sábado, 30 de abril de 2011

Um fogo que pode queimar a todos

Por Fidel Castro

Pode-se ou não concordar com as ideias políticas de Khaddhafi, mas a existência da Líbia como Estado independente e membro das Nações Unidas ninguém tem direito a pôr em causa.

Ainda o mundo não chegou ao que, do meu ponto de vista, constitui uma questão elementar para a sobrevivência de nossa espécie: o acesso de todos os povos aos recursos materiais deste planeta. Não existe outro no Sistema Solar que possua as mais elementares condições da vida que conhecemos.

Os próprios Estados Unidos da América sempre tentaram ser um crisol de todas as raças, de todos os credos e de todas as nações: brancas, pretas, amarelas, indígenas e mestiças, sem outras diferenças que não fossem as de amos e escravos, ricos e pobres; mas tudo dentro dos limites da fronteira: ao norte, o Canadá; ao sul, o México; ao Leste, o Atlântico e a oeste, o Pacífico. Alasca, Porto Rico e Havaí eram simples acidentes históricos.

O complicado do assunto é que não se trata de uma nobre vontade dos que lutam por um mundo melhor, o qual é tão digno de respeito como as crenças religiosas dos povos. Bastariam alguns tipos de isótopos radiativos que emanassem do urânio enriquecido consumido pelas plantas termonucleares em quantidades relativamente pequenas ─ visto que não existem na natureza ─ para pôr término à frágil existência da nossa espécie. Manter esses resíduos em volume crescentes, sob sarcófagos de betão armado e aço, é um dos maiores desafios da tecnologia.

Fatos como o acidente de Chernóbil ou o terremoto do Japão têm evidenciado esses riscos mortais.

O tema que desejo abordar hoje não é esse, mas o espanto com que ontem [26/4] observei, através do programa Dossiê de Walter Martínez, na televisão venezuelana, as imagens fílmicas da reunião entre o chefe do Departamento de Defesa, Robert Gates, e o Ministro de Defesa do Reino Unido, Liam Fox, que visitou os Estados Unidos para discutir a criminosa guerra desatada pela OTAN contra a Líbia. Era algo difícil de acreditar, o Ministro inglês ganhou o “Oscar”; era um molho de nervos, estava tenso, falava que nem louco, dava a impressão de que cuspia as palavras.

É claro que primeiro chegou à entrada do Pentágono onde Gates o esperava sorridente. As bandeiras de ambos os países, a do antigo império colonial britânico e a de seu afilhado, o império dos Estados Unidos, tremulavam no alto de ambos os lados enquanto eram entoados os hinos. A mão direita sobre o peito, a saudação militar rigorosa e solene da cerimônia do país hóspede. Foi o ato inicial. Depois penetraram os dois ministros no edifício norte-americano da Defesa. Supõe-se que falaram longamente, pelas imagens que vi quando regressavam cada um deles com um discurso em suas mãos, sem dúvida, previamente elaborado.

O contexto de todo esse cenário estava constituído pelo pessoal uniformizado. Do ângulo esquerdo via-se um jovem militar alto, magro, ao que parece rubro, cabeça rapada, boné com pala preta embutida quase até o pescoço, apresentando fuzil com baioneta, que não piscava nem se via respirar, como estampa de um soldado disposto a disparar uma bala do fuzil ou um míssil nuclear com a capacidade destruidora de 100 mil toneladas de TNT. Gates falou com o sorriso e a naturalidade de um dono. O inglês, no entanto, fê-lo da forma que expliquei.

Poucas vezes vi algo mais horrível; exibia ódio, frustração, fúria e uma linguagem ameaçadora contra o líder líbio, exigindo sua rendição incondicional. Via-se-lhe indignado porque os aviões da poderosa OTAN não tinham conseguido dobrar em 72 horas a resistência líbia.

Só lhe restava exclamar: “lágrimas, suor e sangue”, como Winston Churchill quando calculava o preço a pagar por seu país na luta contra os aviões nazis. Neste caso o papel nazi-fascista o está fazendo a OTAN com seus milhares de missões de bombardeamento com os aviões mais modernos que o mundo tem conhecido.

O cúmulo foi a decisão do Governo dos Estados Unidos autorizando o emprego dos aviões sem piloto para matar homens, mulheres e crianças líbios, como no Afeganistão, a milhares de quilômetros da Europa Ocidental, mas desta vez contra um povo árabe e africano, perante os olhos de centenas de milhões de europeus e nada menos do que em nome da Organização das Nações Unidas.

O Primeiro-ministro da Rússia, Vladimir Putin, declarou ontem que esses atos de guerra eram ilegais e ultrapassavam o marco dos acordos do Conselho de Segurança das Nações Unidas.

Os ataques grosseiros contra o povo líbio que adquirem um caráter nazi-fascista podem ser utilizados contra qualquer povo do Terceiro Mundo.

Realmente me espanta a resistência que a Líbia tem oferecido.

Agora essa belicosa organização depende de Khaddhafi. Se ele resistir e não acata suas exigências, passará à história como um dos grandes personagens dos países árabes.


A OTAN atiça um fogo que pode queimar a todos!

sexta-feira, 29 de abril de 2011

Sítio Eletrônico da Revista História & Luta de Classes

Prezados Colegas, Amigos e Camaradas

Temos a satisfação de informar que a revista HISTÓRIA & LUTA DE CLASSES, editada regularmente e de forma periódica desde 2005, encontra-se disponível on line.

 
Estão disponíveis na íntegra as quatro primeiras edições:

1. Golpe de 1964 (2005)

2. Comunicação, Cultura e Linguagem (2006)

3. Escravidão, Trabalho e Resistência (2006)

4. América Latina Contemporânea (2007)

 
Estão disponíveis, ainda, a Capa, o Sumário e a Apresentação das seguintes edições.

5. Trabalhadores e suas organizações (2008)

6. Imperialismo: teoria, experiência histórica e características contemporâneas (2008)

7. Estado e Poder (2009)

8. Questão Agrária e Reforma Agrária (2009)

9. Teoria da História (2010)

10. Militares e Luta de Classes (2010)

O endereço eletrônico é http://site.projetoham.com.br/

 
As edições de número 5, 6, 7, 8, 9 e 10 podem ser adquiridas pelo e-mail historiaelutadeclasses@uol.com.br

A edição de número 11, com o dossiê Criminalização e Violência, será lançada em maio de 2011.

Registramos nosso agradecimento ao Laboratório de Microfilmagem e Digitalização da Unioeste, que viabilizou a digitalização das revistas, e ao Projeto História e Análise Midiática, coordenado pela Profa. Dra. Carla Luciana Silva, por viabilizar a hospedagem on line.

 
COMISSÃO EDITORIAL HISTÓRIA & LUTA DA CLASSES

quinta-feira, 28 de abril de 2011

Um país de duas caras

Escrito por Fábio Konder Comparato




Na cerimônia de conclusão do curso do Instituto Rio Branco, de preparação à carreira diplomática, a presidente Dilma Rousseff declarou que o tema dos direitos humanos será promovido e defendido "em todas as instâncias internacionais sem concessões, sem discriminações e sem seletividade".

A declaração foi acolhida com aplausos de todos os lados, muito embora ela nada mais represente do que o cumprimento de um expresso dever constitucional. A Constituição Federal, em seu art. 4º, inciso II, determina que o Estado brasileiro deve reger-se, nas suas relações internacionais, pelo princípio da "prevalência dos direitos humanos".

Acontece que nessa matéria o Estado brasileiro – e não apenas este ou aquele governo – segue invariavelmente a regra dos dois pesos e duas medidas. A presidente da República corre o sério risco de passar à História como seguidora da máxima: façam o que eu digo, mas não o que faço!

Em 24 de novembro de 2010, o Brasil foi condenado por unanimidade pela Corte Interamericana de Direitos Humanos, em razão de crimes de Estado cometidos durante a chamada "Guerrilha do Araguaia". Até agora, passados cinco meses dessa decisão internacional, nenhum dos nossos (mal chamados) Poderes Públicos fez um gesto sequer para iniciar a execução dessa sentença condenatória.


Ressalte-se que, além de declarar que a decisão do Supremo Tribunal Federal de admitir a anistia dos torturadores e assassinos do regime militar "carece de efeitos jurídicos", a Corte Interamericana de Direitos Humanos exigiu, entre outras medidas, que se implementasse um curso "obrigatório e permanente de direitos humanos, dirigido a todos os níveis hierárquicos das Forças Armadas". Escusa dizer que tal curso não pode ser coordenado nem pelo Sr. Nelson Jobim nem pelo deputado Jair Bolsonaro.

