LEIA a análise de Robert Peston, editor de Economia da BBC News, e entrevista de Kostas Papadakis, membro do CC e eurodeputado do KKE (Partido Comunista da Grécia).
Análise: Grécia capitulou diante de seus credores
Robert Peston
Editor de Economia da BBC News
Não acredito ter algum dia lido uma
carta de um primeiro-ministro em que ele prometia abrir o mercado de
academias de ginástica - e certamente isso nunca aconteceu no caso de
uma carta que pode representar vida ou morte para uma economia.
O grande ponto da carta, no entanto, é que o governo de esquerda grego, formado pela coalizão Syriza, de certa forma capitulou diante de praticamente todas as exigências da União Europeia e do FMI por aumento de impostos e cortes nas aposentadorias. Tópicos anteriormente defendido pelo governo de Tsipras como uma questão de princípios parecem ter se tornado moedas pragmáticas de barganha.
Isso coloca os ministros da área econômica da zona do euro na berlinda. Será que eles podem recusar a se sentar à mesa com Tsipras imediatamente?
O timing do vazamento da carta de Tsipras pelo jornal Financial Times - a manhã desta quarta-feira - pode ter importante impacto nas deliberações do BCE. O banco deve anunciar ainda nesta quarta-feira se vai pedir garantias às instituições financeiras gregas pelos 120 bilhões de euros enviados a título de Ajuda de Liquidez Emergencial.
No domingo, o BCE anunciou que não iria dar mais crédito aos bancos gregos, o que provocou o fechamento deles por uma semana, bem como a imposição de controles de capital - o congelamento de transferências para o exterior e a limitação de saques em 60 euros.
Se o BCE insistir em receber ativos dos bancos gregos como proteção contra perdas futuras, fontes me dizem que pelo menos dois bancos estariam em graves problemas, já que não contam nem com ativos nem dinheiro para pagar os empréstimos contraído junto ao BCE e ao Banco Central grego.
Em outras palavras: este pedido pode afundar um banco grego.
Por isso estou surpreso em ver o BCE tomando medidas drásticas neste momento em que o governo grego está tão perto de capitular. Porque a exigência de garantias pode ter a perversa consequência de exacerbar a crise nos bancos gregos e mostrar que as perdas potenciais da exposição do BCE à Grécia podem crescer.
E ainda pode piorar, caso os gregos votem pela rejeição às exigências feitas pelos credores no plebiscito de domingo, convocado por Tsipras no início da semana como forma de pressionar por uma renegociação do pacote de ajuda financeira recebido pela Grécia em 2010. Se os gregos realmente votarem "não", o BCE certamente pediria garantias e ao mesmo tempo dizimaria o sistema financeiro do país.
Por isso, Tsipras deve estar arrependido de ter convocado o plebiscito. E isso explica sua movimentação frenética, com novas ofertas aos credores, que podem tornar o referendo obsoleto.
E é bastante difícil imaginar como ele pode cancelar a consulta popular a não ser que os países da zona do euro e a União Europeia aceitem sua oferta de aumento de impostos e cortes na previdência como a base de um novo acordo.
Estamos ainda bem longe do fim dessa "tragédia grega".
FONTE: BBC Brasil
Grécia: entrevista de Kostas Papadakis* a odiario.info
A evolução da situação grega deve ser acompanhada com a maior atenção, além do mais pelo incessante massacre mediático com que os grandes media a envolvem. O diario.info não partilha necessariamente de todas as opiniões e apreciações enunciadas nesta entrevista, mas a sua publicação é necessária e não apenas como informação. É necessária como sinal de caloroso apreço pela coragem e firmeza do combate que o KKE leva a cabo.
