domingo, 27 de fevereiro de 2011

Nise da Silveira - Senhora das Imagens

O espetáculo Nise da Silveira - Senhora das Imagens, com Mariana Terra, prorrogou sua temporada até final de março, no Teatro de Arena da Caixa Cultural.

A encenação conta a história de uma das brasileiras mais importantes do século XX. Precursora de métodos alternativos no tratamento psiquiátrico, Dra. Nise (1905-1999) revolucionou a medicina tradicional ao utilizar terapias que abordavam pintura, escultura e modelagem.

O espetáculo apresenta um painel dos acontecimentos marcantes da vida da psiquiatra: a infância em Alagoas; o início de sua formação acadêmica, em Salvador; a chegada ao Rio de Janeiro, em 1927; a amizade com o poeta Manoel Bandeira e o casal Octávio e Laura Brandão; a prisão durante o regime repressor de Getúlio Vargas, em que foi companheira de cela de Olga Benario Prestes, Elisa Ewert, Maria Werneck de Castro, entre outras; o encontro com o psicanalista suíço Carl Gustav Jung; até o reconhecimento internacional do seu trabalho. 

A peça, com texto e direção de Daniel Lobo, narra um drama multimídia, que mistura teatro, música e dança. A coreografia é de Ana Botafogo e a trilha original de João Carlos Assis Brasil, além das participações especiais de Ferreira Gullar, Ednaldo Lucena e Gilray Coutinho (em vídeo) e Carlos Vereza, como a voz do inconsciente.


SERVIÇO:

Nise da Silveira - Senhora das imagens
Duração: 80 minutos
Local: Teatro de Arena da Caixa Cultural, Av. Almirante Barroso, 25, Centro. (Metrô Estação Carioca)
Horário: 19 horas
Classificação etária: 16 anos
Ingressos: R$ 30,00 (inteira) e R$ 15,00 (meia)

sábado, 19 de fevereiro de 2011

MST denuncia venda de lotes em Mato Grosso há 15 anos

Por Keka Werneck
do Centro Burnier Fé e Justiça
Publicado no site 24 Horas News


O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST) denuncia ao Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) a compra e venda de lotes em assentamentos de Mato Grosso há 15 anos, desde que o Movimento surgiu no Estado. “Até 2005, entregávamos ao Incra o nome de quem vendia e o nome de quem comprava. E o que o Incra fazia? Nada. E o que sobrava para quem denunciava? Risco de morte, risco de agressões e pressão. Por isso, resolvemos mudar isso. Agora, o que o MST faz é cobrar o Incra que fiscalize essa situação. E o Incra continua não fazendo nada”, reclama Antônio Carneiro, da direção do MST em Mato Grosso.

Segundo Carneiro, já é sabido que o Governo Federal não quer mais desapropriar terras. Então, o que tem feito é entrar para dentro de assentamentos e regularizar lotes que foram comprados. “É o Estado legalizando o crime. Sim, porque vender e comprar lotes em assentamentos é crime. E assim caminha a dita Reforma Agrária...” - frisou. De acordo com o MST, essa é a política do “larga pra lá”.

No domingo [13/2], a TV Globo divulgou no programa "Fantástico" a indústria do negócio de terras em Mato Grosso ao revelar que bandos estariam ocupando fazendas e vendendo áreas de assentamento.O Fantástico não ouviu o MST e nenhum outro movimento organizado de luta por Reforma Agrária.

O Faraó, camelos e o Facebook

Por Francisco Carlos Teixeira *



Berlim. Os últimos acontecimentos no Egito, em especial os últimos 18 dias entre 25 de janeiro e 11 de fevereiro colocam por terra algumas teses tradicionais das ciências políticas e da percepção política e social do Mundo Árabe pela opinião pública ocidental. A tese, velha da Guerra Fria, sobre a pretensa “excepcionalidade árabe”, da sua incapacidade para a democracia e, portanto, a aceitação alegre, pelo Ocidente, de todo tipo de ditadura pós-colonial (claro, sendo pró–ocidental). Da mesma forma, a crença na inexistência de uma opinião pública no mundo árabe, explicaria a ausência de democracia. Ambas as teses devem, agora, ser severamente revistas.

