“Toda a trajetória de Dercy é muito interessante justamente porque através dela se pode vislumbrar boa parte das questões que permeiam a história do teatro popular brasileiro”.É desta forma que a pesquisadora Virgínia Maria de Souza Maisano Namur define a relação entre a atriz e o teatro nacional. Mestre em Comunicação e Semiótica, a professora de Humanidades da Faculdade de Tecnologia de São Paulo (Fatec-SP), foi premiada pelo Capes como melhor tese de doutorado apresentada em 2010, com a pesquisa intitulada “Dercy Gonçalves, o corpo torto do teatro brasileiro”.
Globo Universidade – Sua tese de doutorado teve como título “Dercy Gonçalves, o corpo
torto do teatro brasileiro”. Por que você se interessou em pesquisar a vida de
Dercy? Que aspectos da carreira da atriz você abordou na
tese?
Virgínia Maisano Namur - Minha pesquisa não foi sobre a vida de
Dercy Gonçalves, mas sobre seu trabalho no teatro, cinema e televisão, além de
sua presença na web, como ícone de um tipo específico de humor e de riso. Se por
acaso acabou chegando também a aspectos biográficos, foi porque a carreira da
atriz foi tão longeva que cobrindo quase todo o século XX, se prestou
magnificamente para o exame não só da evolução do teatro popular do período, mas
ainda, por trás dessa evolução, tentando explicar suas atribulações, conquistas
e negociações, também da própria história do país. E essa história não é pouca.
Passa por duas longas ditaduras, por muita repressão e resistência, além de
coincidir com a entrada da cultura de massa e de consumo no país. A tese tem no
título “o corpo torto do teatro brasileiro” porque mostra Dercy como
representante extrema de um teatro brasileiro, mais especificamente o teatro
popular, que infelizmente ainda é pouco valorizado no país. Teatro mambembe,
teatro de revista e mesmo a comédia brasileira só há poucas décadas passaram a
ser alvo de pesquisa séria. Neyde Veneziano, pesquisadora da Unicamp e minha
orientadora na tese, talvez seja a única especialista em revista nos meios
acadêmicos. E é importantíssimo reconhecer nossos gêneros populares porque há
uma faceta popular em todo o teatro brasileiro e nós nem sempre nos damos conta
disso.
GU – De que forma a vida de Dercy Gonçalves esteve atrelada à
linguagem cênica do momento político brasileiro? A seu ver, quais
características da atriz foram responsáveis por sua notoriedade? Que momentos da
vida dela você destacaria?
VMN - Toda a trajetória
de Dercy é muito interessante justamente porque através dela se pode vislumbrar
boa parte das questões que permeiam a história do teatro popular brasileiro. E
evidentemente, essa história diz respeito ao modo como a sociedade e também a
política, sobretudo a de caráter cultural, viram e muitas vezes ainda veem esse
teatro. Desprovido de qualquer subvenção, esse teatro sempre foi tido como
indesejado e menor, embora tivesse público garantido e fosse o único em
território nacional a ser capaz de se manter somente à custa da bilheteria.
Popular, porém não benquisto pelos intelectuais, sobretudo pela crítica, que
praticamente o ignorou, quando se pesquisa os poucos livros existentes sobre
História do Teatro Brasileiro, simplesmente não se consegue encontrá-lo. O que
se tem, portanto, é uma História parcial do teatro nacional, porque
absolutamente centrada apenas nas tentativas que se fez nos palcos nativos para
realizar cópias bem sucedidas de modelos nem sempre tão altos e nobres, mas
sempre assim idealizados por serem estrangeiros. Nas historiografias oficiais,
essa mentalidade colonialista tem maior duração quando se trata de teatro do que
de literatura, porque há ainda o agravante da velha concepção de teatro como
texto dramático, não como encenação, além das dificuldades de registro. Do
teatro popular só são consideradas as revistas de Arthur Azevedo, porque esse
era filho do vice-cônsul de Portugal, irmão do romancista Aluisio, e poeta e
jornalista conhecido, que se rendeu, não sem críticas dos contemporâneos, às
graças do popular. Então, não é de espantar que a carreira de Dercy tenha sido
de tropeços e reviravoltas, num teatro absolutamente ignorado pela oficialidade.