Pior ainda. Inconformado com a decisão da Comissão Interamericana de Direitos Humanos, que mandou suspender as obras de construção da Usina de Belo Monte, em razão do desrespeito aos direitos fundamentais dos indígenas que de lá foram expulsos, o governo da presidente Dilma Rousseff, amuado, resolveu retirar a candidatura do ex-ministro Paulo de Tarso Vannuchi para ocupar justamente o posto de membro daquela Comissão, em substituição a Paulo Sérgio Pinheiro. Ou seja, "já que é assim, não brinco mais".

Para dizer a verdade, essa duplicidade do Estado brasileiro em matéria de direitos humanos – o que se faz aqui dentro nada tem a ver com o que se prega lá fora – não é de hoje.

Durante todo o período imperial, a escravidão de africanos e seus descendentes tinha duas faces: uma civilizada e benigna perante os europeus civilizados, outra brutal e irresponsável cá dentro.


Em 1831 o governo do Regente Diogo Feijó promulgou uma lei que submetia a processo-crime por pirataria e contrabando não só os traficantes de escravos africanos, mas também os seus importadores no território nacional. A mesma lei determinou que os africanos aqui desembarcados seriam de pleno direito considerados livres. No entanto, até 1850, como denunciou o grande advogado negro Luiz Gama, "os carregamentos eram desembarcados publicamente, em pontos escolhidos das costas do Brasil, diante das fortalezas, à vista da polícia, sem recato nem mistério; eram os africanos, sem embaraço algum, levados pelas estradas, vendidos nas povoações, nas fazendas, e batizados como escravos pelos reverendos, pelos escrupulosos párocos".

Na verdade, a Lei Eusébio de Queiroz de 1850, que extinguiu efetivamente o tráfico negreiro, só foi aplicada porque a armada inglesa, autorizada pelo Bill Aberdeen de 1845, passou a apresar os barcos negreiros, até mesmo dentro dos nossos portos.


Pois bem, uma vez extinto o comércio infame de seres humanos, o governo imperial passou a sofrer a pressão internacional para abolir a escravidão. Na conferência de Paris de 1867, convocada para tratar do assunto, as nossas autoridades não hesitaram em declarar que "os escravos são tratados com humanidade e são em geral bem alojados e alimentados… O seu trabalho é hoje moderado… ao entardecer e às noites eles repousam, praticam a religião ou vários divertimentos". Só faltou dizer que os brancos pobres se acotovelavam na entrada das fazendas, para serem admitidos como escravos…


Como combater essa duplicidade de conduta tradicional entre nós, em matéria de direitos humanos? Só há uma maneira: denunciar abertamente os verdadeiros autores desses crimes, perante o único juiz legítimo, que é o povo brasileiro.


É indispensável, antes de mais nada, mostrar que essa reprovável duplicidade de caráter é um defeito específico das falsas elites que compõem a nossa oligarquia. É preciso, porém, fazer essa denúncia diretamente perante o povo, pois em uma democracia autêntica é ele, não os governantes eleitos, quem deve exercer a soberania.

Acontece que, numa sociedade de massas, uma denúncia dessas há de ser feita, necessariamente, através dos meios de comunicação de massas. Ora, há muito tempo estes se acham submetidos à dominação de um oligopólio empresarial, cujos membros integram o núcleo oligárquico, que controla o Estado brasileiro.


Chegamos, assim, à raiz de todas as formas de duplicidade que embaralham a vida pública neste país: tudo é feito em nome do povo, mas este é impedido de tomar qualquer decisão por si mesmo. O soberano constitucional acha-se em estado de permanente tutela.

Fábio Konder Comparato é professor titular emérito da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (USP), doutor honoris causa da Universidade de Coimbra e doutor em Direito pela Universidade de Paris.

quarta-feira, 27 de abril de 2011

Governadores são derrotados no STF

Na tarde desta quarta-feira (27), o plenário do Supremo Tribunal Federal concluiu o julgamento da ADI 4.167, no tocante ao parágrafo 4º do art. 2º da Lei 11.738, que versa sobre a destinação de, no mínimo, 1/3 (um terço) da jornada de trabalho do/a professor/a para a hora aula-atividade, rejeitando, assim, a tese da inconstitucionalidade proposta pelos cinco governadores considerados “Inimigos da Educação, Traidores da Escola Pública”.

No início do mês, o STF já havia julgado constitucional a parte da Lei 11.738 que vincula o piso nacional aos vencimentos iniciais das carreiras de magistério de estados e municípios.

 
Mesmo considerando a hora aula-atividade constitucional, é possível que gestores descompromissados com a educação de qualidade não apliquem efetivamente o preceito da norma federal, em razão de a votação no STF não ter alcançado o quorum qualificado de seis votos. Nestes casos, os Sindicatos deverão ingressar com ação judicial nos tribunais estaduais, podendo eventuais recursos retornarem ao STF.

 
Diante da improcedência integral do pedido de inconstitucionalidade da Lei 11.738, e à luz dos efeitos jurídicos perpetrados no julgamento sobre a hora aula-atividade, a CNTE orienta seus sindicatos filiados a exigirem dos gestores públicos a aplicação de todos os preceitos da lei do piso do magistério, devendo, nos casos de descumprimento do parágrafo 4ª do art. 2º da Lei 11.738, os mesmos ingressarem com ação judicial para forçar, no curto prazo, o pronunciamento do judiciário local e, posteriormente, a decisão sobre o efeito vinculante na Suprema Corte.

 
Lembramos, ainda, que a aplicação dos preceitos da Lei 11.738 – questionados na ADI 4.167 – não necessita aguardar o acórdão do relator. O cumprimento da decisão deve ser imediato.

FONTE: Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação - CNTE

A quem pertence o legado de Luiz Carlos Prestes?

DE QUEM É O LEGADO?

(Publicado em Brasil de Fato, nº 425, 21 a 27/04/2011)

Por Anita Leocadia Prestes*

Não resta dúvida de que no Brasil Luiz Carlos Prestes tornou-se a expressão máxima da luta revolucionária pelo socialismo e o comunismo, pelas liberdades democráticas e pela emancipação nacional, o que é reconhecido até mesmo pelos seus adversários.

Passados mais de vinte anos do seu desaparecimento, presenciamos uma intensa disputa por seu legado e por sua herança política entre distintos partidos e entidades de diversos tipos, o que vem confirmar, mais uma vez, a importância do Cavaleiro da Esperança na História do Brasil.

Cabe lembrar, entretanto, que Luiz Carlos Prestes foi acima de tudo um revolucionário, cuja vida dedicou à pugna pela formação de um partido revolucionário, que efetivamente viesse a contribuir para a revolução em nosso país, entendida como a conquista do poder político pelas forças revolucionárias, empenhadas em acabar com a exploração do homem pelo homem e construir uma sociedade socialista, que preparasse as condições para a passagem ao comunismo. Para Prestes, a realização de reformas sociais deveria constituir apenas os possíveis degraus no caminho para a revolução, ou seja, jamais seria a meta final, apenas um meio para alcançar os objetivos revolucionários.

Não obstante os erros políticos cometidos pelo PCB, enquanto Prestes foi seu secretário-geral – erros por ele reconhecidos e pelos quais sempre assumiu a responsabilidade máxima – , toda sua trajetória à frente dos comunistas brasileiros foi dedicada ao permanente combate às tendências reformistas e de capitulação diante do inimigo de classe. Eis a razão por que as classes dominantes continuam a combater a figura de Luiz Carlos Prestes seja através de repetidas calúnias seja através do silêncio. Mesmo após 20 anos do seu desaparecimento, seu legado as continua a incomodar pelo seu caráter questionador e revolucionário.

Em 1980, Prestes rompia com a direção do PCB lançando sua hoje célebre “Carta aos Comunistas”, em que denunciava o abandono do compromisso com a revolução da maioria dos então dirigentes do partido. Após ter tentado, durante anos e sem êxito, vencer as tendências reformistas cada vez mais presentes seja nos documentos seja na prática do PCB, Luiz Carlos Prestes, num gesto de extrema coragem, afastava-se daquela direção, à qual não mais se dispunha a emprestar seu aval de reconhecido revolucionário.

Da mesma maneira como em 1980, quando denunciou de público o reformismo do PCB, Prestes hoje não estaria de acordo com aqueles que, em palavras reverenciando sua memória e proclamando-se socialistas, na prática conduzem os trabalhadores para o beco sem saída de uma política de caráter neoliberal e reformista, de uma política de manipulação das massas populares, de distribuição de migalhas para garantir o domínio do grande capital, para garantir os interesses dos grandes proprietários de terras. Prestes jamais aceitaria as homenagens do presidente de um partido (o PCdoB), em ato comemorativo realizado em 25/03/2011, que, ao mesmo tempo, defende no Congresso Nacional os interesses dos proprietários de terras. Todos que militaram junto a Prestes sabem que, nas circunstâncias atuais, ele estaria solidário, como sempre esteve, com as lutas pela reforma agrária, bastando consultar seus discursos, quando senador da República, para comprová-lo.

