Por Marcos César de Oliveira Pinheiro*
Em 5 de maio de 1818, nasceu Karl Marx. Como os grandes gênios, foi sempre incompreendido pela mediocridade reinante e o pensamento dominado pelo poder e pelas classes dominantes. Suas concepções revolucionárias serviram de guia intelectual para quase todas as revoluções político-sociais do século XX. Através de suas palavras, muitos trabalhadores vieram a entender parte de seus sofrimentos cotidianos, em especial ao que se refere à vida social do assalariado.
Em seu nome e contra seu nome, foram cometidas várias distorções; leituras às avessas que reduziram suas obras a determinismo econômico. Assistiu-se tanto a conversão da doutrina comunista em Templo, como também a desqualificação deliberada e infundada do pensamento marxista por parte dos "intelectuais orgânicos" das classes dominantes. Por isso, e contra isso, o poeta alemão Bertolt Brecht afirmou: "Tanto se escreveu sobre Marx que este acabou sendo um desconhecido".
Como salienta o historiador Pierre Vilar, para um marxista, posicionar-se ideológica e politicamente não deve significar a transformação do método de pesquisa legado de Marx e Engels em uma doutrina, com sérios riscos de simplificação e dogmatismo (Vilar, 1987). Antonio Gramsci criticou energicamente a redução da filosofia da práxis (materialismo histórico) a uma sociologia a ser construída segundo o método das ciências naturais – experimental no sentido vulgarmente positivista. Para ele, essa redução representou a cristalização da tendência deteriorada de “reduzir uma concepção de mundo a um formulário mecânico, que dá a impressão de poder colocar toda a história no bolso” (Gramsci, 2004, pp. 143 e 146). Por isso, não se deve incorrer no erro de cair no terreno fácil da máxima abstração, em que se recorre à realidade, a posteriori, apenas para buscar exemplos que ilustrem os resultados previstos (e sabe-se que bem encaixada aos esquemas pré-fabricados, a realidade nunca desmente a teoria).
De acordo com Francisco Buey, Marx é um clássico do pensamento social, um “clássico interdisciplinar”, que “não cabe nos compartimentos dos nossos saberes” e, por isso mesmo, é sempre uma obra incômoda e problemática. Diante da qual há duas atitudes tão típicas quanto triviais. A primeira atitude é a conversão do clássico numa espécie de sagrada escritura, em que se encerra a verdade absoluta e incontestável. A segunda atitude procura anular o clássico, recomendando aos jovens que não percam o tempo lendo-o (Cf. Buey, 2004, pp. 17-19). Para além dos ismos criados no seu nome e contra seu nome, a obra marxiana ainda é uma fonte fecunda para gerar campos de discussão que permitam recolocar e reconsiderar problemáticas que podem iluminar e esclarecer o funcionamento das sociedades humanas, principalmente na época atual. E o mais importante, contribuir para que os explorados e oprimidos um dia venham a conquistar a hegemonia numa sociedade dividida pelos conflitos de classes, colocando na ordem do dia uma alternativa de emancipação social para a Humanidade, cuja perspectiva, a meu ver, só poderá ser socialista. No entanto, nas palavras do grande revolucionário latino-americano José Carlos Mariátegui, um socialismo que não seja "nem cópia nem decalque, mas sim criação heróica" dos povos.
Referências Bibliográficas
BUEY, Francisco Fernández. Marx (sem ismos). Rio de Janeiro: Ed. da UFRJ, 2004.
GRAMSCI, Antonio. Cadernos do Cárcere. Vol. 1 . 3 ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2004.
VILAR, Pierre. “Marx e a história”. In: HOBSBAWM, Eric (org.). História do Marxismo. Vol.1. 3 ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987.
* Doutorando do Programa de Pós-graduação em História Comparada da UFRJ e professor da rede municipal de ensino público de Rio das Ostras (RJ).
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