O Egito de Hosni Mubarak

O Egito é um país central para o mundo árabe, para os muçulmanos em geral e para o equilíbrio no Oriente Médio e no Mediterrâneo. Os últimos dados confiáveis – já que o censo demográfico, e conseqüentemente o acesso à condição de eleitor, é um dado secreto, só sabido pelas forças de segurança – dão ao país pouco mais de 80 milhões de habitantes, extremamente concentrados no Cairo e na longa e estreita faixa fértil ao longo do Nilo. Isso faz do Egito o país árabe mais populoso do mundo (o país muçulmano mais populoso é a Indonésia, logo seguida do Paquistão, países não-árabes). Ao mesmo tempo a população egípcia é extremamente jovem. Cerca de 33% de todos os egípcios possuem menos 15 anos de idade e a média nacional de idade é de 24 anos.

Temos aqui um primeiro dado que ilumina profundamente a revolta, e a conseqüente revolução, no país: a extrema juventude da população, a maioria nascida quando Mubarak já era o raís – o líder e chefe – do Egito. Estes jovens não são contemporâneos da Guerra dos Seis Dias, em 1967, e da Guerra do Yom Kippur, de 1973, nas quais Hosni Mubarak conquistou suma fama de defensor da pátria. É em verdade uma juventude marcada pela presença da globalização, dos meios eletrônicos e da busca de uma boa carreira profissional e um padrão de vida melhor (a média salarial egípcia está em torno de 100 euros mensais).

Contudo as vantagens param por aí: apenas 71% desta imensa população é alfabetizada, sendo que entre as mulheres apenas 59% delas podem ler e escrever. Tal restrição não decorre, como rapidamente poder-se-ia dizer no Ocidente, do Islã. Muitas mulheres egípcias ocupam postos importantes na universidade, nos hospitais e nas escolas. Trata-se, em verdade, de deficiência do regime.

As reformas falhadas

A economia egípcia depende de uma agricultura tradicional, centrada na produção de algodão, arroz, trigo aos quais se soma a indústria têxtil e a exploração do petróleo, apenas relevante. Contudo o turismo e os direitos decorrentes do trânsito do Canal de Suez geram grande parte da riqueza do país e o fato de serem atividades diretamente controladas pelo Estado são, também, fontes da ampla corrupção e do enriquecimento ilícito da elite mantida pelo regime de Mubarak.

Mubarak buscou, desde a crise de 2008, “abrir” o país aos investimentos e aos capitais estrangeiros, nomeando um ministério de tecnocratas altamente influenciados por um impiedoso neoliberalismo tardio. Os resultados foram catastróficos. O deficit público atingiu 8% do PIB e o desemprego espraiou-se por toda a população, atingido quase 10% da população ativa do país, enquanto a inflação saltava para 12% ao ano. Assim, somava-se à ausência de democracia e a imposição do espetáculo da corrupção das elites, a pobreza crescente das populações. Não é de estranhar que o primeiro egípcio a se imolar contra o regime Mubarak fosse um desempregado.

O Egito é, ainda, um dos mais importantes parceiros na “ajuda” militar dos Estados Unidos, logo abaixo de Israel e pouco antes da Colômbia. A grande parceria entre Estados Unidos e Egito emergiu quando Anwar Al-Sadat (o sucessor de Gamal Abdel Nasser e que governou entre 1970 e 1981) rompeu as tradicionais relações com a então URSS, em 1972, expulsou milhares técnicos e militares russos, e voltou-se para o Ocidente. Em troca de uma política externa “aceitável” para o Ocidente – ou seja, garantia de segurança para Israel, manutenção da liberdade de navegação no Canal de Suez e fechamento do acesso aos palestinos na região de Gaza – os EUA mantêm as FFAA do país em alto nível de desempenho e com o equipamento necessário para dar aos militares egípcios o sentimento de superioridade e segurança no Mundo Árabe.

A elite militar

O país, contudo, gasta 3.4% do seu PIB de U$ 500 bilhões com os militares, que formaram ao longo dos trinta anos de regime Mubarak (1981-2011), uma elite muito acima dos níveis sociais do conjunto da nação. O próprio marechal Mohamed Hussein Tantawi, de 75 anos, que acumulava o ministério da defesa e a chefia das FFAA e agora é o chefe do Conselho Supremo que governa o Egito pós-Mubarak, é parte desta elite gerada sob o regime e que se comportou ao longo dos últimos trinta anos como garantidor do regime.

Mas, a burocracia estatal, em grande parte oriunda do Partido Nacional Democrático (de Mubarak), mereceu bem mais críticas do que as FFAA. O alistamento militar massivo, como uma alternativa para jovens rapazes mal preparados e sem esperanças no mundo profissional, além das histórias de heroísmo na Guerra do Yom Kippur, garantiram grande popularidade aos militares.

