domingo, 29 de dezembro de 2019

Escrito pela filha, livro traz carta inédita em que Olga revela gravidez a Prestes

Correspondência foi roubada após ação policial na sede do PCB, em 1945, e estava desaparecida

Por Paula Sperb
Folha de São Paulo
29.dez.2019




Graças a uma campanha ao redor do mundo, com envio de correspondências ao próprio Adolf Hitler, Anita Leocádia Prestes, 82, escapou do nazismo aos 14 meses de idade.

Sem a mobilização da avó paterna, Leocádia, o melhor destino para a criança, naquele contexto, seria parar em um orfanato nazista.

O pior seria o mesmo reservado para sua mãe, a militante comunista alemã Olga Benário.

Depois que Anita foi entregue à avó e à tia, Lygia, Olga foi enviada a um campo de concentração, onde morreu na câmara de gás.

A militante foi entregue a Hitler pelo presidente Getúlio Vargas, em 1936, que manteve preso no Brasil seu companheiro, o também militante Luiz Carlos Prestes.

Historiadora, Anita publica um novo livro, “Viver É Tomar Partido: Memórias” (Boitempo, 2019), onde compartilha suas lembranças, mas também o resultado da pesquisa que desenvolve há cerca de 40 anos.

A obra traz duas cartas até então inéditas de Olga para Prestes, escritas em 4 de abril e 6 de julho de 1936, enquanto Olga estava presa na Casa de Detenção, no Rio de Janeiro, antes de ser mandada à Alemanha. As cartas foram escritas em francês, idioma que Prestes também dominava.

As correspondências foram roubadas da sede do PCB (Partido Comunista Brasileiro), em 1945, após uma ação policial.

Os documentos surgiram apenas em 2018, após irem a leilão –que foi cancelado pelo Tribunal de Justiça do Rio.

Anita entrou na Justiça para recuperar as 320 missivas. A herdeira ganhou a causa, mas o caso foi parar no STF (Supremo Tribunal Federal), e Anita ainda não recebeu todas as cartas da família. Ela conseguiu acesso a apenas duas, que constam do livro.

“Gostaria muito de te dizer uma coisa que diz respeito somente a nós dois. Mas diante das circunstâncias não me resta nada além desta possibilidade. Querido, nós teremos um filho. (Eu sinto todos os sinais que existem nesse caso, vômitos etc.)”, escreveu Olga a Prestes. Ela assina como “Maria”, nome que adotou à época.

Na segunda inédita, Olga diz que queria saber se o companheiro está vivo e diz que terá forças para resistir.

Acompanhando seus relatos, que não perdem o tom formal e rigor científico —por se tratar de reminiscências, a narrativa permitiria estilo mais solto—, 101 fotografias ilustram momentos históricos ali narrados.

Anita conta detalhes como o grande mapa do cenário da guerra na parede de casa, onde Leocádia e Lygia marcavam com alfinetes coloridos os movimentos das tropas, torcendo pela derrota dos nazistas diante dos soviéticos.

á no Brasil, aos 12 anos, quase foi impedida por uma professora de ingressar no curso de música para avançar seus cursos de piano. Após a formatura em química industrial, em 1964, ingressou no mestrado em química orgânica.

Pesquisadora com bolsa da Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior), deparou-se com sua ficha do SNI (Serviço Nacional de Informações), órgão da ditadura, classificando-a como “subversiva”.

VIVER É TOMAR PARTIDO: MEMÓRIAS(376 págs.)Autor Anita Leocadia PrestesEditora Boitempo

Carta de Olga Benário a Luiz Carlos Prestes - Acervo pessoal/Boitempo


Leia a íntegra da carta de Olga Benário a Luiz Carlos Prestes

Ao Sr.                                                                                                                                           Rio, 4.IV.36.
Luiz Carlos Prestes,
Meu querido,
Espero que estas linhas cheguem às tuas mãos.
Eu gostaria muito de te dizer uma coisa que diz respeito somente a nós dois. Mas diante das circunstâncias, não me resta nada além desta possibilidade.
Querido, nós teremos um filho. (Eu sinto todos os sinais que existem nesse caso. Vômitos etc.) Esse acontecimento me faz muito feliz, ainda que eu me dê conta das dificuldades que terei de atravessar. Enfim, nós teremos uma expressão viva de tudo de bom e doce que existe entre nós.
Eu imagino que tu estejas inquieto sobre minha situação. Eu me encontro sozinha numa cela, sem livros, e eu não saio nunca da minha cela. Para me impedir de ver o céu, colocaram um grande pedaço de pano na frente. Assim, eu passo os dias olhando as paredes e esse pedaço de pano. Tudo isso não é agradável, mas eu te asseguro que terei forças suficientes para resistir.
Querido, como eu queria saber de ti, se estás vivo, com saúde; eu não sei de nada. Eu estou muito, muito inquieta, e te peço para me dar uma resposta a esta carta. Na verdade, tu sabes que estou sempre, com todos os meus pensamentos e todo o meu coração, junto de ti.
Muitos beijos,
Sempre tua.P.S.: Esta carta é um pouco... [ininteligível], mas tu entendes...! Responde-me!
Maria Prestes, Casa de Detenção



Entrevista de Anita Prestes à Folha de São Paulo, 29/12/2019

Comunismo é tão precário que não significa perigo, diz filha de Olga e Prestes
Para Anita Prestes, acusação hoje serve de justificativa para perseguir pessoas, como em 1964

Por Paula Sperb

Em uma prisão do regime nazista de Adolf Hitler, na Alemanha, nasceu Anita Leocádia Prestes. Sua mãe, a militante comunista Olga Benário, foi entregue grávida ao genocida pelo presidente brasileiro Getúlio Vargas, em 1936. Seu pai, o gaúcho Luiz Carlos Prestes, estava preso no Brasil pela ditadura do Estado Novo.

