Por Antonio Carlos Mazzeo*
“É uma infelicidade da época, que os doidos guiem os cegos.”
William Shakespeare
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Acabo de ler nos sites dos jornais europeus que o Syriza selou um acordo com o partido de extrema direita, Gregos Independentes, para formar maioria no governo. Todas as previsões de analistas sérios já apontavam para essa possibilidade. Obviamente, a direita não deixou de fazer suas exigências programáticas para compor com o Syriza.
A questão de fundo é que o Syriza não abriu mão, em seu programa de governo, da manutenção da Grécia na zona do euro e, por consequência na aliança imperialista, a OTAN, o que impossibilitou a unidade à esquerda, com o Partido Comunista, o KKE. Pior ainda, aliou-se à extrema direita xenófoba!
O Syriza critica genericamente a política econômica de “austeridade” imposta pela troika (FMI, BCE e Comissão Européia), mas permanecendo na zona do euro terá que negociar com a mesma troika uma proposta que o credencie junto à liderança da UE, especialmente com a Alemanha de Merkel, a França de Holland e a Inglaterra de Cameron.
É importante reafirmar que, em nenhum momento, o Syriza acenou com a possibilidade de retirar a Grécia da política do euro e do arrocho aos trabalhadores. Como afirmou o deputado comunista Kostas Papadakis, o Syriza será a nova socialdemocracia em que a burguesia europeia apostará para reformar e modernizar o capitalismo grego. A aliança com a direita dos Gregos Independentes é o aceno direto à burguesia européia que não está posto no horizonte nenhum projeto de ruptura com a UE/OTAN ou com o capitalismo.
Nesse sentido, mais coerente é o PC da Grécia, o KKE, que em sua análise da situação grega aponta a necessidade de se romper com os grilhões da UE, isto é, atuar no sentido de não pagar a dívida e de sair da OTAN. A crítica central do PC grego é que para além de uma retórica eleitoral, não há qualquer proposta concreta para solucionar o brutal arrocho dos salários e de recuperar as perdas de conquistas, por parte dos trabalhadores.
Indo mais longe, Papadakis afirma que apesar de duro e penoso, o caminho para recolocar a Grécia em situação favorável aos trabalhadores e pequenos agricultores é a saída da UE e a construção do projeto socialista.
Para os que embalaram sonhos com a socialdemocracia, rapidamente a noite de verão transformou-se em tempestade em que no mesmo barco navegam “socialistas” lights e a direita xenófoba.
Apesar de não ser apresentada por escrito, o Syriza acaba de declarar sua “Carta aos Gregos”, leia-se, a subserviência à União Européia e à OTAN.
*Professor da USP e membro do Comitê Central do PCB
FONTE: Página do PCB
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