Por Alessandro Carlucci e Caterina Balestreri
Tradução: Luiz Sérgio Henriques
O quadro interpretativo tradicional
Em março de 1922, Antonio Gramsci foi designado para representar o Partido Comunista da Itália na Executiva da Internacional Comunista. No final de maio, como se sabe, deixa a Itália com destino a Moscou. Segundo detalhada cronologia de sua vida, publicada há poucos anos, em 3 de junho Gramsci
[...] chega a Moscou. De 7 a 11 de junho, participa da II Conferência da Executiva ampliada da Internacional e passa a fazer parte da Executiva. Nos dias seguintes é internado por alguns meses no sanatório Serebriany Bor, nos arredores de Moscou, onde encontra Julia (Giulia) Schucht.Em setembro, escreve, a convite de Trotski, uma nota sobre o futurismo italiano que o próprio Trotski publicará no ano seguinte em apêndice a seu livro Literatura e revolução.Em 5 de novembro, participa do IV Congresso da Internacional Comunista, que se ocupa da “questão italiana” e da fusão entre PCd’I e PSI (Gramsci 2004, 323).
Esta citação constitui exemplo típico do modo como os primeiros meses da estada russa foram reconstruídos, por longo tempo, por todos os que se ocuparam da biografia política de Gramsci. Grande parte da pesquisa realizada até hoje compartilhou, de fato, duas premissas implícitas: 1) privilegiou-se o envolvimento de Gramsci nas atividades da Internacional Comunista, bem como o fato de que seus interesses e seu compromisso específico disseram respeito, em primeiro lugar, às vicissitudes cada vez mais tormentosas do movimento operário italiano, do PCd’I e da relação entre este e a IC; 2) considerou-se que Gramsci transcorreu os primeiros meses na Rússia em condições psicofísicas tais que o forçaram a uma atividade bastante reduzida, com longos períodos de tratamento e repouso no sanatório. Caminha pari passu com estes dois pressupostos — por longo tempo corroborados pelos documentos conhecidos — a ideia de que a primeira experiência particularmente significativa de Gramsci na Rússia tenha sido a participação no congresso da Internacional, de 5 de novembro a 5 de dezembro de 1922. Com efeito, o próprio Gramsci escreve em carta de 1º. de março de 1924:
No IV Congresso, havia saído poucos dias antes (poucos numericamente e não só metaforicamente) do sanatório, após cerca de seis meses que de pouco me serviram, que só impediram um agravamento da doença e uma paralisia das pernas que me poderia manter imobilizado na cama por alguns anos. Do ponto de vista geral, persistia a exaustão e a impossibilidade de trabalho por conta da amnésia e da insônia.
Aceitas e seguidas como dignas de crédito nas primeiras e mais influentes biografias de Gramsci (Romano 1965, 468, e sobretudo Fiori 1966, 186), estas palavras são, na realidade, aproximativas (e se mostram imprecisas, bastando observar que os “cerca de seis meses” de que fala Gramsci nos levariam, tomados ao pé da letra, até maio de 1922, fazendo retroceder a internação no sanatório precisamente ao período em que ainda se encontrava na Itália). Em seguida, pesquisas arquivísticas e filológicas forneceram outros dados, com os quais se podem controlar as lembranças reportadas pelo próprio Gramsci em suas cartas; e, no entanto, ainda no início dos anos 1980, Giovanni Somai confirmava cada um dos pressupostos mencionados: interpretando os dados em que então se baseava a reconstrução dos eventos, Somai considerava que Gramsci, embora “em um caso específico” tivesse recebido o encargo de representar a IC em importante reunião do Partido Comunista Russo, “a XII Conferência do PCR (agosto de 1922)”, provavelmente não teria podido “desempenhar a tarefa que lhe foi confiada por causa da conhecida doença, assim como não pôde defender Konopleva, uma socialista revolucionária acusada no famoso processo de 1922” (Somai 1982, 87-8). O “famoso processo” era justamente aquele contra os Socialistas Revolucionários (de cujas fileiras já surgira Fania — ou Dora — Kaplan, considerada responsável pelo atentado contra Lenin em 1918), acusados de atividades contrarrevolucionárias e verdadeiros atos terroristas em detrimento do poder soviético.
Novos dados e pesquisas recentes
Nos últimos anos, vários elementos vieram se somar aos já conhecidos, tornando progressivamente mais necessária uma redefinição do quadro interpretativo habitual. A cronologia mais recente e detalhada da vida de Gramsci, contida no primeiro volume doEpistolário (parte da Edição Nacional começada em 2007), nos confirma que, em 8 de junho de 1922, Gramsci “foi nomeado defensor político de L.V. Konopleva no processo contra os socialistas revolucionários que se abre em Moscou”, do qual a IC então decide participar, e que “terminará em 8 de agosto” (Gramsci 2010, 433). Segundo a historiadora Irina Grigorieva, “com toda a probabilidade, Gramsci esteve presente no processo e escutou o depoimento de Konopleva”, mas não “desempenhou seu papel de defensor: nos dias em que se aproximavam o encerramento da investigação judicial [subdenoe sledstvie] e a abertura dos debates (com a intervenção dos defensores neles prevista), [Gramsci] ficou doente e foi para o sanatório” (Grigorieva 1998, 106-7).