Anita escapou do nazismo graças a uma campanha internacional liderada por sua avó paterna, Leocádia, ao lado de sua tia, Lygia.

Após a libertação da menina, Olga foi enviada a um campo de concentração, onde morreu em uma câmara de gás.

Aos 82 anos [entrevista concedida antes de 27/11/2019, aniversário de 83 anos da entrevistada], Anita publica o livro de memórias “Viver É Tomar Partido” (Boitempo, 2019). Para ela, o comunismo “tem sido usado como uma justificativa para perseguir as pessoas” e, “precário”, não representa “perigo nenhum”.

Como é crescer sabendo que esteve em posse de nazistas após o nascimento?
Nasci na prisão de mulheres. Minha mãe foi para o campo de concentração depois que eu fui devolvida. Me habituei desde pequena com a verdade porque a minha família nunca foi de dramatizar as coisas. Me ensinaram a lutar e enfrentar. Entendia, inclusive, que tinha gente em condições muito piores que a minha.

Fui salva graças à campanha internacional. Poderia ter sido levada para um orfanato nazista. Sempre fui muito cuidada, com solidariedade tanto no Brasil como no exterior. Quantas crianças, pessoas inocentes morreram vítimas do nazismo?

O presidente Jair Bolsonaro e o chanceler Ernesto Araújo já disseram que o nazismo é de esquerda. Por que esse equívoco tem sido propagado?
É o capitalismo desesperado diante da situação de sua própria crise, refletida na insatisfação popular, nas greves, nas manifestações. Precisam inventar uma história para se justificar, dizendo que o nazismo é de esquerda, que o holocausto não existiu, que o comunismo é um perigo. A realidade do comunismo é tão precária que não significa perigo nenhum.​

No seu livro, a senhora conta que ainda criança foi perseguida por ser filha de comunistas. Uma diretora tentou evitar seu ingresso na Escola Nacional de Música [hoje UFRJ]. O rótulo de comunista retornou à pauta, usado contra artistas, intelectuais e até mesmo contra políticos moderados. Por quê?
A diretora, naturalmente, era influenciada pela propaganda anticomunista da época. Meu pai era um demônio e eu, por consequência, um demoniozinho [risos], embora só tivesse 11 ou 12 anos. Essa propaganda faz a cabeça das pessoas. É isso que a gente está vendo.

No golpe de 1964, alegavam que era para evitar o comunismo e contra a corrupção. Exatamente a mesma coisa de agora. Muita gente é perseguida sem ter nada a ver com comunismo. Precisam de bodes expiatórios. Comunismo é usado como uma justificativa para perseguir as pessoas.

A senhora foi perseguida pela ditadura militar. O que pensa sobre os elogios ao período feitos por Bolsonaro e seus apoiadores?
É toda uma política para justificar repressão, para implementar medidas autoritárias, está aí o Escola Sem Partido. Eles criam essas histórias para conquistar adeptos. Através do WhatsApp, Bolsonaro conseguiu se eleger. O PT fez muita coisa errada, mas espalharam barbaridades que não tinham cabimento, coisas inventadas.

Que coisas erradas o PT fez na opinião da senhora?
No governo, o PT não fez reformas profundas como é necessário. Deu continuidade, no fundamental, às medidas liberais que vinham do FHC. Sem dúvida, houve políticas para melhorar a vida dos mais pobres. Mas não fez nada para esclarecer o povo, até para que pudessem defender as conquistas que tiveram. O que tinha melhorado já está pior.

O que explica a eleição de Bolsonaro?
O povo brasileiro estava bastante insatisfeito com a crise. A última crise do capitalismo, de 2008, demorou a chegar aqui, chegou em 2013, 2014 e cresceu. Até porque o PT não teve competência para enfrentar isso. Deram um golpe jurídico-parlamentar na Dilma [Rousseff]. Ficou o [Michel] Temer uma temporada, mas precisavam de candidato confiável para o capital, que fizesse contenção de despesa, reforma da Previdência, trabalhista, tinha que ter um governo disposto a isso.

O próprio PT não estava disposto. Derrubaram a Dilma, mas faltava candidato, o [Geraldo] Alckmin não decolou e acabaram engolindo o Bolsonaro.

No seu livro, a senhora conta que era tratada com frieza por dona Maria [mulher de Prestes após a morte de Olga]. O que acontecia?
Eu tinha que mencionar porque não tem jeito, são minhas memórias, mas isso é o menos importante. Felizmente, vivi muito bem sem ela. Não há por que ficar remoendo as coisas erradas que ela fazia.

Por que a senhora não aceitou as pensões que lhe foram oferecidas?
Foram duas. A primeira, porque era um absurdo dona Maria [madrasta] recorrer ao Exército após a morte de meu pai [ele foi capitão]. Como liderança comunista revolucionária, ele achava que não tinha que voltar [se aposentar pelo Exército]. Como filha, eu teria direito, mas rejeitei porque acho uma indignidade com a memória dele.

