Memorial da Resistência Carlos Marighella ocupará dois casarões no Pelourinho |
Quem passa pela Rua Barão do Desterro, na Baixa dos Sapateiros, não tem ideia de que a casa da esquina, abandonada e com a fachada em ruína, foi onde o líder comunista Carlos Marighella passou a infância e parte da juventude.
O imóvel onde o pai de Marighella, o italiano Augusto, criou os sete filhos que teve com a negra Maria Rita e mantinha uma oficina de motores pode ter novo destino: ser transformada em museu.
A ideia é que a antiga casa da família seja integrada ao Memorial da Resistência Carlos Marighella, que vai funcionar em dois imóveis localizados no Pelourinho, cedidos pelo Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural (Ipac) da Bahia.
O memorial é um resgate da história do baiano - morto em São Paulo numa emboscada dos órgãos de repressão, sob o comando do delegado Sérgio Fernando Paranhos Fleury, em 1969 - e também daqueles que enfrentaram o golpe militar de 1964.
A instalação da "Casa de Marighella" foi sugerida pelo arquiteto Marcelo Carvalho Ferraz em carta endereçada ao Ipac, no mês passado, na qual defende o tombamento do imóvel como patrimônio do Estado da Bahia.
"Humanizar"
O advogado e ex-deputado Carlos Marighella Filho acredita que transformar a casa onde o pai foi criado em um museu vai contribuir para "humanizar" e "aproximar" as pessoas do homem que lutou em defesa da liberdade e da democracia do Brasil.
"A casa tem aquele elemento de emoção, de humanização, de nos tornar próximos daquelas figuras que fizeram história e que admiramos", entende o advogado.
Ele lembra que o pai morou na Baixa dos Sapateiros até por volta dos 25 anos, quando se mudou para São Paulo para comandar o Partido Comunista. Os anos passados na casa da Baixa dos Sapateiros foram marcantes para Marighella.
"Ele falou da casa em seus poemas", informa o filho, lembrando que o pai também era um poeta sensível.
As duas iniciativas - o memorial e a casa - têm por objetivo maior, assinala Marighella Filho, restaurar a verdade sobre a trajetória do líder comunista, apontado pelos órgãos de repressão como "terrorista" e "inimigo público número um".
O primeiro passo neste sentido ocorreu em 5 de dezembro de 2011, data em que se comemorou o centenário de nascimento do ex-deputado federal do Partido Comunista do Brasil [PCB].
Carlos Marighella foi declarado herói nacional ao ser anistiado "post mortem", em Salvador, pela 53ª Caravana da Anistia do Ministério da Justiça, cujo objetivo é reparar os crimes cometidos pelo último regime militar que governou o Brasil (1964 e 1985).
A implantação do Memorial da Resistência está sendo discutida desde o início do ano por especialistas, para definir os projetos arquitetônico e museológico (documentação, linhas de pesquisa, temáticas expositivas) a serem adaptados nos imóveis.
FONTE: A Tarde
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