Há exatamente 76 anos atrás, em 27 de abril de 1937, morreu Antonio Gramsci, comunista italiano.
Cronologia da vida de Antonio Gramsci
Da edição brasileira dos Cadernos - 1999
1891
22 de janeiro. Nasce em Ales (Cagliari, Sardenha), filho de Francesco e Giuseppina Marcias, quarto de sete filhos (Gennaro, Grazietta, Emma, Antonio, Mario, Teresina, Carlo). O pai, filho de um coronel da polícia militar, nascera em Gaeta em 1860, descendente de uma família de origem albanesa. Concluído o ginásio, Francesco passa a trabalhar no cartório de Ghilarza, em 1881. Em 1883, casa-se com Giuseppina Marcias e, pouco tempo depois, transfere-se para Ales. A mãe, nascida em Ghilarza em 1861, era sarda por parte de pai e mãe e tinha parentesco com famílias ricas de sua cidade.
1894-96
Antonio tem saúde frágil. Aos quatro anos, cai dos braços de uma babá, fato que será depois relacionado com seu defeito físico (ele era corcunda). Pesquisas mais recentes atribuem esse defeito à doença de Pott, uma espécie de tuberculose óssea, diagnosticada somente no cárcere, mas que Antonio teria contraído desde a infância.
1897-98
O pai é afastado do emprego e, depois, preso e condenado, acusado de irregularidades administrativas. A mãe, com os sete filhos, volta a morar em Ghilarza. Antonio (cujo apelido familiar era "Nino") freqüenta a escola primária.
1903-05
Concluído o curso primário, em 1902, é obrigado, pelas difíceis condições econômicas da família, a trabalhar por dois anos no cartório de Ghilarza. Estuda em casa.
1905-08
Graças à ajuda da mãe e das irmãs, retoma os estudos e freqüenta os três últimos anos do ginásio em Santu Lussurgiu, a 15 quilômetros de Ghilarza. Em torno de 1905, começa a ler a imprensa socialista, sobretudo o jornal Avanti!, enviado pelo irmão mais velho, Gennaro, que prestava serviço militar em Turim.
1908-11
Concluído o ginásio em Oristano, ingressa no curso colegial em Cagliari. Vive com o irmão Gennaro, que trabalhava numa fábrica de gelo e era tesoureiro da Câmara do Trabalho local e, mais tarde, secretário de seção do Partido Socialista Italiano (PSI). Gramsci freqüenta o movimento socialista e participa ativamente dos grupos juvenis que discutem os problemas econômicos e sociais da Sardenha. Manifesta-se nele um profundo sentimento de rebelião contra os ricos, marcado pelo orgulho regionalista. Em 1910, publica em L´Unione Sarda o seu primeiro artigo. Remontam também a esses anos suas primeiras leituras de Marx, feitas -- como ele dirá depois -- "por curiosidade intelectual". Durante as férias, para ajudar nos gastos com a escola, faz trabalhos de contabilidade e dá lições particulares.
1911
No verão, conclui o segundo grau. Para poder inscrever-se na Universidade, decide concorrer a uma bolsa de estudos para alunos pobres do antigo Reino da Sardenha, uma bolsa de baixo valor, concedida apenas por dez meses ao ano. Em outubro, parte para Turim, onde presta o concurso (no qual também se inscreve Palmiro Togliatti) e obtém a bolsa. No mês seguinte, inscreve-se na Faculdade de Letras. Mora durante algum tempo com Angelo Tasca, companheiro de estudos e dirigente do movimento juvenil socialista.
1912
Nos primeiros meses como estudante universitário, vive isolado, sofrendo graves dificuldades materiais e padecendo de um esgotamento nervoso. Interessa-se particularmente pelos estudos de glotologia, realizando algumas pesquisas sobre o dialeto sardo. Freqüenta também o curso de literatura italiana ministrado por Umberto Cosmo. Nessa época, conhece Togliatti, de quem se torna amigo. Pouco tempo depois, fazem juntos uma pesquisa sobre a estrutura social da Sardenha.
1913
Estuda bastante, freqüentando no ano letivo 1912-1913 vários cursos nas Faculdades de Letras e de Direito. Contudo, por causa das precárias condições de saúde, não consegue prestar nenhum exame.