Por mais disputada que seja a herança do Cavaleiro da Esperança por toda sorte de reformistas e aproveitadores, empenhados em utilizar-se do seu prestígio junto às massas populares para melhor enganá-las, será a prática, conforme sempre postularam os pais fundadores do marxismo, que mostrará a quem irá pertencer o legado revolucionário de Luiz Carlos Prestes. Da mesma forma como o legado de José Marti pertence hoje aos homens e mulheres que fizeram a revolução em Cuba, o legado de Prestes pertencerá aos brasileiros e às brasileiras que realizarão a revolução brasileira.

*Anita Leocadia Prestes é professora do Programa de Pós-graduação em História Comparada da UFRJ e presidente do Instituto Luiz Carlos Prestes.


terça-feira, 26 de abril de 2011

Dia Nacional de Combate à Hipertensão Arterial

Identificar quantidade de sódio no alimento ajuda a combater a hipertensão


Do UOL Ciência e Saúde


Esta terça-feira, dia 26 de abril, é o Dia Nacional de Combate à Hipertensão Arterial, a doença cardiovascular mais frequente na população. Acredita-se que a pressão alta atinja 30% da população brasileira e, como aumenta progressivamente com a idade, pode chegar a comprometer a saúde de 50% das pessoas com mais de 60 anos.

A pressão alta é a origem de 40% dos infartos, 80% dos acidentes vascular cerebral (AVC ou derrame) e 25% dos casos de insuficiência renal terminal, segundo o Incor (Instituto do Coração do Hospital das Clínicas da FMUSP). Para Luiz Bortolotto, cardiologista e diretor da Unidade Clínica de Hipertensão do Incor, a prevenção é a maneira mais segura de combater esse mal.

Em pessoas com predisposição genética e estilo de vida inadequado (sedentarismo, obesidade, dieta hipersódica, hipercalórica e hipergordurosa) a doença acomete mais cedo e com características de maior resistência ao tratamento. Segundo a nutricionista Camila Gracia do HCor (Hospital do Coração), o consumo indicado pela OMS (Organização Mundial de Saúde) é de 5 gramas de sal, ou 2 gramas de sódio por dia para adultos.

"O principal problema é que a população não sabe associar sódio a sal e ler as informações nutricionais dos alimentos. Muitos acreditam que o sal é o responsável pela pressão alta e não entendem a relação do sódio indicado nos alimentos com a hipertensão", alerta Gracia, que acrescenta que a média de consumo nacional é de 12 g de sal por dia.

A hipertensão é caracterizada pela pressão arterial maior ou igual a 140/90 mmHg (ou 14 por 9). A doença é perigosa pois não tem sintomas recorrentes e só é descoberta quando há ocorrência de uma crise, que pode ser diagnosticada a partir de dores de cabeça, infarto ou até AVC.

O Dia que Durou 21 anos

O documentário, que foi exibido recentemente pela TV Brasil, aborda os bastidores da participação do governo dos Estados Unidos no golpe militar de 1964, que durou até 1985, e instaurou a ditadura no Brasil. Uma co-produção da TV Brasil com a Pequi Filmes, com direção de Camilo Tavares.



sexta-feira, 22 de abril de 2011

Baía dos Porcos e o caráter socialista da Revolução Cubana

Escrito por Atilio A. Boron

Na madrugada de 15 de abril de 1961, aviões de combate camuflados como se fossem cubanos bombardearam os principais aeroportos militares de Cuba. As agências de notícias do império confirmavam que havia ocorrido um levante da força aérea "de Castro" e o embaixador dos Estados Unidos na ONU, Adlai Stevenson – expressão da ala mais "progressista" do Partido Democrata, menos mal! – tratou que o Conselho de Segurança desse organismo emitisse resolução autorizando a intervenção dos EUA para "normalizar" a situação na ilha. Não teve respaldo, mas o plano já estava em marcha.

Aquele bombardeio foi a senha para que uma brigada mercenária, que com absoluto descaro a CIA e o Pentágono vinham preparando durante mais de um ano, desembarcou na Baía dos Porcos, com o declarado propósito de precipitar o que em nossos dias os melífluos porta-vozes dos interesses imperiais denominariam eufemisticamente como "mudança de regime". Em março de 1960 – transcorrido apenas um ano do triunfo da Revolução Cubana – o presidente Eisenhower tinha firmado uma ordem executiva dando via livre para que se desencadeasse uma campanha terrorista contra Cuba e sua revolução.


Sob amparo oficial desse programa, organizou-se o recrutamento de cerca de 1500 homens (boa parte dos quais não eram outra coisa que não aventureiros, bandidos ou lúmpens que a CIA utilizava, e utiliza, para suas ações desestabilizadoras) dispostos a participar da iminente invasão, colocou-se as organizações contra-revolucionárias sob o mando da CIA (ou seja, da Casa Branca) e criaram várias "unidades operacionais", eufemismo para não chamar pelo nome os grupos terroristas, esquadrões da morte e paramilitares especialistas em atentados, demolições e sabotagens de todo tipo.

Mais de três mil pessoas morreram em Cuba desde os inícios da revolução por causa da ação desses delinqüentes arregimentados pelo governo de um país cujos presidentes, invariavelmente, nos dizem que Deus os colocou sobre a terra para levar a todo o mundo a luz da liberdade (de mercados), da justiça (racista, sexista e classista) e da democracia (na verdade, plutocracia).

Acreditavam nisso antes, e ainda acreditam hoje. Acreditava o católico John Kennedy e o protestante George W. Bush. A única exceção conhecida de alguém não infectado pelo vírus messiânico é a de John Quincy Adams, sexto presidente dos Estados Unidos, homem prático, que disse, em memorável frase, que os Estados Unidos "não têm amizades permanentes, mas interesses permanentes", algo que os governos "pitiyankees" de nossos países deveriam memorizar (vale lembrar que Adams, filho do segundo presidente dos EUA, John Adams, foi também Secretário de Estado do presidente James Monroe, e colaborou ativamente com a formulação da doutrina que leva seu nome).


Delinqüentes, retomando o eixo de nossa argumentação, como Luis Posada Carriles – um dos mais conspícuos criminosos a serviço do império, terrorista provado e confesso, autor intelectual, entre muitos outros crimes, da explosão do avião da Cubana em 1976, com 73 pessoas a bordo – que há apenas alguns dias foi absolvido de todas as suas acusações e desfruta da mais completa liberdade nos EUA.

Como se fosse pouco, Washington tampouco o extradita para que possa ser julgado na Venezuela, país cuja nacionalidade havia adotado durante o transcurso de seus feitos. Barack Obama, indigno prêmio Nobel da Paz, protege os carrascos de nossos povos até o fim de suas vidas enquanto mantém preso, em condições que não se aplicam nem a um assassino em série, os cinco lutadores antiterroristas cubanos.

Gesto ignominioso o de Obama, mas que tem um longínquo antecedente: em 1962, logo depois da derrota sofrida pelo exército invasor recrutado, organizado, treinado, armado e financiado pelos EUA, os prisioneiros que haviam sido capturados pelas milícias revolucionárias cubanas foram devolvidos aos EUA para serem recebidos e homenageados – sim, homenageados! – por outro "progressista", o presidente John F. Kennedy! O procurador geral dos EUA, Robert Kennedy, para não ficar atrás de seu irmão mais velho, convidou essa verdadeira "Armada Brancaleone" de capangas e bandidos a se integrarem no exército norte-americano, o que foi aceito por grande parte deles.

Não surpreende, portanto, que periodicamente apareçam tenebrosas histórias de atrocidades e abusos perpetrados por soldados estadunidenses em diversas latitudes, as últimas conhecidas há apenas um par de semanas no Afeganistão, e antes em Abu Ghraib; ou que durante a administração Reagan – um dos piores criminosos de guerra dos EUA, segundo Noam Chomsky – um coronel do Marine Corps e assessor do Conselho de Segurança Nacional, Oliver North, tivesse organizado uma rede de narcotraficantes e vendedores de armas desde seu escritório situado a poucos metros do Salão Oval da Casa Branca, a fim de financiar os "contras" da Nicarágua. A coisa não ficou feia para North depois da explosão do escândalo: se livrou da cadeia e atualmente trabalha em vários programas da ultraconservadora cadeia televisiva Fox News Channel. Tais episódios revelam com eloqüência o clima moral que prevalece nas legiões imperiais...

