Em Amor & capital, Mary Gabriel investiga a fundo a saga da família Marx e contextualiza o nascimento da maior revolução no pensamento moderno.
Uma narrativa épica, rica em imagens, notas e detalhes que documentam a trajetória de Karl Marx. Conheça a história de amor que o uniu a sua esposa, Jenny von Westphalen, que teve um papel decisivo na vida do pensador. Ao longo de décadas de uma vida miserável, a bela e intelectualizada Jenny apoiou Marx enquanto era construída sua obra-prima, O capital.
“Um relato magistral das vidas de Karl Marx e sua esposa Jenny, notável pela facilidade com que transita entre as esferas doméstica e política.” - Publishers Weekly
Livro busca lado "família" do pensador alemão Karl Marx
Poucas pessoas estranham tanto as frias estátuas de Karl Marx, como as do parque de Budapest, quanto a americana Mary Gabriel.
Ela passou anos trabalhando num livro que busca mostrar o que há de mais humano no intelectual alemão.
"Amor e Capital - A Saga Familiar de Karl Marx e o Nascimento de Uma Revolução" ganhará edição brasileira na segunda quinzena de março, pela editora Zahar.
Gabriel afirma que decidiu escrever o livro depois de ter lido uma reportagem sobre as duas filhas de Marx que cometeram suicídio.
Ao mergulhar nas pesquisas sobre o ambiente familiar do intelectual, no entanto, a jornalista e biógrafa se surpreendeu. Apesar das inúmeras dificuldades enfrentadas pela família Marx, encontrou no pensador o que ela sintetiza como "um pai carinhoso e esposo dedicado".
Com quase mil páginas, repletas de documentos, fotos e mapas, a obra, finalista de prêmios como o Pulitzer, descreve as idas e vindas da família entre Londres, Paris, Bruxelas e Berlim.
A autora dá destaque para o papel "decisivo" que acredita ter tido na vida de Marx a mulher do intelecutal, Jenny von Westphalen.
AMOR E CAPITAL
AUTORA Mary Gabriel
TRADUÇÃO Alexandre Barbosa de Souza
EDITORA Zahar
QUANTO R$ 89,90 (968 págs.)
AUTORA Mary Gabriel
TRADUÇÃO Alexandre Barbosa de Souza
EDITORA Zahar
QUANTO R$ 89,90 (968 págs.)
Nova tradução de "O Capital", seminário e lançamentos reforçam a importância dos trabalhos do pensador alemão para a compreensão crítica do capitalismo, especialmente em épocas de crise
Por Leonardo Cazes
Quase 150 anos depois da publicação, na Alemanha, do seu primeiro volume, “O Capital” de Karl Marx continua mobilizando debates na História, nas ciências sociais e na economia. Descrita pelo filósofo esloveno Slavoj Žižek como “a melhor descrição da dinâmica do capitalismo global” (leia entrevista abaixo), a obra seminal ganha uma nova tradução em português, de Rubens Enderle, pela Boitempo. Paralelamente, são lançados no Brasil “Para entender ‘O Capital’” (Boitempo), um guia de leitura escrito pelo geógrafo marxista David Harvey, e a biografia de Marx “Amor e capital” (Zahar), finalista do Pulitzer, da jornalista americana Mary Gabriel.
Mas por que, mais de um século depois, a obra ainda motiva novos estudos e traduções? Professores e pesquisadores concordam que, depois do ostracismo iniciado na metade da década de 1980 e que seguiu até o começo dos anos 2000, a crise econômica que eclodiu em 2008 impulsionou um retorno à explicação de Marx sobre o funcionamento do capitalismo. David Harvey, que há 40 anos dá cursos sobre “O Capital”, acompanhou as ondas de interesse dos alunos ao longo das décadas.