A decisão de não reprimir a população revoltada na Praça da Libertação – na verdade uma tarefa transferida para a polícia e os paramilitares - nos dias mais duros da revolta consolidou a popularidades das FFAA. Contudo, o regime inaugurado dia 11 de fevereiro é, em verdade, uma brutal ditadura militar, onde o Conselho Supremo Militar governa por decretos inapeláveis.

A esperança de uma transição pacífica para a democracia é, contudo, real e concreta. A proclamação do Conselho Supremo Militar promete “eleições livres, novo marco constitucional e políticas de ajuda e assistência social para a população”.

O marechal Tantawi (ao lado do chefe dos serviços secretos Omar Suleiman, o vice-presidente nomeado por Mubarak no auge da crise), de 75 anos, o homem forte do novo regime, possui um longo histórico de negociações com os americanos e os israelenses, servindo de garante para o status quo pós-1973 (ano da Guerra do Yom Kippur). Não sem motivos, Tantawi fez contato, logo após assumir o poder no Cairo, com Ehud Barak, ministro da defesa de Israel, para garantir – ao contrário do sentimento popular, claramente pro-palestinos, que nada mudaria na política externa e de defesa do Egito.

A cólera das ruas

Os cientistas e acadêmicos ocidentais, seguidos apressadamente pela mídia, sempre declararam a inexistência de uma “opinião pública” no Mundo Árabe. Mesmo no Egito, onde uma poderosa elite e uma importante classe média bem educada, falante de inglês, possuem raízes profundas, era negada qualquer possibilidade de existência de uma “sociedade civil”.

Claro, que o olhar dirigido pelo Ocidente ao Mundo Árabe era (e ainda é) baseado na sua própria história, nas experiências vividas nas margens do Atlântico Norte, tais como a Revolução Americana (1776) e a Revolução Francesa (1789). Em face do fato de que a história do Egito (bem como da Índia ou da China) não possuírem experiências similares, concluía-se pela impossibilidade da democracia implantar-se nos antigos países “coloniais”.

Assim, o Egito (e os demais países não-europeus) estaria condenado a viver regimes autoritários, a única forma de garantir a ordem e o progresso em face de massas atrasadas e, normalmente, fanatizadas pelo Islã ou outra religião não cristã.

Assim, o próprio conceito de “opinião pública” foi, para os analistas ocidentais, substituído pela idéia de “rua árabe”. Apenas a rua, as praças e o bazar seriam locais de reunião e de troca de opinião, em substituição precária e esporádica da noção ocidental de “opinião pública”. A “rua árabe” funcionava ora como espaço amedrontado do murmúrio, ora como o local de explosões violentas e sem direção. As redes tradicionais de sociabilidade árabes – como as mesquitas, os cafés e a ampla rede de instituições de ensino e, no caso egípcio, a Universidade de Al-Azhar, além da sociabilidade profunda nos locais de trabalho – nunca mereceram a necessária apreciação. Assim, criava-se a noção de uma “excepcionalidade árabe”, uma espécie de beco sem saída político, onde a escolha seria entre regimes autoritários capazes de controlar a multidão feroz ou o caos fanatizado das massas.

Camelos e Facebooks

O processo em curso no Egito – depois da experiência na Tunísia – mostra outra realidade, mais complexa e nuançada, onde a ciência política ocidental, e a percepção leiga, não foram capazes de entender os elementos constitutivos mais importantes.

Não só a população urbana dos grandes centros mostrou-se capaz de ampla mobilização – foi assim em Túnis, no Cairo ou Alexandria e aponta para ser em Argel e em Sanaa – como ainda foi capaz de fazê-lo sem apelo à violência endêmica e a xenofobia ou, o que se dizia acontecer, cair em mãos do islamismo radical. A surpresa adveio, assim, do conhecimento superficial do Mundo Árabe e, ao mesmo tempo, dos preconceitos ocidentais.

De forma muito apressada, a mídia ocidental – saturada de sua própria tecnologia e idolatrando produções como “Rede Social” – denominou o movimento de rebeldia como uma “Facebook Revolution”, dada a relevância, concreta, dos meios eletrônicos na dispersão das ideias de revolta. Ainda aqui, mais uma vez, as redes tradicionais de sociabilidade árabes, as formas de comunicação diárias nas escolas, mesquitas, nos cafés e no trabalho, são ignoradas em favor de uma percepção tecnologizante e ocidentalizada.

A piada do “Le Monde” mostrando um Mubarak atento à explicação do que é Facebook pelo seu camelo no caminho do exílio para Sharm el-Sheik é boa, mas é só uma piada.

