III Encontro Civilização ou Barbárie
Comunicação de Miguel Urbano Rodrigues
Sobre a Barbárie Imperialista, A Crise do Capital e a Luta dos Povos
Camaradas e amigos
Nós, participantes neste Encontro, reunidos em Serpa, temos consciência de que o planeta Terra enfrenta uma crise global de civilização que pode ter como desfecho a extinção da Humanidade.
Contribuir para que se difunda a consciência dessa ameaça, inseparável do funcionamento de uma engrenagem monstruosa, é hoje uma tarefa revolucionária.
Difícil de assumir porque na vastidão do mundo as grandes maiorias ainda não se aperceberam de que a superação da actual crise passa pelo desaparecimento do capitalismo.
Na era da informação instantânea, a desinformação alastra. Como o capital controla o sistema mediático a nível quase planetário, a mentira é imposta como verdade aos povos. Nunca a alienação das massas foi tão cientificamente trabalhada por aqueles que as exploram. Uma contra-cultura alienante, exportada pelos EUA, contribui para a passividade das massas e um consumismo irracional, robotizante.
Uma mentira perigosa que diariamente percorre o mundo é a que projecta a imagem dos EUA como vencedores da mal chamada crise financeira.
Embora tecnicamente os EUA não estejam em recessão, é falso que se encaminhem para uma recuperação. Isso porque a crise neles iniciada é uma crise estrutural do capitalismo, simultaneamente económica, ambiental, militar, social, energética, cultural.
Aproximadamente 30 milhões de trabalhadores estão desempregados ou subempregados, mas os lucros das empresas aumentam ali prodigiosamente. O Washington Post, porta-voz do establishment, reconhecia em 30 de Julho, num artigo de Steve Pearlstein, que no mundo real as empresas existem para criar lucros para os accionistas e não empregos. Na mesma semana, o The New YorK Times sublinhava que a queda das vendas é acompanhada por um aumento dos lucros. Um exemplo: a Ford reduziu a metade a sua força de trabalho nos últimos cinco anos. Inicialmente perdeu 20 mil milhões de dólares. Mas este ano anuncia um lucro provável de 5 mil milhões de dólares. Fred Goldstein, do International Action Center, lembra-nos que os capitalistas instalam tecnologias concebidas para destruir empregos, porque a lógica do sistema exige que a produção seja reduzida para as empresas serem rentáveis.
O debate em Washington opõe os que defendem uma maior «austeridade», travando o aumento da astronómica dívida pública, àqueles que exigem mais «estímulos» para a recuperação da banca e das grandes empresas. Mas tudo indica que, esgotados os 787 mil milhões de dólares injectados pelo Estado na economia, o país cairá novamente em recessão.
O presidente Barack Obama hesita. Acossado pela direita republicana, faz concessões, temeroso de uma vitória republicana nas eleições Legislativas de 2 de Novembro. Critica, com suavidade, os banqueiros e outros magnates da Finança, mas na prática assiste passivamente ao seu prodigioso enriquecimento. Os sacerdotes do dinheiro continuam a atribuir-se vencimentos e prémios fabulosos. O secretário do Tesouro, Thimothy Geitner, um neoliberal ligado a Wall Street, goza da total confiança do Presidente.
A reforma da Saúde foi um grande embuste. As Seguradoras vão embolsar centenas de milhares de milhões de dólares, e milhões de imigrantes ilegais não são abrangidos pela nova legislação aprovada pelo Congresso. O orçamento de Defesa é o maior desde a II Guerra Mundial, mas as verbas atribuídas à Educação e aos Transportes foram consideravelmente reduzidas.
A ESTRATÉGIA IMPERIAL
Contrariamente às esperanças suscitadas, a actual Administração não rompeu com a política agressiva de Bush, orientada para a dominação universal e perpétua do imperialismo estadounidense.
Obama manteve no Pentágono o falcão republicano Robert Gates e a secretária de Estado Hillary Clinton têm assumido posições no tocante ao Médio Oriente, à América Latina, à Palestina e à Ásia Oriental ainda mais negativas do que as de Madeleine Albright e Condoleeza Rice.
