Entre os arquivos estão fichas de comunistas, judeus e membros da
resistência armada; abertura foi impulsionada por pressão de
pesquisadores do período
Entrou em vigor nesta segunda-feira (28/12) a determinação do governo
francês de liberar o acesso ao público de centenas de milhares de
documentos relativos à época da ocupação nazista na França e do governo
pós-guerra. A medida prevê “a livre consulta de arquivos relativos à
Segunda Guerra Mundial provenientes principalmente dos ministérios das
Relações Exteriores, da Justiça e do Interior”, segundo o texto do Journal officiel, equivalente ao Diário Oficial.
Historiadores, familiares e cidadãos comuns poderão consultar arquivos legais e policiais da França, do período de 1940 a 1946 |
Entre os documentos estão processos de jurisdição de exceção do período
Vichy (período do domínio nazista, entre 1940 e 1944) e do governo
provisório (entre 1944 e 1946), papéis sobre os julgamentos de
criminosos de guerra, arquivos sobre membros da resistência armada,
comunistas ou judeus perseguidos sob a dominação nazista. Parte dos
arquivos já era conhecida dos historiadores, mas o acesso era limitado.
Em maio deste ano, um grupo de mais de 100 pesquisadores universitários
enviou uma carta ao presidente francês, François Hollande, reclamando
da burocracia para conseguir acesso aos arquivos e pedindo a
simplificação do acesso. Hollande se encontrou com membros do grupo e
dois dias depois se comprometeu a permitir o acesso aos arquivos.
De acordo com Pascale Etiennette, chefe dos arquivos da polícia de
Paris, qualquer pessoa poderá solicitar um arquivo e obtê-lo “dentro de
um ou 15 minutos, apenas o tempo necessário para buscá-lo nas
prateleiras”. Os arquivos se encontram dispersos em várias cidades da
França.
“Não se deve acreditar que isso [medida do governo] irá dar acesso a
milhões de arquivos secretos. Muitos documentos envolvidos já foram
consultados por pesquisadores, mas isso vai facilitar o trabalho ao
permitir superar a lentidão e os bloqueios do sistema”, disse ao jornal
francês Le Monde o historiador Henry Rousso, diretor do
Instituto de História do Tempo Presente e autor de trabalhos sobre o
período da Segunda Guerra.
“Por conta da dificuldade de acesso a certas fontes, nós pensávamos
duas vezes antes de apresentar certos assuntos aos estudantes. De agora
em diante, haverá menos hesitação”, afirmou Gilles Morin, pesquisador e
historiador do Centro de História Social do Século XX da Universidade
Paris-I, ao Le Monde. Segundo ele, muitos franceses que
pesquisavam o passado de pais e avós nesse período encontravam
dificuldades burocráticas. Morin pontua que “não haverá uma revolução
sobre o que já sabemos sobre a Segunda Guerra, mas finalmente teremos a
possibilidade de entender diversos aspectos, como as relações entre a
França e a Alemanha”.
FONTE: Opera Mundi
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