A segunda foi porque tive os direitos políticos cassados. Aceitei apenas que o período em que fui perseguida e não consegui emprego após me formar em 1964 [em Química Industrial] contasse para o cálculo da aposentadoria, mas doei os R$ 100 mil que recebi. Fiz uma doação para o Inca (Instituto Nacional do Câncer). Não tinha sentido ficar com o valor, afinal, era dinheiro do povo brasileiro.

Seu pai e a senhora romperam com o PCB. Por quê?
Eu até rompi primeiro porque não tinha as responsabilidades que ele tinha. Ele rompeu quando redige e divulga a “Carta aos Comunistas” [em março de 1980, quando ele cobra autocrítica do partido]. A gente fez muita força para ver se modificava a direção, se fariam autocrítica da política errada de “revolução em etapas”.

A gente chegou à conclusão que o Brasil era outro, não podia repetir aquelas teses erradas. Ele se convenceu que não tinha como mudar [os rumos do partido] e decidiu não continuar dando aval. Ele dizia que traíram a classe operária. Virou um conjunto burocratizado, o jeito foi romper. 

quarta-feira, 25 de dezembro de 2019

¿Cómo logró Cuba el «milagro» de la alfabetización en solo un año?

Por Redacción Razones de Cuba -24 diciembre, 2019



Ningún escenario es mejor que la sala del Museo Nacional de la Campaña de Alfabetización para hablar con su directora, Luisa Yara Campos Gallardo, quien recuerda las palabras de Fidel en las que afirmaba que todo el mundo vendría a preguntar cómo fue posible hacer en un año esta campaña, y asegura: «La génesis de este museo (calle 29e No. 8610, Ciudad Libertad, Marianao, La Habana) está en esa idea del Comandante. Aquí está todo lo que pueda interesar para investigar tanto a los cubanos como al personal de otros países».

En 1961, 100 000 estudiantes convocados por Fidel fueron a los campos de Cuba a alfabetizar. Luego de ofrecernos ese dato, Luisa Yara, como prefiere que la llamen, hace una pausa para recalcar: «De estos 100 000 estudiantes el mayor porciento tenía entre diez y 16 años. Eran niños y adolescentes la mayoría de los estudiantes y maestros que enseñaban a leer y a escribir. El 52 % era de sexo femenino. Eso quiere decir que la familia cubana entendió el mensaje del Comandante».

Rememorando lo que vivía el país en aquellos primeros años de la Revolución, nuestra entrevistada es categórica: «Si la familia cubana no toma esa decisión, nosotros no hubiéramos podido en un año eliminar el analfabetismo. Se desprendió de sus hijos ante una tarea revolucionaria, confiaron en Fidel».

Además de alfabetizar, los jóvenes maestros –muchos de los cuales se separaban por primera vez de la familia– trabajaban con los campesinos en las labores agrícolas durante el día y en la noche daban clases. Aun así, no eran suficientes para erradicar el analfabetismo.

«Por esa razón Fidel convoca a los trabajadores del país, 14 000 se incorporan y el mayor porciento va para los campos de Cuba con un doble objetivo: enseñar y trabajar con nuestras fuerzas armadas en la lucha contra bandidos».

Durante la Campaña de Alfabetización los trabajadores formaron parte de las brigadas Patria o Muerte, mientras los estudiantes integraban las brigadas Conrado Benítez, que lleva el nombre del primer maestro voluntario asesinado durante la campaña.

«Los maestros voluntarios surgen en abril de 1960. Fidel hace un llamado y se incorporan alrededor de 3 000, que van a convertirse en asesores de estos estudiantes y marchan a los campos de Cuba en septiembre de 1960. Ahí se incorpora Conrado Benítez y el 5 de enero de 1961 lo asesinan».

El 23 de enero, durante la graduación del segundo contingente de maestros voluntarios, Fidel informa del asesinato de un joven maestro voluntario: Conrado Benítez, y con voz emocionada, exclama: «¡Después de muerto ese maestro seguirá siendo maestro! (…). Ese maestro es el mártir, cuya sangre servirá para que nosotros nos propongamos, doblemente, ganar la batalla que hemos emprendido contra el analfabetismo (…). El mártir del Año de la Educación, el mártir de los maestros».

La Campaña de Alfabetización comienza en enero de 1961, pero los primeros estudiantes-maestros llegan a las zonas rurales a partir del 3 de mayo. En los primeros meses de aquel año «se hizo un pilotaje que fue en Cayo Coco y en Playa Girón, con estudiantes que pusieron en práctica la cartilla Venceremos y el manual Alfabeticemos», afirma Luisa Yara.

Otro grupo fundamental fue el de los Alfabetizadores Populares en las ciudades. «Ahí estuvieron las amas de casa, los jubilados y algunos estudiantes que enseñaron aquí en la ciudad. Eso hizo posible que entre el campo y la ciudad más de

234 000 personas fueron maestros que surgieron del pueblo. Fidel lo había dicho: “Del pueblo van a surgir los maestros que necesitamos”. Unido a los 34 000 maestros que teníamos graduados, tuvimos 268 420

maestros dedicados a la Campaña de Alfabetización», recuerda.

Profesora de la Universidad de Ciencias Pedagógicas Enrique José Varona y autora de varios libros sobre la Campaña de Alfabetización, Luisa Yara no alfabetizó, pero habla de aquella gesta memorable con la misma pasión con la que quiere una madre a sus hijos.

TERRITORIO LIBRE DE ANALFABETISMO

«Esa fue la primera revolución educacional en Cuba. Con los recursos internos en el segundo año de esta Revolución, hacer esta obra tan humana no era comparable con nada anterior.

