Por Anita Leocadia Prestes**
Temos, portanto, o fascismo associado essencialmente ao domínio do capital financeiro, o que não significa que exista um atrelamento automático de um regime fascista a todo sistema de dominação do capital financeiro. A correlação das forças de classe em confronto na sociedade será sempre, em última instância, a definidora da necessidade da burguesia recorrer ao fascismo para assegurar sua sobrevivência e sua continuidade em momentos de crise.
No
Brasil, a partir de meados de 2013, a insatisfação popular se fez sentir nas
manifestações que tiveram lugar por todo o país, as quais, tudo indica, foram
habilmente manipuladas por setores ligados ao grande capital visando
desestabilizar os governos do PT, cuja política se tornara insatisfatória para
atender aos interesses do capital financeiro internacionalizado numa situação
de crise econômica e grande descontentamento popular. Para o grande capital
assegurar a continuidade dos seus lucros fabulosos era necessário adotar medidas
drásticas de contenção de despesas orçamentárias, penalizando mais ainda as
massas trabalhadoras.
E
a história nos revela que em momentos de grave crise econômica, social e
política, a burguesia costuma apelar para a implantação de regimes autoritários
ou fascistas.
Nas
eleições presidenciais de 2018, na busca de uma saída anti-povo para a grave
crise que afeta o Brasil nos últimos anos, o capital financeiro
internacionalizado, na falta de uma candidatura mais expressiva, optou por
apoiar Jair Bolsonaro. Vale lembrar que seu principal assessor durante a
campanha eleitoral, o economista Paulo Guedes, conhecido chicago-boy,
nomeado ministro da Fazenda do seu governo, é um dos fundadores do Instituto
Millenium (Imil), entidade que defende e difunde os valores e os interesses do
grande capital.
Num
país como o Brasil, onde inexiste tradição partidária, isso pôde acontecer sem
a existência de partido fascista, sem uniformes fascistas e sem a mística
fascista dos anos 1930, sem expansionismo militar declarado e sem racismo
explicito. As formas são outras, mais
elaboradas, com a utilização em larga escala dos meios fornecidos pela
informática, mantendo sempre o discurso anticomunista e propagando a violência
contra todos que se opõem aos seus objetivos, inclusive por meio da ação de
grupos radicais similares às hordas fascistas dos anos 1930-40.
A
evolução do atual regime de exceção que vem sendo implantado no país aponta
para tendências que indicam a possibilidade de sua transformação em ditadura
fascista. A derrota dessa alternativa, a meu ver, dependerá da capacidade de
resistência da maioria da nação e principalmente do nível de organização, de
mobilização e de consciência dos trabalhadores do país. Sem a mobilização de
amplas massas populares não se impedirá o avanço da fascistização da Nação.
*
Análise de Anita Prestes sobre a situação política atual, apresentada no Caminhando
Jornal Tv 47. Disponível no canal Caminhando Jornal Tv, no YouTube, a partir de
22min e 09 seg. Link: https://www.youtube.com/watch?v=UxALhoz6sq8&feature=youtu.be.
** Anita Leocadia Prestes nasceu em 27 de novembro de 1936 na prisão de mulheres de Barnimstrasse, em Berlim, na Alemanha nazista, filha dos revolucionários comunistas Luiz Carlos Prestes, brasileiro, e Olga Benario Prestes, alemã. Autora de vasta obra sobre a atuação política de Luiz Carlos Prestes e a história do comunismo no Brasil, é doutora em história social pela Universidade Federal Fluminense, professora do Programa de Pós-Graduação em História Comparada da UFRJ e presidente do Instituto Luiz Carlos Prestes. Os mais recentes livros foram publicados pela Boitempo: "Luiz Carlos Prestes: um comunista brasileiro" (2015), "Olga Benario Prestes: uma comunista nos arquivos da Gestapo" (2017) e "Viver é tomar partido: memórias" (2019).
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