E que seu inquestionável sucesso de público quase sempre tenha sido considerado
resultado de estratégias “baixas” e apelativas, quando ao contrário, se deveu a
muito trabalho e disciplina, muita coragem de enfrentar desafios, muita
criatividade para improvisar alternativas, muita vontade de sobreviver como
artista popular. A essa energia se poderia chamar de resistência, embora não
obedeça a nenhum programa político. Trata-se, na verdade, da própria capacidade
de sobrevivência popular, sempre em diálogo avesso e corrosivo com a
oficialidade que teima em colocá-la sempre à deriva, na marginalidade. E Dercy,
como artista de grande sucesso, tanto que centenária ainda se manteve ativa nos
palcos e na mídia, é excelente exemplar desse teatro e pode com as estratégias
de palco que lhe garantiram sucesso, mas também uma enorme e injusta má fama,
revelar muito desse teatro, inclusive nas negociações que este fez com outras
mídias como o cinema e a TV.
Dessa forma, não tenho a destacar nenhum momento
da vida de Dercy, mas da sua carreira, dos gêneros que adotou, do modo como
contornou dificuldades em tempos de ditadura, dando-se por alienada, enquanto
ajudava amigos perseguidos pela repressão, como Mário Lago, trazendo-o de volta
à televisão; do modo como abraçou as novas mídias, mantendo-se sempre atualizada
e exercitando até ao extremo uma estética da precariedade e do improviso que
parece ser, sem nenhum desmerecimento que a princípio possam sugerir os termos,
a estética de uma arte que mesmo em negociação com a cultura de consumo
permanece genuinamente popular.
GU – Você conheceu Dercy Gonçalves pessoalmente? Como era sua relação
com a atriz? Atualmente, como as pessoas veem Dercy?
VMN-
Infelizmente só conheci Dercy nos últimos anos da sua vida. Demorei a
procurá-la, pois tinha enorme medo dela. Tinha medo daquela sua
imprevisibilidade, daqueles ímpetos jocosos que conhecia pela mídia. Por isso
inventei para mim mesma e para quem me perguntasse, que para o bem da
neutralidade científica de minha pesquisa sobre ela, era melhor que não me
aproximasse dela. Tinha e tenho até hoje um filtro da web que me informa
qualquer referência feita a ela pela mídia. Até hoje, anos após a sua morte, não
há um dia sequer sem pelo menos uma citação. Num tempo destes, de quinze minutos
de fama, isso é muito raro. Mas houve um tempo em que eu desejava até que ela
morresse, pois como ela não parava, vivia aparecendo aqui e ali, com aquela
enorme capacidade de improvisação, que a fazia roubar sempre a cena, tinha a
sensação que meu trabalho nunca mais iria terminar. Dercy realmente me deu muito
trabalho. Um dia, porém, achei que não tinha escapatória, tinha que falar com
ela. A mulher não morria e não parava de trabalhar e eu estava começando a
escrever sobre ela sem que ela soubesse. Achei uma indignidade. Foi quando eu
estava preparando o capítulo do livro A mulher e o teatro brasileiro do século
XX, organizado por Ana Lucia Vieira de Andrade e Ana Maria Edelweiss. Telefonei
para ela e fui muito bem recebida. Prometi lhe enviar o texto por correio e o
fiz. Na verdade, não esperava que ela o lesse, pois Dercy não gostava de ler.