Em Outubro o Pentágono, com o aval do Presidente Obama, criou o Cibermand, organização cujo objectivo, segundo o general Kevin Chilton, é preparar os EUA para as «confrontações da ciber guerra». Outros generais afirmaram que o controle militar do ciberespaço garantirá aos EUA o domínio perpétuo sobre a Terra.
Outra terrível ameaça à humanidade do sistema imperial são as armas electrónicas que podem atingir um alvo humano a 10 mil quilómetros de distância. Basta carregar num botão algures nos EUA para abater «o inimigo» seleccionado. As novas armas magnéticas são outra inovação do arsenal do terror criado pela tecnologia de a ciência colocadas ao serviço de uma política criminosa.
Na América Latina não houve alteração sensível na politica de hostilidade a Cuba e o regresso da IV Esquadra ao Sul do Hemisfério, o reforço da aliança com o regime neofascista da Colombia, o golpe nas Honduras – organizado na Embaixada dos EUA – e a intentona no Equador comprovam um aumento da agressividade do governo Obama na Região.
A campanha permanente desencadeada pelos media estadounidenses contra os regimes progressistas da Venezuela bolivariana, da Bolívia e do Equador insere-se numa estratégia ambiciosa a médio prazo. Washington chegou à conclusão de que o recurso a golpes militares tradicionais para derrubar esses governos, que contam com forte apoio de massas, seria contraproducente, contribuindo para incentivar em toda a América Latina o sentimento anti-imperialista.
Minar por dentro os governos de Chavez, Evo Morales e Rafael Correa, provocando a sua implosão, é o objectivo pelo qual trabalha a Administração Obama.
Na América Latina o imperialismo, não tenhamos ilusões, está na ofensiva e, com poucas excepções, verifica-se um refluxo da luta de massas.
Obama tenta aprofundar as relações com o Brasil, a Argentina e o Uruguai, consciente de que as políticas desenvolvidas pelos governos desses países não afectam o funcionamento do sistema capitalista, sendo compatíveis com a sua lógica.
Na Colômbia, um governo neofascista mascarado de democrata é o mais íntimo aliado dos EUA no Continente. No final de Setembro o seu presidente recebeu calorosas felicitações de Barack Obama por ter assassinado o comandante Jorge Briceño das FARC numa operação que envolveu 27 helicópteros e 30 aviões de combate.
Os oligarcas que oprimem o povo da Colômbia acusam-no de assassino e terrorista. Mas Jorge Briceño, el Mono Jojoy, passará à Historia como um herói da América Latina. Cumpro um dever, camaradas, prestando aqui homenagem a esse combatente revolucionário tal como a Raul Reyes, também assassinado num bombardeamento pirata, e a Manuel Marulanda, o fundador das FARC.
AS LUTAS NA EUROPA
Na Europa, a crise global atinge os países de maneira desigual.
A estrutura da União Europeia é afectada pelas contradições que se manifestam nos grandes, incapazes de adoptarem uma estratégia comum. Apenas se entendem quando se trata de impor medidas drásticas a países como a Grécia, a Espanha, a Irlanda e Portugal. Os pequenos estados da Europa Oriental, esses são tratados como cobaias. É o caso das Republicas Bálticas, submetidas a receitas ultra liberais de efeito social devastador. Nalguns casos a redução dos salários atinge ali 30%.
O tema das lutas na Europa será tratado em intervenções de outros camaradas. Permito-me apenas registar que em consequência de políticas que descarregam o custo da crise sobre os trabalhadores, concebidas para beneficiar o grande capital, nomeadamente a banca e as transnacionais, se assiste a uma intensificação da luta de massas em muitos países do Continente. Isso é já uma realidade na Grecia, em França, em Espanha e Portugal onde os trabalhadores saem às ruas em protestos gigantescos. Cabe aqui uma referência especial às proporções assumidas pela luta de massas na França e na Grécia. Pela firmeza e combatividade demonstradas frente a uma repressão brutal e pelo nível de consciência política de que dão provas, a classe operária grega e o seu partido de vanguarda, o KKE, tornaram-se nos últimos meses credores do respeito e admiração das forças progressistas em todo o mundo.
