SINOPSIS: La herencia dialéctica como una de las fuentes y las partes
integrantes del marxismo y EL CAPITAL. De Heráclito y Demócrito a
Protágoras y Epicuro. De Giordano Bruno, Goethe y Shakespeare a Kant y
Hegel. El marxismo revolucionario y su recuperación de la sabiduría, la
filosofía, el humanismo, la dialéctica y las grandes preguntas de la
historia de las culturas y la humanidad.
segunda-feira, 30 de novembro de 2015
domingo, 29 de novembro de 2015
Secretaria de Educação do Estado de São Paulo prepara “guerra” contra as escolas em luta!
Em reunião com 40 dirigentes de ensino, braço direito do secretário Herman anuncia que o decreto da “reorganização” sai na terça e lança estratégia para “isolar” e “desmoralizar” as escolas em luta, com o apoio da Polícia Militar
Por Laura Capriglione, especial para os Jornalistas Livres
às 14h de 29/11/2015
às 14h de 29/11/2015
Em
reunião realizada agora há pouco, na antiga escola Normal Caetano de
Campos, a primeira escola pública de São Paulo na era republicana, cerca
de 40 dirigentes de ensino do Estado de São Paulo receberam instruções
de Fernando Padula Novaes, chefe de gabinete do secretário Herman
Jacobus Cornelis Voorwald, sobre como deverão agir a partir de amanhã
para quebrar a resistência de alunos, professores e funcionários que
estão em luta contra a reorganização escolar pretendida pelo governador
Geraldo Alckmin.
A reunião foi realizada em uma sala anexa ao próprio gabinete do secretário.
Jornalistas Livres estavam lá e escutaram o chefe de gabinete anunciar para os dirigentes de ensino que o decreto da “reorganização sai na [próxima] terça-feira”. Segundo ele, “estava pronto na quinta passada (26/11) para o governador assinar”, mas pareceria que o governador não “tinha disposição para o diálogo”. A maioria na sala (todos “de confiança” do governo), suspirou de alívio, e Padula emendou: “Aí teremos o instrumento legal para a reorganização”.
Trata-se de uma gravação esclarecedora, que merece ser ouvida em sua íntegra pelo que tem de revelador. Nela,
o chefe de gabinete Padula repete inúmeras vezes que todos ali estão
“em uma guerra”, que se trata de organizar “ações de guerra”, que “a
gente vai brigar até o fim e vamos ganhar e vamos desmoralizar [quem
está lutando contra a reorganização]”. Fala-se da estratégia de
isolar as escolas em luta mais organizadas. Que o objetivo é mostrar
que o “dialogômetro” do lado deles só aumenta, e que a radicalização
está “do lado de lá”.
Também importante foi o ponto em que o chefe de gabinete falou da estratégia de “consolidar” a reorganização. A idéia é ir realizando as transferências, normalmente, deixando “lá, no limite” aquela escola que estiver “invadida”. Segundo ele, o máximo que ocorrerá será que aquela escola “não começará as aulas como as demais”.
A reunião mencionou também o
papel de apoio que a Secretaria de Segurança Pública, do secretário
Alexandre de Moraes, está tendo, fotografando as placas dos veículos
estacionados nas proximidades das escolas, e identificando os seus
proprietários. Com base nessas informações, a Secretaria de
Educação pretende entrar com uma denúncia na Procuradoria Geral do
Estado contra a Apeoesp.
Padula
contou como procurou o cardeal arcebispo de São Paulo, dom Odilo
Scherer, “A gente precisa procurar todo mundo, não é?”, dele recebendo a
orientação para responder aos que se opõem à “reorganização”.
“Vocês precisam responder”, teria dito dom Odilo ao chefe de gabinete do
secretário Herman Jacobus Cornelis Voorwald. Dom Odilo teria afirmado
ainda que “as ocupações nas escolas têm o objetivo de desviar o foco de
Brasília”.
Foi
interessante notar que a mesma reunião que insistia em denunciar a
presença de partidos e organizações radicais entre os meninos e meninas
contou com o anúncio solene da presença de um militante do Movimento
Ação Popular, ligado ao PSDB e presença frequente nas manifestações pelo
impeachment da presidente Dilma Rousseff.
Escute o áudio da reunião:
FONTE: Jornalistas Livres
A poesia que o Brasil não (re)conhece
Pesquisadora resgata importância da obra de Carolina de Jesus, a"poeta da favela".
Por Nina Fideles
Carolina Maria de Jesus tinha 43 anos quando foi descoberta pelo
jornalista Audálio Dantas, em 1958, na favela do Canindé, Zona Norte de
São Paulo. Na ocasião, ele escrevia uma reportagem sobre a expansão da
favela, que mais tarde seria removida para a construção da Marginal
Tietê. Mineira, negra, semianalfabeta, mudou-se para a capital aos 17
anos, trabalhou como empregada doméstica, teve três filhos, manteve-se
solteira, tornou-se catadora e em cadernos encontrados no lixo, relatava
seu cotidiano em forma de contos, romances, poesias e até peças de
teatro. Um diário iniciado em 1955 deu origem ao primeiro livro de
Carolina de Jesus, publicado em 1960. Quarto de Despejo: Diário de uma Favelada
tornou-se um best-seller com mais de um milhão de cópias vendidas em
todo o mundo, traduzido em 13 idiomas, em mais de quarenta países.
Apenas no Brasil, o livro vendeu mais de 80 mil exemplares.
Ao se mudar para um bairro de classe média, Carolina de Jesus lançou o
Casa de Alvenaria (1961), mas não obteve o mesmo sucesso que o
anterior, e o mesmo ocorreu com as outras duas publicações que se
seguiram, que ela própria custeou. O interesse pela ‘mulher da favela
que escrevia’, a curiosidade da classe média durou pouco tempo. Além de
ter sido vista com certo receio pela crítica literária que desacreditava
de sua capacidade. Mas por mais contraditório que possa parecer, o
livro Quarto de Despejo, ou Child of the Dark, na tradução para o
inglês, é utilizado nas escolas e estudado nas faculdades dos EUA,
apenas como simples objeto de estudo, por ser pobre e relatar suas
mazelas, sem a intenção de conhecer a fundo seus escritos.
No Brasil, Carolina de Jesus ainda não tem o devido mérito
reconhecido. Morreu pobre e praticamente esquecida, em 1977. O
centenário de nascimento de uma das mais importantes precursoras da
literatura marginal, da favela, foi celebrado no dia 14 de março deste
ano e trouxe à tona sua história novamente. Mas a data passará e a luta
dos pesquisadores e estudiosos de sua obra, para o reconhecimento e
tratamento adequado aos seus manuscritos, permanecerá. Para entender um
pouco mais sobre a atualidade da obra de Carolina de Jesus, conversamos
com Raffaella Andréa Fernandez, que desenvolve pesquisa de doutorado no
Departamento de Teoria e História Literária da Universidade Estadual de
Campinas (Unicamp) baseada nos manuscritos inéditos da autora e
intitulada Narrativas de Carolina Maria de Jesus: Processo de Criação de uma Poética de Resíduos.