Mas com isso estava lhe dando uma satisfação e a partir daí me sentia mais à
vontade. No entanto, aconteceu um fato engraçado: o envio do texto coincidiu com
o fechamento dos Bingos no Rio e Dercy ficou muito aborrecida por não ter o que
fazer às noites e pediu para sua sobrinha ler o texto para ela. As duas me
contaram depois que fizeram a leitura em partes, por algumas noites seguidas,
como se fosse um folhetim, e Dercy adorou. Daquele momento em diante atendia aos
meus telefonemas com grande afetividade. Num deles, me perguntou como é que eu
sabia tanta coisa dela e como é que eu compreendia até porque ela fazia assim ou
assado, se ela mesma ainda não se compreendia. Achei que era ironia, mas depois
percebi que falava com sinceridade, numa espécie de espanto com o fato de uma
pessoa perder tanto tempo e se dedicar tanto para entender a sua trajetória e o
seu trabalho. Principalmente quando isso não envolvia dinheiro e, portanto, lhe
parecia uma atividade estúpida e sem sentido. Contudo, apesar do espanto,
respeitava bastante meu trabalho e procurava responder às minhas perguntas à
altura. Para resolver certos descompassos e também para se livrar de mim quando
se cansava, às vezes dizia que não tinha instrução para compreender o que eu
queria saber. Por isso, um dia me deu o telefone de um grande e antigo amigo
paulista, Homero Kossac, que segundo ela “era inteligente pra burro” e podia me
ajudar nessas coisas de universidade. De fato, Homero me ajudou algumas vezes,
fazendo ponte com ela e me cedendo algum material. Animada com isso, decidi me
encontrar com ela em uma de suas viagens a São Paulo. Ainda tinha um pouco de
medo, mas fiquei imediatamente encantada logo que a conheci. Delicadíssima e
sensível, muitíssimo inteligente, era realmente uma grande e bela mulher.
Naquele dia, estava vestida num longo rosa, todo rebordado como gostava, mas de
extremo bom gosto. E o que mais me causou admiração foi sua inteligência, de
tipo esperto, alerta a tudo a sua volta, mesmo quando já não podia contar com
bons ouvidos. Percebia tudo e era capaz de dar resposta a tudo, não só
desaforadamente, mas também elegantemente. Para falar a verdade, nunca a ouvi
falar um palavrão. Os palavrões eram do personagem que ela criou e que com o
passar do tempo grudou-se nela, mais do que dela mesma. Outra coisa notável é
que Dercy era de um extremo realismo, não tinha nada de romântico ou de piegas.
Via a vida como ela é e ainda assim se divertia. Um exemplo disso foi a senha
que ela inventou para nunca esquecer meu nome. Quando eu lhe contei que me
chamava Virginia, pensou um pouco e soltou: Tive uma grande amiga com esse nome,
mas ela pegou fogo! Levei um susto. Depois ela me contou uma história horrível,
de uma amiga portuguesa, que também era atriz de revista no Rio, cujo vestido
cheio de saia pegou fogo na porta do Municipal do Rio, numa noite de carnaval.
Dercy estava com ela e esperavam alguém para entrar no baile. Não se sabe bem
como foi, se foi um cigarro de alguém que incendiou o tecido, mas, quando viram,
a amiga já tinha virado uma labareda e não puderam fazer mais nada.
Evidentemente, detestei a associação. Mas depois a perdoei, porque percebi que
Dercy gostara muito dessa amiga. Tanto que sabendo que o maior desejo dela era o
de se casar com um namorado que sempre escapara do compromisso, convenceu-o a
enfrentar um casamento in extremis. Dercy dizia que pelo menos ela morreu amada
e feliz. Essa era Dercy! Transformava até as histórias mais horríveis em
suportáveis. Pena que estive com ela por tão pouco tempo, nos vimos poucas
vezes. Creio que ela também teve alguma afinidade comigo, pois pouco antes de
sua morte, a pedido de Neyde Veneziano, convidei-a para entrar em off numa peça
dirigida pela própria Neyde em São Paulo, e ela disse de pronto, sem nem
perguntar muito sobre o projeto: Topo! Com você eu vou pra qualquer lugar. Você
sabe que eu conheço as pessoas pelos olhos, não sabe?! Achei um elogio.
Infelizmente não deu tempo de fazermos a gravação. Marcamos para o dia quatro ou
oito de julho, não me lembro bem, sei que era um dia em que ela já viria a São
Paulo para outro compromisso, mas em junho ela faleceu. Estive com ela uma
semana antes, no talk-show que fez no Bar do Nelson, para entrar no Guiness como
a mais velha atriz ainda na ativa. Ela já não estava muito bem naquela noite,
mas em momento algum deixou transparecer. Era dura na queda, principalmente
quando se tratava da profissão, pois sabia fazer valer a máxima: aconteça o que
acontecer, o espetáculo continua.