A derrota da invasão mercenária, longe de aplacar o império, exacerbou ainda mais seus instintos assassinos: a resposta foi a preparação de novo plano, a Operação Mangosta, que contemplava a realização de numerosos atentados e sabotagens tendentes a desarticular a produção, destruir colheitas, incendiar canaviais, obstaculizar o transporte marítimo e o abastecimento da ilha e amedrontar os eventuais compradores de produtos cubanos, especialmente níquel. Em poucas palavras: preparar o que depois seria o infame bloqueio integral que Cuba sofre desde o início da Revolução.

Folga dizer, mas o povo cubano – patriótico, consciente e organizado, fiel herdeiro dos ensinamentos de Jose Martí – frustrou uma vez mais os miseráveis desígnios da Operação Mangosta. No dia seguinte do bombardeio aéreo de 15 de abril, na homenagem que o povo rendia a suas vítimas, Fidel proclamaria o caráter socialista da revolução cubana com as seguintes palavras: "Companheiros operários e camponeses: esta é a revolução socialista e democrática dos humildes, com os humildes e para os humildes".

E em 19 de abril, na Baía dos Porcos, se daria o combate decisivo, que culminaria com a primeira derrota militar do imperialismo em terras americanas. A América Latina, e sua respiração contida ante essa clássica reedição do enfrentamento entre David e Golias, recebeu com imensa alegria a notícia da derrota das forças do império, e nossos povos terminaram se convencendo de que o socialismo não era uma ilusão, mas uma alternativa real. Outra história começava a ser escrita nessa parte do mundo.

Durante aquelas históricas jornadas, a camarilha contra-revolucionária estava à espera, em Miami, pronta para embarcar para Cuba assim que os invasores controlassem por 72 horas uma "zona liberada" que os permitisse se constituir em governo "provisório" e, a partir dali, solicitar o reconhecimento da Casa Branca e da OEA, além da ajuda militar dos EUA para derrotar a Revolução. Mas Fidel também sabia, e por isso sua voz de mando foi a de massacrar a invasão sem perder um minuto, coisa que efetivamente ocorreu. Parece que em Miami ainda estão esperando.

*Na historiografia hispânica, a batalha da Baía dos Porcos é conhecida como Batalla de Playa Girón.


Atilio Boron é doutor em Ciência Política pela Harvard University, professor titular de Filosofia Política da Universidade de Buenos Aires e ex-secretário-executivo do Conselho Latino-Americano de Ciências Sociais (CLACSO).


Traduzido por Gabriel Brito, jornalista do Correio da Cidadania.


No Estadão, colunistas disputam o troféu "Almirante Pena Boto"


Em nome do mesmo anticomunismo cego, Pena Boto denunciava ao "Globo", em 5 de outubro de 55, que um embrião de soviet germinaria no Brasil se a eleição de Juscelino Kubitschek fosse consumada: 'É indispensável impedir que Juscelino e Goulart tomem posse dos cargos para que foram indevidamente eleitos", convocava o almirante golpista. Baluarte dos valores 'liberais', que apoiou todos os golpes de Estado no país e na América Latina, com destaque para as campanhas 'jornalísticas' pela derrubada de Getúlio, em 54, de Goulart, em 64 e de Allende, no Chile, em 1973, o Estadão exibe dois talentos frescos engalfinhados numa disputa até o pescoço pelo troféu "Almirante Pena Boto".

Saul Leblon

Trava-se nas páginas do Estadão uma disputa surda, que avança cabeça a cabeça para definir quem receberá o troféu "Almirante Pena Boto", inspirado no militar que presidiu a 'Cruzada Brasileira Anticomunista' nos anos 50/60.

Baluarte dos valores 'liberais', que apoiou todos os golpes de Estado no país e na América Latina, com destaque para as campanhas 'jornalísticas' pela derrubada de Getúlio, em 54, de Goulart, em 64 e de Allende, no Chile, em 1973, o jornal exibe dois talentos frescos engalfinhados numa disputa até o pescoço.

Um sociólogo/geógrafo e um comunicólogo da ECA colecionam credenciais ao panteão do udenismo lacerdista. No futuro, possivelmente, um deles será "o" editorialista do jornal. Um sucessor de Oliveiros S. Ferreira.

O duelo de titãs enseja versões alternadas de anti-petismo típico dos egressos da esquerda, como é o caso, engajados na expiação pública de um passado convertido em moeda de troca de carreira e bajulação.

No ano passado, na abertura do 8.º Congresso Brasileiro de Jornais, por exemplo, o sociólogo/geógrafo do Estadão (e também do GLOBO) denunciou a emergência de "democracias plebiscitárias" na América Latina. No seu entender, elas subtrairiam da imprensa o papel de mediador, para estigmatizá-la como um partido político, "um jogador da política", como qualquer outro.

"O projeto da tirania plebiscitária", advertiu, "exige a eliminação do mediador, que é, no fundo, a eliminação da opinião pública". Um exemplo dessa ofensiva, segundo o colunista sociólogo, "para eliminar a imprensa e fazer com que o Estado converse diretamente com os cidadãos", seria o Blog da Petrobrás.

Arrojado? Sem dúvida.

Justiça seja feita, porém, esta semana o comunicólogo e professor da ECA atropelou o sociólogo no derby dos novos vulgarizadores do conservadorismo nativo.

Seu artigo neste 21 de abril não surpreende pela direção. Trata-se de uma variação na constante de manifestações recentes, mas condensa em uma única cápsula todos os cacoetes, chistes e coágulos tradicionalmente injetados no metabolismo do alvo intolerável da direita: Cuba. Nisso torna-se uma peça superlativa da vulgarização anticomunista.

O socialismo em Cuba é um produto histórico, uma carpintaria política erigida sob relações de forças brutalmente adversas. Como tal enseja críticas, comporta avanços e desafia a rupturas renovadoras e desassombradas. O VI Congresso, gancho do artigo do comunicólogo, revelou-se uma porta aberta a essa saudável e urgente renovação histórica. Mas não é isso que avulta nas linhas em questão. O que emana ali é a férrea determinação em proclamar o fracasso irreversível da sociedade que ousou afrontar o império para se construir de forma diversa e solidária, a 145 quilômetros de Miami.

Ignora-se olimpicamente o colapso estrutural decorrente do cerco iniciado em 19 de outubro de 1960, quando a administração Eisenhower impôs um embargo econômico aniquilador contra Cuba, até hoje mantido.

O articulista prefere elidir esses incômodos. Aliviado da carga histórica, pode patinar o gelo fino do cinismo e carimbar a resistencia anti-imperialista cubana como 'a religião' do regime que nisso se ombrearia -rodopia nosso Baryshnikov dos salões liberais - à demonização norte-americana promovida pelo Estado iraniano.

Nada como matar dois coelhos a serviço do mesmo minueto conservador. Mas a prioridade é clara.

No momento em que Cuba abre um ciclo de renovação política, trata-se de subtrair ao povo cubano --à esquerda em geral, sejamos francos, esse é o ponto-- a capacidade histórica de se reinventar no socialismo. É nisso que o artigo se credencia como um libelo de anti-comunismo visceral.

Em nome do mesmo anticomunismo cego, Pena Boto denunciava ao "Globo", em 5 de outubro de 55, que um embrião de soviet germinaria no Brasil se a eleição de Juscelino Kubitschek fosse consumada: 'É indispensável impedir que Juscelino e Goulart tomem posse dos cargos para que foram indevidamente eleitos", convocava o almirante golpista.

A profilaxia anticomunista fracassou; Boto escafedeu-se; seu parceiro de armas, Carlos Lacerda, exilou-se na embaixada de Cuba, onde teve imediata acolhida do ditador Fulgêncio Batista. A ilha então era um campo indiviso de bordel e miséria, povoado de gente barata integralmente disponível ao repasto dos magnatas norte-americanos. Não por acaso, esse passado de fastígio 'democrático' e relações carnais com o império merece silêncio obsequioso do comunicólogo da ECA que, pelo visto, não rompeu apenas com a esquerda, mas também com a honestidade histórica.

Uma nova geração tão diferente



Fidel Castro - Página/12/IHU Online

Escutei no domingo, às 10h, os debates dos delegados do Sexto Congresso do Partido. Eram tantas as comissões que, como é lógico, não pude ouvir todos os que falaram.

Haviam se reunido em cinco comissões para discutir numerosos temas. Eu também aproveitava os recessos para respirar com calma e consumir algum energético de procedência agrícola. Eles, seguramente, com mais apetite por seu trabalho e devido à sua idade.

