"Foi uma manifestação de direita, com símbolos da suástica, do nazifascismo, da TFP (Sociedade Brasileira de Defesa da Tradição, Família e Propriedade)."
Memorial Luiz Carlos Prestes é alvo de protesto contra o comunismo
Em parte dos cartazes deixados pelos manifestantes, havia inscrições como "devemos derrubar o memorial"
Por Eduardo Rosa
O Memorial Luiz Carlos Prestes, prédio de Porto Alegre projetado pelo arquiteto Oscar Niemeyer, foi alvo de uma manifestação neste sábado. Cartazes, cruzes e coroa de flores foram fixados na grade da construção, situada à beira do Guaíba.
A data escolhida tem relação com os 25 anos da queda do Muro de Berlim, conforme o cientista político Paulo Moura, que ajudou a promover o ato.
— Ele (Prestes) está sendo vendido como um herói da pátria, aquele local será objeto de visitação pública. As pessoas que estão promovendo o evento acham que aquilo é para idolatrar um líder comunista que tentou produzir um golpe em 1935 com a Coluna Prestes — afirma o coordenador do curso de Ciências Sociais da Ulbra.
Os cartazes e faixas fixados na grade do prédio iam de "abaixo ao comunismo" até "devemos derrubar o memorial ao comunista Prestes" e "tear down this wall (derrube este muro, em inglês)".
— Era um ambiente raivoso de ódio. Constatei à tarde, fui chamado por quem passou por aqui e viu. Claramente, foi uma manifestação com dizeres agressivos à democracia, contra o Foro de São Paulo, os comunistas, o Luiz Carlos Prestes, a libertação dos povos — critica Edson Santos, presidente do Instituto Olga Benário Prestes, que não chegou a ver a movimentação de pessoas, apenas o material deixado por elas.
Santos diz que serão estudadas providências do ponto de vista jurídico e político para o que ele chamou de "ato fascista":
— Foi uma manifestação de direita, com símbolos da suástica, do nazifascismo, da TFP (Sociedade Brasileira de Defesa da Tradição, Família e Propriedade).
Moura salienta que não tem como responder por quem fez esse tipo de cartaz e que, nas manifestações políticas atuais, cada um escreve o que quer.
— Uma das características das manifestações hoje em dia é que as pessoas manifestam seu desejo individual. Você não controla o que cada um bota no seu cartaz. Ninguém é dono da verdade de ninguém — explica o cientista político, acrescentando sua contrariedade à aprovação da doação do terreno por parte da Câmara de Vereadores.
Na página do Facebook criada para organizar o ato, havia o pedido para que não fossem levados cartazes e faixas pedindo intervenção militar. As sugestões eram para inscrições como "nossa homenagem às vítimas do comunismo", "fora Foro de São Paulo", "Prestes assassino", "queremos liberdade e democracia" e "fim do Muro de Berlim na Europa e no Brasil".
Quem foi Luiz Carlos Prestes
— Luiz Carlos Prestes nasceu em Porto Alegre no dia 3 de janeiro de 1898. Aos 26 anos, rebelou-se contra o governo de Arthur Bernardes e formou a Coluna Prestes, movimento que, a partir do Rio Grande do Sul, marchou por 25 mil quilômetros pelo Brasil e lutou 53 combates ao longo de dois anos e meio. Exilou-se na América Latina, quando teve contato com a doutrina marxista, e morou na União Soviética durante três anos, onde conheceu a militante alemã Olga Benário, com quem se casou.
— De volta ao Brasil e já integrante do Partido Comunista Brasileiro (PCB), foi preso com a mulher que, grávida, foi deportada para a Alemanha nazista. Cassado após o golpe de 1964, exilou-se na antiga União Soviética. Após a redemocratização, apoiou a candidatura de Brizola à presidência da República, em 1989. Morreu no ano seguinte.
FONTE: Zero Hora
Maquete do Memorial Luiz Carlos Prestes. Projeto de Oscar Niemeyer. |
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