Pelos documentos recolhidos por Gabriele Nissim para seu livro sobre Luciana e Gino De Marchi, ficamos sabendo que, em 6 de julho, este último recebeu a visita de Gramsci no campo prisional de Vladykino — no qual De Marchi, ex-membro do comitê central da Federação Juvenil Comunista Italiana, fora encarcerado sob acusação de espionagem (Nissim 2007, 151). Além disso, por uma carta de Mátyás Rákosi, membro da Executiva da IC, sabe-se que Gramsci “mora atualmente — a carta é de 1º. de agosto — numa pequena casa” a oito quilômetros de Moscou, junto com Clara Zetkin, “recebe tratamento ad hoc e, se há necessidade, atendimento médico” (agora em Gramsci 2010, 206, nota 1). Por fim, sempre a cronologia contida no primeiro volume do Epistolário nos informa da participação de Gramsci nos trabalhos da Executiva e do Presidium da IC, em particular nas reuniões do Presidium de 14 de julho, 6 de agosto e 1º. de setembro.
Os dados que surgiram, como se vê, são variados e notáveis. Antes de mais nada, mostram que estes meses não foram, para Gramsci, de “permanência” no sanatório: a internação foi interrompida pela participação em reuniões e outros compromissos políticos fora do sanatório. No entanto (como muitas vezes acontece em casos semelhantes), a frequente reiteração do quadro interpretativo tradicional parece ter enfraquecido o trabalho de redefinição e aprofundamento de alguns detalhes não supérfluos: a própria Grigorieva, por exemplo, confirma a ideia de um Gramsci então enclausurado no sanatório e por isso incapaz, no início de agosto, de assistir à XII Conferência do Partido Comunista Russo (bolchevique). Tal trabalho de redefinição e aprofundamento, contudo, é necessário, dada a importância dos temas em questão: em particular, o envolvimento mais ou menos efetivo de Gramsci no processo contra os Socialistas Revolucionários e sua participação nos trabalhos da mencionada conferência. De fato, trata-se de temas significativos, que poderão servir para iluminar melhor uma questão historiográfica geral, ainda viva e essencial, como a da experiência direta que Gramsci teve do comunismo soviético.
Gramsci e a XII Conferência Panrussa
Com referência à participação de Gramsci na XII Conferência do Partido Comunista Russo (bolchevique), gostaríamos de assinalar uma série de documentos que oferecem alguns motivos para prosseguir no trabalho de redefinição da atividade gramsciana nos meses que precedem o congresso da IC. Em particular, os textos que vamos discutir acrescentam informações relevantes para esclarecer adicionalmente o que Gramsci fez em agosto de 1922, apesar do cansaço e da debilidade física.
Comecemos pela imprensa italiana da época. Em 18 de agosto de 1922, aparece em La Stampa um breve texto baseado em “telegrama de Moscou” da agência Northern News Service, datado de “Paris, 17, manhã”. Nele se lê que “o congresso do Partido Comunista encerrou sua sessão ontem com um debate movimentadíssimo”; que, em nome do “Partido Comunista Alemão, Clara Zetkin pronunciou discurso bastante longo e aclamado, no qual pediu a aplicação da pena de morte aos condenados socialistas revolucionários”; e que “Rappoport, em nome dos comunistas franceses, e Gramsci, para os italianos, pronunciaram discursos mais curtos e mais moderados”. Estas informações são confirmadas por um artigo publicado poucos dias depois em L’Ordine Nuovo diário:
Antes do encerramento do congresso do Partido, que terminou seus trabalhos em 8 de agosto, vários delegados estrangeiros tomam a palavra. Clara Zetkin, aclamada por todos os congressistas, faz um elogio entusiasta da obra grandiosa realizada pela Revolução Russa e pela III Internacional. Ela apela à ação metódica e organizada.Charles Rappoport, em nome do Partido Comunista Francês, expõe a situação do movimento comunista na França. O companheiro Gramsci fala do movimento comunista na Itália.
À parte as discrepâncias de data (e a imprecisão terminológica, que leva a falar de “congresso”), trata-se de indícios substancialmente convergentes, que não podem deixar de fazer pensar na designação de Gramsci (já assinalada por Somai, com base em documento doPresidium da IC) para participar da “conferência” do partido russo realizada em Moscou entre 4 e 7 de agosto. E, de fato, ao verificar os anais da XII Conferência do Partido Comunista Russo (bolchevique), pode-se constatar a presença de uma intervenção de Gramsci que, pelo que nos consta, foi até aqui esquecida (tanto que para Somai, como vimos, Gramsci não teria sequer cumprido a tarefa que lhe atribuíram). Reportamos na íntegra, em apêndice, a intervenção gramsciana. Aqui gostaríamos de nos limitar a reconstruir brevemente a gênese deste texto e mencionar algumas possíveis implicações interpretativas.
