A ideologia do lucro de grandes empresas levou muitas delas a financiar o Estado alemão durante o período nazista. Foram elas que produziram inúmeras tecnologias para os campos de concentração, onde milhões de judeus foram assassinados
Os campos de concentração alemães puderam funcionar, da maneira que operaram, devido ao gás Zyklon B, que era usado nas câmaras de gás do holocausto. A empresa responsável por sua produção era a IG Farben, atualmente conhecida por outro nome. Hoje, a organização que financiava o gás que matou milhões de judeus se chama Bayer.
Além dela, inúmeras empresas deram suporte financeiro ao nazismo de Adolf Hitler, na Alemanha, e ao fascismo de Benito Mussolini, na Itália. Segundo o livro A Ordem do Dia, do escritor francês Éric Vuillard, BMW, Fiat, Volkswagen, Siemens, IBM, Chase Bank, Hugo Boss, General Electric e outras grandes corporações se estabeleceram e ainda lucraram com o autoritarismo da ideologia nazista, bem como o antissemitismo.
A IBM organizou praticamente todo plano de extermínio judeu. “Com a IBM como parceira, o regime de Hitler pôde substancialmente automatizar e acelerar as seis fases dos 12 anos de Holocausto: identificar, excluir, confiscar, ‘guetizar’, deportar e exterminar”, analisa o jornalista estadunidense Edwin Black no livro Nazi Nexus (Nexo Nazista). A empresa facilitou o processo de identificação dos judeus, e depois disso, também coordenou os sistemas de trens que os levavam para os campos.
Segundo o artigo Aposta em Hitler – O Valor das Conexões Políticas na Alemanha Nazista, de Thomas Ferguson e Hans-Joachim Voth, uma em cada sete empresas aprovava o nazismo no início dos anos 1930. Muitas estavam envolvidas com o regime – e foram muito bem recompensadas por isso. Conforme o artigo, as instituições que apoiaram o movimento de Hitler tiveram uma alta extraordinária e incomum, com retornos avaliados em 5 a 8% entre o período de janeiro e março de 1933.
O livro The Wages of Destruction (Os Salários da Destruição, em tradução livre), de Adam Tooze, fala sobre como o governo nazista fez parcerias com empresas alemãs, que apoiavam seus interesses ideológicos e de guerra para conseguir benefícios, subsídios e uma grande repressão ao movimento sindical alemão. Mas por que os empresários resolveram apoiar o nazismo?
“Quando Hitler subiu ao poder, os industriais não falavam uma língua só. Mas a maioria estava feliz de apoiar nazistas – em vez de comunistas – e dar suporte a um movimento político que prometia limitar, senão esmagar, o crescente poder dos trabalhadores organizados”, diz o historiador da Universidade do Alabama, Jonathan Wiesen.
No Mein Kampf (Minha Luta), Hitler aponta os maiores males que a Alemanha teria de enfrentar. “Nesse tempo, meus olhos se abriram para dois perigos que eu mal conhecia pelos nomes e que, de nenhum modo, se apresentavam nitidamente para mim em sua horrível significação para a existência do povo germânico: marxismo e judaísmo”, afirma.
Segundo o filósofo italiano Antonio Gramsci, o fascismo operou como uma tentativa de superação de uma das muitas crises cíclicas do capitalismo. O regime funcionou “como uma nova forma de reorganização do sistema capitalista sob a lógica de um Estado de Exceção”.
No artigo O Estado Nacional-Socialista na Ótica de Norbert Frei, Marco Pais Neves dos Santos, escritor português da Universidade Nova de Lisboa, destaca os motivos que levaram à ascensão de Hitler: “A degradação econômica e social da Alemanha após a 1ª Guerra Mundial, a crise do capitalismo, a fragilidade social, o antissemitismo, o anticomunismo e o desejo de mudança de alguns setores da sociedade”. Tais pontos seriam, assim, parte da crise cíclica do capitalismo descrita por Gramsci.
“O fascismo é a fase preparatória da restauração do Estado – ou seja, de um recrudescimento da reação capitalista, de um endurecimento da luta capitalista contra as exigências mais vitais da classe proletária”, analisou Gramsci em 1920. Consolidando novamente o sistema capitalista com base na parceria com as grandes empresas alemãs –, o nazismo conseguiu restabelecer sua economia de maneira muito rápida. A custo de milhões de vidas, mas o fez.