— Quando comecei a dar aulas, havia muito interesse dos estudantes em ler o livro. Isso diminuiu durante os anos de 1980 e 1990, mas cresceu bastante após os incidentes de 2007 e 2008 — afirma o professor, que é um dos convidados do “IV Seminário Margem Esquerda: Marx e O Capital”, promovido pela Boitempo, nos dias 22 e 23 de março em São Paulo. — Uma coisa impressionante de ensinar esse texto ao longo de todos esses anos é que “O Capital” foi escrito no século XIX, mas faz muito mais sentido agora.
Para Jorge Grespan, professor de História da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (FFLCH/USP) e autor de “O negativo do Capital” (Expressão Popular), a teoria marxista foi descartada com muita facilidade nas duas últimas décadas do século passado. Entre as razões estão a crise do bloco soviético e dos modelos de socialismo da época e, ao mesmo tempo, um reforço da crença de que o capitalismo tinha mudado radicalmente. No entanto, para o professor, a crise atual demonstra que as mudanças não afetaram o caráter contraditório do sistema.
— O capitalismo mudou, mas não se tornou imune a crises. As mudanças que ocorreram na entrada maciça do conhecimento (como fator produtivo), a mundialização e a luta por mercados só aumentaram a virulência da crise. Agravaram o caráter contraditório do capital. Agora, o pessoal fica meio perdido, porque Marx foi descartado muito rapidamente. Esse movimento foi mundial, poucos grupos prosseguiram. Marx é atual porque o sistema continua assentado em contradições — argumenta Grespan.
Outro fator que contribuiu para o reaquecimento do campo foram as edições do projeto MEGA (Marx-Engels Gesamtausgabe), um pool de centros de pesquisa que desde o início da década de 1990 se debruça sobre os manuscritos de Marx e Engels. O objetivo é editar todas as obras de acordo com os originais deixados pelos dois, concentrados hoje na Holanda e na Rússia. O MEGA possui quatro divisões: a primeira inclui as obras de caráter político; a segunda abrange os textos econômicos; a terceira, as cartas; e a quarta, os artigos científicos.
A nova tradução da Boitempo utiliza como referência a edição alemã do projeto MEGA e tem textos de apresentação de Jacob Gorender (publicado originalmente em 1983), José Arthur Giannotti e Louis Althusser, este inédito em português. A edição será dividida em três volumes, sendo o segundo previsto para 2014 e o terceiro para 2015, e ocupa um vácuo. Alguns volumes da edição de “O Capital” publicada em 2008 pela Civilização Brasileira estão esgotados.
Michael Heinrich, integrante da equipe que trabalhou na edição dos escritos econômicos do MEGA e outro convidado do seminário promovido pela Boitempo, explica que Marx publicou apenas o primeiro volume de “O Capital” em vida e os outros dois foram editados por Engels. Mesmo este volume teve duas edições na Alemanha (uma em 1867 e outra em 1872) e uma na França, modificada pelo próprio autor. Suas obras póstumas foram muito alteradas por editores e a missão do projeto foi manter fidelidade filológica aos manuscritos. Heinrich diz que, especialmente no terceiro volume de “O Capital”, os textos originais mostraram diferenças importantes em relação aos publicados.
— Frases eram mudadas, parágrafos trocados de ordem, mas Marx não se tornou amigo do capitalismo (risos). Para uma consideração científica do marxismo, elas são significativas, como na formulação da teoria da crise e na famosa discussão sobre a tendência de queda da taxa de lucro — afirma. — Ele não analisou o capitalismo inglês do século XIX. Se fizesse isso, “O Capital” só interessaria aos historiadores como uma relíquia. Ele dissecou o que é o capitalismo. Por exemplo, Marx já falava de capital fictício no século XIX, da financeirização da economia, da transformação de capital em crédito.
Contudo, saudar o legado e a atualidade de Marx não significa uma recepção acrítica do que ele escreveu. Muito pelo contrário. Harvey cita uma carta escrita pelo próprio titulada “Por uma crítica implacável de tudo que existe”. O geógrafo conta que sempre pede aos estudantes que tenham isso em mente quando estão lendo Marx e os outros marxistas.
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