Vem aí o aguardado Livro II de O capital, de Marx, sobre o processo de circulação do capital. A edição será a primeira no mundo a basear-se no conjunto publicado recentemente pela MEGA-2, considerada por muitos estudiosos a versão definitiva da obra – com documentos inéditos, a edição reconstrói os manuscritos em sua totalidade, preservando os apontamentos e as lacunas do texto. O livro já está em gráfica, e chega às livrarias junto com o guia de leitura, de David Harvey, Para entender O Capital, Livros II e III.
O capital [Livro II]
Crítica da economia política. Livro II: O processo de circulação do capital
Karl Marx
Coleção Marx e Engels
A Boitempo lança em novembro, pela Coleção Marx-Engels, o Livro II de O capital, clássico originalmente publicado em 1885 na Alemanha. O volume, peça imprescindível para a compreensão plena do Livro I, trata de forma abrangente do processo de circulação do capital, desde o consumo até a distribuição. Um dos pontos importantes examinados por Marx é a relação entre o tempo de produção e o tempo de circulação para a realização plena do mais-valor já criado. A edição ganha no Brasil textos adicionais inéditos selecionados por Rubens Enderle, especialista na obra de Marx e também responsável pela tradução da obra diretamente do alemão.
A edição da Boitempo é a primeira no mundo a basear-se no conjunto publicado recentemente pela MEGA-2 (Marx-Engels- Gesamtausgabe), instituição detentora e curadora dos manuscritos de Karl Marx e Friedrich Engels, considerada por estudiosos a edição definitiva d’O capital de Marx. Esses documentos, que nunca haviam sido traduzidos para o português, permitiram a reconstrução dos manuscritos em sua totalidade.
Além disso, o Livro II recebe o acréscimo de treze textos originais de Marx descartados por Engels em sua edição da obra. Os excertos compõem o apêndice da edição brasileira e dão um panorama único e nunca antes visto dos rascunhos iniciais de Marx, mostrando os seus primeiros passos para desenvolver conceitos-chave de sua teoria, como esquemas e processo de reprodução. Com a nova edição, o leitor tem a chance de debater a teoria marxiana a partir das impressões do próprio autor.
A edição da Boitempo indica as intervenções feitas por Engels na estrutura da obra – ou seja, na organização dos temas, na divisão das seções, dos capítulos (e subcapítulos) e nos títulos a eles eventualmente conferidos. O volume traz ainda um prefácio à edição brasileira, assinado pelo cientista político alemão Michael Heinrich, professor de economia na Universidade de Ciências Aplicadas, em Berlim, e colaborador na MEGA-2.
Em seu texto, Heinrich desmitifica a má fama do Livro II – a parte mais subestimada de O capital –, considerado uma leitura bastante árida sobre as formas cíclicas e os movimentos de rotação do capital. O Livro I é considerado uma obra prima, do ponto de vista tanto do conteúdo como do estilo; o Livro III aborda as relações concretas – lucro e crise, crédito e capital acionário – que determinam o cotidiano capitalista. E o Livro II? “Na realidade, esse volume tem uma enorme importância para a compreensão da crítica econômica marxiana – e por duas razões totalmente distintas: a primeira diz respeito à matéria nele tratada; a segunda, à posição que os manuscritos desse volume ocupam no processo de formação da obra magna de Marx. Sua importância está sobretudo em apresentar o capital como unidade dos processos de circulação e de produção”, afirma ele.
O professor de sociologia da Unicamp Ricardo Antunes defende que o Livro II de O capital oferece pistas para se compreender e atualizar a teoria do valor-trabalho, presente em fenômenos contemporâneos, como o papel predominante das tecnologias de informação, dos novos serviços e da produção imaterial. “Ao contrário do fim do valor, tão alardeado há décadas, o que o mundo produtivo vem presenciando é a expansão sem limites de novas formas geradoras do valor, ainda que sob a aparência do não-valor", enfatiza Antunes.
O Livro II de O capital, será seguido pela publicação do Livro III, que trata do processo global de produção do capital, previsto para 2015.
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