A visão estadunidense de que a América Latina é seu ‘quintal’ bastaria para entender a hostilidade de Washington para tudo quanto na região ameace seus interesses, no entanto, chama a atenção a particular agressividade contra uma pequena ilha: Cuba.
Dia do Trabalhador em Cuba, Havana - 2019 | Foto: Ismael Francisco/CubaDebate |
Paris - A visão estadunidense de que a América Latina é seu ‘quintal’ bastaria para entender a hostilidade de Washington para tudo quanto na região ameace seus interesses, no entanto, chama a atenção a particular agressividade contra uma pequena ilha: Cuba.
Mais de um século de intervenções militares e guerras que se encaixam em suas diversas variantes, incluindo a econômica e a biológica, marcam o cenário bilateral e impactam com a política de bloqueio o âmbito multilateral.
Sobre o tema, é interessante para a Prensa Latina conversar com o acadêmico e ensaísta francês Salim Lamrani, que apesar de sua juventude, representa uma voz reconhecida no estudo das relações entre a superpotência e seu vizinho rebelde.
Para o professor da Universidade da Réunion, localizada no departamento francês de ultramar de igual nome, Washington ainda sofre da incapacidade de aceitar a realidade de uma Cuba livre e independente.
Não tolera que um pequeno país decida tomar ao pé da letra um direito inalienável da humanidade que é escolher seu próprio destino, ressaltou.
Lamrani declarou que a ilha encarna o princípio inegociável da igualdade soberana, não aceita ingerências em seus assuntos internos e defende que não se pode ter dignidade sem independência, o que incomoda à Casa Branca.
Por décadas, Estados Unidos tem buscado argumentos para justificar sua política para a maior das Antilhas, até chegar aos supostos ataques sônicos em Havana contra seus diplomatas, apesar da carência de argumentos científicos para sustentar tal acusação.
‘A retórica para justificar sua hostilidade é pouco crível e tem variado segundo as épocas’, advertiu com uma lista de alguns dos pretextos apresentados à opinião pública.
‘Quando triunfou a Revolução cubana, Washington justificou sua postura agressiva argumentando que Havana tinha nacionalizado e expropriado terras e empresas que pertenciam a donos estadunidenses.
‘Depois foi a aliança soviética o que constituiu oficialmente o pomo da discórdia. Mais tarde, o internacionalismo solidário de Cuba com os países em luta por sua libertação e emancipação, particularmente na África’.
De acordo com Lamrani, o desmoronamento da União Soviética, a princípios dos anos 90 do passado século, marcou a defesa pela Casa Branca da tese da violação dos direitos humanos e da falta de democracia como pontas de lança, recrudescendo o bloqueio.
Estados Unidos apostou em fortalecer o cerco como se pudesse ser melhorado o destino de um povo incrementando seus sofrimentos e se esquecendo totalmente de sua falta de autoridade moral para erigir-se em juiz, e agora chega ao ponto de evocar ataques sônicos, opinou.
O acadêmico fez questão de ressaltar que a antiquada política está condenada ao fracasso, porque o diálogo sincero e respeitoso é a única via para solucionar as diferenças, ‘sobretudo com um país como Cuba, que nunca cede sob violência, ameaça, a intimidação ou chantagem’.
Há que respeitar o princípio fundamental do direito dos povos à autodeterminação e a superpotência deve aceitar que o destino de Cuba, seu sistema e sua orientação, são atribuições exclusivas dos cubanos, manifestou.
A MANIPULAÇÃO MIDIÁTICA
Em sua cruzada para derrubar a Revolução de 1 de janeiro de 1959, as administrações da Casa Branca têm tido na manipulação midiática um fiel aliado.
O principal papel destes meios de comunicação, que são propriedade de conglomerados econômicos e financeiros, é defender a ordem estabelecida, convencer a opinião pública da legitimidade dos privilégios estabelecidos e atacar toda aspiração a uma mudança das estruturas sociais, que poria em julgamento o sistema imperante, considerou Lamrani.
Segundo o acadêmico e ensaísta francês, Cuba é o alvo deste cenário, no qual para Washington e seus objetivos, informar o cidadão é desprezado com essa intenção.
‘A partir deste postulado, é impossível que os meios de comunicação apresentem a realidade cubana de modo honesto e imparcial, quando este país tem posto em tela de julgamento a ordem estabelecida, abolido os privilégios dos poderosos, colocado o humilde no centro de um projeto de sociedade e o fato da repartição das riquezas ser uma prioridade absoluta’, sentenciou.
UMA APROXIMAÇÃO COM O PAI DA PÁTRIA
Os franceses tiveram neste verão a oportunidade de se aproximar da história do pai da pátria cubana, Carlos Manuel de Céspedes, graças a um profundo trabalho de Lamrani , publicado em quatro partes pelo diário L´Humanité.
Prensa Latina aproveitou a oportunidade para que o estudioso explicasse suas motivações para recordar sob o título ‘Carlos Manuel de Céspedes, em nome da Liberdade’ e o título ‘Breve história do Pai da Pátria cubana’.
‘Céspedes (1819-1874) simboliza o altruísmo puro, um homem que renunciou a seus interesses de classe e a seus bens pessoais, substituindo a felicidade de uma vida familiar pelos tormentos da guerra, pelo interesse superior da nação e o bem-estar de todos os cubanos’, comentou.
De acordo com o professor universitário, o prócer fica na história como aquele que vinculou a liberdade da ilha à abolição definitiva da escravidão.
Também é importante compartilhar que foi um ser humano fiel até as últimas consequências a seu lema ‘Independência ou morte’ e que tomou as armas contra o opressor espanhol, sem experiência militar alguma, em condições de extrema adversidade para seguir o combate contra uma potência infinitamente superior, agregou.
Para Lamrani, outra qualidade valiosa representada pelo independentista é a de viver e lutar sem rancores, apesar de ‘a ingratidão de seus concidadãos no poder’.
Após intrigas e manobras para substituí-lo, a conspiração contra o presidente da República em Armas materializou-se em 1873 com sua deposição, e apesar dessas circunstâncias optou por se opor a confrontos entre cubanos para tratar de preservar a unidade e a revolução.
A esse respeito ressaltou, o compromisso do prócer com a unidade e a vigência de seu proceder, entendendo que ‘os grandes processos de transformação social só podem ser conseguidos com a unidade de todas as forças favoráveis à emancipação humana’. Na análise de Lamrani , três aspectos caracterizam Céspedes : sua disposição a subordinar interesses pessoais ao imperativo superior de construção do edifício patriótico, sua decisão de fazer da abolição da escravidão o elemento fundador da nação e sua dedicação em conseguir o consenso entre todos os cubanos de boa vontade.(Prensa Latina)
Publicado em 3 setembro, 2019 por siempreconcuba
Tradução: Comitê Carioca de Solidariedade a Cuba
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