"Seria prematuro dizer que os professores (...) em geral verdadeiramente se interessam por um debate de ideias. A maioria ainda está composta de indiferentes e de conformistas. Mas só a existência de uma minoria volitiva, que quer e exige uma renovação, anuncia o despertar de todo o corpo de professores."
José Carlos Mariátegui (1894-1930)
Por Marcos César de
Oliveira Pinheiro*
Onde
não há luta são os patrões que decidem a agenda e
os termos do debate. Expressões como «exploração», «classe» ou «luta» estão
banidas do léxico comum. Palavras como «greve» ou «paralisação»
estão indelevelmente associadas ao «mal». Porque na língua universal do
capitalismo a semântica é um instrumento de opressão e dominação de classe, onde não há luta chama-se «cidadania»
às contradições insanáveis entre exploradores e explorados, e «educação» ao
processo de adestramento para o mercado de trabalho, gerador e perpetuador das
contradições sociais. Onde não há luta
prevalece o medo.
No entanto, onde há luta os trabalhadores são mais
fortes e é mais difícil aos patrões queimar as suas energias em idealismos
vácuos e radicalismos inconsequentes. Onde
há luta, nasce a consciência política e garante que a experiência acumulada
fortaleça a certeza da vitória, não obstante as derrotas temporárias, e converge
para a construção da unidade da categoria. Onde
há luta, os trabalhadores não só marcam o passo da agenda política, como
travam os interesses daqueles que visam o sucateamento da educação pública. Se
não foram mais longe na destruição da escola pública, é porque sempre se
depararam com a resistência daqueles que lutam. Evoco aqui os nomes de alguns educadores
importantes nesta luta em defesa da escola pública: Florestan Fernandes, Anísio
Teixeira, Paschoal Lemme, Paulo Freire, entre muitos outros.
Onde
há luta tudo é conquistável e potencialmente perdível. Mas onde não há luta a derrota é certa.
Diante da política de
pilhagem a que estão sendo submetidos os professores de Rio das Ostras, A LUTA É MAIS DO QUE JUSTA. Não se pode
aceitar o argumento de equilíbrio das contas públicas para justificar a
violação dos direitos, mais do que legítimos, dos professores. Não se pode
aceitar a regra dos donos do poder de “socialização dos prejuízos”, afetando
seriamente os setores que assistem à população mais pobre (educação e saúde). Não
se pode aceitar esta “nova lei” da Gratificação de Regência de Classe (GRC),
que não passa de uma versão piorada do que já existia. Não se pode aceitar este
PCCV (plano de cargas e salários), autointitulado “instrumento normativo”, recheado
de arbitrariedades e que poucos direitos assegura. Não se pode aceitar que qualquer
política educacional ou qualquer outra que diga respeito ao magistério sejam
formuladas ou revistas (no caso, do PCCV) sem a participação efetiva dos
professores e das entidades de classe. Não se pode aceitar que os gastos do
FUNDEB continuem sendo realizados sem uma prestação de contas, totalmente
transparente, aos professores.
Conforme salienta o
jornalista português e militante comunista Miguel Urbano Rodrigues:
A história ensina que na vida dos povos vítimas de uma opressão intolerável, as grandes lutas fermentam por tempo variável até que eles se levantam em explosões sociais vitoriosas. Então exercem o direito de resistência e à rebelião - direito que é antiquíssimo e consta do artigo 2º da Declaração Universal dos Direitos do Homem e do Cidadão promulgada pela Revolução Francesa de 1789. É o direito à resistência contra a opressão econômica e social, direito que, após os horrores da Segunda Guerra Mundial, foi incluído na Declaração Universal dos Direitos do Homem (artigos 22 a 25).
A Constituição da
Republica Federativa do Brasil menciona-o no artigo 9. Como consta abaixo:
Art. 9º É assegurado o direito de greve, competindo aos trabalhadores decidir sobre a oportunidade de exercê-lo e sobre os interesses que devam por meio dele defender.
Ora, o direito de greve
é uma das formas de se exercer, ainda que parcialmente, o direito à resistência
contra a opressão econômica. Opressão a que estão sendo submetidos os
professores da rede municipal de ensino público de Rio das Ostras.
A luta pela
efetiva e verdadeira valorização do magistério também é uma das etapas da luta
pela educação pública de qualidade.
Transformar a
indignação numa atmosfera de combatividade crescente dos professores será um
avanço. Será um golpe importante na engrenagem da máquina pública municipal,
assentada no mandonismo, no clientelismo, no nepotismo e na repressão (de
várias ordens). Será um passo importante para forçar a democratização das
relações poder público X cidadãos no município de Rio das Ostras.
Nas palavras de
Paschoal Lemme, “o ensino e a educação só avançam, só progridem realmente
quando as respectivas reformas resultam de transformações reais ocorridas na
estrutura da sociedade, quando impulsionadas e realizadas pelas forças
progressistas vitoriosas na luta pelo poder político”. Afirma que “uma das
ilusões mais ingênuas dos educadores é a crença de que reformas educacionais
transformam a sociedade, quando o que se dá é exatamente o contrário”. Por
isso, que se afirma que quando o professor está lutando também está ensinando.
Porque é na luta que ele desenvolve um processo pedagógico diferenciado na sua
relação com o educando. É lutando a melhor maneira de fazer da escola um espaço
que venha a contribuir para a apropriação e produção de um modo de pensar diferente do que
predominou historicamente.
* Professor de História da Rede Municipal de Ensino Público de Rio das Ostras. Matrícula: 6273-1. Lotado na Escola Municipal Padre José Dilson Dórea, bairro Âncora, Rio das Ostras.
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