Raffaella aponta que existe uma grande lacuna de preservação de nossa
memória, textual principalmente, e os escritos originais de Carolina de
Jesus, uma escritora fadada à exclusão, seja em vida ou em morte, ainda
se encontram em condições precárias. E afirma que “o posicionamento
deva ser também político no sentido de não estar limitado à análise
desses textos, mas de solicitar um tratamento especial do material que
se encontra em estado de deterioração, sobretudo, porque parte dele
havia sido ‘lançado sobre a lama’, junto à família e aos arquivos”.
A contemporaneidade de Carolina de Jesus vai além da data de seu
centenário. As histórias que a “poetisa da favela”, como se
autodenominava, relatou e viveu se repetem nos dias atuais. E sua
própria história representa milhares de mulheres negras, faveladas, mães
solteiras, que ainda encontram poesia no dia a dia.
Caros Amigos – Como foi que o seu caminho cruzou com os escritos de Carolina de Jesus?
Raffaella Andréa Fernandez - Tudo começou numa tarde
de domingo, na moradia da Universidade Estadual Paulista (Unesp) de
Marília, quando meu amigo poeta Milton Mello, então aluno de Filosofia e
residente na mesma instituição, foi até meu quarto e me disse: “Toma
Raffa, você que gosta de literatura da periferia, acredito que vai
gostar desse livro”. Naquela semana estava lendo Cidade de Deus, de Paulo Lins, e hesitando em pesquisar esse livro ou Queda para o Alto,
de Sandra Mara Hezer. Mas quando comecei a ler Quarto de Despejo:
Diário de uma Favelada, de Carolina Maria de Jesus, o livro tomou conta
de mim e nunca esqueci, apenas deixei aquele outro pequeno quarto quando
terminei o livro. Na mesma semana fui procurar a professora Célia
Tolentino, minha futura orientadora, que topou na hora me auxiliar no
arranjo daqueles rabiscos de projeto que mais tarde seria contemplado
com uma bolsa pelo CNPq. Na ocasião, relacionei o best-seller de
Carolina de Jesus ao relato de uma ex-menina-de-rua, Esmeralda, Porque
não Dancei, com o objetivo de realizar uma análise sociológica para
pensar quais as mudanças ou continuidades no lugar social da mulher
pobre e negra no Brasil no lapso de 50 anos que separavam os dois
testemunhos. No entanto, ao ler Carolina de Jesus notei a força
literária que marcava suas narrativas de vida como Casa de Alvenaria:
Diário de uma Ex-favelada, Meu Estranho Diário, Diário de Bitita, seu
romance Pedaços da Fome, e seus poemas publicados em Antologia Pessoal
com um belíssimo e esclarecedor prefácio de Marisa Lajolo. A partir daí,
tive a certeza de que precisaria migrar para o curso de Letras para dar
continuidade às minhas reflexões sobre esses intrigantes escritos que
me diziam algo além do caráter autobiográfico. Assim, em 2006, defendi a
dissertação que intitulei Carolina Maria de Jesus, uma Poética de
Resíduos, na qual tracei alguns desses percursos literários na obra de
Carolina de Jesus até chegar ao doutorado, hoje desenvolvido junto ao
Departamento de Teoria e História Literária da Unicamp, sob orientação
de Vera Chalmers.
Qual é o objetivo inicial do seu trabalho? E o que mudou durante os anos da sua pesquisa?
Inicialmente procurei os aspectos sociais da obra de Carolina de
Jesus com o objetivo de, a partir dos estudos sociológicos, compreender a
condição da mulher negra e pobre no Brasil, realizando uma reflexão
sobre as ambiguidades, observações e contestações presentes no
“testemunho”, inerentes à voz do oprimido. No entanto a força literária
de seus escritos encaminhou a pesquisa para outros rumos e implicações
de análise na área da crítica e da história da literatura. Entretanto,
tal foi o arrebatamento das incertezas geradas diante de seus
manuscritos inéditos de características refratadas que tornou
obrigatória a abertura para uma nova fresta na área da crítica genética
de tradição francesa, de modo a pensar o processo criativo da autora
como um todo em sua funcionalidade orgânica e imaterial a partir de seus
originais.
Para você, qual a responsabilidade, a missão, de estar estudando manuscritos nunca antes publicados?
Em primeiro lugar há uma grande lacuna na própria cultura brasileira
de preservação de nossa memória (textual), o que dificulta todo o
processo de acesso e resguardo de documentos em arquivos. Em se tratando
de Carolina de Jesus, a problemática é acentuada, pois como uma
escritora relegada ao esquecimento (sendo somente agora vista com mais
atenção devido a seu centenário), e por não pertencer ao glorioso
“cânone” literário, a maior parte de seus originais não tem um lugar de
destaque, de modo que ainda se encontram em condições precárias, podendo
inclusive serem perdidos pela corrosão do tempo, destruindo folhas de
raras tessituras do outro lado da história de nossa literatura. Assim,
penso que, tanto no meu caso quanto em relação aos demais pesquisadores
dos manuscritos da autora, o posicionamento deva ser também político no
sentido de não estar limitado à análise desses textos, mas de solicitar
um tratamento especial do material que se encontra em estado de
deterioração, sobretudo, porque parte dele havia sido “lançado sobre a
lama”, junto à família e aos arquivos.
E quais as influências diretas que você recebeu ao longo dos seus estudos? O que mudou?
Observei que seria impossível pensar os textos de Carolina de Jesus a
partir de teorias literárias que privilegiam os “clássicos”, pois a
obra da autora não responde aos enquadramentos e regras que em geral
essas linhagens de pensamento privilegiam. Assim, parti para a pesquisa
de autores na linha dos estudos culturais, bem como os
pós-estruturalistas que procuram levar em consideração o centro de
outras histórias...
Você utiliza o termo “poética de resíduos”. O que caracteriza essa poética?
A ideia de uma poética de resíduos vem tanto da materialidade desses
escritos quanto de seu conteúdo, pois Carolina de Jesus mesclava
diversos discursos e recursos literários na criação de seus textos,
escritos em boa parte em cadernos reutilizados, os quais ela recolhia
das lixeiras enquanto exercia seu ofício de catadora de lixo.
Tem algum objetivo com este material estudado? Qual será o futuro dos manuscritos?
Felizmente neste ano conseguimos publicar uma pequenina parte desse
material com o apoio da Fundação Palmares. Espero que este seja apenas o
início de uma longa jornada, permitindo não só a realização do sonho da
própria Carolina de Jesus de ter seus escritos literários publicados,
como também dos leitores que esperam ter acesso à sua literatura. Quanto
à preservação da obra tudo ainda permanece incerto, não há previsão
para um trabalho de digitalização completa do material, única “certeza”
de que poderíamos resguardar esses originais, pois apenas uma parte foi
microfilmada e mesmo assim, como sabemos, os microfilmes também têm uma
validade. Além disso, as máquinas leitoras de microfilmes são
ultrapassadas e dificultam a leitura do material, em especial aqueles
que já se encontram quase que totalmente degradados. Estes precisariam
passar por um trabalho sério de restauro e em seguida de digitalização,
mas esses cuidados demandam um alto custo que as instituições não podem
e/ou não estão dispostas a pagar. Segundo opinião de alguns
pesquisadores e professores de arquivos, somente o Instituto Moreira
Salles estaria apto para realizar esse importante trabalho.