Uma conclusão transparente: a crise destruiu a máscara da chamada democracia representativa em toda a Europa. Na União Europeia e fora dela, a soberania dos povos é duramente golpeada por ditaduras da burguesia de fachada democrática.
AS GUERRAS PERDIDAS DOS EUA
Enquanto a NATO, instrumento do poder imperial, estende os seus tentáculos pela Ásia adentro, os EUA implantam-se também militarmente no continente africano. A sua Força Aérea tem bombardeado a Somália, e o Pentágono decidiu manter um grande exército permanente em África, o chamado AFRICOM. Falta apenas decidir qual será o país sede.
No Médio Oriente e na Ásia Central o imperialismo estadounidense enfrenta desafios inseparáveis do seu projecto de controlar as imensas reservas de petróleo e gás da Região.
Envolveu-se em duas guerras de agressão contra os povos do Iraque e do Afeganistão, reafirma o seu apoio incondicional ao Estado neofascista de Israel e ameaça recorrer a armas nucleares tácticas para destruir o Irão.
Uma propaganda perversa, massacrante, apresenta essa escalada militar como exigência da luta mundial contra o terrorismo, assumida pelos EUA alegadamente em defesa de valores eternos da humanidade.
Na realidade os Estados Unidos, com a cumplicidade activa da União Europeia, estão a disseminar o terrorismo e a barbárie pelo planeta.
O professor Petras não exagera. No Iraque e no Afeganistão foram cometidos crimes monstruosos, que trazem à memória os das SS nazis do III Reich alemão. Nessa orgia de barbárie vale tudo desde chacinas colectivas, corte de línguas a prisioneiros, torturas e violações sexuais ate à destruição de aldeias inteiras pelas bombas dos drones, os aviões sem piloto. Mas apesar de nelas terem sido investidos mais de um milhão de milhões de dólares, essas guerras abjectas são guerras perdidas.
Obama, que fez do Afeganistão a primeira prioridade da sua politica externa, mantém nesse país um enorme exército, com efectivos que dobram as forças de ocupação da NATO, e não hesitou em estender a agressão às zonas tribais do Paquistão, alvo agora de bombardeamentos de rotina quase diários.
Outra situação muito incómoda para Washington. O Afeganistão é presentemente o maior produtor mundial de heroína. Antes da invasão, a cultura da papoila do ópio era ali quase residual.
Uma nova agressão se esboça no horizonte. A Casa Branca ao ameaçar o Irão – segundas reservas de hidrocarbonetos da região – repete noutro contexto um folhetim semelhante ao das «armas de destruição massiva», pretexto para a invasão e destruição do Iraque.
Como o governo de Ahmanidejah não se submete, Washington aplicou já vários pacotes de sanções ao Irão – com o ámen do Conselho de Segurança da ONU – e incentiva o aliado fascista israelense a multiplicar as provocações a Teerão.
A irracionalidade dessa estratégia justifica os temores de intelectuais como Chossudovsky para quem um ataque ao Irão poderia ser o prólogo da III Guerra Mundial.
Não se pode esquecer que a maior parte do petróleo importado pelos EUA e pela Europa passa pelo Estreito de Ormuz, que seria imediatamente fechado à navegação se o Irão fosse bombardeado.
Sejamos realistas: a irresponsabilidade da política do presidente Obama está a empurrar a humanidade para uma situação de beira de abismo.
Como reagir? Parece-me óbvio que, independentemente da opinião que se tenha do regime do Ayatolah Kameney, a solidarideadde com o povo do Irão, herdeiro de grandes civilizações, se torna hoje inseparável da defesa da vida humana contra a barbárie.