As revoluções sempre ocorreram na história onde a repressão política e o mal-estar econômico e social perduraram sobre as populações. A revolução Russa (1917) ou a longa Revolução Chinesa (até 1949), bem como a Luta pelas Diretas Já, na redemocratização do Brasil, por exemplo, não foram produtos – e nem o poderiam ser – da Internet (ou mesmo do rádio ou da televisão). Havia, ontem como hoje, redes de sociabilização do protesto e da resistência, e a Internet pode ser um ótimo meio para a divulgação de novas (e velhas) ideias. Mas, a Internet não pode ser considerada a causa das revoluções.

Estaríamos, neste caso, em face de um novo preconceito, agora explicando a história das revoluções através de tecnologias recentíssimas. Seria apenas mais uma forma de etnocentrismo.

Uma revolução moderna

Um outro preconceito aceito sem debates no Ocidente é a certeza que os movimentos sociais no Mundo Árabe, quando movimentos de massa, são sempre islâmicos radicais. O que vemos hoje – apesar do claro processo de re-islamização das sociedades árabes pós-coloniais – é uma explosão de ideais e projetos de futuro em busca de uma vida melhor, adequando islamismo e bem-estar social. A “onda islamizante” já passou. Os jovens que protestam no Cairo são irmãos daqueles que protestam em terão contra a ditadura dos aiatolás.

A geração islamistas radical não está no Cairo e sim em Kandahar.

É bem verdade que tais preconceitos são sempre favoráveis aos interesses ocidentais. A crença arraigada na impossibilidade de uma democracia árabe, ou muçulmana, servia à perfeição para justificar o apoio ocidental aos regimes repressivos mais cruéis e abusivos existentes no mundo em face de um hipotético risco de ascensão do caos e fanatismo. Assim, a Europa comunitária (CE), pretensa pátria da democracia, manteve até bem tarde calada em face das revoluções em Túnis e no Cairo. Em Munique, na reunião anual sobre segurança e defesa, o chefe da OTAN – a aliança militar ocidental – apontou para as mudanças políticas no Mediterrâneo como a causa imperiosa para o aumento dos gastos militares.

Por sua vez, Israel – “a única democracia do Oriente Médio” – não só lamentou a revolta egípcia, como ainda desenvolveu sérias gestões junto a Washington visando demover o Presidente Obama em seu apoio aos militantes da Praça da Libertação no Cairo. Para o premier Netaniahu a segurança de Israel não se adéqua com a democracia no Oriente Médio.

Os espetaculares acontecimentos em Túnis e no Cairo abrem caminho para o debate série e não mais eivado de etnocentrismo sobre os diversos caminhos, autônomos, em direção a uma democracia sólida e humanitária. A preeminência ocidental, a modelagem única baseada na história desta pequena e hoje cada vez mais pobre península da Eurásia, não seria mais modelo obrigatório para todos.

A conciliação entre Islã e democracia, lançando por terra prateleiras inteiras de “saber ocidental”, encontra-se hoje, no Cairo, com seu próprio destino. Conforme a proclamação do Conselho Supremo do Egito busca-se a construção de um sistema “em que a liberdade do ser humano, o império da lei, a fé no valor da igualdade, a democracia plural, a justiça social e a erradicação da corrupção constituam as bases da legitimidade de qualquer sistema de governo que dirija o país”.
Palavras. Mas, são palavras que vieram de 18 dias de revolta e luta e custaram até o momento 300 mortos.

(*) Professor Visitante da Universidade Técnica de Berlim
Francisco Carlos Teixeira é professor Titular de História Moderna e Contemporânea da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

A fonte do mal

"A anarquia econômica da sociedade capitalista tal como existe hoje é, na minha opinião, a verdadeira fonte do mal" (Albert Einstein) 

domingo, 13 de fevereiro de 2011

Brasil en la Casa en la Feria

 El programa de la Casa en la Feria se inició este viernes con el panel Brasil en la Casa en el cual fueron presentados los títulos más recientes de autores brasileños en el catálogo de la institución. Entre ellos sobresale La columna Prestes, de Anita Leocadia Prestes, Premio Casa 1990, y cuyo lanzamiento contó con la presencia de la autora


Anita Leocadia Prestes, autora de La columna Prestes, Premio Casa 1990, sostuvo un diálogo con los asistentes a la actividad inaugural de la Casa en la Feria, en el cual relató su experiencia en la escritura del volumen y brindó un significativo testimonio de uno de los pasajes históricos más relevantes de Brasil en el siglo XX.