Chamou-me a atenção a preparação desta nova geração, com tão elevado nível cultural, tão diferente daquela que estava sendo alfabetizada precisamente em 1961, quando os aviões norte-americanos de bombardeio, em mãos mercenárias, atacavam a Pátria. A maior parte dos delegados do Congresso do Partido eram crianças ou não tinham nem nascido.

Não me importava tanto o que diziam, como a forma com que o diziam. Estavam tão preparados e seu vocabulário era tão rico, que eu quase não os entendia. Discutiam cada palavra, e até a presença ou a ausência de uma vírgula no parágrafo em discussão.

Sua tarefa é ainda mais difícil que aquela assumida por nossa geração quando se proclamou o socialismo em Cuba, a 90 milhas dos Estados Unidos.

Por isso, persistir nos princípios revolucionários é, na minha opinião, o principal legado que podemos lhes deixar. Não há margem para o erro neste instante da história humana. Ninguém deve desconhecer essa realidade.

A direção do Partido deve ser a soma dos melhores talentos políticos de nosso povo, capaz de enfrentar a política do império que coloca em perigo a espécie humana e produz gansgters como os da OTAN, capazes de lançar em apenas 29 dias, com a inglória operação Odisseia ao Amanhecer, mais de 4.000 missões de bombardeio sobre um país da África.

É dever da nova geração de homens e mulheres revolucionários ser modelo de dirigentes modestos, estudiosos e incansáveis lutadores pelo socialismo. Sem dúvida, constitui um desafio difícil na época bárbara das sociedades de consumo superar o sistema de produção capitalista, que fomenta e promove os instintos egoístas do ser humano.

A nova geração é chamada a retificar e mudar sem vacilações tudo o que deve ser retificado e mudado, e seguir demonstrando que o socialismo é também a arte de realizar o impossível: construir e levar a cabo a Revolução dos humildes, pelos humildes e para os humildes, e defendê-la durante meio século da mais poderosa potência que já existiu.

(*) Artigo publicado no Página/12 em 19/04/2011. A tradução é do Cepat. Publicado originalmente em português em IHU-Online.

Educadores contestam artigo da "Veja"


Sob o título “Que bom que os Sindicatos de Trabalhadores da Educação preocupam os sacerdotes da privataria e seus braços ideológicos!”, vários educadores divulgaram texto com críticas ao artigo de Gustavo Ioschpe (“Hora de Peitar os Sindicatos de Professores”), veiculado no site da revista “Veja”.

Por Gaudêncio Frigotto, Zacarias Gama, Eveline Algebaile, Vânia Cardoso da Mota e Hélder Molina



Vários meios de comunicação utilizam-se de seu poder unilateral para realizar ataques truculentos a quem ousa contrariar seus interesses. O artigo de Gustavo Ioschpe, publicado na edição de 12 de abril de 2011 da Revista Veja (campeã disparada do pensamento ultraconservador no Brasil), não apenas confirma a opção deliberada da Revista em atuar como agência de desinformação – trafegando interesses privados mal disfarçados de interesse de todos –, como mostra o exercício dessa opção pela sua mais degradada face, cujo nível, deploravelmente baixo, começa pelo título – “hora de peitar os sindicatos”. Com a arrogância que o caracteriza como aprendiz de escriba, desde o início de seu texto, o autor considera patrulha ideológica qualquer discordância em relação às suas parvoíces.


 
Na década de 1960, Pier Paolo Pasolini escrevia que o fascismo arranhou a Itália, mas o monopólio da mídia a arruinou. Cinquenta anos depois, a história lhe deu inteira razão. O mesmo poderia ser dito a respeito das ditaduras e reiterados golpes que violentaram vidas, saquearam o Brasil, enquanto o monopólio privado da mídia o arruinava e o arruína. Com efeito, os barões da mídia, ao mesmo tempo em que esbravejam pela liberdade de imprensa, usam todo o seu poder para impedir qualquer medida de regulação que contrarie seus interesses, como no caso exemplar da sua oposição à regulamentação da profissão de jornalista. Os áulicos e acólitos dessa corte fazem-lhe coro.



O que trafega nessa grande mídia, no mais das vezes, são artigos de prepostos da privataria, cheios de clichês adornados de cientificismo para desqualificar, criminalizar e jogar a sociedade contra os movimentos sociais defensores dos direitos que lhes são usurpados, especialmente contra os sindicatos que, num contexto de relações de superexploração e intensificação do trabalho, lutam para resguardar minimamente os interesses dos trabalhadores.


 
Os artigos do senhor Gustavo Ioschpe costumam ser exemplos constrangedores dessa “vocação”. Os argumentos que utiliza no artigo recentemente publicado impressionam, seja pela tamanha tacanhez e analfabetismo cívico e social, seja pelo descomunal cinismo diante de uma categoria com os maiores índices de doenças provenientes da superintensificação das condições precárias de trabalho às quais se submete.


 
Um dos argumentos fundamentais de Ioschpe é explicitado na seguinte afirmação:


 
Cada vez mais a pesquisa demonstra que aquilo que é bom para o aluno na verdade faz com que o professor tenha que trabalhar mais, passar mais dever de casa, mais testes, ocupar de forma mais criativa o tempo de sala de aula, aprofundar-se no assunto que leciona. E aquilo que é bom para o professor – aulas mais curtas, maior salário, mais férias, maior estabilidade no emprego para montar seu plano de aula e faltar ao trabalho quando for necessário - é irrelevante ou até maléfico aos alunos.


 
A partir desse raciocínio de lógica formal, feito às canhas, tira duas conclusões bizarras. A primeira refere-se à atribuição do poder dos sindicatos ao seu suposto conflito de interesses com “a sociedade representada por seus filhos/alunos”: “É por haver esse potencial conflito de interesses entre a sociedade representada por seus filhos/alunos e os professores e funcionários da educação que o papel do sindicato vem ganhando importância e que os sindicatos são tão ativos (...)”.


 
A segunda, linearmente vinculada à anterior, tenta estabelecer a existência de uma nefasta influência dos sindicatos sobre o desempenho dos alunos. Nesse caso, apoia-se em pesquisa do alemão Ludger Wossmann, fazendo um empobrecido recorte das suas conclusões, de modo a lhe permitir afirmar que “naquelas escolas em que os sindicatos têm forte impacto na determinação do currículo os alunos têm desempenho significativamente pior”.


 
Os signatários deste breve texto analisam, há mais de dois anos, a agenda de trabalho de quarenta e duas entidades sindicais afiladas à Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE) e acompanham ou atuam como afiliados nas ações do Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino Superior - ANDES-SN. O que extraímos dessas agendas de ação dos sindicatos é, em tudo, contrário às delirantes e deletérias conclusões do articulista.


 
Em vez de citar pesquisas de segunda mão, para mostrar erudição e cientificidade em seu argumento, deveria apreender o que demanda uma análise efetivamente científica da realidade. Isso implicaria que de fato pesquisasse sobre a ação sindical docente e sobre os processos econômico-sociais e as políticas públicas com os quais se confronta e dialoga e, a partir dos quais, se constitui. Não imaginamos que um filho de banqueiros ignore que os bancos, os industriais, os latifundiários, a grande mídia têm suas federações ou organizações que fazem lobbies para ter as benesses do fundo público.


 
Um efetivo envolvimento com as pesquisas e com os processos sociais permitiria ao autor perceber onde se situam os verdadeiros antagonismos e “descobrir” que os sindicatos não se criaram puxando-se de um atoleiro pelos cabelos – à moda do Barão de Münchhausen –, autoinventando-se, muito menos confrontando-se com os alunos e seus pais.


 
As análises que não levam isso em conta, que se inventam puxando-se pelos cabelos a partir dos atoleiros dos próprios interesses, não conseguem apreender minimamente os sentidos dessa realidade e resultam na sequência constrangedora de banalidades e de afirmações levianas como as expostas por Ioschpe.


 
Uma das mais gritantes é relativa ao entendimento do autor sobre quem representa a sociedade no processo educativo. É forçoso lembrar ao douto analista que os professores, a direção da escola e os sindicatos também pertencem à sociedade e não são filhos de banqueiros nem se locupletam com vantagens provenientes dos donos do poder.


 
Ademais, valeria ao articulista inscrever-se num curso de história social, política e econômica para aprender uma elementar lição: o sindicato faz parte do que define a legalidade formal de uma sociedade capitalista, mas o ultraconservadorismo da revista na qual escreve e com a qual se identifica já não o reconhece, em tempos de vingança do capital contra os trabalhadores.


 
Cabe ressaltar que todos os trocadilhos e as afirmações enfáticas produzidos pelo articulista não conseguem encobrir os interesses privados que defende e que afetam destrutivamente o sentido e o direito da população à educação básica pública, universal, gratuita, laica e unitária.


