RIO, 23/10/2007 - O secretário estadual de Segurança do Rio, José Mariano
Beltrame, afirmou, nesta terça-feira, que os traficantes locais estão
adotando a estratégia de migrar armas e pessoas para favelas da Zona Sul
da cidade para tentar inibir a atuação da polícia. Segundo o
secretário, que participou do Seminário de Gestão Pública de Segurança,
promovido pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), ações policiais na Zona
Sul, onde moram família de classes média e alta, são mais complicadas do
que em comunidades carentes das zonas norte e oeste.
- Um tiro
em Copacabana é uma coisa. Um tiro na Coréia (periferia) é outra. À
medida que se discute essa questão do enfrentamento, isso beneficia a
ação do tráfico de drogas - disse Beltrame no seminário.
Beltrame
afirmou ainda que a política da secretaria de Segurança é de
inteligência, mas são necessárias operações, como a da semana passada na
Favela da Coréia.
- Nossa política é de inteligência, não é de
enfrentamento. Mas não posso pegar um braço mecânico e ir à Favela da
Coréia para tirar os marginais de lá - acrescentou ele, referindo-se à
ação na semana passada nas favelas da Coréia e Taquaral, em Senador
Camará, onde 13 pessoas morreram, entre elas uma criança. - O trabalho
de inteligência tem planejamento para qualquer tipo de ação, a diferença
está na execução. Ele será executado conforme a reação do bandido à
presença da polícia. A Polícia Federal prende sem dar um tiro porque
prende a elite. O cliente da PF é outro.
OAB critica diferenciamento
Para
a presidente da Comissão de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do
Brasil, Margarida Pressburger, ao reconhecer que "um tiro em Copacabana é
uma coisa, e um tiro na favela da Coréia é outra", Beltrame "assumiu
publicamente que, para o governo, o morador de classe média da Zona Sul
recebe tratamento diferente e tem direitos de cidadania que o
trabalhador que mora na favela não tem, quando é obrigado a ficar no
fogo cruzado dos policiais com os traficantes, tem sua casa invadida por
uns e por outros e não tem onde se abrigar".
Para Margarida,
realmente fica difícil imaginar uma operação policial, nos moldes
mostrados pela TV, num condomínio de classe média ou alta.
-
Será que a polícia atiraria em quem corresse? Será que as pessoas que
hoje criticam a defesa dos direitos humanos - para qualquer cidadão -
apoiariam essas operações de guerra? - questionou. - O que a OAB defende
é igualdade na aplicação dos direitos de cidadania, para pobres ou
ricos, de qualquer parte do Rio. O que a OAB repudia é a política de
confronto que mata inocentes.
A presidente da comissão disse
ainda que o repúdio da OAB é maior ainda "sabendo dos resultados
registrados pelo próprio governo: menos prisões (- 23,6%), menos armas
apreendidas (-14,3%) e mais mortos (33,5%)" na comparação dos primeiros
seis meses de 2007 e de 2006.
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