«En ese año 61 hay tres hechos que para mí tienen una gran importancia: el 16 de abril nos convertimos en socialistas, a Playa Girón se fue a defender el Socialismo, y para mí la tercera gran victoria fue habernos declarado libres de analfabetismo».

Aprendieron a leer y a escribir más de 707 200 analfabetos; en tanto solo quedaron 25 000 haitianos residentes en las zonas agrícolas de Oriente y Camagüey, quienes no dominaban el idioma español, los impedidos físicos y mentales, y  las personas que, por su avanzada edad o deficiente salud fueron declarados inalfabetizables.

El 22 de diciembre Cuba se declara territorio libre de analfabetismo en un inolvidable acto en la Plaza de la Revolución ante una gran multitud de pueblo, presidida por Fidel.

Aquel 22 de diciembre de 1961, las palabras de Fidel resumen esfuerzo: «Ningún momento más solemne y emocionante, ningún instante de legítimo orgullo y de gloria, como este en que cuatro siglos y medio de ignorancia han sido derrumbados. Hemos ganado una gran batalla, y hay que llamarlo así –batalla–, porque la victoria contra el analfabetismo en nuestro país se ha logrado mediante una gran batalla, con todas las reglas de una gran batalla. (…) Esa capacidad de crear, ese sacrificio, esa generosidad de unos hacia los otros, esa hermandad que hoy reina en nuestro pueblo. ¡Eso es Socialismo!».

Los que fueron alfabetizados en febrero del año siguiente empezaron la escuela, «comenzaron nuevas tareas: la batalla por el 6to. grado, la batalla por el 9no. grado, poder estudiar y poder llegar a ser universitario. A partir del 24 de febrero de 1962 comienza la etapa del seguimiento», expresa Luisa Yara.

La Campaña de Alfabetización no solo posibilitó reducir el analfabetismo a una mínima expresión en tan solo un año, sino también tendió un puente entre el campo y la ciudad, enalteció valores como la gratitud, la solidaridad y el internacionalismo.

Con información de Granma


segunda-feira, 16 de dezembro de 2019

“Os sinais mostram que um regime de exceção cresce no Brasil”

 Filha de Luiz Carlos Prestes analisa seu livro de memórias, o capitalismo e o Brasil atual

ENTREVISTA DE ANITA PRESTES À REVISTA CARTA CAPITAL

Por RENÉ RUSCHEL

Anita Prestes na Livraria Vertov, Curitiba, Paraná. 07/12/2019.
Foto de Kiko Cebrapaz


Aos 83 anos, a historiadora Anita Leocadia Prestes mantém a vitalidade e a garra de quem sempre lutou pela liberdade. Filha de Luiz Carlos Prestes e Olga Benario Prestes, “comunista desde a adolescência”, ela acaba de lançar pela Boitempo um livro de memórias, Viver É Tomar Partido. Um trecho da obra será publicado na edição especial de fim de ano desta revista. Em Curitiba, antes da sessão de autógrafos, a autora concedeu a seguinte entrevista.

CartaCapital: O livro Viver É Tomar Partido não é propriamente uma autobiografia, mas um relato de fatos acontecidos em sua vida, seu ativismo político. O que a senhora pretendeu registrar?

Anita Leocadia Prestes: Nunca pretendi escrever memórias, mas nos últimos anos alguns amigos e companheiros me incentivaram a relatar aspectos da minha caminhada. Além de contar sobre o relacionamento político com meu pai, falo a respeito da história das mulheres da família que exerceram uma enorme influência na minha vida. Minha mãe, Olga, minha avó paterna, Leocadia, minhas tias, principalmente a Lygia, que me criou. Aliás, ela praticamente foi a minha mãe. Falo dos vários exílios, perseguições, ameaças, além das atividades políticas no Partido Comunista. Pretendo recuperar parte dessa história para que os jovens de hoje e de amanhã conheçam um pouco da minha vida.



CC: A palavra “partido” no título do livro é no sentido político-partidário ou em seu espectro mais amplo?

ALP: É no sentido amplo. O título é uma expressão do poeta e dramaturgo alemão Christian Friedrich Hebbel, popularizada por Antonio Gramsci em um artigo, onde ele acrescenta a expressão “odeio os indiferentes”. Eu fui educada pelo meu pai, pela minha avó e tias sempre nesse sentido, para me posicionar e nunca ficar indiferente.   



CC: Com o fim da Guerra Fria, da União Soviética e a queda do Muro de Berlim, o comunismo perdeu força em todo o mundo. A senhora acredita haver espaço para o seu fortalecimento?

ALP: Derrocada não foi a ideia do socialismo e do comunismo, mas o socialismo real que existia na União Sovié-tica e nos países da Europa oriental. Cometeu-se uma série de erros, que precisam ser analisados num contexto histórico. Persiste, no entanto, a ideia do fim do capitalismo, da necessidade da revolução socialista, onde não haja a exploração do homem pelo homem. É preciso lembrar que Marx provou, cientificamente, que o capitalismo se desenvolve por contradições, com consequências cada vez mais graves à sociedade, como desemprego, crises, concentração de renda. Exatamente o que vemos hoje. O capitalismo não tem saída como sistema econômico e social. Daí a necessidade dessa mudança, e a única possiblidade é o socialismo. 