Atualmente, talvez as pessoas comecem a
enxergar Dercy de modo um pouco mais justo. Pelo que tenho visto nas declarações
de Maria Adelaide Amaral, a minissérie escrita por ela para a Globo quer mostrar
um outro lado de Dercy. Estou ansiosa para ver no que vai resultar. Maria
Adelaide a conhecia bem; é a biógrafa autorizada por ela. Mas o melhor registro
que encontrei sobre Dercy ainda foi a longa e inteligentíssima entrevista que
Simon Khoury fez com ela e publicou num dos tomos da série Teatro Brasileiro da
coleção Bastidores.
GU – Você escreveu um artigo intitulado “Dercy
Gonçalves: Teatro ou Teatralidade Brasileira?”, em que afirma que a atriz
mantém-se em um ‘interstício entre representação e atualidade’. Pode nos
explicar um pouco mais sobre este artigo?
VMN - Eu
teria que ler de novo todo o artigo para saber como e porque disse isso. Mas
nesse artigo, eu me lembro, defendia exatamente a teoria de que aquilo que Dercy
fazia e escandalizava a toda gente pertencia a uma muito antiga tradição
popular. Embora diluída no tempo e domesticada pelo bom gosto burguês, essa
tradição ainda influenciava todo teatro popular, inclusive o brasileiro. Como no
Brasil o único teatro verdadeiramente de sucesso é o popular ou respeita e
cultua matrizes dionisíacas populares, Dercy era um dos grandes exemplos de
teatralidade brasileira. Era uma teoria mais ou menos provocadora, para
chacoalhar um pouco o meio acadêmico. Mas eu acredito realmente nisso. Que Dercy
é um excelente exemplo porque leva a extremos certos procedimentos que só podem
ser entendidos dentro da herança da cultura cômico-popular. O personagem maior
de Dercy é herdeiro do bufão medieval, insolente e boca suja, que não tem medo
da realidade. Não nega sua corporalidade, nem teme as miseráveis instâncias da
matéria. Antes, as celebra, rindo prazerosamente delas. E incomoda porque diz e
mostra verdades que todos preferem ignorar. Pode provocar o riso, mas quanto
mais houver repressão, ideológica ou moral, sua acintosa liberdade provocará
também desordem. E olhe que esse descendente de bufão ousou fazer teatro em
palco italiano, que sempre foi o lugar sagrado do teatro alto e sublime, de
preferência dos eruditos.
GU – Ainda no artigo, você fala sobre a paródia. Como relacionar este
conceito a Dercy Gonçalves?
VMN - Falo de paródia
no sentido etimológico da palavra, ou seja, canto paralelo, discurso dialógico
com outros discursos, aos quais se dá novo sentido. A paródia, ao mesmo tempo,
critica e cultua o discurso que deforma. Em geral é usada de forma cômica, mas
não necessariamente precisa provocar o riso, pois também há paródias sérias,
como Mikhail Bakhtin, um clássico no assunto, já nos mostrou. Mas toda paródia
revela um conflito ideológico com o discurso parodiado e é uma resposta paralela
ou contrária às suas ideias originais. No caso de Dercy, essa resposta era
efetivamente avessa e sempre muito bem humorada. Nisso Dercy era mestra. Quando
fazia revista com Walter Pinto, dirigindo disciplinadamente o elenco, era também
a cômica da trupe. E como seu trabalho era não se levar a sério, quando
comandava as vedetes pela passarela, era capaz de rebolar de forma paródica,
exagerando na imitação das poses das belas. Com isso, divertia a plateia e ainda
chamava a atenção para a atração da revista, que já então eram as vedetes.
