Fica claro que a iniciativa foi concebida por poderosos grupos económicos e responde aos seus interesses e estratégia. Entre os signatários figuram somente três grandes empresários e discretamente nenhum banqueiro – que ainda há dias foram os porta-vozes da “exigência” junto ao governo para que este pedisse o “resgate” externo da dívida pública – no que foram de imediato atendidos.
A lista compreende 47 personalidades de quadrantes muito diferenciados da sociedade portuguesa. A grande maioria de direita.
A linguagem e o tom patrioteiro - incompatível com o patriotismo autêntico - trazem à memória documentos oficiais da época anterior ao 25 de Abril.
Qual o objectivo deste manifesto tornado público no jornal de Pinto Balsemão no momento em que a Comissão Europeia e FMI se preparam para enunciar as brutais medidas económicas e politicas que pretendem impor ao povo Português?
O texto, cuidadosamente redigido, contém um apelo aos «principais partidos» da burguesia - obviamente o PS e o PSD embora estes não sejam citados explicitamente - para que na campanha eleitoral evitem situações que possam dificultar o diktat do FMI que estão antecipadamente prontos a apoiar.
O grande capital sugere acordos urgentes que permitam «um compromisso nacional» - de submissão do povo português. O que agora significa um compromisso entre o Presidente da Republica, o Governo de gestão e os «principais partidos» no sentido de garantir o apoio de uma «maioria inequívoca» a um próximo executivo submisso.
O grande capital não somente deseja um governo de «salvação nacional» como manobra para que ele se concretize sem obstáculo no horizonte próximo.
Não surpreende que a lista dos signatários inclua nomes como os dos ex-presidentes Mario Soares e Jorge Sampaio, cuja trajectória política os identifica com o espírito do Manifesto. Os promotores do documento acharam útil que a Igreja Católica estivesse representada e lá aparece um bispo. Terá sido, porem, inábil que o último nome seja o de uma jornalista que se comporta como porta-voz da embaixada dos EUA.
Mas é previsível que milhares de portugueses lamentem que intelectuais de prestígio nacional e internacional como os arquitectos Siza Vieira e Souto de Moura, os escritores Lobo Antunes e Eduardo Lourenço e o pintor Júlio Pomar surjam envolvidos ao lado de conhecidos reaccionários neste Manifesto indecoroso. Afigura-se-nos porém positiva a adesão de Boaventura Sousa Santos que, ao corresponder ao rebate do capital e da direita, deixou cair a sua máscara.
Uma chamada de atenção para o frenesi dos media de «referência» em exercícios de futurologia sobre a PEC que o grande capital quer impor ao Pais. Em Bruxelas mal principiaram as negociações, já o sistema mediático caseiro se antecipa, anunciando «medidas» anti-patrióticas que, afinal, é sua tarefa propagandear junto da opinião pública.
Do povo português, vítima da política que levou o País à beira do abismo, do que os trabalhadores pensam e sentem, nada significante é dito no Manifesto. Porque para o grande capital o povo deverá ser um agente passivo e submisso, a quem caberia pagar os sacrifícios de que o capital financeiro, a banca em particular, se coloca em posição de ser o único beneficiário.
Tal Manifesto comprova quanto o capital receia a consciência de classe e a luta do povo português. Porque a palavra final das grandes lutas que se esboçam no horizonte, fora dos ministérios e dos bancos, nas fábricas, nos portos, nos campos, nas ruas, será sua como sujeito da História.
OS EDITORES DE ODIARIO INFO
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