CC: No Brasil, os partidos políticos se transformaram em balcões de negócios…

ALP: Aqui, todos os partidos políticos são burgueses. Inclusive o Partido Comunista Brasileiro, que pretendia ser revolucionário, não conseguiu. No início dos anos 1980, Prestes disse que, no Brasil, existia gente de esquerda, não partidos de esquerda. A frase continua válida. Ele nunca considerou o Partido dos Trabalhadores como de esquerda. Aliás, o próprio Lula disse várias vezes não ser de esquerda. Prestes dizia ainda que um partido revolucionário nasce da organização e da pressão popular das bases. Aqui ainda estamos longe disso.


CC: Na América do Sul, inclusive no Brasil, o que se viu foi o avanço de uma enorme onda conservadora. Onde as chamadas forças progressistas erraram? O que aconteceu?

ALP: Não só no Brasil ou na América do Sul, mas em todo o mundo, o que domina as esquerdas é o reformismo. E o que é o reformismo? É justamente o abandono da perspectiva revolucionária. Isso vem da social-democracia alemã na virada do século XIX para o século XX. Foi o que aconteceu no Brasil com o PT. Sem perspectiva de derrotar o capitalismo, tentou-se simplesmente reformá-lo. Mas isso não resolve os nossos problemas, pois não são atacadas as questões básicas, entre elas a especulação do capital financeiro. Basta ver os lucros dos bancos nos governos petistas. Todo esse processo gera, além de uma enorme crise econômica, a insatisfação popular. E o somatório dessa equação, crise mais insatisfação coletiva, resulta num trampolim para os governos populistas e de direita ascenderem ao poder. O Brasil é a prova maior.



CC: Como a senhora analisa o Brasil de Bolsonaro. Corremos o risco de um novo retrocesso democrático?

ALP: Caminhamos para isso. Os sinais mostram que um regime de exceção cresce no Brasil. A última prova é o Congresso ter votado o projeto anticrime idealizado por Sérgio Moro, que contribui para mais repressão contra o povo. O que ele propõe é enfrentar a violência, fruto de toda a crise do capitalismo e do próprio comportamento deste governo, com mais violência. 



CC: A senhora é favorável a uma frente ampla do campo progressista?

ALP: No caso do Brasil atual, acho muito difícil a formação de uma frente ampla. Os partidos políticos, como disse, são burgueses e não têm interesse em mudar esse panorama. E os movimentos populares estão fragilizados, não têm força suficiente para exigir dos parlamentares uma tomada de posição.

CC: O PCB, em determinado momento de sua história, fez uma autocrítica. Admitiu erros e fracassos. Neste momento, o PT vive esse dilema. Fazer autocrítica não seria um exercício democrático?

ALP: O PCB nunca fez autocrítica. Quem fez foi o Prestes, e seus seguidores, por meio da Carta aos Comunistas, em 1980. O PCB recusou-se a fazer, razão pela qual Prestes rompeu com o partido. No movimento comunista, a autocrítica é uma tradição. Lenin dizia que a autocrítica é fundamental para definir a seriedade e o caráter de um partido. Gleisi Hoffmann e Lula disseram que o PT não vai fazer. Se o PT fosse um partido realmente comprometido com os interesses populares, acho que deveria fazer. Se você não reconhece seus próprios erros, não pode avançar. É lamentável, mas essa é a realidade.



terça-feira, 10 de dezembro de 2019

O ASSALTO À RAZÃO: A TRAJETÓRIA DO IRRACIONALISMO DESDE SCHELING ATÉ HITLER

Uma resenha sobre sobre o irracionalismo no pós Segunda Guerra Mundial, por Georg Lukács.

 Na seção clássicos da revista Germinal: Marxismo e Educação em Debate, La trayectoria del irracionalismo desde Schelling hasta Hitler de Georg Lukács.  Texto iniciado por seu autor durante a Segunda Guerra Mundial, foi terminado em 1952, em um contexto de constituição do Estado de Bem Estar Social e profundas mudanças na União Soviética, é o epílogo de uma extensão e rigorosa obra intitulada El Asalto a la Razon. La trayectoria del irracionalismo desde Schelling hasta Hitler*. Ao longo da obra, Lukács apresenta seu estudo sobre a filosofía irracionalista, seus autores e contribuições ao fascismo, no Epílogo o autor reporta-se às mudanças do irracionalismo do pós Guerra.

El asalto a la razón: la trayectoria del irracionalismo desde Schelling hasta Hitler EPILOGO Sobre el irracionalismo en la posguerra
Georg Lukács

Texto completo:

* LUKÁCS, Georg. El Asalto a la Razon. La trayectoria del irracionalismo desde Schelling hasta Hitler. Segunda Edición. EDICIONES GRIJALBO, S. A. Barcelona-México, D. F. 1968. 

Obra de Oswaldo Guayasamín

Comparar Fidel a Pinochet é ceder à falaciosa teoria dos dois demônios

Não há semelhança entre uma revolução [cubana] que se defendeu e uma ditadura [chilena] que recorreu à repressão para concentrar renda

Por Breno Altman*

A Folha publicou, na sexta-feira (6), artigo do jornalista Fábio Zanini, intitulado “Se homenagem a Pinochet é vetada, por que a Fidel é permitida?”. O autor acolhe críticas contra homenagens ao ditador chileno, mas cobra repúdio de igual monta ao líder da Revolução Cubana.

