Lançada nesta quarta (5), plataforma gratuita tem pinturas, documentos e fotos
Manoella Smith
SÃO PAULO
Se colocadas lado a lado, três telas de Candido Portinari narram uma história. Em "O Mestiço" (1934), um homem negro, de braços cruzados, encara o espectador. De corpo inteiro, "O Lavrador de Café" (1934) mostra um homem robusto, de enxada na mão. Já "Café" (1935) ilustra o cenário dos trabalhadores rurais.
Essas três obras refletem o tom de crítica social de Portinari. O difícil, contudo, seria vê-las nas paredes de um único museu — elas estão expostas na Pinacoteca, no Masp e no Museu Nacional de Belas Artes, respectivamente.
"O Mestiço" (1934) |
"O Lavrador de Café" (1934) |
"Café" (1935) |
Com o objetivo de juntar e preservar o legado do pintor modernista, a coleção "Portinari: O Pintor do Povo" reúne 5.000 obras digitalizadas em 20 exposições virtuais. Assim, surge um espaço recheado de imagens que guardam a trajetória do artista.
Lançado nesta quarta-feira (5), o projeto é da plataforma Google Arts & Culture, antigo Google Art Project, em parceria com museus e o Projeto Portinari, instituição fundada pelo filho do pintor, João Candido Portinari.
Com o aplicativo da Google —disponível gratuitamente para iOS e Android— ou pelo site, é possível acessar todo o acervo. Ele pode ser acessado aqui.
O Google já desenvolveu trabalho parecido com outros artistas, como Frida Kahlo. "Mas nunca fizemos com um artista brasileiro", disse Luisella Mazza, diretora de operações do Google Arts, no evento de lançamento da plataforma, na Pinacoteca, em São Paulo, na noite desta quarta-feira (5).
As imagens dos quadros foram captadas com uma câmera que permite um zoom de bilhões de pixels e revela detalhes invisíveis a olho nu. Além das três obras que abrem este texto, outras sete também podem ser vistas com essa definição, como os painéis "Guerra" e "Paz".
De cerca de duas toneladas e 14 metros de altura, os painéis foram encomendados pelo governo brasileiro na década de 1950 para serem doados à ONU (Organização das Nações Unidas) e, até hoje, ficam na sede da organização em Nova York e não podem ser visitadas pessoalmente.
Além dos quadros, a plataforma disponibiliza textos explicativos com curadoria de pesquisadores e cerca de 35 mil documentos pessoais, como fotografias e cartas.
O projeto também oferece uma visita virtual à casa do artista em Brodowski (a 338 km de São Paulo). Usando a tecnologia Street View, o tour de realidade virtual mostra os espaços da casa e a rotina do processo criativo de Portinari.
Para o filho do artista, a iniciativa é uma oportunidade de se aproximar da sensibilidade das obras do pai. "Há uma compaixão na obra de Portinari, não como pena, mas sentir como um ser humano", afirmou João Candido Portinari também no evento de lançamento.
Para conseguir o acervo, além do Projeto Portinari, contribuíram o Masp, a Pinacoteca, o Museu Nacional de Belas Artes, os Museus Castro Maya e a Fundação Ema Klabin.
FONTE: Ilustrada - Folha
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