"Abril Vermelho": MST ocupa 30 fazendas na Bahia em quatro dias
Guilherme Balza
Do UOL Notícias
Em São Paulo
Trinta fazendas distribuídas pela Bahia foram ocupadas entre sexta-feira (1º) e hoje por integrantes do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra). As ações fazem parte do “Abril Vermelho”, jornada de lutas que o movimento faz para relembrar o massacre de Eldorado dos Carajás --ocorrido em 17 de abril de 1996-- e exigir do governo medidas para a reforma agrária.
A maior parte das ocupações ocorreu na madrugada de hoje, segundo Márcio Mattos, integrante da direção nacional do movimento. “Até o dia 17 vamos fazer 50 ocupações. A Bahia é o Estado do país que tem a maior demanda de famílias a serem assentadas (25 mil), e 70% dos território é composto por áreas devolutas [propriedades públicas]. É preciso que o governo tome medidas”, disse. De acordo com a liderança, as ocupações no Estado irão mobilizar cerca de 12 mil famílias.
No sábado, duas fazendas nos municípios de Alcobaça e Teixeira de Freitas, no extremo sul do Estado, foram ocupadas por 200 famílias. Segundo os sem-terra, as propriedades foram abandonadas pelos proprietários. Nesta segunda, outras oito ocupações foram realizadas no extremo sul por cerca de 2.000 famílias, três delas em propriedades da multinacional do eucalipto Veracel Celulose.
Em Camacã, na Costa do Cacau, o MST afirma que 120 famílias ocuparam a fazenda Sapucaia, considerada improdutiva pelo Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária) há dois anos, segundo o movimento. Outras três fazendas foram ocupadas no Norte do Estado por 800 famílias, entre elas a propriedade do traficante colombiano Juan Carlos Abadia, em Juazeiro, de acordo com o movimento.
Na região da Chapada Diamantina, cerca de 600 famílias ocuparam três fazendas de Augusto César Requião, preso pela Polícia Federal em 2010 durante operação para combater a exploração de caça-níqueis e jogos de azar. Os sem-terra também entraram em propriedades nos municípios de Camamu, Venceslau Guimarães, Curaçá, Feira de Santana, Sátiro Dias, Itapatinga, entre outros.
De acordo com Matos, não houve conflitos durante as ações, e as famílias vão permanecer nas propriedades até começarem os processos de negociação. “Cada área vai ter o seu processo de negociação. Só sairemos quando concretizarem a desapropriação dessas áreas”, afirma a liderança.
Além das ocupações, 430 sem-terra fizeram uma marcha em direção a Paulo Afonso e bloquearam a BR-110. Os manifestantes exigem uma reunião com a Companhia Hidroelétrica do São Francisco (Chesf) e com o Incra para que as terras do grupo sejam utilizadas para assentar 250 famílias que ocupam o local há cinco anos.
Ao longo das eleições presidenciais, a maioria dos setores do MST manifestou apoio à candidatura de Dilma Rousseff, sob o argumento de que a vitória do tucano José Serra traria o “pior dos mundos” aos sem-terra. Para Matos, o MST não vai usar o apoio para barganhar políticas a seu favor.
“Apoiamos a Dilma por acreditar que ela era a melhor opção. Agora vamos pressionar o governo para que faça a reforma agrária, que é uma obrigação do Estado brasileiro prevista na Constituição. Se fosse o Serra pressionaríamos da mesma maneira”, diz.
Os sem-terra argumentam que a reforma agrária vai ao encontro da proposta de Dilma de erradicar a pobreza no país. “A meta principal do governo é combater a miséria, e não tem instrumento mais eficaz para fazer isso do que a reforma agrária.”
Com a jornada, o MST da Bahia também exige melhorias na infraestrutura nos assentamentos, construção de escolas, entre outras medidas.
Sul
No Rio Grande do Sul, 400 sem-terra deram prosseguimento à marcha que realizam no interior do Estado. Hoje, eles saíram do município de Barra Funda, passaram por Carazinho e devem chegar a Sarandi amanhã (5). Uma reunião está marcada para essa terça entre representantes dos governos federal e estadual para tratar do assentamento de 1.000 famílias que estão acampadas no Rio Grande do Sul.
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Quinze anos após o Massacre de Carajás, MST faz Abril Vermelho para colocar reforma agrária na pauta de Dilma
Gilberto Costa
Da Agência Brasil
Em Brasília
O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) quer aproveitar a jornada nacional de lutas, mobilização mais conhecida como Abril Vermelho, para inaugurar a agenda da reforma agrária no governo Dilma Rousseff.
De acordo com Ulisses Monaças, da coordenação nacional do movimento no Pará, “a intenção é reconduzir a pauta e colocar a reforma agrária na agenda do governo”. Segundo ele, o MST fará campanha contra o uso de agrotóxicos na lavoura. “O Brasil é o maior consumidor de veneno no mundo.”
O agrotóxico costuma ser insumo fundamental em grandes plantações. Ao abraçar a causa ambiental, o MST critica o modelo de latifúndio que combate há cerca de 28 anos. “Se pensarmos um outro tipo de utilização do solo, dos recursos naturais, da água, numa perspectiva de preservação para o futuro, evidentemente a reforma agrária passa a ser uma coisa moderna. Também queremos discutir sobre alimentação. Se a sociedade brasileira quer continuar consumindo alimentos altamente contaminados”, antecipou Gilmar Mauro, da coordenação nacional do movimento, em uma entrevista à Agência Brasil em fevereiro.
Além do retorno da pauta da reforma agrária, esquecida desde a campanha eleitoral de 2010, segundo Mauro, o Abril Vermelho marca a passagem dos 15 anos do Massacre de Eldorado dos Carajás (Pará), quando 19 trabalhadores foram assassinados na Rodovia PA-150 pela Polícia Militar do estado.
“O Abril Vermelho é sempre uma mobilização simbólica contra a violência no campo”, lembrou Ulisses Monaças. Em Eldorado de Carajás, o MST fará um “acampamento pedagógico” com 500 jovens entre os dias 10 e 17 deste mês. Em Belém, 700 trabalhadores rurais ficarão acampados na Praça da Leitura entre 15 e 19 deste mês.
A coordenação nacional do MST ainda não tem a programação fechada da mobilização nos 23 estados onde o movimento está organizado e nem confirma o número de ocupações que poderão ocorrer no mês. As ocupações já começaram no sul da Bahia, em fazendas de plantação de eucalipto.
O movimento quer ser recebido pelo governo em Brasília durante o Abril Vermelho. O secretário executivo da Secretaria-Geral da Presidência da República, Rogério Sottili, garantiu que a reforma agrária “é uma agenda importante” da presidenta Dilma Rousseff e que “o governo sempre vai receber o movimento, que é muito reconhecido”. Na última sexta-feira (1º), Dilma recebeu de uma comitiva de representantes da Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (Contag) uma pauta de 192 itens.
Além da Contag (que em maio tem programado o Grito da Terra Brasil 2011) e do MST, outros movimentos voltados à questão agrária se preparam para fazer mobilizações em Brasília nos próximos dias. Cerca de 50 pessoas ligadas à Federação Nacional dos Trabalhadores e Trabalhadoras na Agricultura Familiar do Distrito Federal e Entorno (Fetraf – DF) já estão acampadas na porta da sede do Instituto do Colonização e Reforma Agrária (Incra) na capital federal.
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