Em abril de 1922, logo depois do XI Congresso do Partido Comunista Russo, Stalin se tornara secretário-geral, sem um verdadeiro debate público e apesar de só ser conhecido em círculo bastante restrito de militantes e funcionários. No final de maio a saúde de Lenin sofreu um primeiro abalo. A XII Conferência tributou-lhe calorosa saudação, congratulando-se por seu pleno restabelecimento; em realidade, sua capacidade de trabalhar estava por ora comprometida e só retornaria temporariamente durante o outono e o inverno seguintes. Sob a aparente unidade e normalidade das transformações em curso, os dilaceramentos internos começavam a se acirrar e a se difundir, assim como as desconfianças iniciais com os métodos e a acumulação de poder de Stalin.
Stalin, precisamente, é quem abriu os trabalhos da XII Conferência, na qual estavam presentes muitos expoentes do partido: Kalinin, Kamenev, Kuibichev, Molotov, Radek, Rikov, Tomski. Este encontro deu resultados significativos: reviu-se o estatuto, em particular as regras de admissão de novos membros e de organização e funcionamento dos órgãos regionais, e aprovaram-se resoluções relativas ao padrão de vida dos funcionários, ao trabalho nas cooperativas, à política externa, ao então iminente congresso da IC e, sobretudo, às tendências e aos partidos hostis ao poder soviético (Cadetes, Mencheviques, Socialistas Revolucionários). De fato, o perigo de que tais partidos ainda tivessem simpatizantes e de que tendências burguesas pudessem se revitalizar na situação criada com a introdução da Nova Política Econômica alarmava o partido de modo considerável. Grigori Zinoviev falou amplamente sobre as contramedidas a ser adotadas, destacando a necessidade de equilibrar persuasão e coerção. Esta última não pode barrar o movimento histórico da classe social progressista, ao passo que seu emprego é legítimo e eficaz — segundo Zinoviev e segundo as resoluções da conferência — para varrer definitivamente o movimento retrógrado de grupos sociais agonizantes que continuavam a hostilizar a ascensão do proletariado. Em todo caso, segundo Zinoviev, naquela fase da experiência soviética a eficácia da repressão não devia ser sobrevalorizada. Em alguns campos específicos, particularmente importantes, uma preparação melhor e uma maior influência ideológica por parte dos comunistas deviam absolutamente acompanhar a repressão violenta contra seus adversários: era o caso da cooperação e do sindicato, bem como da cultura e da educação, em particular na universidade.
O Arquivo Estatal Russo de História Sociopolítica (Rgaspi, Moscou) conserva a ficha pessoal (litchnaia anketa) que Gramsci assinou, em 3 de agosto de 1922, como todos os demais delegados esperados na conferência, na qual se lê que ele participaria na qualidade de delegado com voto consultivo (s soveshtchatelnym golosom). Gramsci fez uso da palavra durante a V Sessão da conferência, em 7 de agosto (no dia seguinte à reunião do Presidiumda IC, da qual participara). Em 8 de agosto de 1922, o Pravda mencionou o “discurso de saudação” do “companheiro Gramsci” e, no dia seguinte, publicou um resumo deste discurso, anunciando previamente que fora pronunciado em italiano e traduzido pelo “companheiro Rappoport”. Charles Rappoport, nascido na Lituânia em 1865, refugiado do império czarista e transformado em figura de destaque do movimento operário francês e internacional, depois de terminar o próprio discurso traduziu as palavras de Gramsci em russo, mesmo se desculpando — de acordo com a transcrição estenográfica — por só poder transmitir “os conceitos fundamentais”. Por fim, logo em seguida ao discurso de Gramsci, o presidente da sessão, Jaroslavski, apresentou um informe atualizado sobre o processo contra os Socialistas Revolucionários: o tribunal revolucionário — foi o que disse — ainda se encontrava em fase de deliberação e, portanto, nada se sabia sobre o veredito. Jaroslavski prometeu dar novas informações aos delegados naquela noite.