 
Ao contrário do que afirma a respeito da influência dos sindicatos nos currículos, o que está mediocrizando a educação básica pública é a ingerência de institutos privados, bancos e financistas do agronegócio, que infestam os conteúdos escolares com cartilhas que empobrecem o processo de formação humana, impregnando-o com o discurso único do mercado – o da educação de empreendedores. E que, muitas vezes, com a anuência de grande parte das administrações públicas, retiram do professor a autoridade e a autonomia sobre o que ensinar e como ensinar dentro do projeto pedagógico que, por direito, eles constroem, coletivamente, a partir de sua realidade.


 
O que o Sr. Ioschpe não mostra, descaradamente, é que esses institutos privados não buscam a educação pública de qualidade e nem atender o interesse dos pais e alunos, mas lucrar com a venda de pacotes de ensino, de metodologias pasteurizadas e de assessorias.


 
Por fim, é de um cinismo e desfaçatez vergonhosa a caricatura que o articulista faz da luta docente por condições de trabalho e salário dignos. Caberia perguntar se o douto senhor estaria tranquilo com um salário-base de R$ 1.487,97, por quarenta horas semanais, para lecionar em até 10 turmas de cinquenta jovens. O desafio é: em vez de “peitar os sindicatos”, convide a sua turma para trabalhar 40 horas e acumular essa “fortuna” de salário básico. Ou, se preferir fazer um pouco mais, trabalhar em três turnos e em escolas diferentes. Provavelmente, esse piso para os docentes tem um valor bem menor que o que recebe o articulista para desqualificar e criminalizar, irresponsavelmente, uma instituição social que representa a maior parcela de trabalhadores no mundo.


 
Mas a preocupação do articulista e da revista que o acolhe pode ir aumentando, porque, quando o cinismo e a desfaçatez vão além da conta, ajudam aqueles que ainda não estão sindicalizados a entender que devem fazê-lo o mais rápido possível.


 
Gaudêncio Frigotto, Zacarias Gama e Eveline Algebaile são professores do Programa de Pós-Graduação em Políticas Públicas e Formação Humana da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (PPFH/UERJ).
Vânia Cardoso da Mota é Professora da Faculdade de Educação da Universidade Federal do Rio de Janeiro e Colaboradora do PPFH/UERJ.
Hélder Molina é educador, assessor sindical e doutorando do PPFH/UERJ.

terça-feira, 19 de abril de 2011

Livraria Antonio Gramsci

NPC inaugura livraria especializada em comunicação e lutas dos trabalhadores


Jornalistas, professores, estudantes e militantes de diversas áreas já têm um ponto de encontro no centro do Rio. É a Livraria Antonio Gramsci, recém-inaugurada pelo Núcleo Piratininga de Comunicação (NPC).

O objetivo é divulgar trabalhos, pesquisas e conjuntos de artigos de referência nacional e internacional que tratem do mundo da comunicação e da história dos trabalhadores, os dois eixos centrais do NPC. Educação, sociologia, cultura, novas tecnologias, lutas e movimentos sociais, sindicalismo, mulheres e direitos humanos são alguns dos outros temas também privilegiados na Antonio Gramsci, onde podem ser encontradas obras clássicas do pensamento marxistae da esquerda mundial.

A coordenadora do NPC, Claudia Santiago, explica que a livraria surgiu da paixão pela leitura e pela divulgação de ideias. "Esse espaço é consequência dos 20 anos de NPC, que se completarão em 2012. São duas décadas reafirmando a necessidade de se construir um mundo com igualdade de direitos e justiça social. É uma pecinha do grande mosaico de instrumentos da esquerda para a construção de um mundo para todos", explica a jornalista. Segundo ela, o objetivo é divulgar trabalhos pouco conhecidos. "Nosso acervo está sendo construído com dicas recebidas de todo o país. Quanta coisa boa é produzida e ninguém fica sabendo?", conclui.

Palestrantes do Curso Anual do NPC são alguns dos autores privilegiados

Além dos livros publicados pelo NPC, alguns materiais produzidos pela entidade estão à venda nesse espaço, como a Agenda NPC 2011, referência para quem quiser conhecer o histórico de lutas e mobilizações de mulheres no Brasil e no mundo. Também já podem ser adquiridas obras escritas e organizadas por figuras marcantes dos cursos anuais que o Núcleo Piratininga vem realizando nos últimos anos. Dentre eles estão, por exemplo, Piratas do Caribe (Record), do filósofo paquistanês Tariq Ali; Liberdade de expressão X Liberdade de imprensa (Publisher), do cientista político Venício Lima; A TV sob controle, de Laurindo Leal Filho; A Batalha da Mídia (Pão e Rosas) e Por Uma Outra Comunicação (Record), ambos do professor Dênis de Moraes. Além destes, temos ainda produções de Leandro Konder, Raquel Paiva, Marialva Barbosa, Ademar Bogo, Domenico Losurdo, Edward Said, Michel Lowy, e outros escritores brasileiros e estrangeiros de destaque no campo das ciências humanas.

A Antonio Gramsci é também o mais novo ponto de vendas de títulos da Editora Expressão Popular no Rio de Janeiro. Há ainda um sebo que reúne clássicos da literatura mundial, como El Aleph, de Jorge Luis Borges; História do Cerco de Lisboa, de José Saramago; Cem Anos de Solidão, de Gabriel Garcia Marquez; A Mãe, de Maxim Górki; e outros. Dos brasileiros, nomes como Clarice Lispector, Machado de Assis, Marcelo Rubens Paiva, José de Alencar e Lygia Fagundes Telles estão estampados nas prateleiras.

A Livraria Antonio Gramsci está localizada na Rua Alcindo Guanabara, 17, térreo, Centro do Rio (rua do bar Amarelinho). O funcionamento é de segunda a sexta-feira, das 9h às 19h30.

Fonte : http://www.piratininga.org.br/

sexta-feira, 15 de abril de 2011

Virada Literária: Quem lê, se vira!


Virada Literária: Quem lê, se vira!


Os livros e a literatura participarão - pela primeira vez - dessa iniciativa grandiosa pela Cultura na cidade através da Libre - Liga Brasileira de Editoras.

Trata-se de uma parceria entre a Secretaria Municipal de Cultura e a Libre (http://www.libre.org.br/).
A Libre é uma organização nacional de pequenas e médias editoras independentes, atualmente com 105 associadas responsável pela Primavera dos Livros, feiras realizadas há 9 anos em São Paulo e Rio de Janeiro. Seu catálogo coletivo compõe-se de mais de 10.000 títulos:

Programação da Feira de Livros na Virada Cultural

Local: Estacionamento da Biblioteca Mário de Andrade.
Av. São Luiz - Centro

Dia 16/04 - Sábado das 19h10 às 00h10 - com intervalo de 01 hora

Maratona de Escritores:

Beatriz Bracher e Noemi Jaffe: em leitura de trechos sobre o amor.
Fabrício Corsaletti, Fabiano Calixto e Alberto Martins: em leitura de poesias.
Antonio Prata e Humberto Werneck: em leitura de crônicas
Tatiana Garcia - Cartas ao Cão
Mário Marinho - Velórios inusitados
Heródoto Barbeiro - Meu Velho Centro
Flávio Aguiar - Crônicas do mundo ao revés
Roniwalter Jatobá - Paragens A escola e a letra
Mouzar Benedito - Meneghetti: o gato dos telhados e Ferrer, Bil Ferrer.
Haroldo Ceravolo Sereza - Florestan: a inteligencia militante.

Entre outros a confirmar.


Dia 17/04 - Domingo - 01h10

Perfomance com a atriz e cantora Priscila Lavorato (voz) e o acordeonista Thadeu Romano.
Trata-se de uma performance cênica musical baseada na vida da cantora francesa Edith Piaf.
O repertório permeia pelos seus sucessos, e o texto foi elaborado a partir de uma pesquisa realizada em depoimentos da própria artista.

Das 03h10 às 05h10 - Karaokê literário

Os visitantes poderão escolher um livro e ler alguns trechos

Das 09h15 às 17h00 - (intervalo de 01 hora) Continuação da Maratona de Escritores e encerramento

-------------------------------------------------------------------------------
Rua Capitão Macedo, 166 / sala 4 - Vila Clementino - Fone: (11) 5084.8202 - Cep 04021-020 - São Paulo - SP

terça-feira, 12 de abril de 2011

O julgamento farsa de um terrorista

 


Carriles: a cara é o espelho da alma. A tarde de 8 de Abril de 2011 foi o auge da farsa iniciada há 13 semanas em El Paso, Texas, com a absolvição do terrorista Luis Posada Carriles de todas as acusações contra si no tribunal migratório.

