Por Marcos Cesar de Oliveira
Pinheiro*
A cada dia, o
prefeito de Rio das Ostras, Alcebíades Sabino, tem demonstrado o caráter
profundamente antidemocrático de seu (des)governo. As arbitrariedades são
muitas desde que assumiu em janeiro deste ano, tanto contra a população
riostrense, sacrificando a qualidade dos serviços públicos, quanto contra os
servidores públicos deste município, aos quais Sabino tem tratado com total
desprezo. O que deve explicar o desempenho ruim da sua gestão em pesquisa de
opinião recentemente realizada pelo Instituto UP
Pesquisa e Marketing (levantamento feito em 45 cidades do Estado do Rio coloca
Sabido em quarto lugar entre os piores prefeitos). O que também deve explicar o
fato de ser chamado, por muitos, de ditador. Os métodos usados pelo prefeito
para garantir a “governabilidade” são claramente de aversão ao traço
fundamental de toda democracia: o governo do povo – ou então, para usar a mais
explícita fórmula de Abraham Lincoln, governo do povo, pelo povo e para o povo.
O que realmente existe em Rio das Ostras nada tem a ver com essas honrosas
definições de democracia, tão enaltecidas desde a Atenas clássica até hoje.
A situação
política em Rio das Ostras é caracterizada, faz algum tempo, pela dicotomia
eleitoral entre duas facções políticas: os “verdes”, personificados pelo atual
prefeito Sabino (PSC), e os “laranjas”, comandados pelo ex-prefeito Carlos
Augusto Carvalho Balthazar (PMDB). Ambos são aliados do atual governador do Rio
Sérgio Cabral. Verde e laranja são cores de um mesmo borrão, faces de uma mesma
moeda – a moeda dos grupos econômicos que estão por trás deles e que financiam
suas campanhas eleitorais. Se apoiam nos mesmos grupos econômicos, e governam
com os mesmos métodos e o mesmo modelo. As origens dessa história foram
relatadas de forma esclarecedora pelo jornalista Benoni Alencar, assassinado em
Rio das Ostras (setembro de 2011) logo após publicar o artigo “Verde e laranja,
cores de um mesmo borrão” no site do PSOL Serramar. Veja um trecho deste
artigo:
O
próprio Sabino – e é isso que quero contar – só chegaria à condição de chefão
da política riostrense por causa de uma briga entre o primeiro prefeito
municipal, Cláudio Ribeiro, e os financiadores da política local. O hoje
deputado [Sabino] contou-me a longa história, na presença de um amigo dele de
infância, o médico Cláudio Alencar do Rego Barros. Vou procurar resumi-la.
Cláudio Ribeiro, comerciante do ramo de marmoraria e vereador à Câmara de
Casimiro de Abreu, disputou a eleição do município recém-emancipado — tendo
como adversários o também vereador Gélson Apicelo, segundo mais votado, e o
então bancário magricela Alcebíades Sabino, terceiro.
Na
metade do mandado, quando se achava com a popularidade mais baixa que rabo de
cobra, Cláudio Ribeiro chamou Sabino ao seu gabinete de prefeito, e lhe disse
que iria iniciar uma nova etapa do mandado, necessitando do seu apoio. Revela,
então, que rompera com os que haviam financiado sua eleição, dirigindo-lhes
estas palavras: “Vocês já roubaram o suficiente; agora é minha hora de atender
meus compromissos com os eleitores, governando para a cidade”. Ou seja, Cláudio
colocava ponto final na roubalheira que permitira até ali, e agora queria
recuperar o respeito do povo — que o tratava carinhosamente de “Coronel”, retribuição
a um tratamento que Cláudio, homem comunicativo e cheio de energia, contando
pouco mais de 40 anos, dispensava a todos que se acercavam dele. Olhou
duramente os olhos de Sabino, e segredou-lhe, em voz reveladora de medo. “Esses
homens são capazes de tudo, até de me matar. Por isso escolhi você para me
apoiar, com seu grupo”.
Assassinado
menos de dois meses depois, Cláudio Ribeiro expôs o seguinte plano.