O desastre das guerras asiáticas da actual Administração dos EUA-continuadora da escalada de Bush – é tão evidente que começou a afectar a coluna vertebral da disciplina nas Forças Armadas.
O ex-comandante chefe no Afeganistão, general Stanley McChrystal, foi demitido por ter criticado duramente numa entrevista a estratégia do Presidente para a Região. Mas o mal-estar prosseguiu. O general David Petraeus, seu sucessor, não esconde também críticas à política militar de Obama. Nelas é acompanhado por oficiais do seu estado-maior. E que aconteceu? Nada. O presidente não reagiu. Esse silêncio foi interpretado por influentes media como indício de que Obama perdeu o controle da política asiática que estaria cada vez mais a ser assumido pelo Pentágono.
Alias, nestas vésperas das eleições norte-americanas a crescente popularidade de movimentos de extrema-direita como o Tea Party de Sarah Palin, suscita algum alarme entre os dirigentes do Partido Democrata e mesmo em meios republicanos.
A complexidade e gravidade da crise financeira, económica e social que atinge os EUA tende a favorecer a ascensão de um populismo profundamente reaccionário que desfralda bandeiras ostensivamente contra-revolucionárias.
Projectos fascistas no horizonte dos EUA? O filipino Walden Bello coloca a pergunta «Fascismo nos EUA?» e responde : «Não é tão implausível como possa pensar-se».
Não sou tão pessimista. Mas o Capitalismo não tem soluções válidas para a sua crise estrutural e por isso mesmo os EUA, baluarte do sistema, procuram com desespero encontrá-las em guerras genocídas e de saque.
Não sendo humanizável, o sistema tem de ser erradicado da Terra.
A sua agonia será lenta e o fim não tem data. A luta dos povos vai ser decisiva para a sua destruição. É minha convicção inabalável de que o socialismo é a única alternativa à barbárie capitalista. Não estarei vivo então. Mas como revolucionário aprendi na luta que as ideias pelas quais vivi e me bati – essas sobrevivem às breves existências individuais.
Serpa, 30 de Outubro de 2010
Comunicação de Miguel Urbano Rodrigues
Sobre a Barbárie Imperialista, A Crise do Capital e a Luta dos Povos
Camaradas e amigos
Nós, participantes neste Encontro, reunidos em Serpa, temos consciência de que o planeta Terra enfrenta uma crise global de civilização que pode ter como desfecho a extinção da Humanidade.
Contribuir para que se difunda a consciência dessa ameaça, inseparável do funcionamento de uma engrenagem monstruosa, é hoje uma tarefa revolucionária.
Difícil de assumir porque na vastidão do mundo as grandes maiorias ainda não se aperceberam de que a superação da actual crise passa pelo desaparecimento do capitalismo.
Na era da informação instantânea, a desinformação alastra. Como o capital controla o sistema mediático a nível quase planetário, a mentira é imposta como verdade aos povos. Nunca a alienação das massas foi tão cientificamente trabalhada por aqueles que as exploram. Uma contra-cultura alienante, exportada pelos EUA, contribui para a passividade das massas e um consumismo irracional, robotizante.
Uma mentira perigosa que diariamente percorre o mundo é a que projecta a imagem dos EUA como vencedores da mal chamada crise financeira.
Embora tecnicamente os EUA não estejam em recessão, é falso que se encaminhem para uma recuperação. Isso porque a crise neles iniciada é uma crise estrutural do capitalismo, simultaneamente económica, ambiental, militar, social, energética, cultural.
Aproximadamente 30 milhões de trabalhadores estão desempregados ou subempregados, mas os lucros das empresas aumentam ali prodigiosamente. O Washington Post, porta-voz do establishment, reconhecia em 30 de Julho, num artigo de Steve Pearlstein, que no mundo real as empresas existem para criar lucros para os accionistas e não empregos. Na mesma semana, o The New YorK Times sublinhava que a queda das vendas é acompanhada por um aumento dos lucros. Um exemplo: a Ford reduziu a metade a sua força de trabalho nos últimos cinco anos. Inicialmente perdeu 20 mil milhões de dólares. Mas este ano anuncia um lucro provável de 5 mil milhões de dólares. Fred Goldstein, do International Action Center, lembra-nos que os capitalistas instalam tecnologias concebidas para destruir empregos, porque a lógica do sistema exige que a produção seja reduzida para as empresas serem rentáveis.