Para todos aqueles que acompanharam a tenebrosa trajectória do terrorista e as suas ligações com sucessivos governos norte-americanos, o FBI e a CIA na sua guerra suja contra Cuba, trata-se de uma demonstração adicional do apoio e amparo que historicamente lhe brindaram as autoridades norte-americanas.

Desde que Posada Carriles desembarcou em La Florida para onde viajou a partir de Islas Mujeres, no México, a bordo da embarcação "Santrina", como oportunamente denunciou o comandante em chefe Fidel Castro, continuou a estar, como sempre esteve, sob a tutela e protecção do governo dos Estados Unidos.

O seu julgamento por haver mentido num processo migratório, e não por ser terrorista, é um insulto ao povo de Cuba e às famílias enlutadas pelas acções de Posadas.

A desvergonha ocorrida em El Paso é totalmente contraditória com a política anti-terrorista que o governo dos Estados Unidos diz professar e que provocou, inclusive, intervenções militares em outras nações e custou milhares de vidas.

O governo dos Estados Unidos conhece bem a participação de Posada Carriles na explosão da aeronave da Cubana de Aviación sobre Barbados em 1976, a campanha de bombas contra instalações turísticas cubanas em 1997 e seus planos para atentar contra a vida do nosso comandante em chefe, no Panamá, no ano 2000, pelo que foi inclusive condenado no referido país.

O governo de Washington tem nas suas mãos todas as provas dos crimes de Posadas, muitas das quais foram apresentadas no julgamento de El Paso.

Será preciso ver se é capaz agora de iniciar um novo processo contra Posada Carriles por terrorismo, ou proceder à sua extradição para a Venezuela, como lhe foi solicitado há mais de cinco anos por esse país, e a que está obrigado juridicamente pelos convénios internacionais de que faz parte e pela Resolução 1373 (2001) do Conselho de Segurança das Nações Unidas, que o próprio governo dos Estados Unidos promoveu.

O mais paradoxal é que, enquanto se isenta Posada Carriles, cinco lutadores anti-terroristas cubanos permanecem injustamente nos cárceres norte-americanos por procurarem informação sobre as acções dos terroristas de origem cubano que, como Posada Carriles, passeiam-se livre e impunemente pelas ruas de Miami.

Cuba reitera que o governo dos Estados Unidos é o principal responsável deste desenlace e insta-o a que assuma as suas obrigações na luta contra o terrorismo, sem hipocrisias nem duplos critérios.

Declaração do Ministério das Relações Exteriores da República de Cuba

Havana, 9 de Abril de 2011

Esta declaração encontra-se em http://resistir.info/ .

Primeira ida do homem ao espaço faz 50 anos

Viagem histórica de Yuri Gagárin



#########

Origens humildes favoreceram escolha de Gagárin para missão

Os soviéticos sabiam que o primeiro homem no espaço viraria um herói mundial. Por isso, escolheram alguém simpático e com história condizente com o comunismo.


Filho de um carpinteiro com uma trabalhadora rural, Yuri Gagárin nasceu em uma fazenda coletiva e ascendeu na Força Aérea por mérito.

Após o sucesso da missão espacial, para poupá-lo de riscos, o governo decidiu afastá-lo do espaço.

Em 1968, aos 34 anos, sete após seu voo histórico, quando havia a perspectiva de que ele voltasse ao espaço, o cosmonauta morreu quando o avião que estava testando acabou caindo.
 
FONTE: Folha de São Paulo, 12 de abril de 2011

Aquém da opinião

 Por VLADIMIR SAFATLE

A democracia é o regime que reconhece o direito fundamental à liberdade de expressão e opinião. No entanto ela também reconhece que nem tudo é objeto de opinião.

Uma opinião é uma posição subjetiva a respeito de algo que posso ser contra ou a favor. Mas há coisas a respeito das quais não é possível ser contra. Por exemplo, não posso ser contra a universalização de direitos e a generalização do respeito a grupos sociais historicamente excluídos. Ao fazer isto, coloco-me fora da democracia.

Por isso, há certos enunciados que simplesmente não têm o direito de circular socialmente. Por exemplo, quando alguém fala que os judeus detêm o controle financeiro do mundo, que os negros são inaptos para o trabalho intelectual, que os muçulmanos são terroristas ou que os homossexuais são promíscuos e representam uma vergonha para seus pais, não está enunciando uma opinião.

Na verdade, está simplesmente reiterando enunciados cuja única função é estigmatizar grupos, alimentar o desprezo e diminuir nossa indignação diante da violência contra eles.

Veja que coisa interessante.

Nenhum racista diz que é racista. Normalmente, seus enunciados são do tipo: "Não sou racista ou preconceituoso, mas é fato que nenhum pai quer ter um filho homossexual" ou "mas é fato que os negros nunca inventaram nada intelectualmente relevante".

Ou seja, ele apenas está dizendo "as coisas como são", mesmo que, no fundo, esta descrição vise sorrateiramente contrabandear um julgamento de valor.

O pressuposto implícito é: "Se as coisas são como são, é importante que elas continuem assim". Quem usa enunciados dessa natureza não está disposto a descrever uma realidade, mas a perpetuar uma situação socialmente inaceitável.

Por isso, que um deputado sinta-se livre para alimentar a máquina social de exclusão e preconceito ao proferir as barbaridades de praxe contra os homossexuais, eis algo que fere radicalmente a democracia. Diga-se de passagem, tal deputado já deveria ter sido cassado desde que afirmou ser a favor da tortura em prisões.

Mais uma vez, não se trata de opinião, mas de inaceitável apologia a um crime contra a humanidade.

Mas é certo que a violência, real e simbólica, contra os homossexuais só diminuirá quando eles forem reconhecidos em sua radical condição de igualdade.

A democracia não conhece meio-termo, seu igualitarismo deve ser absoluto. Isso significa que nada justifica que eles não possam ter direitos elementares, como constituir família, casarem-se e adotarem filhos. Famílias homoparentais não são mais problemáticas do que qualquer família de heterossexuais.

--------------------------------------------------------------------------------

FONTE: Folha de São Paulo, 12 de abril de 2011.

segunda-feira, 11 de abril de 2011

O Manifesto do Capital

O grande capital lançou, através do semanário «Expresso», um Manifesto dramático ao povo português.

Fica claro que a iniciativa foi concebida por poderosos grupos económicos e responde aos seus interesses e estratégia. Entre os signatários figuram somente três grandes empresários e discretamente nenhum banqueiro – que ainda há dias foram os porta-vozes da “exigência” junto ao governo para que este pedisse o “resgate” externo da dívida pública – no que foram de imediato atendidos.

A lista compreende 47 personalidades de quadrantes muito diferenciados da sociedade portuguesa. A grande maioria de direita.

A linguagem e o tom patrioteiro - incompatível com o patriotismo autêntico - trazem à memória documentos oficiais da época anterior ao 25 de Abril.

Qual o objectivo deste manifesto tornado público no jornal de Pinto Balsemão no momento em que a Comissão Europeia e FMI se preparam para enunciar as brutais medidas económicas e politicas que pretendem impor ao povo Português?

O texto, cuidadosamente redigido, contém um apelo aos «principais partidos» da burguesia - obviamente o PS e o PSD embora estes não sejam citados explicitamente - para que na campanha eleitoral evitem situações que possam dificultar o diktat do FMI que estão antecipadamente prontos a apoiar.

O grande capital sugere acordos urgentes que permitam «um compromisso nacional» - de submissão do povo português. O que agora significa um compromisso entre o Presidente da Republica, o Governo de gestão e os «principais partidos» no sentido de garantir o apoio de uma «maioria inequívoca» a um próximo executivo submisso.

O grande capital não somente deseja um governo de «salvação nacional» como manobra para que ele se concretize sem obstáculo no horizonte próximo.

Não surpreende que a lista dos signatários inclua nomes como os dos ex-presidentes Mario Soares e Jorge Sampaio, cuja trajectória política os identifica com o espírito do Manifesto. Os promotores do documento acharam útil que a Igreja Católica estivesse representada e lá aparece um bispo. Terá sido, porem, inábil que o último nome seja o de uma jornalista que se comporta como porta-voz da embaixada dos EUA.

Mas é previsível que milhares de portugueses lamentem que intelectuais de prestígio nacional e internacional como os arquitectos Siza Vieira e Souto de Moura, os escritores Lobo Antunes e Eduardo Lourenço e o pintor Júlio Pomar surjam envolvidos ao lado de conhecidos reaccionários neste Manifesto indecoroso. Afigura-se-nos porém positiva a adesão de Boaventura Sousa Santos que, ao corresponder ao rebate do capital e da direita, deixou cair a sua máscara.

