“A experiência demonstrou que os chamados governos “de esquerda”, “progressistas”, assim como aqueles que contam com o apoio ou a participação de Partidos Comunistas, aplicam uma política antipopular, medidas duras contra a classe trabalhadora e têm como finalidade servir à rentabilidade e à competitividade do capital.”
A reunião anual do Pleno da “Iniciativa Comunista Europeia”, que é
uma forma de cooperação e coordenação regional dos Partidos Comunistas e
Operários na Europa, ocorreu na terça-feira, 8 de dezembro, em
Bruxelas.
Giorgos Marinos, membro do Birô Político do CC do KKE (Partido Comunista da Grécia), pronunciou o seguinte discurso:
“Estimados camaradas:
No Encontro Europeu de Partidos Comunistas e Operários que ocorreu
ontem, discutimos sobre os temas mais importantes a respeito dos
acontecimentos internacionais, o desenvolvimento das lutas operárias e
populares e a atividade dos partidos comunistas em muitos países.
Este encontro é valioso, oferece a todos uma melhor visão para poder
examinar os acontecimentos, para avaliar objetivamente o curso da luta
de classes, para coordenar nossos esforços no debate ideológico e
político contra as forças burguesas e oportunistas e utilizar todas as
possibilidades para fortalecer nossos partidos e reagrupar o movimento
comunista na Europa.
Hoje, na reunião da “Iniciativa”, podemos continuar nosso trabalho
construtivo, examinar questões políticas básicas que surgiram durante
este período, avaliar nosso trabalho e elaborar um plano de atividades
para o período próximo.
Podemos destacar os seguintes temas:
Em primeiro lugar, a crise capitalista contínua em vários Estados e,
ao mesmo, o curso da economia da UE/zona euro, a desaceleração da China,
os problemas nos BRICS – por exemplo, no Brasil –, causam muita
preocupação, enquanto muitos analistas estão falando sobre o estouro de
uma nova crise.
Os trabalhadores enfrentam um novo ataque orquestrado em grande
escala, como a política antipopular dos governos que expressam seus
interesses.
As consequências são dolorosas.
As altas taxas de desemprego, a expansão da pobreza, a abolição dos
direitos trabalhistas, de seguridade social, o ataque contra os acordos
coletivos de trabalho, a comercialização da saúde, do bem-estar e da
educação, as privatizações e a desregulamentação de ramos e setores da
economia, caracterizam o capitalismo. Além disso, se leva a cabo um
ataque particularmente duro contra os jovens e as mulheres.
Os problemas se aprofundam tanto na fase de crise, quando se reforça
claramente a agressividade do capital, como na fase do crescimento da
economia, posto que o critério do crescimento capitalista é o lucro.
Em segundo lugar, a OTAN, EUA, a UE desataram guerras e intervenções
imperialistas, com a participação de dezenas de Estados capitalistas,
como mostram os exemplos de guerra na Iugoslávia, Afeganistão, Iraque,
Líbia, Síria, Mali, República Centro-africana, Ucrânia.
Esta situação perigosa está relacionada com o aprofundamento da
disputa interimperialista pelo controle dos mercados e dos recursos
naturais, o aumento dos lucros e o fortalecimento das posições dos
monopólios.
Neste marco, estão competindo entre si EUA, Estados membros da UE,
Rússia, China, assim como outros Estados que possuem uma posição mais
alta ou mais baixa no sistema imperialista.
Nesta base, estão se multiplicando os focos de guerra e os campos de batalha potenciais em várias regiões do mundo.
Estão tentando ocultar as verdadeiras causas das guerras e das
intervenções imperialistas utilizando pretextos como o “combate ao
terrorismo”, a “segurança energética”, etc.
O mecanismo de propaganda dos Estados capitalistas está utilizando
todos os meios para desorientar e manipular a classe operária, os povos,
para que não possam dar-se conta, ser conscientes de seus próprios
interesses e para que sigam o caminho perigoso de tomar partido por uma
ou outra potência ou união imperialista.
Parte da agressividade imperialista é a criação de mecanismos de
provocação e crimes, como é Al Qaeda, o chamado “Estado Islâmico” e
outros mecanismos que ganham poder econômico e apoio das massas,
tornando-se autônomos, mas sendo sempre parte dos planos agressivos
interimperialistas contra os povos.
Os ataques criminosos deste período na Turquia, Líbano, França, com
dezenas de mortos é utilizado para a escalada das intervenções
imperialistas, a intensificação da repressão, o fomento do racismo e da
xenofobia.