Este episódio, com outros dados que surgiram em anos recentes, tem implicações para a interpretação da biografia intelectual e política de Gramsci. Está confirmada — e mais definida — a tendência a ver o período russo como muito mais denso de experiências ativas do que se pensava até algumas décadas atrás: em particular, mesmo nos primeiros meses na Rússia, Gramsci, apesar de todas as difíceis condições de saúde, trabalhou e manteve contatos significativos com a vida política do Partido Comunista Russo (bolchevique) e da Rússia soviética, bem como com a IC. Isso ajuda a compreender, entre outras coisas, de que modo Gramsci pôde amadurecer certa familiaridade com “fatos conhecidos em âmbito restrito do partido bolchevique”, “pouco conhecidos ou desconhecidos pelos companheiros italianos” (Bergami 1991, 120-1): familiaridade que, como demonstrou há alguns anos Giancarlo Bergami, emergirá no início de 1924 durante os debates internos do Partido Comunista da Itália, relativos às duras controvérsias entre os líderes bolcheviques e a formação de um novo grupo dirigente para o partido italiano.
Além disso, verificam-se afinidades de conteúdo entre a intervenção na XII Conferência do Partido Comunista Russo e o primeiro dos seis grupos de fragmentos autógrafos publicados por Somai no final dos anos 1970 e por ele datados, globalmente, do período 1922-1923, sem datação mais precisa para cada grupo de notas. De fato, a propósito da situação italiana as notas em questão falam de “déficit” no “orçamento estatal” e nas “administrações municipais e provinciais”, de “falta de crédito para a indústria”, bem como: “Governoimpossível. O governo é um agregado de ministérios nos quais os partidos fazem seus negócios. Dois bilhões para o Banco de Roma. Os fascistas: Ferrara e as obras públicas” (Gramsci 1979, 125). Esta última observação remete à vitoriosa prova de força fascista da primavera de 1922, quando, como explica Somai, “Mussolini ordenou às esquadras e aos sindicatos fascistas que ocupassem a cidade, nela concentrando os trabalhadores da província (40 mil), dirigidos por 20 mil esquadristas, para obter do governo obras públicas”.
A intervenção de Gramsci na conferência do Partido Comunista Russo parece aludir aos mesmos fatos e desenvolver pontos afins de argumentação. Nela existe menção a uma transferência de “2 bilhões” à Igreja, que provavelmente se refere ao encaminhamento recente de operações destinadas ao resgate do Banco de Roma, sobre o qual Gramsci ainda se deterá em artigo de março de 1924 (agora em Gramsci 1973, 220-4). E se encontram juízos sobre as ilusões reformistas que dominaram o PSI, afins àqueles expressos nas notas em questão (Gramsci 1979, 129). Além disso, a mesma alusão à capacidade do proletariado de recolher em torno de si forças realmente revolucionárias, com que termina a intervenção na conferência, se encontra na conclusão do primeiro fragmento, dentro deste primeiro grupo de notas: “O proletariado é a única classe unitária com fundamento econômico. Só ele pode agrupar em torno de si todas as forças revolucionárias” (126).
Por fim, só mencionemos as possíveis implicações que a participação na conferência de agosto de 1922 poderá ter para a interpretação de alguns conteúdos específicos do pensamento gramsciano. Como vimos, falando neste encontro do partido russo, Zinoviev aborda um tema que em seguida será central na reflexão carcerária de Gramsci, ou seja, a relação entre consenso e coerção, entre capacidade de expansão cultural e recurso à força repressiva. A reflexão gramsciana sobre a hegemonia se concentrará precisamente no equilíbrio entre estes dois termos e na complexidade deste equilíbrio nas sociedades ocidentais. Mas, na fase específica de que nos ocupamos, mais do que a convergência é significativa a distância entre as preocupações expressas por Zinoviev e as de Gramsci. Zinoviev então faz o ajuste de contas com a estabilização política europeia e a busca de novos equilíbrios sociais empreendida com a introdução da Nova Política Econômica. Em suma, o tema no qual se detém durante a conferência refere-se aos problemas de consolidação do poder soviético após a revolução. Ao contrário, Gramsci ainda está ligado à perspectiva da “revolução mundial” (evocada como fecho da própria intervenção), concentra-se na busca de estratégias eficazes para conquistar o poder e se detém, antes, na desagregação da ordem social burguesa: em particular, no fim, na Itália, de um consenso difuso (para além dos conflitos internos da sociedade capitalista) em torno dos princípios fundamentais do Estado liberal.