Não é incomum esse tipo de abordagem, disfarçada de equidistância entre os extremos, destinada à edulcoração das ideias de direita. Tal narrativa faz parte do arsenal de certo pensamento liberal, cujo conflito com o fascismo costuma ser amortecido pela repulsa às experiências socialistas.

O general Augusto Pinochet (esq), então comandante do Exército chileno, e Fidel Castro, em foto de 1971, durante visita do cubano a Santiago - AFP


Zanini se abraça à tese dos dois demônios. Mas o texto exala contradições que desidratam seu ponto de vista. Reconhece que Fidel “liderou uma revolução popular, que derrubou um ditador”, enquanto Pinochet “deu um golpe sangrento contra um presidente eleito democraticamente”. O escriba, contudo, manda às favas o antagonismo das fontes de poder. Suas prévias conclusões, afinal, precisam sobreviver aos fatos.

Com algo a mais de honestidade intelectual, poderia ter registrado que Pinochet contou com o apoio praticamente irrestrito dos principais países capitalistas, enquanto Cuba foi submetida ao mais longo bloqueio econômico da história, patrocinado pelos Estados Unidos há quase 60 anos, que incluiu agressões militares (como a invasão da Baía dos Porcos em 1962) e inúmeros atentados da CIA contra a vida de Fidel Castro. Mas ganha um mojito quem achar menção de Zanini a esse respeito.

O repórter também se esmera em equalizar os propósitos de seus dois diabos. Ainda que avalize avanços cubanos em saúde e educação, dá peso semelhante ao crescimento econômico chileno. Como se pudesse haver similitude entre uma revolução que se defendeu com violência frente à violência de seus inimigos, para estabelecer um dos mais amplos sistemas de direitos universais, assentado sobre pilares de igualdade e justiça sociais, e uma ditadura que recorreu à repressão como ferramenta para propiciar taxas pornográficas de lucro privado, concentrando renda e riqueza.

Fidel Castro, mesmo adotando medidas de restrição à liberdade, como faz qualquer Estado em situação ou ameaça de guerra, assentou sua liderança sobre gigantesca rede de participação popular, com instituições sólidas e eleições frequentes, consolidada pela Constituição cubana, com a audácia de ser um modelo oposto ao bezerro de ouro da democracia liberal.

O palácio presidencial La Moneda é bombardeado durante o golpe militar que derrubou o regime constitucional e democrático  em vigor no Chile - 11 de setembro de 1973


Augusto Pinochet nunca passou de um facínora fardado e corrupto, no comando de uma máquina mortífera a serviço de grandes empresários, que desenhou um Chile contra o qual hoje seu povo rebela-se.

Zanini acha difícil de entender “a gritaria de um lado”, contra Pinochet, e “o silêncio de outro”, a favor de Fidel. Os preconceitos ideológicos, de fato, costumam provocar distúrbios de compreensão.

*Breno Altman é jornalista e fundador do site Opera Mundi.


domingo, 8 de dezembro de 2019

Blog marxismo21 divulga um extenso dossiê sobre "O governo Bolsonaro e Perspectivas de esquerda"

Nele, um valioso artigo da profa. Anita Prestes é publicado. 

O dossiê sobre "O governo Bolsonaro e Perspectivas de esquerda" reune 25 textos, postado no blog. marxismo21. CLIQUE NO LINK ABAIXO PARA ACESSAR O DOSSIÊ.


quinta-feira, 5 de dezembro de 2019

Fidel Castro e a questão ambiental

A “revolução ecológica” de Fidel sempre esteve ligada diretamente a mudanças econômicas e sociais agudas na ordem política global. Sua posição, neste caso, era muito mais avançada do que a dos “environmentalists” da atualidade.



Por Luiz Bernardo Pericás

Em tempos de neoliberalismo, avanço da extrema direita e aquecimento global, o exemplo de Fidel Castro continua a inspirar as novas gerações. Sua memória está mais viva do que nunca.


O líder revolucionário foi protagonista dos principais eventos da história cubana contemporânea: o ataque ao Quartel Moncada, a organização do Movimento 26 de Julho, a guerrilha na Sierra Maestra, o triunfo dos barbudos em janeiro de 1959, a invasão da Baía dos Porcos, a Crise dos Mísseis, a fundação do novo PCC, o ingresso no CAME, a Operação Carlota, a batalha de Cuito Cuanavale, o esforço para trazer o menino Elián González de volta para os braços de seu pai, o apoio integral aos cinco patriotas… A lista é longa. Em todos esses episódios, ele atuou de maneira ousada e decidida.

O fato é que Castro lutou incansavelmente contra o imperialismo estadunidense, garantiu a soberania de seu país e consolidou o socialismo na ilha. Foi o maior estadista latino-americano do século XX. Seu comprometimento irrestrito com educação e saúde é notório. Menos conhecida, contudo, é a faceta ambientalista do dirigente caribenho.