Em terceiro lugar, o anticomunismo está aumentando, está sendo
distorcida a verdade histórica enquanto se visa diminuir o papel do
socialismo no progresso social, o papel do movimento comunista a
respeito dos direitos dos povos. Forças reacionárias e fascistas
vinculadas aos interesses empresariais e com o mecanismo estatal baixam a
cabeça, intimidam, assassinam, tentam contaminar os povos com seu
veneno racista-fascista.
Nestas condições, é evidente a importância da atividade dos partidos
comunistas da “Iniciativa”, as intervenções dos 29 Partidos Comunistas
que participam desta cooperação.
Em 2015, a “Iniciativa” fez intervenções em temas importantes como:
A condenação aos atentados criminosos na França, em janeiro de 2015.
O Dia Internacional da Mulher Trabalhadora.
O direito ao trabalho e à proteção dos desempregados.
O Primeiro de Maio.
Os perigosos acontecimentos na Ucrânia, a intensificação do anticomunismo e a solidariedade com os comunistas da Ucrânia.
O 70° aniversario da Vitória Antifascista dos Povos.
O Dia Internacional do Meio Ambiente.
A condenação do novo ataque terrorista na França, em 13 de novembro, em 13 de novembro.
Ressaltar o caráter antipopular da Associação Transatlântica de Comércio e Investimento (TTIP).
Ressaltar os problemas dos estudantes secundaristas e universitários e dos jovens trabalhadores.
O apoio às lutas eleitorais levadas a cabo pelo KKE, o Partido Comunista (Turquia), o Partido Comunista dos Povos de Espanha.
Nossos partidos organizaram vários eventos e mobilizações em seus
países e, em um período próximo, veremos como é possível fortalecer o
intercâmbio de informações e a participação de nossos partidos em
eventos de outros partidos da “Iniciativa”, a organização de eventos
conjuntos, um tema que devemos estudar mais profundamente.
Estimados camaradas:
As condições que se formaram em torno da classe trabalhadora, dos
setores populares, dos jovens, estão demandando serias tarefas políticas
para os Partidos Comunistas frente à situação complexa, às exigências
da luta de classes, para que se fortaleça a luta contra a UE, a aliança
imperialista interestatal, pela derrubada da barbárie capitalista, pelo
socialismo.
Somos conscientes das debilidades e das deficiências em nossa luta,
dos problemas relacionados com a coordenação de nossa atividade e todos
estamos obrigados a fazer grandes esforços para encará-los.
O fortalecimento dos Partidos Comunistas da “Iniciativa” em cada
país, o fortalecimento da luta ideológica-política e de massas, a
construção de organizações partidárias, sobretudo na indústria, nos
centros de trabalho, o trabalho persistente junto à classe trabalhadora e
aos jovens, a intensificação dos esforços para que mude a correlação de
forças no movimento sindical, são elementos importantes aos quais
devemos focar nossa atenção no período próximo.
Objetivamente, se está fortalecendo o debate ideológico-político acerca do desenvolvimento dos acontecimentos. Alguns exemplos:
Primeiro: forças burguesas e oportunistas, inclusive o Partido da
Esquerda Europeia (PIE) se referem (em geral) à necessidade do
desenvolvimento econômico como meio para resolver os problemas populares
aprofundados e combater o flagelo do desemprego, fomentando falsas
esperanças aos povos.
A “Iniciativa” tem que cumprir com um dever muito serio, tem que
revelar que o desenvolvimento que se baseia na propriedade capitalista
dos meios de produção, no critério do lucro e a exploração da classe
trabalhadora, significa desenvolvimento para os poucos, os capitalistas.
O desenvolvimento que pode solucionar o problema do desemprego,
assegurar, por exemplo, serviços sociais avançados gratuitos, satisfazer
as necessidades do povo, requer mudanças radicais profundas
relacionadas com a derrocada da exploração capitalista, através da
conquista do poder operário e a socialização dos meios de produção, com a
construção do socialismo.
Em segundo lugar, as forças burguesas se adaptam, intensificam sua
intervenção para manipular os trabalhadores. A socialdemocracia está
mudando de máscara para que seja cada vez mais útil para o sistema.
O exemplo do SYRIZA na Grécia é característico. Fomentando falsas
expectativas, enganou setores importantes da classe trabalhadora e das
camadas populares, assumiu o governo com o apoio de setores do capital e
de potências imperialistas fortes (EUA, França) e está gerindo o
capitalismo decisivamente.