O debate em Washington opõe os que defendem uma maior «austeridade», travando o aumento da astronómica dívida pública, àqueles que exigem mais «estímulos» para a recuperação da banca e das grandes empresas. Mas tudo indica que, esgotados os 787 mil milhões de dólares injectados pelo Estado na economia, o país cairá novamente em recessão.
O presidente Barack Obama hesita. Acossado pela direita republicana, faz concessões, temeroso de uma vitória republicana nas eleições Legislativas de 2 de Novembro. Critica, com suavidade, os banqueiros e outros magnates da Finança, mas na prática assiste passivamente ao seu prodigioso enriquecimento. Os sacerdotes do dinheiro continuam a atribuir-se vencimentos e prémios fabulosos. O secretário do Tesouro, Thimothy Geitner, um neoliberal ligado a Wall Street, goza da total confiança do Presidente.
A reforma da Saúde foi um grande embuste. As Seguradoras vão embolsar centenas de milhares de milhões de dólares, e milhões de imigrantes ilegais não são abrangidos pela nova legislação aprovada pelo Congresso. O orçamento de Defesa é o maior desde a II Guerra Mundial, mas as verbas atribuídas à Educação e aos Transportes foram consideravelmente reduzidas.
A ESTRATÉGIA IMPERIAL
Contrariamente às esperanças suscitadas, a actual Administração não rompeu com a política agressiva de Bush, orientada para a dominação universal e perpétua do imperialismo estadounidense.
Obama manteve no Pentágono o falcão republicano Robert Gates e a secretária de Estado Hillary Clinton têm assumido posições no tocante ao Médio Oriente, à América Latina, à Palestina e à Ásia Oriental ainda mais negativas do que as de Madeleine Albright e Condoleeza Rice.
Em Outubro o Pentágono, com o aval do Presidente Obama, criou o Cibermand, organização cujo objectivo, segundo o general Kevin Chilton, é preparar os EUA para as «confrontações da ciber guerra». Outros generais afirmaram que o controle militar do ciberespaço garantirá aos EUA o domínio perpétuo sobre a Terra.
Outra terrível ameaça à humanidade do sistema imperial são as armas electrónicas que podem atingir um alvo humano a 10 mil quilómetros de distância. Basta carregar num botão algures nos EUA para abater «o inimigo» seleccionado. As novas armas magnéticas são outra inovação do arsenal do terror criado pela tecnologia de a ciência colocadas ao serviço de uma política criminosa.
Na América Latina não houve alteração sensível na politica de hostilidade a Cuba e o regresso da IV Esquadra ao Sul do Hemisfério, o reforço da aliança com o regime neofascista da Colombia, o golpe nas Honduras – organizado na Embaixada dos EUA – e a intentona no Equador comprovam um aumento da agressividade do governo Obama na Região.
A campanha permanente desencadeada pelos media estadounidenses contra os regimes progressistas da Venezuela bolivariana, da Bolívia e do Equador insere-se numa estratégia ambiciosa a médio prazo. Washington chegou à conclusão de que o recurso a golpes militares tradicionais para derrubar esses governos, que contam com forte apoio de massas, seria contraproducente, contribuindo para incentivar em toda a América Latina o sentimento anti-imperialista.
Minar por dentro os governos de Chavez, Evo Morales e Rafael Correa, provocando a sua implosão, é o objectivo pelo qual trabalha a Administração Obama.
Na América Latina o imperialismo, não tenhamos ilusões, está na ofensiva e, com poucas excepções, verifica-se um refluxo da luta de massas.
