Por ocasião dos 30 anos da morte de Luiz Carlos Prestes (1898-1990), completados no dia 07/03/2020, segue abaixo texto de abertura do livro "Luiz Carlos Prestes – textos resgatados do esquecimento", publicado pela editora Lutas Anticapital (2019), de autoria da historiadora Anita Prestes e intitulado "O legado revolucionário de Luiz Carlos Prestes".
O LEGADO REVOLUCIONÁRIO DE LUIZ CARLOS PRESTES
Luiz Carlos Prestes nasceu em 3/01/1898,
em Porto Alegre (RS), e faleceu em 7/03/1990, no Rio
de Janeiro, aos 92 anos de idade. Desde muito jovem,
Prestes revelou indignação com as injustiças sociais e
a miséria de nosso povo, mostrando-se preocupado
com a busca de soluções efetivas para a situação
deplorável em que se encontrava a população
brasileira, principalmente os trabalhadores do campo,
com os quais tivera contato durante a Marcha da
Coluna (1924-27), que ficaria conhecida como a
Coluna Prestes. Muito antes de tornar-se comunista,
Prestes já era um revolucionário. Sua adesão aos
ideais comunistas e ao movimento comunista apenas
veio comprovar e confirmar sua vocação
revolucionária, seu compromisso definitivo com a luta
pela emancipação econômica, social e política do povo
brasileiro. Como revolucionário, Prestes foi um
patriota - um homem que dedicou sua vida à luta por
um Brasil melhor, por um Brasil onde não mais
existissem a fome, a miséria, o analfabetismo, as
doenças, a mortalidade infantil e as demais chagas
que continuam a infelicitar nosso país.
"Faleceu o único herói brasileiro que não forjou o pedestal de sua gloria. Homem simples e franco no trato cotidiano, era um líder político (e militar) nato. Depois da célebre marcha, na qual sobrepujou em argúcia e espirito inventivo as Forças Armadas oficiais, poderia ter se tomado um dos "grandes da República", Getúlio Vargas tentou seduzi-lo, mas encontrou o repúdio a qualquer composição política pessoal. O rebelde não se despia de suas convicções antioligárquicas e democráticas, buscando servir a nação - e a sua independência — e submeter-se a uma vida de sacrifícios exemplares que o enobrecem como figura humana e como agente histórico." (trecho do texto "O Herói Sem Mito", de Florestan Fernandes, publicado no encarte da revista Trilha Socialista, em 1990)
O LEGADO REVOLUCIONÁRIO DE LUIZ CARLOS PRESTES
Recife, 26 de novembro de 1945. Logo atrás, Gregório Bezerra. |
A descoberta da teoria marxista e a adesão ao
comunismo representaram, para Prestes, o encontro
com uma perspectiva, que lhe pareceu factível, de
realização dos anseios revolucionários por ele até
então alimentados, principalmente durante a Marcha
da Coluna. A luta à qual resolvera dedicar sua vida encontrava, dessa forma, um embasamento teórico e
um instrumento para ser levada adiante - o Partido
Comunista. O Cavaleiro da Esperança, uma vez
convencido da justeza dos novos ideais que abraçara,
tornava-se também um comunista convicto e disposto
a enfrentar toda sorte de sacrifícios na luta pelos
objetivos traçados.
No processo de aproximação ao PCB, Prestes
rompeu de público com seus antigos companheiros -
os jovens militares rebeldes conhecidos como os tenentes -, posicionando-se abertamente a favor do
programa da revolução agrária e anti-imperialista‖
defendido pelos comunistas brasileiros. Seu Manifesto
de Maio de 1930 consagra o início de uma nova fase
na vida do Cavaleiro da Esperança. A partir daquele
momento, Prestes deixava definitivamente para trás os
antigos compromissos com o liberalismo dos tenentes‖ e enveredava pela via da luta pelos ideais
comunistas que passariam a nortear toda sua vida.