Em síntese, a análise proposta na saudação à XII Conferência vê o fascismo como confirmação extrema deste processo desagregador e, portanto, da existência de condições maduras para uma revolução proletária. Obviamente, não se verifica ainda, na análise proposta nesta intervenção, uma atenção ao fascismo como fase de reagregação da sociedade italiana, no quadro de um novo poder estatal que, no entanto, não altera sua natureza essencialmente capitalista — atenção que, como se sabe, aparecerá nos escritos de Gramsci nos anos seguintes. Também o paralelo entre fascistas e Socialistas Revolucionários — proposto por Gramsci em sua intervenção — parece substancialmente coerente com a formulação imediatamente revolucionária à qual ele continua por ora a se referir, em linha com a maioria do PCd’I. De fato, Gramsci insiste na necessidade de ter um partido coerentemente revolucionário, homogêneo e autônomo, ao mesmo tempo que liquida qualquer compromisso social-democrata como obstáculo à ascensão do proletariado. Esta ascensão é considerada possível no atual contexto italiano, em que a ação dos fascistas parece até facilitar a indispensável separação entre os mesquinhos elementos reformistas do PSI e as massas revolucionárias (cf. o artigo “Un anno”, publicado em L’Ordine Nuovo, 15 jan. 1922, agora em Gramsci 1973, 155-9). Nesta ótica, tanto a tradição socialista quanto a novidade fascista — na qual Gramsci destaca, não casualmente, a presença de toda uma série de “renegados” — lhe parecem formas mais ou menos explícitas, mais ou menos extremas, de distanciamento do proletariado e colaboração com a burguesia. Assim, ele pode colocar num mesmo plano o fascismo e um movimento político como o dos Socialistas Revolucionários, em grande parte hostil ao comunismo soviético, mas ligado à tradição socialista internacional (em defesa dos Socialistas Revolucionários se alinharam expoentes do socialismo reformista, entre os quais o belga Émile Vandervelde, um dos maiores protagonistas da recente reconstituição da Segunda Internacional).
A saudação à XII Conferência do Partido Comunista Russo, portanto, oferece indicações interessantes para precisar a interpretação gramsciana não só do fascismo, na fase em que este está prestes a tomar o poder, mas também da crise do PSI. Por outra parte, como se sabe, sobre os desdobramentos desta crise o PCd’I estava em desacordo com a IC. Gostaríamos de acrescentar ainda algumas considerações sobre este desacordo.
A divergência com os líderes da Internacional
Justamente no período em que se desenrolou a XII Conferência, estavam emergindo fortes divergências entre a IC, então convencida da necessidade de colaboração com outros componentes do movimento operário italiano, e o PCd’I, que, sob a direção de Amadeo Bordiga e em linha com as decisões do próprio congresso realizado havia pouco em Roma, se entrincheirava em posição não só de hostilidade contra os socialistas reformistas, mas também de particular desconfiança em relação ao líder maximalista Giacinto Menotti Serrati. Zinoviev, naquele período à frente da IC, condenava este sectarismo do PCd’I de modo severo e pretendia uma revisão. A IC pensava em novo partido unificado com frações do PSI e, exatamente no início de agosto, Gramsci e Ersilio Ambrogi, seu colaborador, informam o partido italiano sobre o apoio oferecido pela IC à fração terceiro-internacionalista de Fabrizio Maffi, “à revelia do Partido italiano e com a consciência de realizar ação absolutamente contrária ao plano tático de nosso partido” (Gramsci 2010, 208). A IC, assim, passava por cima do PCd’I e parecia pôr em questão sua própria existência organizacional autônoma. É neste contexto que se deve colocar a afirmação, repetida várias vezes e sem hesitação por Gramsci na saudação à XII Conferência, de que o único partido realmente revolucionário, na Itália, é o Partido Comunista. Ele reconhece que no passado o proletariado italiano pode ter decepcionado as expectativas dos bolcheviques, mas parece imputar isso exatamente à inconsistência dos velhos dirigentes socialistas, seja reformistas, seja maximalistas.
Naqueles dias Gramsci estava polemizando, pessoalmente e por carta, com Karl Radek e com Zinoviev. Agora, apesar da natureza da própria intervenção — uma saudação curta — e da autoridade e do papel proemiente que Zinoviev demonstrou durante a conferência, Gramsci, intervindo em nome do partido italiano, reitera implicitamente as posições da maioria do PCd’I já expostas pessoalmente a Radek, a Rákosi e a Zinoviev nos dias anteriores (Gramsci 2010, 196-200, 208-13). É possível que Gramsci haja feito isso não só para mostrar firmeza, mas também por sentir a necessidade de dialogar e buscar apoio fora deste círculo restrito de dirigentes que, no Presidium da IC, estava intensificando a pressão sobre os comunistas italianos. De fato, sobre este ponto, precisamente nestes meses Gramsci teve uma primeira e intensa experiência de métodos que tendiam antes a impor burocraticamente ideias preconcebidas do que a reconhecer e tentar mediar divergências. A carta que Ambrogi e Gramsci enviam à executiva do partido italiano, em 3 de setembro (agora em Gramsci 2010, 236-45), chega às seguintes conclusões:
Fica em nós a impressão da aparência de um Presidium que, na realidade, não funciona, e tudo é regulado segundo a vontade de alguns poucos dirigentes sem dúvida devotados à Internacional, mas não infalíveis, e decididos a fazer triunfar a todo custo suas ideias: coisa ainda mais perigosa na medida em que estes dirigentes pouco se preocupam com nossas opiniões, só confiando, ao contrário, nas informações de seus funcionários, os quais naturalmente têm a mentalidade de todos os funcionários.