É possível perceber quais as referências que Carolina tem e que aparecem em seus escritos?
Não somente é possível perceber a marcante influência dos românticos,
do modo como podemos ler em duas teses publicadas sobre os escritos da
autora: Carolina Maria de Jesus; o Estranho Diário da Escritora
Vira-Lata, de Germana de Sousa, e o recém-lançado A Vida Escrita de
Carolina Maria de Jesus, de Elzira Perpétua; e como podemos acompanhar
ao longo de alguns cadernos que desenvolvem um processo de escrita
típico do Journal de Gênese, nos quais a autora faz referências a seus
textos e aos dos autores que estava lendo ou teria lido: Maupassant,
Edgar Allan Poe, Victor Hugo, Chesmman, Saint-Exupéry, dentre outros.
Assim podemos conhecer outras Carolinas, principalmente esta que vai
além do Quarto de Despejo, quero dizer, a que não pode ser reconhecida
apenas sob o martelo do estigma de favelada.
Hoje temos uma cena mais fortalecida intitulada de Literatura
Marginal. Você acompanha? E o quê em sua opinião tem de Carolina de
Jesus neste cenário atual?
Sim, a dita Literatura Marginal Periférica tem se fortalecido a cada
dia e segue seus propósitos de criar uma “cena literária” que gire em
torno da favela. Carolina de Jesus, assim como Solano Trindade, podem
ser considerados precursores dessa literatura produzida pela voz dos
oprimidos, isto é, uma literatura mais autêntica do ponto de vista da
fala marginal, uma escrita de dentro para fora com vistas a celebrar a
palavra como emancipação política e espiritual no sentido fi losófi co
das fomes humanas.
O que, em termos sociais e históricos, é possível perceber ao ler a obra de Carolina de Jesus?
Carolina de Jesus revela uma outra história, a “história menor” que
precisa e quer ser ouvida, uma vivência tanto mais palpável quanto
corrosiva, para além dos majestosos livros de supostos feitos heróicos
dos livros de História do Brasil repleta de falácias, engodos, que
sempre visam a interesses políticos. Os problemas sociais delineados por
Carolina estão na sua temática, na materialidade do papel escrito em
seus cadernos reutilizados, encardidos, tirados das latas de lixo, a
escrita “defi ciente” que não corresponde aos intentos da gramática
institucional de uma sociedade que não lhe deu a oportunidade de avançar
e, mesmo com todas essas defasagens, essa grande autora nos mostra que
aquele que se inquieta diante das “atrocidades sociais” jamais se
manterá calado.
Contraditoriamente, a obra de Carolina é mais reconhecida nos EUA do que aqui. Por que, em sua opinião, isso ocorre?
Carolina de Jesus é bastante lida nas universidades norte-americanas
em cursos de história de graduação e pós-graduação com o objetivo de
mostrar para seus alunos um exemplo de uma vida paupérrima, uma mulher
negra, pobre e favelada que narra suas mazelas. Não havendo,
necessariamente, uma preocupação em conhecer a Carolina escritora.
Os termos “favelada” e “poetisa” são constantes nos escritos dela, mas quando e como ela se reconhece em cada um?
Carolina de Jesus se autodenominava a “poetisa da favela” ou uma
“idealista do lixo”. Veja que ela se valia dessas máximas nos momentos
de revolta quando desejava afirmar que somente ela poderia ser a
porta-voz dos favelados, pois segundo a autora era preciso conhecer as
adversidades humanas para falar sobre elas, seja através do discurso
poético seja do político.
Como você descreveria a passagem de Carolina de Jesus neste mundo? E como terminou a sua vida?
Infelizmente, após uma nuvem de sucesso, Carolina de Jesus morre
pobre e esquecida com insuficiência respiratória. Termina seus dias no
Sítio de Parelheiros, entregue aos afazeres domésticos e dedicando-se à
correção de alguns de seus textos que haviam sido datilografados por
seus filhos. Chegou a entregar dois cadernos para duas jornalistas: a
francesa Lapouge e a brasileira Clélia Pisa, que mais tarde editaram e
publicaram sua obra póstuma Journal de Bitita, mais tarde traduzido para o português como Diário de Bitita.
Em entrevista com estas jornalistas, foi-me relatado que Carolina de
Jesus estava muito “velhinha” e “desiludida” e apenas disse: “Vejam o
que podem fazer com isso aí”, no momento da entrega dos cadernos.
Espero, portanto, com toda força, que muitos trabalhos sejam realizadas
com todos os “isso(s) aí” dispersos e fraturados “por aí”, e sobretudo
que seja publicada sua obra completa e que assim possamos ter acesso às
multiplicidades que emanam do devir-artista, inaudito e envolvente
criado por Carolina Maria de Jesus.
sábado, 28 de novembro de 2015
Para download: Vigotski e o "Aprender a Aprender"
Vigotski e o “Aprender a Aprender”: Crítica às Apropriações Neoliberais e Pós-Modernas da Teoria VigotskianaNewton Duarte
Editora Autores Associados
Editora Autores Associados
2ª Edição Revista e Ampliada, 2001
COLEÇÃO EDUCAÇÃO CONTEMPORÂNEA
LINK PARA DOWNLOAD:
CONTRA CAPA
Neste livro o autor pleniza com uma tendência que estaria se tornando dominante entre os educadores que buscam, no terreno da psicologia, fundamentos em Vigotski: a tendência a interpretar as idéias desse psicólogo numa ótica que as aproxima a ideários pedagógicos centrados no lema “Aprender a Aprender”. Aliás, mais do que um lema, o “aprender a aprender” significa, para uma ampla parcela dos intelectuais da educação na atualidade, um verdadeiro símbolo das posições pedagógicas mais inovadoras, progressistas e, portanto, sintonizadas com o que seriam as necessidades dos indivíduos e da sociedade do século XXI. Neste livro, o autor aponta para o papel ideológico desempenhado por esse tipo de apropriação das ideias de Vigotski, qual seja, o papel de manutenção da hegemonia burguesa no campo educacional, por meio da incorporação da teoria vigotskiana ao universo ideológico neoliberal e pós-moderno.
ORELHA DO LIVRO
“Aprender a aprender” foi um lema defendido pelo movimento escolanovista e adquiriu novo vigor na retórica de várias concepções educacionais contemporâneas, especialmente no construtivismo. No mundo todo, livros, artigos e documentos oficiais apresentam o “aprender a aprender” como um emblema do que existiria de mais progressista e inovador, um símbolo da educação do século XXI. A psicologia de Vigotski vem sendo apontada por muitos educadores como um dos pilares de propostas educacionais centradas no “aprender a aprender”. A obra do psicólogo L. S. Vigotski seria, de fato, compatível com o “aprender a aprender”, como o construtivismo, com o escola-novismo? Neste livro, Newton Duarte responde negativamente a essa questão, defendendo a necessidade de uma leitura marxista da psicologia vigotskiana e a necessidade de um trabalho de incorporação dessa psicologia à construção de uma pedagogia crítica e historicizadora. Nesse sentido, o autor mostra existirem aproximações entre o construvivismo, o pósmodernismo e o neoliberalismo para então desfechar uma crítica contundente às interpretações que vem sendo difundidas no meio educacional acerca da psicologia vigotskiana, as procuram incorporar tal psicologia ao universo ideológico neoliberal e pós-moderno. Evidenciando o caráter radicalmente marxista da psicologia vigotskiana, o autor apresenta ainda uma análise minuciosa da crítica feita por Vigotski à teoria do jovem Piaget no segundo capítulo do livro Pensamento e Linguagem.