Desembaraçado dos sugadores do magro Orçamento municipal (não havia ainda o
pote de ouro dos royalties do
petróleo), recuperaria a popularidade, e apoiaria Sabino na sucessão (também
não havia ainda a reeleição). Sabino, em contrapartida, deveria dar-lhe suporte
na guerra “política” que eclodiria na cidade a partir daquele rompimento.
Cético quando à possibilidade de Cláudio dar a volta por cima na sua
impopularidade, Sabino prometeu dar resposta depois e pôs uma pedra sobre o
assunto. Agoniado com a enrascada em que estava metido, Cláudio Ribeiro decidiu
pôr o carro adiante dos bois, fazendo publicar nos jornais municipais, que
controlava por meio das subvenções que dispensava à imprensa, a seguinte
manchete: “Sabino é o candidato de Cláudio à sua sucessão”.
Sabino
tremeu quando viu impressa aquela ameaça, no alto da página. Lastimou com seus
botões a leviandade de Cláudio, que não esperara sua resposta – que seria
negativa. Coronel, àquela altura da sua infeliz administração, não tinha
prestígio para eleger sequer um vereadorzinho pescado em sobra de legenda.
Imagine-se fazer o sucessor. Enquanto o magricela bancário digeria fel com que
Cláudio o “mimava”, remoendo formas de minimizar os estragos que aquilo causava
aos seus planos eleitorais, explode a bomba. Dois pistoleiros de aluguel,
vindos do Rio, contratados pelos que Cláudio frustrara com sua decisão de
acabar com a roubalheira, mataram-no com vários tiros nas costas, no seu sítio
em Vila Verde, em pleno meio dia.
Eu
ainda morava em Niterói, e havia passado em Rio das Ostras um dos adoráveis
fins-de semana que costumava desfrutar aqui, no verão, quando me deparei com a
nota do assassinato de Cláudio Ribeiro na minha mesa de redator do “Jornal do
Commercio”, do Rio, cabendo-me editar a notícia. Fi-lo com angústia. Em aqui
voltando, semanas depois, soube do resto da história. O povo compreendeu a
tragédia de seu querido Coronel, perdoou-o pelos anos de mau governo, e fez do
enterro dele a maior manifestação popular da história de Rio das Ostras — até
não superada. A bem dizer ninguém ficou em casa – todos foram para a rua em
lágrimas, levar o esquife do prefeito ao cemitério. Sabino seria confirmado,
pela viúva de Cláudio, como o escolhido dele para a sucessão, e logrou
eleger-se, derrotando o então favorito Gélson Apicelo, do PDT. Detalhe: a vice
de Coronel, que completaria seu mandato, era também do PDT.
A
história dessa tragédia, que relembro ainda com emoção, mostra como a política
de Rio das Ostras é governada pelos financiadores de campanha, que recuperam o
capital investido, multiplicado várias vezes, com os contratos que celebram com
a Prefeitura durante o mandato do pupilo eleito. Contratos — ou votos para deputado
na eleição seguinte [...].
E
este é o motivo, a meu ver, pelo qual nunca a política em Rio das Ostras se
renova. Numa eleição sobem os verdes; na outra, os laranjas. Por detrás, sem
visibilidade clara para os eleitores, os que nunca perdem eleição — os
financiadores doublés de contratantes da Prefeitura, ou de deputados
“benfeitores do município”, na expressão com que os prefeitos (laranja ou
verdes) os apresentam à população.
Portanto, o
governo municipal não está a serviço da população de Rio das Ostras, mas está encarregado
de aplicar as políticas que seguirão beneficiando os próprios ricos – a oligarquia
que domina o município, isto é, o grupo dominante local que usa o seu
predomínio econômico para exercer o controle do âmbito político.
Assim, os
políticos de Rio das Ostras não querem uma democracia (governo do povo), mas
defendem com unhas e dentes – e mandando matar também, de acordo com o
histórico desta cidade – a plutocracia aqui existente. [Plutocracia: sistema
político no qual o poder é exercido pelo grupo mais rico.] Querem manter as
coisas como elas estão.
Por isso,
qualquer questionamento ao governo dos ricos de Rio das Ostras, os poderosos
costumam reagir com extrema violência, mentindo e usando métodos típicos do que
se convenciona a chamar de "guerra suja". A sensação de impotência os
deixa desesperado. Exemplo disso é a tentativa de desarticular e de criminalizar
os movimentos sociais populares, como o Vem Pra Rua Rio das Ostras, e o
movimento dos servidores públicos na luta por salários dignos e condições de
trabalho.
