sábado, 2 de janeiro de 2016

Intervenção do KKE (Partido Comunista da Grécia) na reunião anual da Iniciativa Comunista Europeia

“A experiência demonstrou que os chamados governos “de esquerda”, “progressistas”, assim como aqueles que contam com o apoio ou a participação de Partidos Comunistas, aplicam uma política antipopular, medidas duras contra a classe trabalhadora e têm como finalidade servir à rentabilidade e à competitividade do capital.”

A reunião anual do Pleno da “Iniciativa Comunista Europeia”, que é uma forma de cooperação e coordenação regional dos Partidos Comunistas e Operários na Europa, ocorreu na terça-feira, 8 de dezembro, em Bruxelas.

Giorgos Marinos, membro do Birô Político do CC do KKE (Partido Comunista da Grécia), pronunciou o seguinte discurso:






“Estimados camaradas:

No Encontro Europeu de Partidos Comunistas e Operários que ocorreu ontem, discutimos sobre os temas mais importantes a respeito dos acontecimentos internacionais, o desenvolvimento das lutas operárias e populares e a atividade dos partidos comunistas em muitos países.

Este encontro é valioso, oferece a todos uma melhor visão para poder examinar os acontecimentos, para avaliar objetivamente o curso da luta de classes, para coordenar nossos esforços no debate ideológico e político contra as forças burguesas e oportunistas e utilizar todas as possibilidades para fortalecer nossos partidos e reagrupar o movimento comunista na Europa.

Hoje, na reunião da “Iniciativa”, podemos continuar nosso trabalho construtivo, examinar questões políticas básicas que surgiram durante este período, avaliar nosso trabalho e elaborar um plano de atividades para o período próximo.

Podemos destacar os seguintes temas:

Em primeiro lugar, a crise capitalista contínua em vários Estados e, ao mesmo, o curso da economia da UE/zona euro, a desaceleração da China, os problemas nos BRICS – por exemplo, no Brasil –, causam muita preocupação, enquanto muitos analistas estão falando sobre o estouro de uma nova crise.

Os trabalhadores enfrentam um novo ataque orquestrado em grande escala, como a política antipopular dos governos que expressam seus interesses.

As consequências são dolorosas.

As altas taxas de desemprego, a expansão da pobreza, a abolição dos direitos trabalhistas, de seguridade social, o ataque contra os acordos coletivos de trabalho, a comercialização da saúde, do bem-estar e da educação, as privatizações e a desregulamentação de ramos e setores da economia, caracterizam o capitalismo. Além disso, se leva a cabo um ataque particularmente duro contra os jovens e as mulheres.

Os problemas se aprofundam tanto na fase de crise, quando se reforça claramente a agressividade do capital, como na fase do crescimento da economia, posto que o critério do crescimento capitalista é o lucro.

Em segundo lugar, a OTAN, EUA, a UE desataram guerras e intervenções imperialistas, com a participação de dezenas de Estados capitalistas, como mostram os exemplos de guerra na Iugoslávia, Afeganistão, Iraque, Líbia, Síria, Mali, República Centro-africana, Ucrânia.

Esta situação perigosa está relacionada com o aprofundamento da disputa interimperialista pelo controle dos mercados e dos recursos naturais, o aumento dos lucros e o fortalecimento das posições dos monopólios.

Neste marco, estão competindo entre si EUA, Estados membros da UE, Rússia, China, assim como outros Estados que possuem uma posição mais alta ou mais baixa no sistema imperialista.

Nesta base, estão se multiplicando os focos de guerra e os campos de batalha potenciais em várias regiões do mundo.

Estão tentando ocultar as verdadeiras causas das guerras e das intervenções imperialistas utilizando pretextos como o “combate ao terrorismo”, a “segurança energética”, etc.

O mecanismo de propaganda dos Estados capitalistas está utilizando todos os meios para desorientar e manipular a classe operária, os povos, para que não possam dar-se conta, ser conscientes de seus próprios interesses e para que sigam o caminho perigoso de tomar partido por uma ou outra potência ou união imperialista.

Parte da agressividade imperialista é a criação de mecanismos de provocação e crimes, como é Al Qaeda, o chamado “Estado Islâmico” e outros mecanismos que ganham poder econômico e apoio das massas, tornando-se autônomos, mas sendo sempre parte dos planos agressivos interimperialistas contra os povos.