Se, quanto ao mérito, Gramsci se mostrará bem cedo consciente dos limites da linha bordiguiana e se aproximará daquela da IC, conduzindo “em 1923-1924 [...], no partido italiano, uma batalha de realinhamento com as posições do Komintern” (Paggi, 1984, xxi), na questão dos métodos se pode apreender, desde estes primeiros meses russos, o início do percurso que levará Gramsci a expressar, nas famosas cartas de outubro de 1926, “a mais precoce denúncia das degenerações do modelo soviético havida na história do comunismo entre as duas guerras” (xxii).
A saudação de Gramsci na XII Conferência Panrussa do Partido Comunista Russo (bolchevique)
Presidente — Para as saudações, a palavra passa ao representante do Partido Comunista Italiano no Komintern, o companheiro Gramsci.
O discurso do companheiro Gramsci será traduzido pelo companheiro Rappoport.
Rappoport — Companheiros, peço desculpas ao companheiro Gramsci se algumas palavras não serão traduzidas; vou lhes transmitir os conceitos fundamentais. O companheiro Gramsci fala, antes de mais nada, da situação criada após os últimos acontecimentos e diz que se pode considerar a burguesia moralmente falida. Na Itália, neste momento não há governo: burguês, socialista ou anarquista; não há nenhum governo. Existem algumas pequenas camarilhas autônomas que têm o controle do país. Ele fala em seguida das ações dos fascistas. Estes mataram mais de 5 mil operários, feriram mais de 30 mil, destruíram 500 cooperativas, devastaram 1.500 administrações municipais. Vejam as condições trágicas em que se encontra o proletariado.
Quanto ao Partido Socialista, ele também atravessa um período de completa desagregação, acreditou em variados reformismos e no fato de que se podia superar pacificamente o movimento criminoso dos centoneri fascistas. No entanto, como demonstra a experiência, o Partido Socialista se equivocou e, na Itália, só resta o Partido Comunista para conduzir a luta.
O companheiro Gramsci propõe um interessante paralelo entre os esseristas [Socialistas Revolucionários] e os fascistas, por mais que possa parecer estranho à primeira vista. No entanto, conhecendo seus membros, pode-se afirmar que o fascismo surgiu com base na mesma psicologia da qual surgiram os esseristas. Ex-anarquistas e terroristas também são agora colaboradores da burguesia. Seu chefe é o renegado Mussolini e em suas fileiras se encontra uma massa de socialistas e anarquistas renegados. Os fascistas são apenas mais francos do que os esseristas e logo se livraram de qualquer máscara. Deste modo, a burguesia, inteiramente desorientada diante dos ataques terroristas dos fascistas, não sabendo o que fazer, dirige-se à Igreja em busca de ajuda, fornece a ela quantias enormes e recentemente lhe deu dois bilhões. Quando no exterior se fala de dois bilhões, não se deve esquecer que não se trata de bilhões russos. O déficit é enorme. A burguesia se recusa a fazer qualquer forma de sacrifício financeiro.
Estes fatos constituem, sem dúvida, condições maduras para uma revolução. Não existe outro partido capaz de representar um centro sério de oposição aos elementos do velho sistema já em decomposição, a não ser o Partido Comunista.
O partido reformista de Serrati se dividiu, e é o Partido Comunista que agrupa cada vez mais em torno de si os elementos revolucionários verdadeiramente vitais. E o proletariado italiano, que lhes deu tantas esperanças e que em algumas ocasiões os decepcionou, este proletariado italiano, guiado pelo Partido Comunista, o único partido revolucionário, recolherá cada vez mais forças, realizará sua revolução, instaurará o regime soviético e, em estreita união com a Rússia dos sovietes, contribuirá para o triunfo da revolução mundial.
Nota
A carta de Antonio Gramsci de março de 1924 está recolhida em Lettere 1908-1926, org. Antonio A. Santucci, Turim, Einaudi, 1992, p. 253-65 (o trecho citado está na p. 262), e é endereçada a Mauro Scoccimarro e Palmiro Togliatti.
No fim dos anos 1970, Giovanni Somai realizou importantes pesquisas de arquivo: “Quattro lettere da Mosca di Gramsci e Ambrogi”, Il Ponte, XXXIV, 9 (set. 1978), p. 1026-51; Gramsci a Vienna. Ricerche e documenti 1922-1924, Urbino, Argalía, 1979. Suas afirmações de 1982, por isso, são prestigiosas e particularmente significativas.