Outubro. Estando em Ghilarza, Gramsci adere ao "Grupo de ação e propaganda antiprotecionista", adesão registrada em La Voce, de 9 de outubro. Assiste na Sardenha à campanha eleitoral para as primeiras eleições italianas realizadas com sufrágio universal. Nos meses subseqüentes, estabelece seu primeiro contato com o movimento socialista de Turim, em particular com sua seção juvenil. É provável que remonte a essa época a inscrição de Gramsci na seção socialista de Turim.
1914
Lê assiduamente La Voce e L´Unità, jornais dirigidos respectivamente por Giuseppe Prezzolini e Gaetano Salvemini, importantes intelectuais italianos da época. Com alguns amigos, projeta fundar uma revista socialista. Gramsci se põe ao lado dos grupos mais radicais de operários e estudantes (socialistas, libertários, etc.), que formam em Turim a fração da esquerda revolucionária.
Outubro. Intervém no debate sobre a posição do PSI diante da guerra, com o artigo "Neutralidade ativa e operante" (Il Grido del Popolo, 31 de outubro), polemizando com o amigo Angelo Tasca, que era favorável à "neutralidade absoluta". Um dos seus professores informa à fundação que lhe concede a bolsa que "o jovem sofre periodicamente de crises nervosas que o impedem de cumprir plenamente suas tarefas acadêmicas".
1915
No inverno de 1914-15, segue um curso de filosofia teórica ministrado por Annibale Pastore, do qual recebe também aulas particulares. Em abril, presta exames de literatura italiana; depois disso, abandona a Universidade, embora -- pelo menos até 1918 -- pareça continuar afirmando sua intenção de graduar-se em glotologia.
No outono, volta a colaborar em Il Grido del Popolo, semanário socialista, com uma série de notas e artigos de tema social e literário. Em dezembro, passa a fazer parte da redação turinense do Avanti!, o cotidiano do PSI.
1916
Dedica-se a uma intensa atividade jornalística, como cronista teatral, redator de notas sobre costumes e polemista na coluna "Sotto la Mole" do Avanti! Um dos seus principais alvos é a retórica nacionalista. Pronuncia conferências nos círculos operários de Turim, tratando de temas como Romain Rolland, a Comuna de Paris, a Revolução Francesa, Marx, etc.
1917
Fevereiro. Quando ainda era (como dirá depois nos Cadernos) "sobretudo tendencialmente crociano", organiza e redige o número único de La Città Futura, uma publicação da Federação Juvenil Socialista do Piemonte, na qual publica os artigos "Três princípios, três ordens", "Indiferentes", "A disciplina" e "Margens", bem como escritos de Benedetto Croce e Salvemini.
Em alguns artigos e notas publicados em Il Grido del Popolo, em abril e julho, exalta a figura de Lenin e chama a atenção para o caráter socialista da Revolução Russa.
Setembro. Depois da rebelião operária de 23-26 de agosto e da prisão de quase todos os dirigentes socialistas de Turim, Gramsci se torna secretário da Comissão Executiva Provisória da seção turinense do PSI e assume, de fato, a direção de Il Grido del Popolo, ao qual dedica, até outubro de 1918, "boa parte de seu tempo e da sua freqüentemente tumultuada atividade".
18-19 de novembro. Participa em Florença da reunião clandestina da "fração intransigente revolucionária" do PSI, constituída no mês de agosto. Estão presentes a essa reunião, entre outros, Giacinto Menotti Serrati (principal líder da corrente maximalista, majoritária, do PSI) e Amadeo Bordiga (líder da fração maximalista abstencionista, e que seria depois um dos fundadores do Partido Comunista da Itália, PCI). Gramsci concorda com Bordiga sobre a necessidade de uma intervenção ativa do proletariado na crise provocada pela guerra.
Dezembro. Propõe a criação em Turim de uma associação proletária de cultura e afirma a necessidade de complementar a ação política e econômica dos socialistas com um organismo de atividade cultural. Com alguns jovens, funda um "Clube de vida moral", sobre o qual consulta o pedagogo idealista Giuseppe Lombardo Radice.
Nesse mesmo mês, trata da tomada do poder na Rússia pelos bolcheviques no famoso artigo "A revolução contra O Capital", publicado no Avanti! de Milão, em 24 de dezembro. Nos meses seguintes, sobretudo em Il Grido del Popolo, trava uma batalha pela renovação ideológica e cultural do movimento socialista, ao mesmo tempo em que publica comentários, notícias e documentos sobre a revolução na Rússia.