VEJA TAMBÉM O ARTIGO DE NEWTON DUARTE PUBLICADO NA REVISTA BRASILEIRA DE EDUCAÇÃO (Set/Out/Nov/Dez 2001 No 18):
As capitais do capitalismo
Entrevista com David Harvey
Por Daniel Santini*
Os fenómenos da urbanização e da concentração urbana reflectem aspectos essenciais do desenvolvimento do capitalismo ao longo da sua história, mas a reflexão marxista não tem acompanhado esses fenómenos com o aprofundamento verificado noutras áreas. Esta estimulante e polémica entrevista de David Harvey, geógrafo que se reclama do marxismo, tem assim um interesse acrescido.
- A urbanização na China é um projeto
maciço, com alta densidade populacional em conjuntos habitacionais de
50 andares, tudo conectado por trens rápidos. São centros construídos
com matérias-primas importadas em larga escala, como ferro, que sai da
Amazônia, que não serão alimentados por painéis solares ou usinas de
vento, e, sim, por energia nuclear. Dentro de uma perspectiva ecológica,
quanto tempo este modelo pode durar?
Não tenho a menor ideia. O que temos, neste momento, são algumas dessas formas absurdas de urbanização, como em Dubai [Emirados Árabes]. Existem coisas muito doidas acontecendo. Mas aí é preciso olhar para a macroeconomia. A única coisa que manteve o capitalismo vivo, no mundo, nos últimos anos, é a urbanização chinesa. Se esse projeto maciço não tivesse acontecido e, se ele não tivesse sido acelerado, como foi depois de 2007/2008, grande parte da América Latina teria entrado em crise, naquele período. A China está imensamente endividada, não em dólares, mas consigo mesma. Os chineses morrem de medo do desemprego, e este foi também um projeto de absorção de força de trabalho. A dinâmica de crescimento do capitalismo junto com a ideia de que é possível crescer assim eternamente são uma contradição, que vai chegar ao fim. E haverá consequências ambientais. Vi estatísticas que indicam que a China consumiu mais cimento, nos últimos cinco anos, do que os Estados Unidos no último século. E cobrir um país com cimento não parece uma ideia muito ecológica… Mas é pertinente a questão sobre como tais cidades serão abastecidas em termos de energia; é um ponto crítico. Cidades são extremamente vulneráveis em relação a fontes de energia.
O capitalismo depende cada vez mais da urbanização?
Sim, e este é um ponto importante, porque as atividades mais
lucrativas e produtivas estão cada vez mais ligadas à urbanização. Parte
desse sistema é pura ficção porque é baseado no aumento de aluguéis,
uma variante que é cada vez mais uma fonte de renda importante para a
classe capitalista como um todo. Não dá para continuar por esse caminho.
Acompanhei o desenvolvimento urbano no Brasil, nos últimos 30, 40 anos.
Estive em São Paulo, nos anos 1970, e também em lugares como Recife e
Salvador. Eles foram totalmente tomados por arranha-céus e shoppings
centers.
Todos, no Brasil, gostam de pensar que o país é especial – mas o que o Brasil tem de especial? É só capitalismo. E, generalizando, é sempre o mesmo. É isso de carros, avenidas, shoppings e condomínios. Se considerarmos que todas essas mudanças aconteceram nos últimos 30, 40 anos, e pensarmos no que vai acontecer nos próximos 30, 40 anos, dá para pensar no mundo em que vamos viver. É inimaginável. O que estamos vendo na China, hoje, é o futuro.
Neste contexto, o que pensa do conceito de desurbanização?
Nós temos, como algo naturalizado, a transição do rural para o urbano,
mas, talvez, em algum ponto, tenhamos de discutir como desurbanizar, de
maneira planejada e democrática, não?
Bem, eu sou contra a desurbanização. Acredito que seria igualmente
desastroso, em termos ecológicos, espalhar todos pelos campos.
Especialmente, considerando as divisões de trabalho e os fluxos de
commodities, acredito que formas eficientes de urbanização são cruciais.
Estamos falando de uma população que, em breve, será de 8 bilhões. Como
espalhar toda essa gente em espaços pequenos e autônomos? E em que
nível eles poderiam ser autônomos? Porque uma das coisas que o capital
fez é, ao definir conexões e divisões de trabalho, estabelecer uma rede,
em que comunidades locais não são mais tão vulneráveis a catástrofes.
Bastava uma praga de gafanhotos para deixar uma comunidade morrer de
fome.
No passado, antes das ferrovias, isso era bastante comum. E as ferrovias eliminaram, de maneira eficiente, a fome local. Se pensarmos em um mundo de comunidades autônomas autossustentáveis, cada uma delas vai ser vulnerável, de alguma forma. Então, um mundo descentralizado não parece, para mim, o mais razoável a seguir. Isto posto, também não sou a favor de uma hiperurbanização, como a chinesa. A questão urbana é crucial, mas é por meio de formas mais radicais de urbanização que acredito que vamos resolver nossos problemas. Incluindo, é claro, muita ênfase em sistemas de agricultura urbana e similares. Hortas comunitárias e ideias do gênero podem funcionar bem.
Pequenas comunidades não seriam menos frágeis do que uma
cidade como São Paulo, que depende de um só centro de abastecimento?
Ficou tão naturalizada nos círculos de esquerda a ideia de urbanização
que, mesmo em discussões sobre bem viver, um conceito indígena andino,
falar em sair da cidade não é uma opção considerada…
O bem viver tem origens bastante rurais e não dá para todos viverem como populações indígenas da Amazônia.
Esta é a origem, a tradição, mas há muitos pensadores que
formulam o conceito, de maneira mais aberta. Muitas vezes, as pessoas
resumem tudo como “pachamamistas”, que querem voltar atrás; é uma
crítica frequente, da esquerda e da direita.
Não concordo com essa crítica, mas tenho meu ponto de vista, sobre o
qual escrevi em Spaces of hope. Entre outras coisas, entendo que certas
partes do mundo poderiam ser deixadas para produção altamente
industrializada de grãos e carne. Parece bastante ineficiente cultivar
trigo no próprio quintal. O que dá para cultivar são verduras, folhas,
tomates. Às vezes, uma lesma pode fazer um estrago. Na Argentina, onde
vivi por um ano, eu tinha um belo cultivo, mas acordei um dia e tudo
tinha sumido. Encontrei uma trilha de formigas e fiquei muito
antiecológico. Procurei o veneno mais poderoso e destruí o formigueiro.
Desisti dessa coisa orgânica, sem sentido [risos]…
É claro que, se olharmos alguns aspectos da produção industrial, como a de carne, é nojento. Existem muitas evidências de que a maneira como a produção de frango é estruturada, hoje, favorece doenças. Estamos criando novos ambientes para novos patógenos. Então, a questão é: qual tipo de agricultura deve permanecer industrializado? Acredito que a maioria da produção de grãos deve se manter industrializada porque é a maneira mais eficiente e efetiva. Não estou dizendo que a agricultura urbana vai resolver, mas pode ajudar. Esta ideia está relacionada com a noção de bem viver.
