Ao migrar para Europa, homem moderno ganhou competição com homem de Neandertal, que surgiu muito antes
'Science' sugere que população do homem era mais tecnológica e dez vezes maior que a dos neandertais
RAFAEL GARCIA
DE WASHINGTON
Caminhando numa planície em Bordeaux, na França, uma milícia de dez homens de baixa estatura e musculatura avantajada avista o inimigo: cem sujeitos esguios de pele escura avançam com suas lanças mais modernas.
O capítulo final da extinção do homem de Neandertal, entre 45 mil e 35 mil anos atrás, pode ter começado assim, indica um novo estudo.
O trabalho é assinado por uma dupla de arqueólogos da Universidade de Cambridge (Reino Unido), que fez uma análise extensa de dados colhidos no sudoeste francês.
Os dois concluem que os humanos recém chegados da África logo estabeleceram uma população dez vezes maior que a dos neandertais e competiram por espaço.
A área famosa pelos vinhedos foi escolhida para o estudo porque concentra o maior número de sítios arqueológicos do período estudado. O local tem mais de 200 sítios arqueológicos com vestígios de humanos e dos neandertais -indivíduos atarracados e de testa pronunciada que surgiram na Europa 200 mil anos antes do homem.
Paul Mellars e Jennifer French estimaram os tamanhos das populações ao medir a área de ocupação, o número de ferramentas e o volume de restos de comida fossilizados deixados por cada uma das duas espécies.
"Esses dados implicam que a supremacia numérica por si só deve ter sido um fator poderoso, ou até acachapante, na competição territorial e demográfica entre os neandertais e os humanos modernos", escreveram no estudo, publicado na "Science".
Mellars e French não mencionam conflitos armados diretamente no trabalho, mas é difícil evitar a questão.
"Acho improvável que nenhuma forma de conflito tenha ocorrido, dados os relatos etnográficos atuais sobre o que ocorre quando um grupo ocupa o território de outro e compete por recursos", disse French à Folha.
CLIMA DE MUDANÇA
O novo estudo minimiza a importância de outro fator considerado relevante para explicar a extinção da espécie: as mudanças climáticas.
Há cerca de 40 mil anos, quando as temperaturas da Europa começaram a oscilar de forma mais radical, a expansão dos neandertais, que tinham cultura e constituição física mais adequadas ao frio, teria ficado limitada.
Os autores do novo estudo não desconsideram esse fator, mas listam outras vantagens que os humanos modernos provavelmente tinham sobre os neandertais.
Entre as principais estão as melhores técnicas de caça e tratamento da comida, maior mobilidade, coesão social, comércio e mais capacidade de planejamento.
"Tudo isso pode ter tido um efeito dramático na capacidade e de sobrevivência dos humanos modernos", afirmam os arqueólogos.
FONTE: Folha de São Paulo, 1 de agosto de 2011.
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