1. Como avalia os resultados das negociações do governo grego com a Comissão Europeia?
O governo do Syriza-ANEL está há quatro meses em negociação com a troika, as “instituições”, ou seja, a Comissão Europeia, o Banco Central Europeu (BCE) e o FMI, mas não a favor dos interesses do povo. Trata-se de uma negociação com os credores, que é a priori antipopular, com a qual o governo trata de assegurar os interesses da burguesia grega no quadro do antagonismo geral que se desenvolve entre os Estados Unidos e a Alemanha, assim como entre os países da zona do euro, sobre a fórmula da gestão capitalista. Essa negociação reflete a confrontação geral em que a burguesia grega tem como objetivo, entre outros, assegurar um superavit baixo para os próximos anos, passando capitais destinados à amortização de empréstimos para o financiamento estatal dos grupos empresariais. Com esses capitais como ferramenta, tentam se recuperar da crise capitalista. Portanto, os grupos empresariais e as associações (Federação de Indústrias etc.) apoiam o governo que se apressou a servir aos seus interesses. O acordo antipopular de 20 de fevereiro já previa que se mantivessem as leis antipopulares do memorando aprovadas pelo ND e pelo PASOK, enquanto se preparam novas medidas antipopulares no sistema tributário, privatizações, abolição de direitos de segurança social etc. As negociações estão levando a um novo acordo-memorando, seja qual for o seu nome.
Portanto os interesses do povo grego não são servidos se alinharem por planos antipopulares, que aliás implicam medidas antitrabalhistas bárbaras; ao contrário, é necessário lutar contra eles de modo combativo e sem passividade. O povo não é responsável pela dívida da plutocracia; nem a criou nem tem de pagá-la. Contra a lógica de uma renegociação antipopular, cujo resultado o povo já pagou e estão a chamá-lo para pagar de novo, o KKE pede ao povo que exija a abolição das leis antipopulares e a recuperação das perdas dos anos anteriores, abrir caminho para o cancelamento unilateral da dívida e, ao mesmo tempo, sair da UE, com o povo no poder.
Cada trabalhador deve pensar que o SYRIZA se tinha comprometido a romper com os memorandos, mas agora traz outro e mantém vigentes todas as leis do memorando. O KKE, ao contrário, apresentou de novo, em fevereiro, no Parlamento um projeto de lei para o cancelamento dos memorandos e das leis antipopulares pertinentes. Além disso, apresentou uma proposta para o restabelecimento do 13º salário e do 14.o, aplicação imediata do salário mínimo de 751€ como base para aumentos — que haviam sido abolidos pelo governo da ND e do PASOK — aplicação obrigatória dos convênios coletivos setoriais etc.
2. Como estão reagindo os que votaram com o SYRIZA sobre os retrocessos perante as exigências da Comissão Europeia que invalidam as promessas feitas durante e período eleitoral? E a classe operária?
As “promessas” eleitorais do SYRIZA, o chamado programa de Tessalónica, eram migalhas que de qualquer modo não tirariam as famílias da pobreza e da miséria. Tratava-se de medidas que reciclariam a pobreza mais extrema, mesmo sob a palavra de ordem: “contra a crise humanitária”, exonerando o próprio sistema capitalista, dando a entender que se trata de uma ocasião excepcional e não da própria natureza de um sistema explorador que está apodrecendo. Constituiriam mesmo os primeiros projetos de lei do governo que iam ser aprovados independentemente do resultado da negociação. Mas logo depois das eleições, “o programa de Tessalónica” transformou-se de um programa de 100 dias num programa de quatro anos. Assim, as promessas de restabelecer o salário mínimo passaram para um futuro longínquo e dependem do “apetite” dos próprios empregadores. Enquanto o imposto sobre bens imóveis (ENFIA) mantém-se no período próximo. Assim, os impostos existentes estão aumentando e o povo vai pagar muito caro o aumento das taxas de IVA. Ao mesmo tempo, o 13º mês (pelo Natal) foi adiado, mesmo para os mais fracos economicamente.
O aumento do limite de entradas isentas de tributação foi também adiado para os finais de 2016. Em contrapartida, estão promovendo as privatizações de portos, aeroportos, bloquearam as reservas disponíveis dos municípios, de organismos estatais e os fundos de segurança destinados a cobrir as necessidades populares básicas. Enquanto se está planificando o corte das pensões antecipadas e entre elas as profissões pesadas e insalubres, das mulheres trabalhadoras com filhos menores de idade etc. Perante essa política governamental profundamente antipopular, os trabalhadores e outros setores populares pobres que acreditaram nas esperanças que fomentaram as forças da nova social-democracia do SYRIZA, não devem ficar decepcionados, mas sim tirar as conclusões políticas necessárias. Ou seja, que não existem “soluções fáceis favoráveis ao povo” quando o povo concede a responsabilidade a um governo que opera no quadro da UE e na senda do desenvolvimento capitalista. Portanto, o povo é soberano só quando possui os meios de produção, livre da UE, e pode satisfazer as suas necessidades com uma planificação científica central.