Pensa que o conceito pode ser útil na busca por soluções?
Acredito que, com frequência, nos encontramos trabalhando com o que
eu chamo de termos vazios de significado – o bem viver, por exemplo.
Todo mundo quer uma boa vida. Os bilionários querem uma boa vida, os
indígenas querem uma boa vida. A grande questão não é nem o bem viver em
si e, sim, como as pessoas preenchem esse conceito com um significado
particular. E eu acredito que o que os indígenas querem dizer com esse
termo não funciona bem, quando traduzido como bem viver. Ninguém vai
dizer que é contra o bem viver. É um desses conceitos em relação aos
quais todos vão ser a favor.
Sustentabilidade é outro exemplo. Ou direito à cidade. Todo mundo quer ter direito à cidade. A questão é: direitos de quem? Pelo que as pessoas se esforçam, qual é o sentido da luta? Devemos parar de falar no bem viver e começar a falar sobre pautas específicas – habitação, por exemplo. O quanto antes começarmos a falar sobre programas reais e objetivos, melhor.
Sobre habitação, no Brasil, vemos casas construídas pelo
programa Minha Casa, Minha Vida que parecem caixinhas enfileiradas,
todas iguais. É possível fazer algo diferente, quando se pensa em
programas em larga escala?
No geral, existe essa percepção das pessoas de que projetos
habitacionais são, necessariamente, feios e ruins. Mas, se olharmos os
construídos em Londres, em 1960, há alguns muito bonitos, que têm uma
qualidade fantástica. Tanto que, depois que eles foram privatizados, boa
parte da burguesia se apropriou deles. Então, não há nenhum motivo para
que projetos sociais de habitação sejam parecidos com o que você
descreveu.
Mas é possível construir projetos assim, considerando os custos e os aspectos econômicos?
Primeiro, a questão de custo vai depender do valor dos terrenos, e
acredito que este é um ponto em que o Estado tem um papel importante, em
coibir a especulação, como parte de uma política de garantir acesso à
moradia. Depois, é preciso redirecionar recursos públicos. Por exemplo,
se você taxar cada propriedade da burguesia e cobrar impostos de
habitação da classe média e da classe alta, redirecionando o que for
obtido para a habitação social, vai haver muito mais recursos para
projetos habitacionais para as massas. O problema é que, muitas vezes, o
sistema funciona ao contrário. Em Nova York, arranha-céus dificilmente
pagam impostos, por conta de subsídios que receberam nos anos 1970.
Bilionários vivem em condomínios livres de impostos. Bill de Blasio
[prefeito de Nova York, do Partido Democrata] está tentando mudar isso.
De Blasio é um progressista, que assumiu a Prefeitura de
Nova York depois de [Michael] Bloomberg e outros de direita. Quais
possibilidades ele tem?
Muito poucas, porque questões fiscais ficam majoritariamente com o
Governo do Estado. Andrew Cuomo é o governador do Partido Democrata, mas
pretende chegar à Presidência e, por isso, não vai incomodar Wall
Street. Assim, acaba se opondo a tudo que De Blasio propõe e este fica
com pouco espaço de manobra. Logo depois da eleição, De Blasio passou a
sofrer ataques da imprensa e sua popularidade despencou. Os movimentos
sociais não estão mais nas ruas ameaçando Wall Street ou algo assim,
então, ele não tem apoio.
E as pessoas que foram para as ruas, em 2011, como o Occupy Wall Street?
Elas se perderam, em muitos aspectos, acredito. Os movimentos
sociais, que estavam diretamente ligados e ao redor do Occupy, eram
muito fragmentados e diferentes. Quando o Zucotti Park foi fechado, tudo
ficou descentralizado e com menos visibilidade. A única aparição foi
quando veio o Furacão Sandy e o Movimento Occupy foi o primeiro a
organizar ajuda, de maneira supereficiente, com sua autonomia de sair e
auxiliar diretamente as pessoas. Mas a política disso é terrível, em um
sentido de que eles ajudaram as pessoas a voltarem e reconstruírem suas
casas, dentro de regras de propriedade privada e todo o resto. De
repente, perceberam que estavam reconstruindo a forma de vida
individualista e capitalista – que haviam se tornado um grupo
supereficiente de suporte às vítimas, mais do que uma força política
transformadora.
E movimentos como os Indignados na Espanha, as forças que
surgem em Barcelona, na Grécia, na Turquia, no Sul da Europa? Estamos
vivendo um momento de esperança, em que dá para imaginar mudanças?
Sim, eu acredito que é um momento interessante, em muitos sentidos. O
Occupy é um movimento que acabou influenciado por sentimentos
anarquistas e autonomistas, e isto resultou na falta de interesse em
poder político stricto sensu. Era como se o movimento
considerasse que o aparelho estatal não teria relevância. Havia essa
insistência de que tudo fosse horizontal e não hierárquico. Estive em
discussões com eles por algum tempo e escrevi um artigo em que, de
maneira amistosa, ataquei os anarquistas. Brinquei com o “Escuta,
Marxista!”, do [anarquista estadunidense] Murray Bookchin, e publiquei o
“Escuta, Anarquista!”, tentando apontar que muitas coisas boas vieram
do anarquismo, mas também falhas cruciais.
E temos de estar preparados para ir além do que os anarquistas fazem, e fazer parte dos governos. Isto é o que parece estar ocorrendo, e aí as eleições, na Espanha, são muito importantes. Vemos um nível de ativismo que, obviamente, é crítico ao Estado, mas não ignora o poder do Estado.
Então, a questão dos movimentos alternativos e seu papel político é a agenda, hoje. Vemos isso sendo expresso na maneira como as coisas aconteceram, em Barcelona ou Madri. É um momento emocionante e de esperança. Mesmo que ainda haja uma ideia forte, em muitas organizações de esquerda, de não querer nenhuma relação com o aparelho estatal. E há todos esses estudantes que me classificam como stalinista porque defendo que não deveríamos descartar negociar com o Estado.
* Daniel Santini é coordenador de projetos na Fundação Rosa Luxemburgo. Texto organizado com base em transcrição feita por Sarah Lempp. A entrevista coletiva (versão em inglês) foi realizada em 12 de junho de 2015 no auditório da organização, em São Paulo.
FONTE: ODiario.Info
quinta-feira, 26 de novembro de 2015
Nesta sexta-feira, 27/11, Anita Prestes em Recife
Além do lançamento do livro "Luiz Carlos Prestes: um comunista brasileiro", a historiadora Anita Prestes ministrará palestra sobre os 80 anos dos levantes antifascistas de 1935.
O evento esta sendo construído em parceria com o Instituto Luiz Carlos Prestes - ILCP, Boitempo Editorial, Partido Comunista Brasileiro - PCB, Departamento de História e Ciências Sociais da UFRPE, União da Juventude Comunista - UJC, Unidade Classista - UC, Diretórios Acadêmicos do Curso de História e Ciências Sociais da UFRPE.