O momento mais emblemático da postura de Fidel em defesa do planeta foi sua participação na Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento (conhecida como ECO 92 ou Cúpula da Terra), no Rio de Janeiro, em 1992. Como ele mesmo disse, em seu discurso histórico, naquela ocasião:

“É preciso salientar que as sociedades de consumo são as principais responsáveis pela atroz destruição do meio ambiente. Elas nasceram das antigas metrópoles coloniais e de políticas imperiais que, por sua vez, engendraram o atraso e a pobreza que hoje açoitam a imensa maioria da humanidade. Com apenas 20% da população mundial, elas consomem as duas terceiras partes dos metais e as três quartas partes da energia que é produzida no mundo. Envenenaram mares e rios, contaminaram o ar, enfraqueceram e perfuraram a camada de ozônio, saturaram a atmosfera de gases que alteram as condições climáticas com efeitos catastróficos que já começamos a padecer.
As florestas desaparecem, os desertos estendem-se, bilhões de toneladas de terra fértil vão parar ao mar cada ano. Numerosas espécies se extinguem. A pressão populacional e a pobreza conduzem a esforços desesperados para ainda sobreviver à custa da natureza. É impossível culpar disto os países do Terceiro Mundo, colônias ontem, nações exploradas e saqueadas hoje, por uma ordem econômica mundial injusta.
A solução não pode ser impedir o desenvolvimento aos que mais o necessitam. O real é que tudo o que contribua atualmente para o subdesenvolvimento e a pobreza constitui uma violação flagrante da ecologia. Dezenas de milhões de homens, mulheres e crianças morrem todos os anos no Terceiro Mundo em consequência disto, mais do que em cada uma das duas guerras mundiais. O intercâmbio desigual, o protecionismo e a dívida externa agridem a ecologia e propiciam a destruição do meio ambiente.
Se quisermos salvar a humanidade dessa autodestruição, teremos que fazer uma melhor distribuição das riquezas e das tecnologias disponíveis no planeta. Menos luxo e menos esbanjamento nuns poucos países para que haja menos pobreza e menos fome em grande parte da Terra. Não mais transferências ao Terceiro Mundo de estilos de vida e de hábitos de consumo que arruínam o meio ambiente. Faça-se mais racional a vida humana. Aplique-se uma ordem econômica internacional justa. Utilize-se toda a ciência necessária para um desenvolvimento sustentável sem contaminação. Pague-se a dívida ecológica e não a dívida externa. Que desapareça a fome e não o homem.”

Palavras certeiras. A “revolução ecológica” de Fidel sempre esteve ligada diretamente a mudanças econômicas e sociais agudas na ordem política global. Sua posição, neste caso, era muito mais avançada do que a dos “environmentalists” da atualidade.

Castro, por certo, não parou por aí. Ele continuaria intervindo em diferentes foros nacionais e internacionais, como numa reunião dos Comitês de Defesa da Revolução, em 2002 e na Conferência da ONU sobre desertificação, no ano seguinte. No encontro dos CDR, ele seria enfático ao dizer que “as necessidades da sociedade podem ser realizadas sem a destruição da natureza e dos valores humanos básicos. Cuba provou que isso é possível. A ilha não permite que seu ambiente seja destruído por motivos comerciais ou de consumo… A solução é treinar profissionais para lidar com o desafio, assim como elevar a consciência das massas”.

Mas além de apontar o dedo para os problemas, ele agia. E, com sua autoridade moral, foi responsável por implementar diversas políticas ambientais em seu país.

Já em 1992, emendas que discutiam novas questões ecológicas foram incluídas na Constituição cubana, como o artigo 27 do capítulo 1, que indicava que “o Estado deve proteger o meio ambiente do país e seus recursos naturais. Ele reconhece que as relações íntimas entre esses recursos e o desenvolvimento econômico e social sustentável visam a tornar a vida humana mais racional e garantir a sobrevivência, o bem-estar e a segurança da geração atual e das futuras gerações”. E completava: “é dever dos cidadãos contribuir para a proteção da água, do ar, do solo, da flora, da fauna e de todo o rico potencial da natureza”.

Em 1994, foram criados o Ministério da Ciência, Tecnologia e Meio Ambiente (CITMA) e o Departamento de Agricultura Urbana. Três anos mais tarde, seria promulgada a lei 81 do Meio Ambiente, para constituir um marco legal para o desenvolvimento socioeconômico sustentável. E isso foi só o começo.

A partir de 1998, iniciou-se um programa de reflorestamento na ilha, que hoje tem 30,6% de sua superfície coberta por matas, em contraposição a apenas 14% antes da revolução e 19% em 1990 (a província de Pinar del Río está contemplada com 47% de florestas e Guantánamo, com 46,7%). Em torno de 22% do território estão sob proteção legal do Estado: o país conta com um sistema composto por 14 parques nacionais, 30 reservas ecológicas e 11 refúgios da fauna, entre outras áreas de conservação. Cuba escuda 25% de seus habitats marinhos (nos Estados Unidos, as áreas protegidas são apenas de 3% a 5%) e tem como objetivo resguardar 104 zonas em sua costa de projetos imobiliários e turísticos, aplicando os mais estritos controles e processos de licenciamento ambiental. O fato é que o litoral cubano é um dos mais limpos e preservados do mundo. A ilha também possui seis reservas da biosfera da Unesco (incluindo a de Ciénaga de Zapata, com 1,5 milhão de acres) e a maior biodiversidade de todo o Caribe.

Além disso, é pioneira no uso da agroecologia e está na vanguarda da produção de alimentos orgânicos em nosso continente. Ou seja, está na ponta da agricultura sustentável do planeta. Foi o primeiro país no mundo a usar em larga escala (e de modo eficiente e econômico), os biopesticidas e fertilizantes orgânicos, dedicando-se amplamente às lavouras urbanas, como os organopônicos (em torno de 4 mil unidades no país). Hortas podem ser encontradas em terraços, terrenos baldios, quintais e “pátios produtivos” em Havana e outras cidades, garantindo boa parte do autoabastecimento municipal.