3. Como interpreta o enfraquecimento relativo da reação popular nos últimos meses? Quais são as perspectivas para a luta de massas no futuro próximo?
Para lá da repressão e das provocações utilizadas pelos governos da ND e do PASOK nos anos da crise, um fator determinante que foi usado para enfraquecer o movimento operário e impedir o desenvolvimento da sua união e da sua orientação de classe, foi que a classe burguesa e o seu pessoal proporcionaram a ideia de que outro governo de gestão burguesa se encarregará de resolver os problemas populares e dos trabalhadores. A intenção de apresentar o governo com o SYRIZA no seu núcleo como salvador do povo provocou uma contenção grave do movimento operário. Fomentou a passividade e falsas ilusões, do que resultou que exista mesmo agora um retrocesso na luta operária e popular. Nos primeiros dias depois das eleições, o novo governo levou o povo a aplaudir ativamente os objetivos da burguesia nas negociações antipopulares. Poucos meses depois, cada vez mais gente compartilha as advertências do KKE sobre o caráter e a missão deste governo. Uma série de mobilizações de trabalhadores não remunerados, grevistas, contratadores nos centros de trabalho são um fenômeno diário. A greve dos trabalhadores no setor da saúde, em 20 de maio, foi um passo importante porque a situação nos hospitais estatais é explosiva dado que nem sequer têm gaze e os pacientes não só pagam caro por tudo, como ainda trazem os medicamentos de casa, materiais etc. As mobilizações que o PAME está organizando em 11 de junho, reclamando que não se aplique o novo acordo antipopular, podem significar uma mudança na força, na combatividade do movimento operário, podem marcar um novo ponto de partida para o confronto da ofensiva do governo, da UE e do capital contra o povo, para a recuperação das perdas. A organização do seu contra-ataque para a criação de uma aliança popular forte contra os monopólios e o capitalismo.
4. As divergências no movimento comunista internacional atualmente são óbvias. A que se atribuem? Qual é a posição do KKE?
Sim, efetivamente há desacordos e divergências em assuntos-chave de importância estratégica. Mas o crucial é determinar qual é a base sólida e os critérios para examiná-los. Os alicerces estão na cosmovisão marxista-leninista, nos princípios da luta de classes, na estratégia revolucionária. Só nessa base é possível fortalecer o verdadeiro caráter comunista dos partidos comunistas, conquistar a unidade da classe operária e a sua aliança com as demais camadas populares pobres, conseguir agrupar e preparar as forças trabalhadoras e populares para o derrubamento da barbárie capitalista, pelo socialismo-comunismo. De outro modo, os partidos comunistas ficam expostos ao efeito corrosivo das forças burguesas e oportunistas, ao parlamentarismo, à incorporação na gestão burguesa, às alianças sem princípios, à participação em governos de gestão burguesa sob o título de “esquerdas” “progressistas”, à opção e à alienação por detrás das uniões imperialistas, a convergência com forças e formações oportunistas, como o chamado Partido da Esquerda Europeia ou a sua expressão política, GUE-NGL. A base de tudo isso é a lógica daninha de etapas entre o capitalismo e o socialismo. O etapismo, que historicamente não se confirmou em caso algum, está aí para embelezar o capitalismo, para criar ilusões de que se pode humanizá-lo através da gestão burguesa, com a participação dos partidos comunistas. Esse caminho levou à mutação e dissolução de partidos comunistas, por exemplo, na França, na Itália, na Espanha etc. Essa percepção de “etapas”, que se baseia em elaborações obsoletas do movimento comunista internacional, acalma o derrubamento do poder capitalista, o próprio socialismo, e fragiliza a preparação da classe trabalhadora e dos seus aliados para essa tarefa monumental. Na pergunta crucial “revolução ou transformação”, o etapismo opta pela transformação. O KKE quer um debate aberto e essencial entre os partidos comunistas sem etiquetas e sem aforismos sobre assuntos-chave de importância estratégica para que se elabore uma estratégia revolucionária contemporânea. Cada partido é responsável por responder e justificar a sua opinião e postura.
5. Como o KKE encara a ofensiva atual do imperialismo em múltiplas frentes: Ucrânia, Oriente Médio, América Latina, China, Rússia?