Uma chamada de atenção para o frenesi dos media de «referência» em exercícios de futurologia sobre a PEC que o grande capital quer impor ao Pais. Em Bruxelas mal principiaram as negociações, já o sistema mediático caseiro se antecipa, anunciando «medidas» anti-patrióticas que, afinal, é sua tarefa propagandear junto da opinião pública.

Do povo português, vítima da política que levou o País à beira do abismo, do que os trabalhadores pensam e sentem, nada significante é dito no Manifesto. Porque para o grande capital o povo deverá ser um agente passivo e submisso, a quem caberia pagar os sacrifícios de que o capital financeiro, a banca em particular, se coloca em posição de ser o único beneficiário.

Tal Manifesto comprova quanto o capital receia a consciência de classe e a luta do povo português. Porque a palavra final das grandes lutas que se esboçam no horizonte, fora dos ministérios e dos bancos, nas fábricas, nos portos, nos campos, nas ruas, será sua como sujeito da História.

OS EDITORES DE ODIARIO INFO

A Líbia e o mundo do petróleo

Noam Chomsky - La Jornada

No mês passado, no tribunal internacional sobre crimes durante a guerra civil em Serra Leoa, o julgamento do ex-presidente liberiano Charles Taylor chegou ao fim. O promotor geral, o professor de Direito estadunidense David Crane, informou ao jornal The Times, de Londres, que o caso estava incompleto: os promotores queriam processar Muammar Kadafi, que, disse Crane, era, em última instância, o responsável pela mutilação e/ou assassinato de 1,2 milhões de pessoas.

Mas isso não aconteceria, esclareceu. Os Estados Unidos, o Reino Unido e outros países interviram para bloquear essa decisão. Ao ser perguntado sobre o porquê disso, respondeu: Bem vindo ao mundo do petróleo!


Outra vítima recente de Kadafi foi sir Howard Davies, diretor da Escola de Economia de Londres, que renunciou depois de revelações sobre os laços da escola com o ditador líbio.

Em Cambridge, Massachusetts, o Monitor Group, uma empresa de consultoria fundada por professores de Harvard, foi bem paga por serviços tais como um livro para levar as palavras imortais de Kadafi ao público em conversão com famosos especialistas internacionais, junto com outros esforços para melhorar a imagem internacional da Líbia (de Kadafi).


O mundo do petróleo raramente está longe quando se trata de assuntos que envolvem esta região.

Por exemplo, quando as dimensões da derrota estadunidense no Iraque já não podiam ser escondidas, a retórica bonita foi substituída pelo anúncio honesto de objetivos políticos. Em novembro de 2007, a Casa Branca emitiu uma declaração de princípios que insistia em que o Iraque deve conceder acesso e privilégio indefinidos aos invasores estadunidenses.

Dois meses depois, o presidente George W. Bush informou ao Congresso que rechaçaria a legislação que limitasse o emprego permanente das forças armadas estadunidenses no Iraque ou o controle dos EUA dos recursos petroleiros do Iraque; demandas que os Estados Unidos teriam que abandonar um pouco depois diante da resistência iraquiana.

O mundo do petróleo oferece um guia útil para entender as reações ocidentais diante dos notáveis levantes pró-democráticos no mundo árabe. O ditador rico em petróleo, que é um cliente confiável, é tratado com rédea solta. Houve pouca reação quando a Arábia Saudita declarou no dia 5 de março: as leis e regulamentos no reino proíbem totalmente qualquer tipo de manifestações, marchas e atos, assim como a sua convocação, já que vão contra os princípios da Shariah, os costumes e as tradições sauditas. O reino mobilizou enormes forças de segurança que aplicaram rigorosamente a proibição.

No Kuwait, pequenas manifestações foram sufocadas. O punho de ferro golpeou a população no Bahrein, depois que forças militares encabeçadas pela Arábia Saudita interviram para garantir que a monarquia sunita minoritária não fosse ameaçada pelas reivindicações de reformas democráticas.

O Bahrein é sensível não só porque abriga a Quinta Frota dos Estados Unidos, mas também porque faz fronteira com áreas xiitas da Arábia Saudita, local de maior parte das reservas do reino. Os recursos energéticos primários do mundo se localizam perto do norte do Golfo Pérsico (ou Golfo Arábico, como costuma ser chamado pelos árabes), uma área em grande medida xiita, um potencial pesadelo para os planejadores ocidentais.

No Egito e na Tunísia, o levante popular conseguiu vitórias impressionantes, mas, como informou a Fundação Carnegie, os regimes permanecem e aparentemente estão decididos a frear o ímpeto pró-democracia gerado até agora. Uma mudança nas elites governantes e no sistema de governo segue sendo um objetivo distante, e que o Ocidente buscará mantê-lo assim.

A Líbia é um caso diferente, um Estado rico em petróleo dirigido por um ditador brutal que, não obstante, é pouco confiável: seria melhor ter um cliente digno de confiança. Quando iniciaram os protestos não violentos, Muammar Kadafi atuou rapidamente para sufocá-las.

No dia 22 de março, enquanto as forças de Kadafi convergiam para a capital rebelde de Bengasi, o principal assessor do presidente Barack Obama sobre Oriente Médio, Dennis Ross, advertiu que se ocorresse um massacre, todos culpariam os EUA por isso, uma consequência inaceitável.

E o Ocidente certamente não queria que o coronel Kadafi aumentasse seu poder e independência, sufocando a rebelião. Os EUA trabalharam então pela autorização do Conselho de Segurança das Nações Unidas de uma zona de exclusão aérea, que seria posta em prática por França, Inglaterra e os próprios EUA.

A intervenção evitou um provável massacre, mas foi interpretada pela coalizão como a autorização para o apoio direto aos rebeldes. Um cessar-fogo foi imposto às forças de Kadafi, mas se ajudou os rebeldes a avançar para o oeste. Em pouco tempo conquistaram as principais fontes da produção petroleira da Líbia, ao menos temporariamente.

No dia 28 de março, o jornal em língua árabe sediado em Londres Al-Quds Al-Arabi advertiu que a intervenção deixaria a Líbia com dois estados, um leste rico em petróleo e em mãos dos rebeldes e um oeste encabeçado por Kadafi e mergulhado na pobreza. Com o controle dos poços petrolíferos assegurados, poderíamos estar diante de um novo emirado petroleiro líbio, escassamente habitado, protegido pelo Ocidente e muito similar aos estados emirados do golfo. Ou a rebelião respaldada pelo Ocidente poderia seguir adiante até eliminar o irritante ditador.

Argumenta-se que o petróleo não pode ser um motivo para a intervenção porque o Ocidente já tem acesso ao mesmo sob o regime de Kadafi. Isso é certo, mas irrelevante. O mesmo poderia ser dito sobre o Iraque sob o regime de Saddam Hussein, ou sobre Irã e Cuba atualmente.

O que o Ocidente busca é o que Bush anunciou: o controle, ou ao menos clientes dignos de confiança e, no caso da Líbia, o acesso a enormes áreas inexploradas que se espera sejam ricas em petróleo. Documentos internos britânicos e estadunidenses insistem que o vírus do nacionalismo é o maior temor, já que poderia engendrar desobediência.

A intervenção está sendo realizada pelas três potências imperiais tradicionais (poderíamos lembrar – os líbios presumivelmente o fazem – que, depois da Primeira Guerra Mundial, a Itália foi responsável por um genocídio no leste da Líbia).

As potências ocidentais estão atuando em virtual isolamento. Os estados na região – Turquia e Egito – não querem participar, tampouco a África. Os ditadores do golfo se sentiriam felizes de ver Kadafi partir, mas, ainda empanturrados pelas armas avançadas que recebem para reciclar os petrodólares e assegurar a obediência, oferecem apenas uma participação simbólica. O mesmo se aplica em outros lugares: Índia, Brasil e, inclusive, Alemanha.

A primavera árabe tem raízes profundas. A região está em fermentação há muitos anos. A primeira da atual onda de protestos começou no ano passado no Saara Ocidental, a última colônia africana, invadido pelo Marrocos em 1975 e retido ilegalmente desde então, de maneira similar ao Timor Oriental e aos territórios ocupados por Israel.

Um protesto não violento em novembro passado foi sufocado por forças marroquinas. A França interveio para bloquear uma investigação do Conselho de Segurança sobre os crimes de seu cliente. Logo acendeu-se uma chama na Tunísia que, desde então, espalhou-se e tornou-se uma conflagração.

Tradução: Katarina Peixoto