Obama tenta aprofundar as relações com o Brasil, a Argentina e o Uruguai, consciente de que as políticas desenvolvidas pelos governos desses países não afectam o funcionamento do sistema capitalista, sendo compatíveis com a sua lógica.
Na Colômbia, um governo neofascista mascarado de democrata é o mais íntimo aliado dos EUA no Continente. No final de Setembro o seu presidente recebeu calorosas felicitações de Barack Obama por ter assassinado o comandante Jorge Briceño das FARC numa operação que envolveu 27 helicópteros e 30 aviões de combate.
Os oligarcas que oprimem o povo da Colômbia acusam-no de assassino e terrorista. Mas Jorge Briceño, el Mono Jojoy, passará à Historia como um herói da América Latina. Cumpro um dever, camaradas, prestando aqui homenagem a esse combatente revolucionário tal como a Raul Reyes, também assassinado num bombardeamento pirata, e a Manuel Marulanda, o fundador das FARC.
AS LUTAS NA EUROPA
Na Europa, a crise global atinge os países de maneira desigual.
A estrutura da União Europeia é afectada pelas contradições que se manifestam nos grandes, incapazes de adoptarem uma estratégia comum. Apenas se entendem quando se trata de impor medidas drásticas a países como a Grécia, a Espanha, a Irlanda e Portugal. Os pequenos estados da Europa Oriental, esses são tratados como cobaias. É o caso das Republicas Bálticas, submetidas a receitas ultra liberais de efeito social devastador. Nalguns casos a redução dos salários atinge ali 30%.
O tema das lutas na Europa será tratado em intervenções de outros camaradas. Permito-me apenas registar que em consequência de políticas que descarregam o custo da crise sobre os trabalhadores, concebidas para beneficiar o grande capital, nomeadamente a banca e as transnacionais, se assiste a uma intensificação da luta de massas em muitos países do Continente. Isso é já uma realidade na Grecia, em França, em Espanha e Portugal onde os trabalhadores saem às ruas em protestos gigantescos. Cabe aqui uma referência especial às proporções assumidas pela luta de massas na França e na Grécia. Pela firmeza e combatividade demonstradas frente a uma repressão brutal e pelo nível de consciência política de que dão provas, a classe operária grega e o seu partido de vanguarda, o KKE, tornaram-se nos últimos meses credores do respeito e admiração das forças progressistas em todo o mundo.
Uma conclusão transparente: a crise destruiu a máscara da chamada democracia representativa em toda a Europa. Na União Europeia e fora dela, a soberania dos povos é duramente golpeada por ditaduras da burguesia de fachada democrática.
AS GUERRAS PERDIDAS DOS EUA
Enquanto a NATO, instrumento do poder imperial, estende os seus tentáculos pela Ásia adentro, os EUA implantam-se também militarmente no continente africano. A sua Força Aérea tem bombardeado a Somália, e o Pentágono decidiu manter um grande exército permanente em África, o chamado AFRICOM. Falta apenas decidir qual será o país sede.
No Médio Oriente e na Ásia Central o imperialismo estadounidense enfrenta desafios inseparáveis do seu projecto de controlar as imensas reservas de petróleo e gás da Região.
Envolveu-se em duas guerras de agressão contra os povos do Iraque e do Afeganistão, reafirma o seu apoio incondicional ao Estado neofascista de Israel e ameaça recorrer a armas nucleares tácticas para destruir o Irão.
Uma propaganda perversa, massacrante, apresenta essa escalada militar como exigência da luta mundial contra o terrorismo, assumida pelos EUA alegadamente em defesa de valores eternos da humanidade.
Na realidade os Estados Unidos, com a cumplicidade activa da União Europeia, estão a disseminar o terrorismo e a barbárie pelo planeta.
O professor Petras não exagera. No Iraque e no Afeganistão foram cometidos crimes monstruosos, que trazem à memória os das SS nazis do III Reich alemão. Nessa orgia de barbárie vale tudo desde chacinas colectivas, corte de línguas a prisioneiros, torturas e violações sexuais ate à destruição de aldeias inteiras pelas bombas dos drones, os aviões sem piloto. Mas apesar de nelas terem sido investidos mais de um milhão de milhões de dólares, essas guerras abjectas são guerras perdidas.