Os Estados Unidos, tal como a União Europeia, a NATO e os seus governos, estão levando a cabo planos perigosos contra os povos. O fortalecimento da articulação da UE com a NATO, assim como as intervenções imperialistas independentes da UE com a formação de um euro-exército regular e o fortalecimento das forças militares para executar guerras e missões imperialistas pelos interesses dos monopólios, confirmam a agudização dos antagonismos pelo controle dos mercados, das fontes e das rotas de transporte de energia. A corrida armamentista com as bandeiras da NATO, os programas avançados de armamento dos chamados países emergentes como a China e a Rússia e de países do Oriente Médio, são reveladores e constituem um prelúdio perigoso da forma e dos métodos com que o sistema capitalista procura se recuperar da sua crise profunda. São pura hipocrisia as alianças das potências que estão “dispostas” a atuar contra os jihadistas, que foram apoiados pela NATO, Estados Unidos e a UE, os traficantes de pessoas nos países onde a UE e seus aliados entraram a ferro e fogo em intervenções imperialistas causando enormes vagas de imigrantes.
O governo grego, que subscreveu tudo isso, anunciou que vai criar uma nova base da NATO no Egeu para as necessidades da UE e da NATO e dos planos imperialistas e que disponibilizará forças armadas e bases a serviço da NATO. Subscreveu todos os comunicados militares da UE nas reuniões e dos ministros de assuntos exteriores e de defesa da UE, enquanto fortalece as relações políticas, econômicas e militares com Israel que ataca o povo palestino. É esse o governo das «esquerdas» do SYRZA-ANEL – e queremos sublinhar que as forças que se apressaram a celebrá-lo ficaram irremediavelmente expostas.
Os povos devem intensificar a sua luta para frustrar os planos imperialistas, pelo que é necessário estar em vigilância militante. O KKE desempenha um papel essencial na luta contra a implicação da Grécia nos planos imperialistas, exige que regressem as forças militares gregas das missões euro-atlânticas ao estrangeiro, que sejam encerradas as bases dos Estados Unidos e da NATO. O KKE luta pelo afastamento da NATO e da UE, sendo o povo dono do seu destino.
6. Como vê a nova estratégia de Barack Obama sobre as relações dos Estados Unidos com Cuba?
É particularmente importante que a longa luta do povo cubano em condições muito difíceis e a mobilização mundial de solidariedade contra o bloqueio inaceitável dos Estados Unidos tenham exercido pressão sobre o governo dos Estados Unidos para discutir o seu levantamento. O mesmo acontece com a UE com a chamada Posição Comum e as sanções que impõe há anos contra Cuba. Essa pressão e esse movimento mundial de solidariedade que se tem desenvolvido impulsionaram a libertação dos cinco patriotas cubanos.
Mas, não há qualquer complacência ou ilusão já que o imperialismo não deixa de utilizar tanto o engodo quanto o chicote com o fim de incorporar e subjugar os povos sob a sua estratégia. Por isso, é necessário que a solidariedade internacional revele os ajustes da tática do adversário para que não se apliquem os planos que o imperialismo internacional está preparando e que se implementem através de sanções, chantagem e ameaças ou negociações.
7. Qual a opinião do KKE sobre o chamado “Socialismo do século 21” e o papel dos intelectuais de esquerda da América Latina a esse respeito? Mesmo hoje em dia, consideram como modelo os chamados governos progressistas, de esquerda, da América Latina?
Ainda hoje os chamados governos progressistas, de esquerdas, da América Latina que constroem o “socialismo do século 21” são considerados como modelo. Essa fabricação ideológica opõe-se à própria experiência popular daqueles países, que estão experimentando a política antipopular, a pobreza, a exploração enquanto os monopólios estão enriquecendo. A fabricação ideológica do “socialismo do século 21” reúne as diversas correntes social-democratas e oportunistas, acadêmicos latino-americanos que garantem que falam em nome do marxismo, mas distorcem-no, porque o “socialismo do século 21” no seu conjunto caracteriza-se pela agressividade contra o marxismo-leninismo e o movimento comunista internacional, promovendo como solução as reformas burguesas que não afetam o poder do capital. É a expressão de certos setores da burguesia, sobretudo na América Latina, que aspiram a uma melhoria do financiamento estatal para a criação de infraestruturas, mão-de-obra especializada necessária para os monopólios – que não estão dispostos a financiá-los – a fim de aumentar a sua rentabilidade. Uma orientação semelhante existiu também nas décadas anteriores nos países da Europa Ocidental. Trata-se das necessidades das classes burguesas desses países para reforçar a sua posição no antagonismo internacional. O “socialismo do século 21” é uma fonte de distorção do conceito do socialismo científico já que não afeta o poder burguês. É apenas uma fórmula de gestão do sistema capitalista às expensas da classe operária e das demais camadas populares de cada país.
