León Ferrari: Lembranças de meu pai
28 SET 2013 - 29 MAR 2014
Entrada Gratuita
Entrada Gratuita
MAC USP Nova Sede
Av. Pedro Álvares Cabral, 1301 - São Paulo-SP, Brasil
Horário de funcionamento:
Terça das 10 às 21; Quarta a domingo, 10 às 18 horas
Segundas: fechado
Av. Pedro Álvares Cabral, 1301 - São Paulo-SP, Brasil
Horário de funcionamento:
Terça das 10 às 21; Quarta a domingo, 10 às 18 horas
Segundas: fechado
O inimigo do Papa
"Lembranças de Meu Pai" reúne no MAC-USP obras que o argentino León Ferrari (1920-2013) produziu no exílio em SP
SILAS MARTÍDE SÃO PAULO
Um inimigo declarado da Igreja já arquitetou catedrais.
León Ferrari, um dos maiores artistas argentinos, morto em julho deste ano, aos 92, fez de sua obra plástica um ataque visceral à religião católica, com uma imagem de Cristo crucificado num caça norte-americano, entre outras peças "blasfemas", na opinião do papa Francisco.
Mas também ajudou seu pai arquiteto a desenhar igrejas. Um resquício dessa experiência parece orientar a obra mais importante da primeira mostra póstuma do artista em São Paulo, agora em cartaz no Museu de Arte Contemporânea da USP.
No fundo da sala, na mesma posição do altar de uma igreja, está "Lembranças de Meu Pai", obra que dá nome à exposição --cujas 57 peças produzidas durante o exílio do artista no Brasil.
Ferrari criou nessa obra uma arquitetura translúcida, de fios de arame que delimitam espaços em um emaranhado metálico, e iluminou tudo por baixo, como se em plena ascensão divina.
"É uma tentativa de mostrar que estamos dentro de um templo profanado", diz Carmen Aranha, curadora da mostra. "A ideia dele sempre foi atacar as violências da Igreja contra as pessoas."
Diante de sua catedral abstrata, que a crítica Aracy Amaral chamou de "infinito aprisionado em prismas, em expansão vertical irradiante", seus ataques à religião se manifestam sem pudor algum, em delirantes alegorias figurativas e hiperbólicas.
Uma pintura ao lado mostra um Cristo kitsch agonizando diante de um abutre à espreita. Em outra série, Ferrari esconde figuras fazendo sexo em meio a ilustrações bíblicas que fotocopiou de um livro do alemão Albrecht Dührer (1471-1528).
De certa forma, essas peças marcam o auge de sua virulência estética, o momento em que deixou a Argentina, vítima de um golpe militar em 1976, e se exilou em São Paulo após seu filho se tornar um desaparecido dada ditadura de seu país.
O exílio, contudo, também abriu caminho para trabalhos menos carregados, como a série de peças em que retrata o caos urbano.
Uma delas mostra um emaranhado alucinante de pistas e elevados sobrepostos, enquanto pedestres estão confinados a uma única e estreitíssima passarela. Outra, de multidões que se encontram num cruzamento, chega a lembrar as recentes manifestações de junho.
Mais ou menos explícitas, as obras de Ferrari parecem estar todas lastreadas por um diálogo impossível, de anjos pilotando aviões de guerra a suas imagens abstratas com linhas negras de densidade vertiginosa sobre folhas brancas de papel.
De acordo com o artista, que dizia não ver a arte como "algo solene" nem como plataforma de uma "revolução social", todo o seu trabalho foi em nome da "possibilidade de falar das coisas que não têm palavras".
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