segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

Questionando a tecnologia como professor



POR KEVIN DELANEY



Durante décadas, uma visão tecno-utópica da sala de aula incendiou os sonhos dos educadores. Nesse cenário, o professor deixa de ser "um sábio no palco para ser um guia ao seu lado". Pois em uma classe de alunos autodirigidos e ligados à web o papel do professor é simplesmente oferecer uma orientação sutil.



Em países tão diferentes quanto China, Índia e Colômbia, os educadores alimentam essa ambição com enormes investimentos em informática. Em outros países, como os Estados Unidos, esses impulso se choca com cortes orçamentários e demissões de professores.



Mas, como muitas visões utópicas, esta enfrenta uma reação.



"Ensinar é uma experiência humana", disse ao Times Paul Thomas, professor associado de educação na Universidade Furman, na Carolina do Sul. "A tecnologia é uma distração quando precisamos de alfabetização, raciocínio matemático e pensamento crítico."



Até Steve Jobs, que comandou a revolução do computador na sala de aula como um dos fundadores da Apple, tinha suas dúvidas. Seu biógrafo Walter Isaacson descreveu uma conversa no início deste ano entre Jobs e Bill Gates, o cofundador da Microsoft. Os dois "concordaram que até agora os computadores, surpreendentemente, haviam tido pouco impacto nas escolas".



E Jobs não era o único guru tecnológico do Vale do Silício a questionar os computadores no ensino. A escola Waldorf da Península, localizada no centro do Vale do Silício, em Los Gatos, ensina os filhos de muitos funcionários de gigantes tecnológicas como Google, Apple, Yahoo e Hewlett-Packard, relatou o Times. Mas não há computadores na escola, e seu uso em casa também é desencorajado.



Alan Eagle, que trabalha na Google, não teme que seus filhos fiquem atrasados. "Na Google e em todos esses lugares fazemos tecnologia tão fácil de usar quanto possível", ele disse ao Times. "Não há motivo para que as crianças não consigam aprendê-la quando ficarem mais velhas."



Mas não diga isso na Coreia do Sul, que está gastando US$ 2 bilhões para modernizar ainda mais seu já futurista modelo de educação digital até 2015. E quem pode discutir com o sucesso? Seus alunos se classificam nos níveis mais altos em matemática e ciência em todo o mundo. Mas existe um preço para essas conquistas. As crianças estão exaustas e estressadas com as sessões de estudos até tarde da noite.



Também há um crescente temor entre os educadores coreanos de que sua ênfase para o aprendizado por repetição, neste caso reforçado por computadores, esteja produzindo estudantes que não são criativos.



Outro país superinformatizado, a Finlândia, também se classifica no topo dos testes globais. Mas as escolas têm muito pouca tecnologia e as crianças de lá não são tão pressionadas.



Bryan Luizzi, diretor do colégio Brookfield em Connecticut, visitou a Finlândia este ano. "Foi um pouco desanimador", ele disse ao site Scholastic.com. "Eu não vi um só estudante com um laptop."



É claro que inúmeros fatores contribuem para o sucesso de um país na educação. A Finlândia quase não tem pobreza e os professores são bem pagos e altamente respeitados.



Como escreveu no Times Rudy Crew, um ex-diretor do departamento de educação da Cidade de Nova York, "certamente há oportunidades que podem ser captadas por meio da tecnologia, mas no centro da educação está a relação entre professor e aluno".


 
FONTE: Folha de São Paulo, 12 de dezembro de 2011.
 

Um comentário:

  1. Minha experiência demonstra que não há antíteses entre tecnologia e processo educacional. Desde que tenhamos mestres que saibam o que fazem e não tutores despreparados do processo pedagógico.
    Não há relação mais produtiva que a dos mestres e discentes num diálogo democrático, em sala de aula presencial. É nisso que acredito. No mais, pode ser parafernália tecnológica para enganar incautos.

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