Pela primeira vez na história do Brasil, uma
liderança de grande projeção nacional, a
personalidade de maior destaque no movimento
tenentista, - na qual apostavam suas cartas as elites
oligárquicas oposicionistas, na expectativa de que o
Cavaleiro da Esperança pusesse seu cabedal político a
serviço dos seus objetivos, aceitando participar do
poder para melhor servi-las -, recusa tal poder,
rompendo com os políticos das classes dominantes
para juntar-se aos explorados e oprimidos, para
colocar-se do lado oposto da grande trincheira aberta
pelo conflito entre as classes dominantes e as dominadas, entre exploradores e explorados. Prestes
tomava o partido dos oprimidos, abandonando as
hostes das elites comprometidas com os donos do
poder, não vacilando jamais diante dos grandes
sacrifícios que tal opção lhe acarretaria.
Tratava-se de um fato inédito, jamais visto no
Brasil. Luiz Carlos Prestes, capitão do Exército, que se
tornara general da Coluna Invicta, que fora
reconhecido como liderança máxima das forças
oposicionistas ao esquema de poder vigente no Brasil
até 1930, talhado, portanto, para transformar-se no
líder da revolução das elites oligárquicas, numa
liderança política confiável dessas elites, usava seu
prestígio para indicar ao povo brasileiro um outro
caminho – o caminho da luta pela reforma agrária
radical e pela emancipação nacional do domínio
imperialista, o caminho da revolução social e da luta
pelo socialismo.
Como foi sempre coerente consigo mesmo e
com os ideais revolucionários a que dedicou sua vida,
sem jamais se dobrar diante de interesses menores ou
de caráter pessoal, Prestes despertou o ódio dos donos
do poder, que se esforçariam por criar uma História
Oficial deturpadora tanto de sua trajetória política
quanto da história brasileira contemporânea.
Mesmo após seu falecimento, Prestes continua a
incomodar os donos do poder, o que se verifica pelo
fato de sua vida e suas atitudes não deixarem de
serem atacadas e/ou falsificadas, com insistência
aparentemente surpreendente, uma vez que se trata
de uma liderança do passado, que não mais está disputando qualquer espaço político. Num país em
que praticamente inexiste uma memória histórica, em
que os donos do poder sempre tiveram força suficiente
para impedir que essa memória histórica fosse
cultivada, presenciamos um esforço sutil, mas
constante, desenvolvido através de modernos e
possantes meios de comunicação, de dificultar às
novas gerações o conhecimento da vida e da luta de
homens como Luiz Carlos Prestes, cujo passado pode
servir de exemplo para os jovens de hoje.
Luiz Carlos Prestes dedicou 70 anos de sua
vida à luta por um futuro de justiça social e liberdade
para o povo brasileiro. Luiz Carlos Prestes foi um
revolucionário, um patriota, um comunista e um
internacionalista, que jamais vacilou na luta pelos
ideais socialistas e pela vitória da revolução socialista
no Brasil e em nosso continente latino-americano.
Prestes foi um defensor consequente dos países
socialistas, tendo à frente a URSS. Esteve sempre
solidário com as Revoluções Cubana e Nicaraguense.
O legado revolucionário de Luiz Carlos Prestes deve
ser preservado e desenvolvido pelas novas gerações de
brasileiros e latino-americanos.
Rio de Janeiro, junho/2019
Anita Leocádia Prestes
Professora do Programa de Pós-graduação em
História Comparada da UFRJ e
Presidente do Instituto Luiz Carlos Prestes
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PARA DOWNLOAD: O livro "Luiz Carlos Prestes – textos resgatados do esquecimento", Anita Leocadia Prestes (Organizadora), 1ª edição, Lutas Anticapital, 2019, pode ser baixado em PDF clicando AQUI.
O livro impresso pode ser encomendado pelo e-mail edlutasanticapital@gmail.com (falar com Mariana).
O livro impresso pode ser encomendado pelo e-mail edlutasanticapital@gmail.com (falar com Mariana).
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