Alguma coisa dessa estratégia aparece no final de A Grande Vedete, filme no qual
ela faz uma homenagem à revista já em momento de declínio. Na comédia, gênero
para o qual migrou justamente por causa desse declínio, quando a revista se
transformou em mero show-business, também fazia paródia. E mostrando o que era
ser realmente popular, ou seja, capaz de atingir a todas as classes. O sucesso
também atingia a classe média e alta, tanto que chegou a virar moda, em São
Paulo, assistir às estreias de Dercy no Teatro Cultura Artística, a melhor e
mais moderna sala de espetáculos da época. Nesse período, uma de suas peças mais
comentadas foi A Dama das Camélias, numa adaptação da obra de Alexandre Dumas
Filho. Logo, o discurso oficial a par do qual Dercy construía o dela pertencia
ao recatado e muitas vezes piegas bom-gosto burguês. E nesse diálogo, Dercy o
distorcia comicamente, a ponto de transformar em estilização paródica até a
tosse tísica de Marguerite, a heroína romântica da história. A cada crise da
moça, tossia em “cofó-cofó” e transformava em bordão cômico o que deveria ser um
dos pontos mais altos do melodrama. Já centenária, Dercy participou de um
desfile carioca de vestidos de noiva, junto com outras atrizes famosas e, para
variar, roubou a cena. Sua noiva carregava um buquê de arruda, sentava no chão e
fazia tudo o que uma noiva que se sonha princesa jamais faria no dia do
casamento. Para falar a verdade, nem mesmo a Noiva Cadáver, de Tim Burton, com a
qual nem tanto assim ao acaso Dercy acabou se parecendo. Tim Burton trabalha com
certa influência do Expressionismo alemão; o Expressionismo alemão é expressão
de um mundo em crise; o nosso mundo está mesmo em crise e mudança; e por aí
vamos longe, pois Dercy em suas representações irreverentes e em suas
declarações de grande amor à vida, mas também de destemor à morte; em seu
realismo grotesco, porém comemorativo, acabou por se tornar na velhice a própria
imagem de um mundo em transfiguração, em morte e renascimento. Colocar tudo de
pernas para o ar e relativizar tudo é uma forma de zerar para poder começar
novamente. Esse é o modo como a arte de Dercy foi paródica: construindo
discursos paralelos e nos fazendo ver outras possibilidades, mais livres e
prazerosas de encarar o mundo.
GU – O gênero feminino e a dramaturgia também são temas presentes em
seus artigos e pesquisas. Que temas você gostaria de abordar no
futuro?
VMN - Não me importo muito com questões de
gênero. Contribuí para o livro A mulher e o teatro brasileiro do século XX
porque este me deu oportunidade de falar de Dercy. Como mulher independente, que
enfrentou preconceitos, inclusive porque era atriz em maus tempos para essa
profissão, e bem pior, porque era atriz de teatro popular, ela coube bem no
livro. Mas o que me interessa mesmo é o teatro popular, são os seus artistas,
grandes heróis da sobrevivência, homens ou mulheres. Por isso, continuo minhas
pesquisas sobre esse teatro, do qual Dercy talvez seja um dos casos mais
extremados, mas do qual é só um caso possível de estudo. Estou preocupada no
momento com o que há de popular não só no teatro cômico brasileiro, mas também
no teatro brasileiro tido como mais sério.
GU - Como você se sente sendo uma das responsáveis pelo fato de Dercy
Gonçalves ter conquistado a academia, no sentido de render premiações para
pesquisadores como você, que ganhou o Prêmio Capes 2010 com uma tese sobre a
atriz? O que pode mudar daqui para a frente nesta
relação?
VMN - Não creio que vá mudar nada em
relação a como o público vê Dercy. Nesse sentido, a minissérie da Globo é muito
mais poderosa e espero que faça justiça à atriz. O que pode mudar é com relação
ao modo como a academia sempre viu a comediante e a cena popular da qual ela é
uma muito digna representante. É também a primeira vez que esse prêmio de
pesquisa é dado, na área das Artes, às Artes Cênicas. Mostra que a pesquisa
cênica está crescendo em quantidade e qualidade no país. Mostra que muito em
breve talvez possamos ter uma História do Teatro Brasileiro mais completa e mais
realista. E isso é ótimo, pois compreendendo melhor nosso teatro e o aceitando
por inteiro, também nos compreendemos melhor e nos aceitamos mais.
FONTE: Globo Universidade
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