Neste momento, está implementando o terceiro memorando que acordou
junto com a UE, o BCE e o FMI, está impondo medidas antipopulares muito
duras, recorre ao autoritarismo e à repressão contra os trabalhadores
que entram em greve, que lutam, e envolve o país mais profundamente na
disputa interimperialista, as intervenções da OTAN, dos EUA e da UE na
região.
A mesma linha de gestão do capitalismo esta sendo seguida, por
exemplo, pelo Partido PODEMOS na Espanha, assim como por formações
socialdemocratas em outros países.
O problema é muito grave e a postura dos Partidos Comunistas é de
suma importância porque somente os Partidos Comunistas que esclarecerem
sua posição contra todo tipo de gestores do sistema têm a força de
confrontar decisivamente as ilusões que a socialdemocracia está
fomentando, que também é um pilar básico do capitalismo e se alterna com
os partidos liberais com o objetivo de perpetuar o sistema.
A experiência demonstrou que os chamados governos “de esquerda”,
“progressistas”, assim como aqueles que contam com o apoio ou a
participação de Partidos Comunistas, aplicam uma política antipopular,
medidas duras contra a classe trabalhadora e têm como finalidade servir à
rentabilidade e à competitividade do capital.
Estes governos levaram ao retrocesso do movimento operário, à
assimilação nos objetivos da burguesia. Ao transcorrer do tempo, a
política antipopular destes governos provocou reações populares de
massas e o regresso ao governo dos partidos conservadores de direita. Os
exemplos na França, Itália, Chipre, Dinamarca e, recentemente, na
Argentina são característicos.
Estimados camaradas:
É preciso utilizar a experiência que acumulamos neste período para planificar as seguintes intervenções no período próximo;
1. Continuar o esforço dos partidos da “Iniciativa” para desenvolver a
luta trabalhadora e popular em cada país e, ao mesmo tempo, fortalecer o
apoio e a solidariedade de nossos partidos com as lutas da classe
operária, dos povos em cada país, contra o capital, contra os governos
que expressam seus interesses, contra as uniões imperialistas, como são,
por exemplo, a UE e a OTAN.
2. Prestar particular atenção ao enfrentamento, à confrontação do
anticomunismo e das calúnias contra o socialismo, destacando a
contribuição do movimento comunista e da construção socialista (na União
Soviética e os demais países socialistas) no progresso social. Exigir a
partir de várias atividades que se impeça todo tipo de perseguições e a
abolição das proibições da atividade dos Partidos Comunistas e
Operários como, por exemplo, a Ucrânia, os países bálticos, Europa
Oriental e Central.
3. Fortalecer a luta contra as guerras e as intervenções
imperialistas na Síria, Iraque, Ucrânia, focando em mostrar as causas
destas guerras imperialistas, exigindo a desvinculação de nossos países
dos planos imperialistas, reforçando a frente contra a OTAN e a UE,
reclamando a retirada das bases militares e da infraestrutura, Definir
um dia de ação conjunta para levar a cabo eventos contra as bases dos
EUA e da OTAN em cada país.
4. Aprovar, caso estejam de acordo, um texto de aproximação conjunta
dos partidos da “Iniciativa” sobre a questão dos imigrantes e dos
refugiados.
5. No primeiro semestre de 2016, deverão ser organizados eventos cujo
tema será o texto de Lenin “Sobre a palavra de ordem dos Estados Unidos
da Europa” e preparar a promoção da obra importante de Lenin
“Imperialismo, a fase superior do capitalismo”, que é vigente neste
período.
6. Desempenhar um papel destacado nos eventos para o dia 8 de Março,
dia de luta das mulheres, para o Primeiro de Maio, para o 9 de Maio, o
Dia da Vitória Antifascista dos Povos, e emitir comunicados conjuntos.
7. Fortalecer nossa solidariedade com o povo da Palestina e examinar a
possibilidade de enviar uma delegação da “Iniciativa” aos territórios
palestinos.
8. Estudar melhor o tema da mudança climática e fazer uma intervenção a respeito da proteção do meio ambiente.
Avaliamos que, com base na experiência que acumulamos, podemos dar
mais passos no próximo período. Hoje podemos levar a cabo um debate a
fundo e concluir um programa de atividades para o período próximo”.
FONTE: Partido Comunista Brasileiro (PCB)
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