Obama, que fez do Afeganistão a primeira prioridade da sua politica externa, mantém nesse país um enorme exército, com efectivos que dobram as forças de ocupação da NATO, e não hesitou em estender a agressão às zonas tribais do Paquistão, alvo agora de bombardeamentos de rotina quase diários.
Outra situação muito incómoda para Washington. O Afeganistão é presentemente o maior produtor mundial de heroína. Antes da invasão, a cultura da papoila do ópio era ali quase residual.
Uma nova agressão se esboça no horizonte. A Casa Branca ao ameaçar o Irão – segundas reservas de hidrocarbonetos da região – repete noutro contexto um folhetim semelhante ao das «armas de destruição massiva», pretexto para a invasão e destruição do Iraque.
Como o governo de Ahmanidejah não se submete, Washington aplicou já vários pacotes de sanções ao Irão – com o ámen do Conselho de Segurança da ONU – e incentiva o aliado fascista israelense a multiplicar as provocações a Teerão.
A irracionalidade dessa estratégia justifica os temores de intelectuais como Chossudovsky para quem um ataque ao Irão poderia ser o prólogo da III Guerra Mundial.
Não se pode esquecer que a maior parte do petróleo importado pelos EUA e pela Europa passa pelo Estreito de Ormuz, que seria imediatamente fechado à navegação se o Irão fosse bombardeado.
Sejamos realistas: a irresponsabilidade da política do presidente Obama está a empurrar a humanidade para uma situação de beira de abismo.
Como reagir? Parece-me óbvio que, independentemente da opinião que se tenha do regime do Ayatolah Kameney, a solidarideadde com o povo do Irão, herdeiro de grandes civilizações, se torna hoje inseparável da defesa da vida humana contra a barbárie.
O desastre das guerras asiáticas da actual Administração dos EUA-continuadora da escalada de Bush – é tão evidente que começou a afectar a coluna vertebral da disciplina nas Forças Armadas.
O ex-comandante chefe no Afeganistão, general Stanley McChrystal, foi demitido por ter criticado duramente numa entrevista a estratégia do Presidente para a Região. Mas o mal-estar prosseguiu. O general David Petraeus, seu sucessor, não esconde também críticas à política militar de Obama. Nelas é acompanhado por oficiais do seu estado-maior. E que aconteceu? Nada. O presidente não reagiu. Esse silêncio foi interpretado por influentes media como indício de que Obama perdeu o controle da política asiática que estaria cada vez mais a ser assumido pelo Pentágono.
Alias, nestas vésperas das eleições norte-americanas a crescente popularidade de movimentos de extrema-direita como o Tea Party de Sarah Palin, suscita algum alarme entre os dirigentes do Partido Democrata e mesmo em meios republicanos.
A complexidade e gravidade da crise financeira, económica e social que atinge os EUA tende a favorecer a ascensão de um populismo profundamente reaccionário que desfralda bandeiras ostensivamente contra-revolucionárias.
Projectos fascistas no horizonte dos EUA? O filipino Walden Bello coloca a pergunta «Fascismo nos EUA?» e responde : «Não é tão implausível como possa pensar-se».
Não sou tão pessimista. Mas o Capitalismo não tem soluções válidas para a sua crise estrutural e por isso mesmo os EUA, baluarte do sistema, procuram com desespero encontrá-las em guerras genocídas e de saque.
Não sendo humanizável, o sistema tem de ser erradicado da Terra.
A sua agonia será lenta e o fim não tem data. A luta dos povos vai ser decisiva para a sua destruição. É minha convicção inabalável de que o socialismo é a única alternativa à barbárie capitalista. Não estarei vivo então. Mas como revolucionário aprendi na luta que as ideias pelas quais vivi e me bati – essas sobrevivem às breves existências individuais.
Serpa, 30 de Outubro de 2010
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