8. Quais as razões - em contradição com a posição de Marx sobre a extinção gradual do Estado – para que o Estado, em vez de enfraquecer, estava continuamente a se agigantar (URSS, Cuba, China)?
O estudo da experiência da construção socialista é o assunto de que o nosso partido se tem ocupado nos últimos 20 anos. Tiramos conclusões sobre os princípios da construção do socialismo através de um estudo a fundo, de um debate coletivo sobretudo da experiência da URSS, principalmente das decisões tomadas no âmbito da economia. Hoje em dia, esse debate é necessário para cada partido comunista. Porque, por exemplo, é um problema e uma expressão da situação difícil do movimento comunista internacional o fato de que hoje em dia existem partidos comunistas que negam os princípios, as leis científicas da construção socialista, o poder operário, a socialização dos meios de produção, a planificação e o controle operário e popular.
O KKE defende a necessidade da revolução socialista e os princípios da nova sociedade e, desse ponto de vista, participa no debate que está em curso no movimento comunista. Nessa perspectiva, examinamos, por exemplo, os acontecimentos na China onde, segundo os dados, prevalecem as relações capitalistas de produção.
Para chegar ao ponto de falar da extinção do Estado, uma pré-condição necessária é o fortalecimento das relações de produção comunistas, não o seu enfraquecimento. A experiência histórica da contrarrevolução, que ainda não acabou, mostra que a tarefa de desenvolver relações comunistas de produção e distribuição requer o desenvolvimento da teoria do comunismo científico pelo partido comunista através do estudo das leis da construção socialista. A experiência mostrou que os partidos no poder, na URSS e noutros Estados socialistas, não só não tiveram êxito nessa tarefa como também sofreram a erosão do oportunismo e se transformaram em veículos da contrarrevolução e da restauração do capitalismo.
9. O homem realizou conquistas destacadas no âmbito da ciência e da técnica, mas mudou muito pouco desde a Grécia e Roma, como mostram as guerras, cada vez mais cruéis, e a escalada de crimes do imperialismo. A velocidade com que o “homem velho” reapareceu para milhões na Rússia e na China, e está a aparecer em Cuba, parece mostrar que a transição do socialismo para o comunismo será muito mais lenta do que o previsto por Marx e Engels. A história desmentiu o mito do “homem novo”? Que pensam disso?
Não concordamos com essa ideia. Tudo o que afirmaram Marx e Engels, assim como Lênin, se confirmou e confirma de modo absoluto hoje em dia. A resposta à pergunta surge no próprio caráter da época inaugurada pela Grande Revolução Socialista, que é a época da transição do capitalismo para o socialismo. O capitalismo está na sua última fase imperialista. As condições materiais para a construção do socialismo já estão amadurecendo. O partido comunista deve, portanto, ser capaz de responder com a sua estratégia e tática para o desenvolvimento da luta de classes, ajudar a classe operária a estar consciente da sua missão histórica, a prepará-la para o confronto com o verdadeiro inimigo, ou seja a UE, os monopólios e o seu poder. A elaboração da estratégia revolucionária é a tarefa dos partidos comunistas independentemente da correlação de forças.
O objetivo é que os partidos comunistas que crêem na luta de classes e seus princípios, na necessidade histórica do derrubamento do poder burguês e na construção do socialismo-comunismo elaborem uma estratégia que cumpra com a própria razão da existência de um partido comunista: reunir forças para o confronto com o poder dos monopólios e não para a gestão e perpetuação da barbárie capitalista. O capitalismo é um sistema apodrecido e obsoleto e nenhum modo de gestão pode dar-lhe rosto humano. A luta pelo socialismo, portanto, não é uma declaração para um futuro longínquo, mas um tema-chave que determina todos os outros. A questão-chave é como um partido comunista trabalha dia após dia para alcançar esse objetivo.
* Membro do CC e eurodeputado do KKE
Tradução: Manuela Antunes
FONTE: odiario.info
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