Sobre a designação de Gramsci como defensor de Konopleva, veja-se: Pravda, 9 jun. 1922, p. 3; International Press Correspondence (edição em língua inglesa do periódico da IC), II, 47 (12 jun. 1922), p. 350; L’Ordine Nuovo, 14 jun. 1922, p. 1. O cotidiano comunista dá certo destaque à figura de Lidia V. Konopleva, da qual fala Trotski (em textos publicados emL’Ordine Nuovo, 8 jun. e 4 jul.) e se reportam “sensacionais confissões” (16 jun.), além de um depoimento (23 jul.). Desde o início associado às atividades terroristas dos Socialistas Revolucionários, o nome de Konopleva foi recentemente indicado como o da verdadeira autora — em lugar de Kaplan — do atentado contra a vida de Lenin em 1918 (veja-se Arkadij Vaksberg, Le laboratoire des poisons, trad. francesa de L. Jurgenson, Paris, Gallimard, 2008, p. 22-4). No processo de 1922, Lidia Konopleva não fazia parte do grupo que “incluía os verdadeiros acusados”: estava no segundo grupo, cuja “tarefa era confessar os próprios crimes e incriminar os acusados do primeiro grupo” (Marc Jansen, A Show Trial under Lenin: The Trial of the Socialist Revolutionaries, Moscow, 1922, Haia, Nijhoff, 1982, p. 53-4).
Os artigos dos quais extraímos as informações sobre a participação de Gramsci na XII Conferência do partido russo são: “L’aspra lotta a Mosca tra moderati ed estremisti”, La Stampa, 18 ago. 1922, p. 4; “La Conferenza del Partito Comunista russo”, L’Ordine Nuovo, 27 ago. 1922, p. 3; “Vserossiskaia Konferencia RKP. Privetstvie t. Rappoporta”, Pravda, 8 ago. 1922, p. 3; “Vserossiskaia Konferencia RKP. Privetstvie konferencii t. Gramsci”, Pravda, 9 ago. 1922, p. 4. Veja-se também “Vserossiskaia Konferencia. Treti den’ konferencii: utrennee zasedanie 7-go avgusta”, Ekonomitcheskaia Jizn, 8 ago. 1922, p. 2. A ficha pessoal de Gramsci — preenchida em russo — encontra-se em Rossiski Gosudarstvenny Arkhiv Socialno-Polititcheskoi Istorii (Rgaspi), f. 49, op. 1, d. 6, l. 16. Seu nome figura na lista dos delegados com voto consultivo: f. 49, op. 1, d. 3, l. 432-5. Os seis delegados que participavam como representantes do Komintern, entre os quais Gramsci, estiveram todos presentes: l. 424.
L’Ordine Nuovo deu amplo destaque às palavras pronunciadas por Zinoviev durante a conferência: vejam-se “Nuove lotte e nuova tattica del Partito Comunista Russo”, publicado na edição de 24 de agosto de 1922, e “La Conferenza del Partito Comunista russo”, cit. Veja-se, também, o discurso de Zinoviev e os trechos das resoluções publicados pela International Press Correspondence, II, 71 (23 ago. 1922), p. 532.
As resoluções da XII Conferência estão disponíveis em: RKP(b) Konferencia 12-ja (Moskva 1922). Postanovlenia i rezoliucii, Moscou, Izd. Otd-nie RKP, 1922.
A comunicação de Jaroslavski sobre a sentença relativa aos Socialistas Revolucionários se encontra em: Rgaspi, f. 49, op. 1, del. 3, l. 335.
Sobre o resgate do Banco de Roma, por parte de um consórcio para subsídios industriais dirigido pelo Banco da Itália, veja-se: Piero Sraffa, “L’attuale situazione delle banche italiane”, publicado no Manchester Guardian Commercial, 7 dez. 1922 (e agora recolhido em Saggi, Bolonha, Il Mulino, 1986, p. 239-44). As afirmações de Gramsci podem ser relacionadas a alguns dos dados discutidos por Sraffa, que também se ocupara da crise bancária italiana em “The Bank Crisis in Italy”, The Economic Journal, XXXII, 126 (jun. 1922), p. 178-97 (agora em Saggi, p. 217-38). Em carta de março de 1923, Gramsci, que estava em contato com Sraffa desde 1919, descreve este último como “um especialista em questões bancárias [...] que forneceu a L’Ordine Nuovo muito material sobre questões reservadas” (Lettere 1908-1926, cit., p. 115). Além disso, pode-se ver Pasquale Saraceno, “Salvataggi bancari e riforme negli anni 1922-1936”, in Banca e industria fra le due guerre, v. 2: Le riforme istituzionali e il pensiero giuridico, Bolonha, Il Mulino, 1981, p. 15-61. Ao Banco de Roma estavam ligados vários bancos e organizações católicas, e em certos períodos o Banco sustentou financeiramente seja a imprensa católica, seja o próprio Partito Popular [antecessor da Democracia Cristã — N. do T.].