Data: sexta-feira, dia 27 de novembro
Local: Auditório do CEAGRI 2, na Universidade Federal Rural de Pernambuco - UFRPE
Espaço Público, da TV Brasil, entrevista Anita Leocadia Prestes
O programa desta terça-feira, 01/12, recebe a historiadora Anita Leocadia Prestes, autora da biografia política Luiz Carlos Prestes: um comunista brasileiro para uma conversa ao vivo, às 23 horas. Não perca!
A historiadora Anita Prestes é filha de Olga Benario Prestes e Luiz Carlos Prestes |
A entrevistada do Espaço Público desta semana tem muito a contar da própria vida, sobre o pai, uma das mais importantes personalidades políticas brasileiras do século 20, e o país.
A historiadora Anita Leocádia Benário Prestes nasceu numa prisão nazista, em 27 de novembro de 1936, depois de a mãe, uma judia grávida de sete meses, ser enviada à Alemanha e entregue ao regime de Hitler pelo então ditador brasileiro Getúlio Vargas.
Olga Benario terminou morta em uma câmara de gás, em 1942. Devolvida à avó paterna com pouco mais de um ano, só aos nove Anita conheceu o pai, o líder comunista Luiz Carlos Prestes, que era mantido preso no Brasil.
Hoje, aos 79 anos, Anita Leocadia é autora de mais de uma dezena de livros e professora doutora da Universidade Federal do Rio de Janeiro, a UFRJ. No programa, ela vai falar daquela que talvez seja sua obra mais importante, além de a mais recente: "Luiz Carlos Prestes - Um comunista brasileiro", trabalho lançado há menos de dois meses, ao qual dedicou-se por mais de três décadas.
Embora o pai seja o personagem central, o pano de fundo dessa história é o Brasil dos anos 1920 até 1990. E a historiadora - ainda comunista convicta, mesmo que sem filiação partidária – tem opiniões críticas e polêmicas sobre a realidade atual, nas quais não poupa a esquerda brasileira.
O Espaço Público é apresentado pelo jornalista Paulo Moreira Leite.
SAIBA MAIS em Espaço Público
quarta-feira, 25 de novembro de 2015
A última entrevista de Guimarães Rosa
Uma preciosidade histórica da língua portuguesa: a entrevista realizada pelo escritor e jornalista português Arnaldo Saraiva, em 24 de novembro de 1966. Guimarães Rosa morreria menos de um ano depois de tê-la concedido
Eis o homem. O homem que em menos de 20 anos, com sua prosa, seu
estilo, sua literatura — sem os favores profissionais da medicina, que
pode dar saúde mas ainda não deu gênio (cf. alguns prêmios Nobel),
conquistou o Brasil, Portugal, a Alemanha, a Itália, os Estados Unidos, o
mundo, não?
Repara no corpo: mau grado as ligeiras ameaças de obesidade, parece
atleta, cavaleiro que foi, ou de bandeirante, que da língua é. Vê como
está sobriamente elegante, distinto, sorridente, calmo, aristocrata,
como convém a um embaixador (ou não estivéssemos num salão do
Itamarati). Mas nada da pose ou dos gestos artificiais com que outros
tentam iludir a mediocridade. Quem esperou quase quarenta anos para
publicar o primeiro livro, ou quem avançou sozinho pelos grandes sertões
da língua, não precisa ter pressa nem pedir emprestado um corpo, uma
casaca, máscaras.
Lá está o lacinho (ou gravata-borboleta, meu chapa?) simetricamente
impecável, fazendo pendant com os óculos claros, tão claros que ainda
esclarecem mais os olhos sempre inquiridores, atentos. E é curioso como
um mineiro de Cordisburgo, a dois passos (brasileiros) da Itabira de
Drummond, gosta, ao contrário deste (à primeira vista), de falar, de
contar, de ser ouvido. Até nisso parece grande o seu amor à língua. Mal
me sentei, já ele me começou a falar de Portugal e de escritores
portugueses…
Guimarães Rosa — Estive em Portugal três vezes. Na primeira, em 1938, passei lá apenas um dia; ia a caminho da Alemanha. Na segunda, em 1941, passei lá quinze dias, em cumprimento de uma missão diplomática que me fora confiada em Hamburgo. Na terceira, em 1942, passei um mês, pois estava já de regresso ao Brasil, por causa da guerra. |
Durante essas estadas, travou relações ou conhecimentos com alguns escritores?
Guimarães Rosa — Não. Até porque eu ainda não era “escritor” (“Sagarana”, com efeito, só foi publicado em 1946) e o que me interessava mais era contatar com a gente do povo, entre a quais fiz algumas amizades. Gosto muito do português, sobretudo da sua integridade afetiva. O brasileiro também é gente muito boa, mas é mais superficial, é mais areia, enquanto o português é mais pedra. Eu tenho ainda uma costela portuguesa. Minha família do lado Guimarães é de Trás-os-Montes. Em Minas o que se vê mais é a casa minhota, mas na região em que eu nasci havia uma “ilha” transmontana. |
Mas não chegou a conhecer Aquilino?
Guimarães Rosa — Conheci Aquilino (Aquilino Ribeiro), mas acidentalmente. Eu entrei numa livraria, não sei qual, do Chiado (presumo que a Bertrand) e, quando pedi alguns livros dele, o empregado perguntou-me se eu queria conhecê-lo, pois estava ali mesmo. Respondi que sim, e desse modo obtive dois ou três autógrafos de Aquilino, com quem conversei alguns instantes. Voltei a estar com ele, mais tarde, num jantar que lhe foi oferecido enquanto de sua vinda ao Brasil. Mas ele, naturalmente, não se recordava de mim (porque eu não me apresentara como escritor), e eu também não lhe falei do assunto. |
Não sabe que, justamente numa crônica motivada pela sua ida
ao Brasil, Aquilino colocou o seu nome, logo em 1952, ao lado dos de
José Lins do Rego, Gilberto Freyre, Graciliano Ramos, Manuel Bandeira,
Jorge de Lima e Agripino Grieco, que, segundo ele, eram os “notáveis
escritores e poetas” que estavam a “encostar a pena contra a lava” que
ia no Brasil “sepultando prosódia e morfologia da língua-mater”? Eu
creio mesmo que é essa uma das primeiras referências ao seu nome, em
Portugal…
Guimarães Rosa — Não sabia dessa curiosa referência do Aquilino. Antes dessa, porém, há uma referência a mim numa publicação do Consulado do Porto, de 1947, feita por não sei quem. Sei de outra referência feita, anos depois, salvo erro, por um irmão de José Osório de Oliveira. |
Voltando a Aquilino: acha que recebeu alguma influência dele?
Já, pelo menos, um crítico, o mineiro Fábio Lucas, notou alguns “pontos
de contato nada desprezáveis” entre a sua obra e a de Aquilino.
Guimarães Rosa — Eu gosto de Aquilino, sobretudo da “Aventura Maravilhosa”, mas não creio que dele tenha recebido alguma influência, a não ser na medida em que sou influenciado por tudo o que leio. A verdade é que antes de 1941 só conhecia de Aquilino um ou dois trechos, como infelizmente ainda hoje sucede em relação à quase totalidade dos escritores portugueses vivos. E, como sabe, “Sagarana”, foi escrito em 1937. |
Um garçom do Itamarati entra com um copo de água, e pergunta
se precisa mais alguma coisa. Guimarães Rosa agradece e diz: Vá com
Deus, como se fosse um beirão ou um transmontano. Mais uma razão,
portanto, para eu prosseguir: Como encara ou explica o enorme prestígio
de que goza nos meios intelectuais e universitários portugueses?
