quarta-feira, 22 de maio de 2013

No calor da hora: um balanço preliminar

Por Marcos César de Oliveira Pinheiro*

A manhã desta terça-feira, 21/5, parecia anunciar o início de um movimento combativo dos professores de Rio das Ostras na luta por seus direitos. Parecia que nada nem ninguém seria capaz de  tirar a convicção da justeza da greve de 72 horas. O clima era de grande entusiasmo e empolgação, reunindo educadores e educandos. Indiscutivelmente, um momento histórico para a cidade de Rio das Ostras. 

Infelizmente, na parte da tarde, o quadro foi outro. A meu ver, ao se decidir pela suspensão da greve, ainda que mantendo o estado de greve, sofreu-se uma derrota muito séria, mas não irreversível, no processo de luta. Diante das fragilidades do movimento, o Prefeito foi extremamente hábil para minar a unidade da classe e provocar a desmobilização e a desorganização do movimento grevista. No início da reunião de negociação, o Prefeito deixou escapar sua preocupação que a paralisação dos professores provocasse um efeito dominó, arrastando os guardas municipais e o pessoal da saúde. Apresentou uma proposta medíocre, que parte, significativa, dos professores não percebeu tratar-se de uma manobra desmobilizadora. Na segunda rodada de negociação, depois da assembleia que decidiu pelo fim das paralisações, os presentes puderam testemunhar o quanto o Prefeito só pretendia desmobilizar a categoria. Ou seja, o Prefeito conseguiu reverter a relação de forças a seu favor. Impôs a agenda de discussão e decidiu os termos do debate. Por vários fatores, os professores não conseguiram marcar o passo da agenda de discussão, perderam-se na estratégia do "mudar para continuar tudo igual" utilizada pelo Prefeito. No meu entender, restou negociar as condições mais favoráveis para suportarmos a exploração a que estamos submetidos. 

Na luta, tudo é conquistável e potencialmente perdível. No momento, vejo mais derrota do que vitória. Porém, é na luta que os professores desenvolverão a consciência política, ou seja, conseguirão ser capazes de transcender os limites impostos pelo imediatismo espontaneísta. Segundo o intelectual inglês do século XIX, William Morris, "sem todas as derrotas do passado, não teríamos a esperança de uma vitória final".

Florestan Fernandes, um dos expoentes máximos da luta em defesa da escola pública no Brasil, salienta o seguinte:

Tenhamos a coragem de sair do fundo do poço sem ocultar as nossas fraquezas, sem esconder a nossa fragmentação, sem mistificar quanto à nossa precariedade. Elas não são frutos da nossa covardia. São produtos de uma relação de força. Para não cairmos nas tentações, nos erros e nas omissões que levaram diretamente a esse estado, precisamos aproveitar toda a amarga lição e até o fim!

A luta continua... Ou avançamos comprometidos com conquistas efetivas e reais ou corremos o risco de enfrentarmos uma vergonhosa capitulação. A vitória que almejamos é a consumação final de uma série de iniciativas, que devem começar aqui e agora.


* Professor de História da Rede Municipal de Ensino Público de Rio das Ostras. Matrícula: 6273-1. Lotado na Escola Municipal Padre José Dilson Dórea, bairro Âncora, Rio das Ostras.


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