Em reunião com 40 dirigentes de ensino, braço direito do secretário Herman anuncia que o decreto da “reorganização” sai na terça e lança estratégia para “isolar” e “desmoralizar” as escolas em luta, com o apoio da Polícia Militar
Por Laura Capriglione, especial para os Jornalistas Livres
às 14h de 29/11/2015
às 14h de 29/11/2015
Em
reunião realizada agora há pouco, na antiga escola Normal Caetano de
Campos, a primeira escola pública de São Paulo na era republicana, cerca
de 40 dirigentes de ensino do Estado de São Paulo receberam instruções
de Fernando Padula Novaes, chefe de gabinete do secretário Herman
Jacobus Cornelis Voorwald, sobre como deverão agir a partir de amanhã
para quebrar a resistência de alunos, professores e funcionários que
estão em luta contra a reorganização escolar pretendida pelo governador
Geraldo Alckmin.
A reunião foi realizada em uma sala anexa ao próprio gabinete do secretário.
Jornalistas Livres estavam lá e escutaram o chefe de gabinete anunciar para os dirigentes de ensino que o decreto da “reorganização sai na [próxima] terça-feira”. Segundo ele, “estava pronto na quinta passada (26/11) para o governador assinar”, mas pareceria que o governador não “tinha disposição para o diálogo”. A maioria na sala (todos “de confiança” do governo), suspirou de alívio, e Padula emendou: “Aí teremos o instrumento legal para a reorganização”.
Trata-se de uma gravação esclarecedora, que merece ser ouvida em sua íntegra pelo que tem de revelador. Nela,
o chefe de gabinete Padula repete inúmeras vezes que todos ali estão
“em uma guerra”, que se trata de organizar “ações de guerra”, que “a
gente vai brigar até o fim e vamos ganhar e vamos desmoralizar [quem
está lutando contra a reorganização]”. Fala-se da estratégia de
isolar as escolas em luta mais organizadas. Que o objetivo é mostrar
que o “dialogômetro” do lado deles só aumenta, e que a radicalização
está “do lado de lá”.
Também importante foi o ponto em que o chefe de gabinete falou da estratégia de “consolidar” a reorganização. A idéia é ir realizando as transferências, normalmente, deixando “lá, no limite” aquela escola que estiver “invadida”. Segundo ele, o máximo que ocorrerá será que aquela escola “não começará as aulas como as demais”.
A reunião mencionou também o
papel de apoio que a Secretaria de Segurança Pública, do secretário
Alexandre de Moraes, está tendo, fotografando as placas dos veículos
estacionados nas proximidades das escolas, e identificando os seus
proprietários. Com base nessas informações, a Secretaria de
Educação pretende entrar com uma denúncia na Procuradoria Geral do
Estado contra a Apeoesp.
Padula
contou como procurou o cardeal arcebispo de São Paulo, dom Odilo
Scherer, “A gente precisa procurar todo mundo, não é?”, dele recebendo a
orientação para responder aos que se opõem à “reorganização”.
“Vocês precisam responder”, teria dito dom Odilo ao chefe de gabinete do
secretário Herman Jacobus Cornelis Voorwald. Dom Odilo teria afirmado
ainda que “as ocupações nas escolas têm o objetivo de desviar o foco de
Brasília”.
Foi
interessante notar que a mesma reunião que insistia em denunciar a
presença de partidos e organizações radicais entre os meninos e meninas
contou com o anúncio solene da presença de um militante do Movimento
Ação Popular, ligado ao PSDB e presença frequente nas manifestações pelo
impeachment da presidente Dilma Rousseff.
Escute o áudio da reunião:
FONTE: Jornalistas Livres
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