sexta-feira, 4 de julho de 2014

"Lutar, ter esperança sem esperar!"


OLHO
Quanta angústia carrego aqui comigo
Neste meu olho que parece o mundo
Em cuja água se entorna lá do fundo

Cujo nervo óptico engaveta amigos

Eu Lacrimejo minha humanidade
E imponho-me um peito endurecido
Escudo-me de todo acontecido
E expurgo-me o temor sem vaidade

Ora (direi) quantas estrelas certas
Não foram torturadas na Alemanha?
Quantas razões não há pra esta façanha
Irracional destas razões desertas?

Direi agora, tresloucado amigo
Que o sofrimento inteiro ao céu de Gaza
Eu sinto em cheiro e sonho em minha casa
E eu vejo a dor do preso e do mendigo

E aquele que ali vai preso político
Ele parece sempre tão distante
Mas atrás da parede, neste instante
Morre junto ao menino que é raquítico

Morre junto ao viado de porrada
Junto à negra, ao judeu, índia, patético
Àquilo que é ridículo e poético
Morre junto à "vadia" estuprada

Morre o meu humor, morre a tua sorte
E morre a liberdade todo dia
E morre até a tristeza e a alegria
E quando então será que morre a morte?

E já que morre a noite calma e escura
Eu morro, céus, na aurora da existência
E acordo convencido à resistência
Endurecido e cheio de ternura

E quanto tempo nós seremos surdos?
E inertes diante da realidade?
Patrocinando sempre a impunidade
Desentranhada destes absurdos?

Criança que trabalha o dia inteiro
Em multinacionais, sede na China
E como não recordar a chacina
Na África do Sul, trinta mineiros

Do Iraque ao nordeste brasileiro
Do Líbano à Chacina da Maré
O mundo até caminha, mas de ré
E as mães de maio choram o ano inteiro

Mas isto que em meus olhos tanto arde
Que me aflige e enche todo o peito
Além da angústia me traz outro efeito
Lutar contra este mundo tão covarde

Lutar, ter esperança sem esperar!


Jonathan Mendonça, 08/11/2013

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