Os ataques criminosos deste período na Turquia, Líbano, França, com dezenas de mortos é utilizado para a escalada das intervenções imperialistas, a intensificação da repressão, o fomento do racismo e da xenofobia.

Em terceiro lugar, o anticomunismo está aumentando, está sendo distorcida a verdade histórica enquanto se visa diminuir o papel do socialismo no progresso social, o papel do movimento comunista a respeito dos direitos dos povos. Forças reacionárias e fascistas vinculadas aos interesses empresariais e com o mecanismo estatal baixam a cabeça, intimidam, assassinam, tentam contaminar os povos com seu veneno racista-fascista.

Nestas condições, é evidente a importância da atividade dos partidos comunistas da “Iniciativa”, as intervenções dos 29 Partidos Comunistas que participam desta cooperação.

Em 2015, a “Iniciativa” fez intervenções em temas importantes como:

A condenação aos atentados criminosos na França, em janeiro de 2015.

O Dia Internacional da Mulher Trabalhadora.

O direito ao trabalho e à proteção dos desempregados.

O Primeiro de Maio.

Os perigosos acontecimentos na Ucrânia, a intensificação do anticomunismo e a solidariedade com os comunistas da Ucrânia.

O 70° aniversario da Vitória Antifascista dos Povos.

O Dia Internacional do Meio Ambiente.

A condenação do novo ataque terrorista na França, em 13 de novembro, em 13 de novembro.

Ressaltar o caráter antipopular da Associação Transatlântica de Comércio e Investimento (TTIP).

Ressaltar os problemas dos estudantes secundaristas e universitários e dos jovens trabalhadores.

O apoio às lutas eleitorais levadas a cabo pelo KKE, o Partido Comunista (Turquia), o Partido Comunista dos Povos de Espanha.

Nossos partidos organizaram vários eventos e mobilizações em seus países e, em um período próximo, veremos como é possível fortalecer o intercâmbio de informações e a participação de nossos partidos em eventos de outros partidos da “Iniciativa”, a organização de eventos conjuntos, um tema que devemos estudar mais profundamente.

Estimados camaradas:

As condições que se formaram em torno da classe trabalhadora, dos setores populares, dos jovens, estão demandando serias tarefas políticas para os Partidos Comunistas frente à situação complexa, às exigências da luta de classes, para que se fortaleça a luta contra a UE, a aliança imperialista interestatal, pela derrubada da barbárie capitalista, pelo socialismo.

Somos conscientes das debilidades e das deficiências em nossa luta, dos problemas relacionados com a coordenação de nossa atividade e todos estamos obrigados a fazer grandes esforços para encará-los.

O fortalecimento dos Partidos Comunistas da “Iniciativa” em cada país, o fortalecimento da luta ideológica-política e de massas, a construção de organizações partidárias, sobretudo na indústria, nos centros de trabalho, o trabalho persistente junto à classe trabalhadora e aos jovens, a intensificação dos esforços para que mude a correlação de forças no movimento sindical, são elementos importantes aos quais devemos focar nossa atenção no período próximo.

Objetivamente, se está fortalecendo o debate ideológico-político acerca do desenvolvimento dos acontecimentos. Alguns exemplos:

Primeiro: forças burguesas e oportunistas, inclusive o Partido da Esquerda Europeia (PIE) se referem (em geral) à necessidade do desenvolvimento econômico como meio para resolver os problemas populares aprofundados e combater o flagelo do desemprego, fomentando falsas esperanças aos povos.

A “Iniciativa” tem que cumprir com um dever muito serio, tem que revelar que o desenvolvimento que se baseia na propriedade capitalista dos meios de produção, no critério do lucro e a exploração da classe trabalhadora, significa desenvolvimento para os poucos, os capitalistas.

O desenvolvimento que pode solucionar o problema do desemprego, assegurar, por exemplo, serviços sociais avançados gratuitos, satisfazer as necessidades do povo, requer mudanças radicais profundas relacionadas com a derrocada da exploração capitalista, através da conquista do poder operário e a socialização dos meios de produção, com a construção do socialismo.

Em segundo lugar, as forças burguesas se adaptam, intensificam sua intervenção para manipular os trabalhadores. A socialdemocracia está mudando de máscara para que seja cada vez mais útil para o sistema.

