por Aleka Papariga
Extractos da entrevista da secretária-geral do CC do KKE [Partido Comunista da Grécia], Aleka Papariga, no programa matinal da estação de televisão ANT1, em 05/Janeiro/2012.
- O que propõe o KKE? É um partido que não procura o poder burguês. Ele não diz: votem por mim para formar um governo e as coisas serão diferentes. O que é que está a propor a fim de sairmos do impasse?
Quando dizemos ao povo que o sistema capitalista – e dizemos isso em relação ao sistema capitalista da Europa, que completou todo o ciclo – hoje já não pode proporcionar soluções, que já deu tudo o que tinha a dar, isto significa que eles não esperam que o KKE participe no sistema político burguês, num governo para gerir um sistema que nada pode proporcionar.
- Está a falar acerca do derrube do sistema?
Naturalmente.
- Não está interessada em participar numa formação governamental?
A questão não é se nos interessa. Isso será danoso para o povo. E nos depararemos a enfrentar uma grande contradição que é por um lado dizermos palavras-de-ordem em favor do povo e invocarmos nossos mais de 90 anos de história e por outro lado sentarmo-nos e discutirmos acerca da abolição dos bónus de Natal e de Páscoa. Não é isto que queremos.
- Se o povo votar a favor e vos proporcionar um resultado importante, digo como hipótese, o que vocês lhe dirão? Que não governam porque o prejudicará, por que não podem governar dentro da estrutura do sistema dos capitalistas?
O povo grego, quando der uma tal maioria ao KKE, estará então determinado a lançar-se na batalha. Nós explicamos a nossa linha política plenamente. Não saímos a dizer que pode haver um governo que impusesse duas ou três boas soluções. Isso é o que dizem outros partidos, os quais contam mentiras. E na minha opinião ou deveríamos dizer que os seus políticos e quadros são incompetentes, algo em que não acredito, ou estão conscientemente a dizer mentiras.
Se pudéssemos impedir as consequências da crise e resolver os problemas do povo através da participação num governo, nós o faríamos. Somos ousados e assumimos riscos. Mas isto é impossível. Deixe aqueles partidos que conversam acerca de governos progressistas de esquerda ou de centro-direita ou de centro-esquerda nos explicarem: formam um governo. Mas no dia seguinte teriam de tratar de ainda mais memorandos, empréstimos, da Federação Helénica de Empresas, as federações patronais. Sabe o que está a acontecer agora? Mesmo quando num sector ou fábrica a luta faz pressão sobre o patrão e ele quer fazer um pequeno recuo, a federação dos industriais salta sobre ele e diz-lhe para não o fazer porque isto criará uma abertura em outras fábricas. Assim o trabalho não só enfrenta o seu próprio patrão como também os donos do capital e dos meios de produção como um todo.
- Eleições. Se olharmos para os inquéritos de opinião não teremos governos de um só partido. O que farão neste processo? Será mais uma vez o KKE a gritar e dizer que são os únicos que exprimem a esquerda?
Não dizemos isso desse modo. Procuramos exprimir objectivamente, através das nossas posições, os interesses da classe trabalhadora contemporânea e de uma ampla secção, não toda, dos auto-empregados e um grande secção dos agricultores, não todos os agricultores. Nós definimos forças sociais. Apelamos ao trabalhador, tanto àqueles que votam na Nova Democracia como no PASOK. Nós vemos as forças sociais, porque quando você fala em termos de esquerda, direita, centro, hoje não está a dizer nada.
O povo não tem nada a perder; pode ao contrário ganhar alguma coisa se um governo fraco surgir das eleições. Quanto mais forte for o governo, mais duro e mais determinado será contra o povo.
Sejamos realistas acerca das próximas eleições. É possível que o povo saia mais forte e seja capaz de erguer obstáculos contra o trabalho do próximo governo. O povo não deveria ter medo. Se não for possível formar um governo de um partido eles chegarão a acordo uns com os outros. Eles já se prepararam para isso. Não ouçam o sr. Samaras, não ouçam o que o sr. Papandreu ou próximo líder do PASOK estão a dizer. Já há alguns que estão ansiosos por contribuir. Esperamos que haverá um momento em que a formação do governo será impossível e o povo intervirá. O que é importante é que não tenhamos um governo forte. Não podemos ter um governo a favor do povo.
- Isto é um pouco astucioso num sentido político. Diz que não pode haver qualquer governo progressista, excluindo a possibilidade de um governo não só do seu partido como também o do sr. Tsipras (Syriza) e do sr. Kouvelis (Esquerda Democrática).
Dizemos isso claramente. Não, não vamos por aí.
- Então diz isso claramente.
Não pode haver qualquer governo progressista que coexista com os monopólios, não só na economia mas por toda a parte, que efectue negociações dentro da UE – porque é isso que todos eles estão a dizer; que alegadamente efectuarão uma negociação militante, tal coisa não pode vir a acontecer. Estas duas coisas são incompatíveis. Mas podemos ter um movimento forte após, no dia seguinte às eleições.
- As pessoas têm expectativas quanto a vocês. Elas dizem que o KKE pode ter uma das poucas oportunidades que alguma vez já teve no período pós ditadura de fazer sentir a sua presença com os votos do povo e querem ouvir algumas propostas do KKE para uma saída. Isto é o que as pessoas que não tem um relacionamento ideológico com o KKE estão a pedir.
Temos uma proposta de saída. Não lhe direi o que já divulgamos numa versão impressa. Organizamos comícios, manifestações por toda a Grécia. Na verdade, isso não pode ser apresentado em um minuto. Se a pergunta é uma saída agora em que tudo permanece o mesmo e em que emergirá um governo que mudará tudo com decisões do parlamento, bem tal coisa não é possível. Isso quer dizer que não pode haver qualquer saída na estrutura do sistema actual.
- Está a falar acerca do derrube do sistema?
Sim, mas isso não pode acontecer numa noite e com um único assalto. Dizemos o seguinte: em cada batalha o povo deve fazer progressos como um militante, mesmo através de ganhos parciais. Não podemos descartar a possibilidade de um derrube radical nos próximos anos. O próprio povo decidirá sobre isto e ao mesmo tempo ele deve preparar-se e exercer pressão decisiva, impedindo o pior a alcançando ganhos. Não podemos fixar uma data para a mudança do sistema político, não podemos estabelecer um período de um, dois, três anos porque isto depende da maioria do povo, não será um assunto só do KKE. Se o povo não tomar a decisão, isto não se verificará.
A versão em inglês encontra-se em http://inter.kke.gr/News/news2012/2012-01-06-syn-gs
Esta entrevista encontra-se em http://www.resistir.info/grecia/papariga_05jan12.html .
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