Com informações da Aventuras na História
FONTE: Vermelho
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Texto da historiadora Anita Prestes. Uma abordagem marxista que classifica o fascismo como uma arma à qual os setores mais reacionários do capital financeiro recorrem para assegurar seus interesses.
A ORDEM DO DIA
autor: Eric Vuillard
editora: Tusquets
ano de edição: 2019
segmento específico: LITERATURA FRANCESA
sinopse: A ordem do dia, vencedor do prêmio Goncourt 2017, é uma narrativa histórica, gênero-aposta nos maiores mercados editoriais do mundo. É um fenômeno de vendas na Europa, em especial na Espanha, onde foi publicado pela Planeta/Tusquets España. Nele, narra-se de forma crua, direta e irônica, sem rodeios ou meias-palavras, os bastidores de dois dos momentos-chave da Segunda Guerra Mundial: o apoio dado pelos maiores industriais da Alemanha a Hitler e a anexação da Áustria ao Reich. 20 de fevereiro de 1933. Em um dia como outro qualquer em Berlim, os grandes líderes da indústria alemã se reúnem com os maiores dirigentes do Partido Nazista. Na pauta, a decisão de investir ou não na campanha de Hitler e seus companheiros pelo poder do país. 12 de março de 1938. A anexação da Áustria ao Reich é iminente. Um dia repleto de situações e personagens por vezes grotescos e ridículos, prestes a entrar para a história. Nos jornais, pipocam as imagens inéditas de um grande exército motorizado, símbolo de um poder inaudito e da modernidade de uma nova guerra. Por trás da glória apregoada pela propaganda de Goebbels, a verdade que se esconde nos bastidores mostra um desenrolar dos fatos muito menos gloriosos: no lugar da força de vontade e da determinação de um povo pretensamente destinado à grandeza, surge uma combinação de intimidação e puro blefe.
RAVENSBRUCK: A HISTORIA DO CAMPO DE CONCENTRAÇÃO NAZISTA PARA MULHERES
autora: Sarah Helm
editora: Record
ano de edição: 2017
segmento específico: 2ª GUERRA MUNDIAL
sinopse: Campo de concentração destinado especificamente para mulheres, Ravensbrück foi concebido por Heinrich Himmler, arquiteto do genocídio nazista. No fim da guerra, 130 mil mulheres de mais de vinte países europeus foram prisioneiras lá, incluindo nomes proeminentes como a sobrinha do general De Gaulle a irmã do prefeito de Nova York durante a guerra. Lá também esteve Olga Benario Prestes. Por décadas, a história de Ravensbrück ficou escondida por trás da cortina de ferro, e até hoje é pouco conhecida. Usando testemunhos desenterrados desde o fim da Guerra Fria e entrevistas com sobreviventes que nunca antes haviam falado, Sarah Helm foi ao coração do campo, demonstrando, com minuciosos detalhes, o quão fácil e rapidamente o terror evoluiu. Inspirador, arrepiante e profundamente comovedor, este livro é um trabalho revolucionário de investigação histórica. Com rara clareza, lembra-nos da capacidade do ser humano tanto para a crueldade bestial quanto para a coragem e resistência contra todas as possibilidades.
OLGA BENARIO PRESTES: UMA COMUNISTA NOS ARQUIVOS DA GESTAPO
autora: Anita Leocadia Prestes
editora: Boitempo
ano de edição: 2017
segmento específico: Biografias e Memórias
sinopse: Esta breve narrativa biográfica contém não apenas preciosidades históricas e raridades documentais – que, por si sós, já valeriam a leitura –, ela oferece a perfeita dimensão da luta diária de Olga Benario Prestes por seus ideais, mesmo nas condições mais adversas. A resistência da jovem revolucionária diante da gigantesca e cruel máquina do Terceiro Reich, que a considerava uma “comunista perigosa”, parece ainda pulsar nestas páginas, como se seu coração, calado há 75 anos, ainda batesse. Um coração intrépido, que, encarcerado, soube conjugar a luta política, o amor pelo grande companheiro e a preocupação com a educação da filha, de quem fora afastada prematuramente. Após a abertura dos arquivos da Gestapo, essa filha, a historiadora Anita Leocadia Prestes, debruçou-se sobre as cerca de 2 mil páginas a respeito de Olga, recheadas de documentos inéditos, para trazer à tona informações até então desconhecidas. Mais do que peças faltantes no quebra-cabeça da história, os documentos aqui reproduzidos, especialmente a correspondência inédita entre Olga e Luiz Carlos Prestes, nos permitem enxergar o presente com outros olhos.
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