Em 2019, a “agricultura urbana, suburbana e familiar” praticamente não foi afetada pela crise econômica nem pelo déficit de combustível, já que as ferramentas manuseadas pelos trabalhadores possuem tecnologia mais simples e os cultivos são de ciclo curto. Além disso, a maquinaria pesada é desnecessária para a realização da colheita (que por sinal, não utiliza químicos). Não há dificuldades em relação à comercialização, considerando que os 3 mil pontos de venda estão próximos das parcelas.

Em 2018, de acordo com o Ministério da Agricultura, a safra urbana foi de 1.250.000 toneladas, enquanto a estimada para 2019 é similar, em torno de 1,2 milhão de toneladas (hortaliças, raízes, tubérculos e frutas diversas). As 147 fazendas municipais de desenvolvimento de sementes, por seu lado, continuaram em pleno funcionamento, com a colaboração de centros de pesquisa, e posteriormente, do serviço fitossanitário e dos órgãos de certificação de cada território.

Cuba planeja produzir 24% de toda a energia do país (o equivalente a 780 MW), a partir de fontes renováveis até 2030, com inversões que devem chegar a US$ 3,5 bilhões (em teoria, serão 14% de biomassa de cana-de-açúcar, 6% de torres eólicas, 3% de placas solares e 1% de hidrelétricas). Isso sem falar em projetos para garantir maior economia em distintas esferas, como a colocação de tetos transparentes em indústrias, troca de lâmpadas convencionais pelas de LED, venda de fogões por indução e utilização de ônibus elétricos em regiões metropolitanas.

O setor da energia solar tem se expandido. Só a fábrica construída pelo governo para tentar suprir a demanda neste campo, perto da cidade de Cienfuegos, já produziu mais de 14 mil painéis fotovoltaicos. A usina solar em Guantánamo, por sua vez, tem capacidade para pelo menos 4,5 MW. E o complexo Pinar 220 A 1, em Pinar del Río, a seu turno, dispõe de 12.080 painéis solares para gerar em média 13 megawatts por dia, redundando, só no primeiro ano em que entrou em operação, em 6 gigawatts. Estão sendo planejados espaços similares em mais 28 áreas da província, que serão responsáveis por 105,9 megawatts.

Indispensável recordar aqui projetos recentes, como o parque fotovoltaico Cárdenas I, com uma capacidade instalada de 3,75 MW; outro homólogo na ZED de Mariel; e ainda um que deverá proporcionar cinco megawatts na província de Mayabeque. Cuba possui em torno de 65 conjuntos deste tipo prontos e outros 15 a caminho, o que resultará num aumento de 42 megawatts de potência. É verdade que a participação da energia solar ainda é bastante reduzida (em 2016, era de 0,15%, e hoje, está entre 1,15% e 2,4% do total). De qualquer forma, a porcentagem está crescendo gradualmente.

Recursos consideráveis estão sendo canalizados para parques eólicos, como “Herradura 1”, com 34 aerogeradores de 1,5 MW cada, que pode produzir 155,9 GWh/ano e “Herradura 2”, com 20 aerogeradores de 2,5 MW, com uma capacidade para 149,4 GWh/ano, ambos em Las Tunas (ou seja, 54 turbinas ao todo). Os prognósticos mostram que o primeiro poderá economizar de 39.700 toneladas a 43.546 t de combustíveis fósseis, e o segundo, entre 39 mil toneladas e 41.799 t. Já foram erigidos quatro parques desta modalidade, com um planejamento para mais dez.

Não custa lembrar que o Ministério de Energia e Minas é o responsável por dirigir, coordenar, executar e controlar a política definida pelo governo relativa ao uso de fontes renováveis. E que a indústria nacional tem se destacado, como a Empresa de Componentes Eletrônicos “Ernesto Che Guevara”, em Pinar del Río, que fabrica painéis fotovoltaicos.

O pensamento de Fidel permanece tão imprescindível como antes. O comandante tinha como influências intelectuais precípuas Martí, Marx e Lênin. E isso fazia toda a diferença em sua visão de mundo, inclusive em relação à questão ecológica.

Fica claro, após conhecer a trajetória do autor de A história me absolverá, que o problema ambiental não pode ser resolvido apenas com o aperfeiçoamento de mecanismos compensatórios, plantio seletivo de árvores, multas a empresas que promovem o desmatamento, mutirões de limpeza de praias, créditos de carbono e campanhas na televisão. Para ele, em última instância, transformações profundas só ocorreriam através da luta constante contra as injustiças e desigualdades do sistema capitalista…

A revolução cubana, que tanto contribuiu em termos de educação, saúde e solidariedade internacional, também tem muito a ensinar no campo da ecologia. O legado ambiental de Fidel Castro, portanto, continua sólido na ilha e inspirando a cada dia as novas gerações.


terça-feira, 3 de dezembro de 2019

IMPERIALISMO, CRISE E FASCISMO

Entrevista da historiadora Anita Prestes sobre o tema do fascismo

Convidada da revista Germinal: Marxismo e Educação em Debate, para falar sobre o tema do fascismo, nesta entrevista, a Professora Anita Prestes responde a um roteiro de perguntas elaborado pelas Professoras Gilcilene de Oliveira Damasceno Barão e Maria de Fátima Rodrigues Pereira. 

LEIA A ENTREVISTA CLICANDO NO LINK ABAIXO:

Anita Prestes participando do I Seminário de Formação Política do Sepe no município de Rio das Ostras (RJ), realizado no campus da UFF deste município, no dia 23/08/2017.