SILAS MARTÍ
DE SÃO PAULO
O ano que chegou ontem ao fim entrará para a história da arte como divisor de
águas: nunca ciência e tecnologia foram aplicadas de tal forma a descobertas no
campo das artes visuais, revelando obras desconhecidas, destrinchando métodos
criativos de mestres do passado e mudando o pensamento a respeito de obras
canônicas.
Tudo começou em fevereiro com o estardalhaço em torno de uma nova "Mona Lisa"
descoberta no Museu do Prado, em Madri. Antes considerada mais uma cópia do
célebre quadro de Leonardo Da Vinci, a Gioconda espanhola foi, na verdade,
pintada por um assistente do artista ao lado da original, ao mesmo tempo em que
o mestre renascentista executava a sua obra.
Ilustração Carolina Daffara/Editoria de Arte | ||
Radiografias mostram que as mesmas alterações nos esboços de Da Vinci por
trás da camada de tinta foram feitas por seu assistente na "Mona Lisa" do Prado,
o que revela que o autor da cópia só podia estar no ateliê do mestre.
Meses depois, foi confirmada a existência de outra "Medusa" de Caravaggio.
Além da famosa pintura do monstro sobre um escudo na Galleria degli Uffizi, em
Florença, havia uma primeira versão que o mestre do barroco fez para si mesmo e
guardou.
Essa nova "Medusa", que foi exposta no Brasil, esclareceu o enigma que há
séculos perturbava historiadores. O esboço original da pintura, que não existe
por baixo da versão dos Uffizi, foi feito por Caravaggio só na primeira versão e
projetada à luz de vela para o segundo escudo, o que explica a perfeição de uma
pintura que a princípio parecia feita sem esboços.
Mais para o fim do ano, uma grande exposição no Metropolitan, em Nova York,
juntou especialistas de Harvard e conhecedores da obra de Gian Lorenzo Bernini
para explicar como o maior escultor de Roma trabalhava.
Uma técnica que analisa a textura interna de seus modelos de argila revelou
que, em vez de esculpir o material como um bloco de mármore, ele fazia
movimentos bruscos com as mãos para moldar, num só golpe, os modelos
preparatórios das peças.
Por fim, outro ambicioso restauro devolveu os tons de azul originais à
"Mulher de Azul Lendo uma Carta", obra de Johannes Vermeer, tela agora em
exibição no Masp.
FONTE: Folha de São Paulo
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