O economista político e sociólogo brasileiro Theotônio dos Santos morreu nesta terça-feira (27), aos 81 anos, vítima de um câncer no pâncreas. Foi um dos formuladores da Teoria da Dependência, e um dos principais formuladores da Teoria do Sistema Mundo.
Theotônio dos Santos (1936-2018) |
Redação Opera Mundi
Natural de Carangola, interior de Minas Gerais, militou na Polop (Organização Revolucionária Marxista Política Operária). Foi um dos fundadores da Revista Diálogos do Sul e colaborou com a publicação até o fim de sua vida. (Leia aqui os artigos de Theotônio). Escreveu 38 livros, foi co-autor ou colaborador de 78 livros. Seus trabalhos foram publicados em 16 línguas.
A seguir, compartilhamos a homenagem publicada pelo professor Carlos Eduardo Martins, professor do Programa de Estudos sobre Economia Política Internacional (UFRJ), coordenador do Laboratório de Estudos sobre Hegemonia e Contra-Hegemonia (LEHC/UFRJ) e coordenador do Grupo de Integração e União Sul-Americana do Conselho Latino-Americano de Ciências Sociais (Clacso): “Se Theotônio se vai fisicamente deste mundo, o sonho de um socialismo democrático e a continuidade de sua obra permanecem como desafio aberto para as novas gerações e para os muitos que diretamente ou indiretamente influenciou”.
Leia a nota na íntegra:
Prezados, acabo de saber da morte de Theotônio dos Santos. Theotônio, que foi meu professor na graduação da PUC nos anos 1980, e com quem trabalhei 20 anos, entre 1991-2011, deixa um legado importante para as ciências sociais e para a esquerda brasileira.
Sua obra é referência indispensável para se compreender as grandes tendências e contradições do capitalismo contemporâneo, sua crise civilizatória, assim como as mazelas do capitalismo dependente, que transforma este Brasil, com tanta potencialidade e vocação democrática, num país tão persistentemente desigual e injusto, cuja vida é violada pela reemergência estrutural de tendências fascistas que se entrelaçam com as liberais. Lamentavelmente, a tragédia política brasileira que estamos vivenciando e o parentesis democrático que foi a Nova República, só ressaltam a agudeza crítica e a pertinência de sua obra.
Junto com Ruy Mauro Marini e Vânia Bambirra, Theotônio foi fundador e grande expoente da Teoria Marxista da Dependência e, dos três, o que mais conseguiu ultrapassar o bloqueio que sofreram do pensamento institucionalista — desenvolvimentista ou neoliberal — no Brasil.
Theotônio foi quem mais internacionalizou a teoria marxista da dependência, concebendo-a como uma primeira etapa da construção de uma teoria marxista do sistema mundo, dialogando com Immanuel Wallerstein, Giovanni Arrighi, Samir Amin, Andre Gunder Frank, Beverly Silver e tantos outros que trouxe ao Brasil.
Theotônio e Vânia não tiveram tempo para viver o que mais queriam: a época em que a teoria da dependência fosse peça de museu. Mas se Theotônio se vai fisicamente deste mundo, o sonho de um socialismo democrático e a continuidade de sua obra permanecem como desafio aberto para as novas gerações e para os muitos que diretamente ou indiretamente influenciou.
FONTE: Opera Mundi
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