam ideias completamente contrárias ao materialismo histórico-dialético. Assim como Florestan dizia em 1980, que era necessário voltar à ótica comunista de Marx e Engels, achei que fazia por bem também colocar o termo já no título do livro.
4. Porque a letra “Voz do Leste” de Taiguara para abrir o livro?
Gustavo: este ano Taiguara completaria 75 anos. Foi o artista mais censurado da ditadura, por suas músicas que, de poéticas e românticas começavam a ganhar tons cada vez mais interessantes de crítica social ao fechamento do regime. Passou por dois exílios. Silenciamento. Esquecimento forçado. E mesmo assim escolheu, retornando ao Brasil, o caminho mais difícil, mais complicado. Alinhou-se ao comunismo de Prestes e ganhou novo motivo para ser censurado, por militares, mídia e um público que não queria saber de política. É uma trajetória única e merece ser mais reconhecida dentre a esquerda brasileira.
O álbum Canções de amor e liberdade é extremamente político em toda a sua montagem, e Voz do Leste é uma música em homenagem ao periódico Voz Operária e aos comunistas alinhados a Prestes. Me pareceu justo fazer este encontro de camaradas na publicação.
5. Qual a sua trajetória acadêmica? Quais os planos?
Gustavo: desde 2016, quando encerrei o mestrado e as pesquisas em história medieval, dediquei-me ao estudo de revolucionários africanos. A primeira “experiência” saiu na forma de um capítulo no livro O Pensamento Africano no Século XX, organizado pelo professor José Rivair Macedo e publicado pela Expressão Popular. Agora ingressei no doutorado da UFRGS (com orientação do professor Rivair) para estudar o processo revolucionário na Guiné-Bissau e Cabo Verde, tendo como eixo a definição do que se entendia, naquele processo revolucionário, por “Libertação Nacional”. Mas recém começamos as pesquisas, há muita água a rolar embaixo da ponte...
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