Lev Trotski também se refere a um parcial paralelismo entre a traição dos Socialistas Revolucionários e o de Mussolini, em “Il tradimento e il dovere rivoluzionario”, L’Ordine Nuovo, 4 jul. 1922, p. 3. Além disso, sobre a presença nos “fasci de combate” de “elementos socialistas, anarquistas, sindicalistas e republicanos”, veja-se o artigo gramsciano, de novembro de 1922, “Le origini del gabinetto Mussolini” (Gramsci 1973, p. 171).
Para um testemunho adicional do mal-estar de Gramsci diante do modo de proceder dos líderes da IC, remetemos ao esboço de carta a Zinoviev, com que se fecham os apontamentos de Gramsci dos anos 1922-1923, recolhidos por Somai (Gramsci 1979, p. 139).
Depois de deixar o país no final de 1923, Gramsci encontra dificuldade para obter atualizações constantes e detalhadas sobre os debates que se desenrolam na Rússia; além disso, deve-se considerar sua fidelidade a algumas posições do último Lenin, o respeito pela IC e a convicção de que o velho grupo leninista efetuou obra revolucionária de alcance epocal. Estes fatores parecem se opor, neste período, tanto a um aprofundamento interior quanto a uma elaboração explícita da própria insatisfação com os métodos dos dirigentes bolcheviques, que Gramsci, de fato, só expressará com maior clareza em 1926, nas cartas de 14 e 26 de outubro: veja-se Gramsci a Roma, Togliatti a Mosca. Il carteggio del 1926, org. por Chiara Daniele, com ensaio introdutório de Giuseppe Vacca, Turim, Einaudi, 1999 (as cartas em questão estão nas p. 104-12 e 435-9).
A intervenção de Gramsci na Conferência Panrussa está reproduzida em Vserossiskaia Konferencia R.K.P. (Bolshevikov). Biulletin, 3, impresso em 8 de agosto de 1922, p. 23-4, consultado na biblioteca do Rgaspi. O registro estenográfico original, em que se baseou a tradução italiana por nós proposta, está em f. 49, op. 1, del. 3, l. 332-4. Talvez seja oportuno fornecer esclarecimentos filológicos a este respeito. O registro estenográfico, de fato, contém várias imprecisões. Não casualmente, durante a V Sessão, Zinoviev pediu a palavra para lamentar os erros presentes no apanhado de seu discurso, a ponto de ter sido distorcido o sentido de alguns trechos. Em alguns casos, o texto impresso em 8 de agosto e o publicado no Pravda no dia seguinte, forneceram elementos válidos de comparação. Em particular, no estenograma lemos: “Este proletariado, que comanda o Partido Comunista, o único verdadeiro partido revolucionário [...]”. O impresso corrige, invertendo os termos da relação entre proletariado e Partido Comunista e tornando este último o agente da passiva, correção aceita também pelo Pravda. No entanto, não adotamos uma variante, presente no impresso, relativa ao trecho sobre Serrati: “O dividido partido reformista de Serrati e o Partido Comunista estão agrupando [sgruppirovyvajut] em torno de si todos os elementos revolucionários verdadeiramente vitais” (p. 24). A lição do apanhado estenográfico, à qual nos ativemos, é: “Raskotolaia reformiststaia partia Serrati i postepenno kommunistitcheskaia partia vokrug sebia sgruppirovyvaet [...]”. Esta referência a Serrati não aparece no texto publicado pelo Pravda.
Os escritos citados de forma abreviada, só com nome e ano entre parênteses, são: Giancarlo Bergami, “L’esperienza di Gramsci nel Comintern”, Nuova Antologia, CXXVI, 2179 (1991), p. 149-59; Giuseppe Fiori, Vita di Antonio Gramsci, Bari, Laterza, 1966; Antonio Gramsci, Sul fascismo, org. por Enzo Santarelli, Roma, Riuniti, 1973; “L’Internazionale, il Psi, il fascismo”, org. por Giovanni Somai, Critica comunista, I, 3 (jun.-jul. 1979), p. 117-39; La nostra città futura. Scritti torinesi 1911-1922, org. por Angelo d’Orsi, Roma, Carocci, 2004; Epistolario, v. 1: jan. 1906-dez. 1922, org. por David Bidussa et al., Roma, Istituto dell’Enciclopedia Italiana, 2010; Irina V. Grigorieva, “Rossiskie stranitchy biografii Antonio Gramši (1922-1926 gg.) po dokumentam arkhiva Kominterna”, Rossia i Italia, 3: XX vek, 1998, p. 96-123; Gabriele Nissim, Una bambina contro Stalin, Milão, Mondadori, 2007; Leonardo Paggi, Le strategie di potere in Gramsci, Roma, Riuniti, 1984; Salvatore F. Romano, Antonio Gramsci, Turim, Utet, 1965; Giovanni Somai, “Sul rapporto tra Trockij, Gramsci e Bordiga (1922-1926)”, Storia contemporanea, XIII, 1 (fev. 1982), p. 73-98.
FONTE: Gramsci e o Brasil
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