Guimarães Rosa — Em relação a mim, houve por aqui (no Brasil) muitos equívocos, que ainda hoje não desapareceram de todo e que, curiosamente, ao que parece, não houve em Portugal. Pensaram alguns que eu inventava palavras a meu bel-prazer ou que pretendia fazer simples erudição. Ora o que sucede é que eu me limitei a explorar as virtualidades da língua, tal como era falada e entendida em Minas, região que teve durante muitos anos ligação direta com Portugal, o que explica as suas tendências arcaizantes para lá do vocabulário muito concreto e reduzido. Talvez por isso que ainda hoje eu tenha verdadeira paixão pelos autores portugueses antigos. Uma das coisas que eu queria fazer era editar uma antologia de alguns deles (as antologias que existem não são feitas, como regra, segundo o gosto moderno), como Fernão Mendes Pinto, em quem ainda há tempos fui descobrir, com grande surpresa, uma palavra que uso no “Grande Sertão”: amouco. E vou dizer-lhe uma coisa que nunca disse a ninguém: o que mais me influenciou, talvez, o que me deu coragem para escrever foi a” História Trágico-Marítima” (coleção de relatos e notícias de naufrágios, acontecidos aos navegadores portugueses, reunidos por Bernardo Gomes de Brito e publicados em 1735). Já vê, por aqui, que as minhas “raízes” estão em Portugal e que, ao contrário do que possa parecer, não é grande a distância “linguística” que me separa dos portugueses. |
Eu penso até que na imediata e incondicional adesão
portuguesa a Guimarães Rosa há muito de transferência sublimada de uma
frustração linguística nossa, coletiva, que vem pelo menos desde Eça.
Mas não nos desviemos. Admira-me muito que não tenha citado nenhum
livro de cavalaria, nem nenhuma novela bucólica, pois pensava que
deles e delas havia diversas ressonâncias na sua obra, sobretudo no
“Grande Sertão: Veredas”…
Guimarães Rosa — Sim, li muitos livros de cavalaria quando era menino, e, por volta dos 14 anos, entusiasmei-me com Bernardim (Bernardim Ribeiro), e depois até com Camilo. Ainda continuo a gostar de Camilo, mas quem releio permanentemente é Eça de Queiroz (quando tenho uma gripe, faz mesmo parte da convalescença ler “Os Maias”; este ano já reli quase todo “O Crime do Padre Amaro” e parte da “Ilustre Casa de Ramires”). Camilo, leio-o como quem vai visitar o avô; Eça, leio-o como quem vai visitar a amante. Quando fui a Portugal pela primeira vez, eu só queria comidas ecianas (que gostosura, aquele jantar da Quinta de Tormes). Aliás deixe-me que lhe diga que me torno muito materialista quando penso em Portugal; penso logo nos bons vinhos, nas excelentes comidas que há por lá. E talvez seja também por isso que se há um país a que eu gostaria de voltar é Portugal… |
… que, naturalmente, o receberá de braços abertos, em festa.
Mas permita-me ainda uma pergunta: como “enveredou” — e penso que a
palavra se ajusta bem ao seu caso — pelo campo da “invenção linguística?
Guimarães Rosa — Quando escrevo, não penso na
literatura: penso em capturar coisas vivas. Foi a necessidade de
capturar coisas vivas, junta à minha repulsa física pelo lugar-comum (e o
lugar-comum nunca se confunde com a simplicidade), que me levou à outra
necessidade íntima de enriquecer e embelezar a língua, tornando-a mais
plástica, mais flexível, mais viva. Daí que eu não tenha nenhum processo
em relação à criação linguística: eu quero aproveitar tudo o que há de
bom na língua portuguesa, seja do Brasil, seja de Portugal, de Angola ou
Moçambique, e até de outras línguas: pela mesma razão, recorro tanto
às esferas populares como às eruditas, tanto à cidade como ao campo. Se
certas palavras belíssimas como “gramado”, “aloprar”, pertencem à gíria
brasileira, ou como “malga”, “azinhaga”, “azenha” só correm em Portugal
— será essa razão suficiente para que eu as não empregue, no devido
contexto? Porque eu nunca substituo as palavras a esmo. Há muitas
palavras que rejeito por inexpressivas, e isso é o que me leva a buscar
ou a criar outras. E faço-o sempre com o maior respeito, e com alma.
Respeito muito a língua. Escrever, para mim, é como um ato religioso.
Tenho montes de cadernos com relações de palavras, de expressões.
Acompanhei muitas boiadas, a cavalo, e levei sempre um
caderninho e um lápis preso ao bolso da camisa, para anotar tudo o que
de bom fosse ouvido — até o cantar de pássaros. Talvez o meu trabalho
seja um pouco arbitrário, mas se pegar, pegou. A verdade é que a tarefa
que me impus não pode ser só realizada por mim. |
Guimarães Rosa vai buscar uma fotografia para me mostrar onde
levava o caderninho de notas, nas boiadas: vai buscar uma pasta com a
correspondência com um seu tradutor norte-americano, para me mostrar as
dúvidas e dificuldades deste, e o trabalho, a seriedade e a minúcia com
que as vai resolvendo uma por uma (escrevendo, ele próprio, preciosas
autoanálises estilísticas ou considerações filológicas). E, entretanto,
vai-me fazendo outras confissões interessantes. Por exemplo: “gosto das
traduções que filtram. Da tradução italiana do Corpo de Baile gosto
mais do que do original.” Ou: “Estou cheio de coisas para escrever, mas o
tempo é pouco, o trabalho é lento, lambido, e a saúde também não é
muita.” Ou: “Não faço vida literária: como regra, saio daqui e vou para
casa, onde trabalho até tarde.” Ou: “No próximo ano, vou publicar um
livro ainda sem título, com 40 estórias” (que têm aparecido
quinzenalmente, no jornal dos médicos “O Pulso”, onde frequentemente
aparecem também cartas ou a atacá-lo ou a defendê-lo ferozmente). Ou
ainda: “eu não gosto de dar, nem dou entrevistas. Tenho sempre a
sensação de que não disse o que queria dizer, ou que disse mal o que
disse, ou que criei maior confusão; e não estou assim tão seguro do que
procuro e do que quero. Com você abri uma exceção…”.
Nota: Entrevista realizada pelo escritor e jornalista Arnaldo Saraiva, em 24 de novembro de 1966. Publicada no livro “Conversas com Escritores Brasileiros”, editora ECL em parceria com o Congresso Portugal-Brasil.
FONTE: Revista Bula
terça-feira, 24 de novembro de 2015
Anita Prestes em João Pessoa/Paraíba. Conferência e lançamento da biografia política de Luiz Carlos Prestes
Amanhã, 25/11, às 19hs, na Associação Paraibana de Imprensa, em João
Pessoa, conferência com Anita Leocadia Prestes e lançamento de seu
último livro "Luíz Carlos Prestes: um comunista brasileiro".