Em relação aos
servidores públicos, o prefeito Sabino, com sua retórica autoritária e suas
atitudes fascistoides, tem tentado a todo custo oprimi-los, humilhá-los. O
prefeito se nega a negociar um Acordo Coletivo de Trabalho. Recusa-se ao
diálogo. Desrespeita a data-base dos servidores, que é em outubro, encaminhando
uma proposta de reajuste de 5,69% valendo somente a partir do mês de novembro –
os servidores estão sendo roubados em um mês ou a prefeitura acaba de instituir
o ano de 13 meses. Oferece uma palestra aos servidores intitulada “Como ser
feliz na família, na vida e no trabalho”, ministrada pelo “renomado” Daniel
Godri – quanto custou aos cofres públicos essa palestra??????????? A palestra
se resume na seguinte mensagem: o problema dos servidores públicos de Rio das
Ostras não é uma questão salarial, o que está faltando é motivação, ânimo,
abraçar a política oligárquica do prefeito Sabino. Entre as muitas metáforas
usadas para “fundamentar” a mensagem do prefeito (manda quem pode obedece quem
tem juízo), o palestrante afirma que o servidor tinha que ser como o cachorro.
Ou seja, quando o dono (Prefeito) ordenar late, todo mundo late; quando o dono
(Prefeito) ordenar abane o rabo, todo mundo abana o rabo. Depois de explicar o
que é um funcionário “cachorro”, o palestrante solicita que a plateia reunida
na quadra do C.M. Profa América Abdalla, no dia 31/10/2013, latisse
demonstrando ter aprendido a lição. E não é que a plateia late animadamente. O
prefeito, lá presente, não esconde a satisfação, com um largo sorriso, de ver o
pessoal com cargos comissionados, servidores em função gratificada, servidores
contratados e estatutários se submetendo aquela situação de degradação do ser
humano. Aliás, a palestra, em sua essência, se mostra um espetáculo de stund-up comedy em que o motivo de piada
é o servidor público de Rio das Ostras.
Agora,
incomodado com as manifestações de insatisfação dos servidores públicos e com a
iminente greve geral da próxima terça-feira, dia 12/11, o prefeito Sabino, na
manhã desta quarta-feira (6/11), ORDENOU aos vereadores que votassem na próxima
sexta-feira (8/11) o projeto de reajuste por ele encaminhado. Como fantoches do
prefeito – pois assim eles estão se comportando – os vereadores já começam as
manobras para cumprir as ordens do Chefe. Os vereadores conseguem se rebaixar
cada vez mais e no ritmo que estão atingirão a camada de pré-sal antes da
Petrobras. Em total desrespeito e falta de palavra com os servidores públicos,
os vereadores de Rio das Ostras estão mostrando sua subserviência, sua relação
de vassalagem e o seu compromisso com a oligarquia que domina a política desta
cidade e exploram e oprimem a população riostrense. Os vereadores deveriam ter
vergonha de se autodenominarem “representantes do povo”, pois, com a postura
que estão tendo, não passam de figuras decorativas, abanando o rabo e latindo
para os donos do poder de Rio das Ostras, representados na pessoa do prefeito
Sabino.
NEM MAIS UM MINUTO, SERVIDOR!!! GREVE!!! GREVE!!!
GREVE!!! DIA 12 VAI CHEGAR E A CIDADE VAI PARAR!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
Onde há luta tudo é
conquistável e potencialmente perdível. Mas onde não há luta a derrota é certa.
Transformar a
indignação numa atmosfera de combatividade crescente dos servidores públicos
será um avanço. Será um golpe importante na engrenagem da máquina pública
municipal, assentada no mandonismo, no clientelismo, no nepotismo e na
repressão (de várias ordens). Será um passo importante para forçar a
democratização das relações poder público X cidadãos no município de Rio das
Ostras.
* Professor
de História da Rede Municipal de Ensino Público de Rio das Ostras. Matrícula:
6273-1. Lotado na Escola Municipal Padre José Dilson Dórea, bairro Âncora, Rio
das Ostras.
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