O exemplo do SYRIZA na Grécia é característico. Fomentando falsas expectativas, enganou setores importantes da classe trabalhadora e das camadas populares, assumiu o governo com o apoio de setores do capital e de potências imperialistas fortes (EUA, França) e está gerindo o capitalismo decisivamente.

Neste momento, está implementando o terceiro memorando que acordou junto com a UE, o BCE e o FMI, está impondo medidas antipopulares muito duras, recorre ao autoritarismo e à repressão contra os trabalhadores que entram em greve, que lutam, e envolve o país mais profundamente na disputa interimperialista, as intervenções da OTAN, dos EUA e da UE na região.

A mesma linha de gestão do capitalismo esta sendo seguida, por exemplo, pelo Partido PODEMOS na Espanha, assim como por formações socialdemocratas em outros países.

O problema é muito grave e a postura dos Partidos Comunistas é de suma importância porque somente os Partidos Comunistas que esclarecerem sua posição contra todo tipo de gestores do sistema têm a força de confrontar decisivamente as ilusões que a socialdemocracia está fomentando, que também é um pilar básico do capitalismo e se alterna com os partidos liberais com o objetivo de perpetuar o sistema.

A experiência demonstrou que os chamados governos “de esquerda”, “progressistas”, assim como aqueles que contam com o apoio ou a participação de Partidos Comunistas, aplicam uma política antipopular, medidas duras contra a classe trabalhadora e têm como finalidade servir à rentabilidade e à competitividade do capital.

Estes governos levaram ao retrocesso do movimento operário, à assimilação nos objetivos da burguesia. Ao transcorrer do tempo, a política antipopular destes governos provocou reações populares de massas e o regresso ao governo dos partidos conservadores de direita. Os exemplos na França, Itália, Chipre, Dinamarca e, recentemente, na Argentina são característicos.

Estimados camaradas:

É preciso utilizar a experiência que acumulamos neste período para planificar as seguintes intervenções no período próximo;

1. Continuar o esforço dos partidos da “Iniciativa” para desenvolver a luta trabalhadora e popular em cada país e, ao mesmo tempo, fortalecer o apoio e a solidariedade de nossos partidos com as lutas da classe operária, dos povos em cada país, contra o capital, contra os governos que expressam seus interesses, contra as uniões imperialistas, como são, por exemplo, a UE e a OTAN.

2. Prestar particular atenção ao enfrentamento, à confrontação do anticomunismo e das calúnias contra o socialismo, destacando a contribuição do movimento comunista e da construção socialista (na União Soviética e os demais países socialistas) no progresso social. Exigir a partir de várias atividades que se impeça todo tipo de perseguições e a abolição das proibições da atividade dos Partidos Comunistas e Operários como, por exemplo, a Ucrânia, os países bálticos, Europa Oriental e Central.

3. Fortalecer a luta contra as guerras e as intervenções imperialistas na Síria, Iraque, Ucrânia, focando em mostrar as causas destas guerras imperialistas, exigindo a desvinculação de nossos países dos planos imperialistas, reforçando a frente contra a OTAN e a UE, reclamando a retirada das bases militares e da infraestrutura, Definir um dia de ação conjunta para levar a cabo eventos contra as bases dos EUA e da OTAN em cada país.

4. Aprovar, caso estejam de acordo, um texto de aproximação conjunta dos partidos da “Iniciativa” sobre a questão dos imigrantes e dos refugiados.

5. No primeiro semestre de 2016, deverão ser organizados eventos cujo tema será o texto de Lenin “Sobre a palavra de ordem dos Estados Unidos da Europa” e preparar a promoção da obra importante de Lenin “Imperialismo, a fase superior do capitalismo”, que é vigente neste período.

6. Desempenhar um papel destacado nos eventos para o dia 8 de Março, dia de luta das mulheres, para o Primeiro de Maio, para o 9 de Maio, o Dia da Vitória Antifascista dos Povos, e emitir comunicados conjuntos.

7. Fortalecer nossa solidariedade com o povo da Palestina e examinar a possibilidade de enviar uma delegação da “Iniciativa” aos territórios palestinos.

8. Estudar melhor o tema da mudança climática e fazer uma intervenção a respeito da proteção do meio ambiente.

Avaliamos que, com base na experiência que acumulamos, podemos dar mais passos no próximo período. Hoje podemos levar a cabo um debate a fundo e concluir um programa de atividades para o período próximo”.

FONTE: Partido Comunista Brasileiro (PCB)

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