Associação Paraibana de Imprensa
Endereço: Rua Visconde de Pelotas, 149
Centro - João Pessoa-PB - CEP: 58013-000
Centro - João Pessoa-PB - CEP: 58013-000
Yes, Sir!
Mauricio
Macri, presidente electo de Argentina, sua estrechas relaciones con
fundaciones de la derecha internacional y con la embajada de Estados
Unidos
Tal como se preveía, no habían transcurrido doce horas desde su victoria
electoral cuando en su conferencia de prensa de ayer Mauricio Macri
ratificó su vocación de convertirse en un proxy de Washington en la
región. En línea con los deseos de la Casa Blanca arremetió contra la
República Bolivariana de Venezuela y confirmó que solicitaría la
suspensión de ese país como miembro del Mercosur porque, según él,
habría infringido la cláusula democrática al “perseguir a los opositores
y no respetar la libertad de expresión”.
Derrocar al
gobierno bolivariano es una vieja obsesión del gobierno de Estados
Unidos, para cuyo efecto no ha reparado en límite o escrúpulo alguno.
Hasta ahora su ofensiva sólo había encontrado un socio dispuesto a
avanzar por ese escabroso sendero: el narcopolítico colombiano Álvaro
Uribe. Juan M. Santos, que lo sucedió en el Palacio Nariño, no se prestó
a tan peligroso juego. Es más, el conservador presidente colombiano no
se ha cansado de agradecerle a Venezuela su colaboración en el proceso
de paz en curso en La Habana. Macri parece ignorar estas sutilezas de la
política internacional y ser un hombre temerario y de frágil memoria,
combinación peligrosa si las hay. Habría que recordarle que la sumisión
incondicional al imperio ya se practicó en la Argentina durante el
menemato, con el nombre de “relaciones carnales”, y que este país pagó
con sangre tamaña insensatez. No se entiende por qué habría de repetir
ese desatino, salvo para dar cumplimiento a un acuerdo secreto con la
Casa Blanca cuya contrapartida seguramente no tardaremos en conocer.
Macri parece no haber sido tampoco informado que el pasado 28 de
Octubre la República Bolivariana fue reelegida para integrar el Consejo
de Derechos Humanos de las Naciones Unidas. La Asamblea General de la
organización aprobó esa resolución con 131 votos, sobre un total de 192
miembros. Formular las acusaciones que hizo Macri pasando por alto un
dato tan significativo como este, que ratifica la presencia de Venezuela
en un organismo en el cual participan países como Francia, Estados
Unidos, Alemania y Japón, es por lo menos un acto de llamativa
irresponsabilidad o una muestra de peligroso amauterismo en el manejo de
las relaciones internacionales. ¿Cree acaso que los países del Mercosur
van a acompañar su arrebato antibolivariano? ¿Ignora que las decisiones
del Mercosur requieren el consenso de todos sus miembros? Para empezar,
el canciller uruguayo Rodolfo Nin Novoa se apresuró a declarar que su
país “no ve razón para aplicar la cláusula democrática a Venezuela en el
Mercosur.” Y lo más probable es que el gobierno brasileño siga el mismo
curso de acción, en cuyo caso las amenazas de Macri caerían producto de
su inviabilidad política.
Volviendo al caso de los opositores
políticos en Venezuela, ¿qué diría Macri si en los próximos días,
siguiendo el ejemplo de Leopoldo López, Daniel Scioli hiciese público su
desconocimiento del resultado electoral y poco después del 10 de
Diciembre intensificase esa campaña movilizando contactos
internacionales e impulsando, cada vez con mayor fuerza acciones
violentas exigiendo “la salida” extraconstitucional de un “gobierno
ilegítimo” apelando a procedimientos vetados por la constitución y las
leyes de la república? ¿Llamaría en tal hipotético caso a Scioli un
“opositor político” o lo calificaría, en función de la normativa
vigente, como un político incurso en el delito de sedición, que en este
país tiene una pena que oscila entre los cinco y veinticinco años de
prisión. La legislación venezolana es similar a la argentina y ambas a
la de Estados Unidos, donde el delito tiene una penalidad que, en
ciertos casos, llega hasta la prisión perpetua o la pena de muerte. En
realidad López, cuya mujer estuvo la noche del domingo en los festejos
del bunker de Cambiemos, no es un “disidente político” injustamente
perseguido por el gobierno bolivariano. Es el cabecilla de un intento de
alterar por la fuerza el orden constitucional vigente en su país y
derrocar al gobierno surgido de elecciones en un sistema que el ex
presidente de Estados Unidos Jimmy Carter dijo que era “más confiable y
transparente que el nuestro.” Para ello contó con la colaboración de
Uribe, para reclutar un numeroso grupo de mercenarios que camuflados
como heroicos “jóvenes universitarios” luchaban valientemente para
restaurar las libertades conculcadas en su país. Lanzados a las calles
para impulsar “la salida” de Maduro y el derrumbe del orden
institucional vigente hicieron uso de cuanta forma imaginable de
violencia pueda existir, desde incendios de escuelas y guarderías
infantiles hasta la destrucción de medios de transporte públicos y
privados, combinado con ataques violentos a universidades y centros de
salud, erección de “guarimbas” (barricadas desde las cuales se
controlaban los movimientos de la población y se apaleaba o asesinaba
impunemente a quienes osaran desafiar su prepotencia) y asesinatos
varios. Como producto de estos desmanes murieron 43 personas, la mayoría
de ellas simpatizantes chavistas o personal de las fuerzas de seguridad
del estado. Tiempo después se descubrió que buena parte de los
“guarimberos” eran paramilitares colombianos y que casi no había
universitarios venezolanos involucrados en esos luctuosos
acontecimientos. La justicia de la “dictadura chavista” lo condenó a una
pena de 13 años, 9 meses, 7 días y 12 horas de reclusión. Disconforme
con la transición posfranquista en España, el 23 de Febrero de 1981 el
teniente coronel Antonio Tejero Molina quiso también él alterar el orden
constitucional tomando por asalto el Congreso de Diputados. En su
cruzada restauradora el “tejerazo” no produjo ni una sola muerte ni hubo
que lamentar pérdidas materiales de ningún tipo. Sin embargo, la
justicia española lo sancionó con 30 años de prisión, expulsión del
Ejército, pérdida de su grado militar e inhabilitación durante el tiempo
de su condena. Nadie lo consideró un opositor político sino un militar
sedicioso. Peor es el caso de López, por la mucha sangre derramada por
su culpa y por la destrucción de bienes provocada por su apología de la
violencia, pese a lo cual la sentencia de la justicia venezolana fue
insólitamente benigna. Pero Macri no lo ve así y sigue considerándolo un
opositor maltratado por un poder despótico. Mal comienzo en materia de
política exterior. Y un paso preocupante en el intento de avanzar en el
“reformateo” neoliberal del Mercosur, otra vieja ambición de Estados
Unidos, para hacerlo confluir con la Alianza del Pacífico y la Unión
Europea dominada por la Troika.
Atilio A. Boron es
investigador Superior del Conicet e investigador del IEALC, Instituto
de Estudios de América Latina y el Caribe de la Facultad de Ciencias Sociales de la Universidad de Buenos Aires
* Una versión abreviada de este artículo aparecerá en la edición del Martes 24 de Noviembre del matutino argentino Página/12.
FUENTE: Rebelión