También asistió el Excmo. Señor Embajador de la República Federativa de Brasil en Cuba, José Eduardo Martins Felicio, quien agradeció la labor de difusión de la literatura brasileña que realiza la Casa con más de sesenta títulos publicados desde su fundación. Uno de ellos, Memorias póstumas de Blas Cubas, de Machado de Assis, inició la producción editorial de la Casa en los tempranos sesenta. El señor Martins Felicio recordó las primeras traducciones del importante escritor brasileño se hicieron en Uruguay y en Cuba.

Por su parte, Anita Prestes explicó que el libro fue en principio una tesis discutida en 1989, luego convertido en libro. El libro, que ya ha sido editado en Brasil, debido a un complejo proceso de labor editorial, ve la luz por primera vez en esta Feria.

El volumen refleja, resultado de una acuciosa investigación, la marcha que durante dos años estremeció a Brasil, liderada por Luis Carlos Prestes en Rio Grande do Sul. La autora se valió de documentos, fotografías y testimonios de algunos participantes y de sus hijos, así como de moradores de las regiones por donde atravesó la columna.

Anita, en su alocución, también fue desmontando el escenario sociopolítico en el cual surgió el movimiento del “tenientismo”, y cómo fue evolucionando a tomar una conciencia social y política mucho mayor hasta desembocar en el gran levantamiento de Rio Grande en 1924. Igualmente, la autora destacó el papel de la mujer en la Columna, así como la capacidad de este hecho para visibilizar el problema del campesinado, su organización social y que la solución al conflicto de la tierra era mucho más complejo.

Todo ello contribuyó a desbalancear la república oligárquica tan acendrada hacia el interior de la sociedad brasileña. Luego, obligado a exiliarse, Prestes se encuentra con el pensamiento marxista. Anita subrayó el interés creciente en la vida y obra política de Prestes por los jóvenes en Brasil. “Esta edición de la Casa ayudará también a que ese interés aumente”.

Piada de salão


É falso que exista uma luta de classes. Porque os pobres não tem classe alguma.
(Isso é o que os donos do poder estão sempre a incutir na mente das pessoas)

Defendendo a ciência

Por MARCELO GLEISER

Parece notícia velha, mas a ciência e o ensino da ciência continuam sob ataque. Por exemplo, uma busca na internet com as palavras "criacionismo", "escolas" e "Brasil" leva ao portal http://www.brasilescola.com/. Lá, há um texto, de Rainer Sousa, da Equipe Brasil Escola, que discute a origem do homem.

O autor afirma que o assunto é "um amplo debate, no qual filosofia, religião e ciência entram em cena para construir diferentes concepções sobre a existência da vida".

No final, diz: "sendo um tema polêmico e inacabado, a origem do homem ainda será uma questão capaz de se desdobrar em outros debates. Cabe a cada um adotar, por critérios pessoais, a corrente explicativa que lhe parece plausível".

"Critérios pessoais" para decidir sobre a origem do homem? A religião como "corrente explicativa" sobre um tema científico, amplamente discutido e comprovado, dos fósseis à análise genética?

Como é possível essa afirmação de um educador, em pleno século 21, num portal que leva o nome do nosso país e se dedica ao ensino?

Existem inúmeros exemplos da tentativa, às vezes vitoriosa, da infiltração de noções criacionistas no currículo escolar. Claro, se o criacionismo fosse estudado como fenômeno cultural, não haveria qualquer problema. Mas alçá-lo ao nível de teoria científica deturpa o sentido do que é ciência e de seu ensino.

Um país que não sabe o que é ciência está condenado a retornar ao obscurantismo medieval. Enquanto outros países estão trabalhando para educar seus jovens sobre a importância da ciência, aqui vemos uma corrente contrária, que parece não perceber que a ciência e as suas aplicações tecnológicas determinam, em grande parte, o sucesso de uma nação.

Muitos dirão que são contra a ciência apenas quando ela vai de encontro à fé. Tomam antibióticos, mas rejeitam a teoria da evolução.

Se soubessem que o uso de antibióticos, que aumenta as chances de que os germes criem imunidade por mutações genéticas, é uma ilustração concreta da teoria da evolução, talvez mudassem de ideia. Ou não. Nem o melhor professor pode ensinar quem não quer aprender.

Os cientistas precisam se engajar mais e em maior número na causa da educação do público em geral.

Mas devemos ter cuidado em como apresentar a ciência, sem fazê-la dona da verdade. Devemos celebrar os seus feitos, mas ser francos sobre suas limitações e desafios (a teoria da evolução não é um deles!) Não devemos usar a ciência como arma contra a religião, pois estaríamos transformando-a numa religião também. Achados científicos são postos em dúvida e teorias "aceitas" são suplantadas.

Bem melhor é explicar que a ciência cria conhecimento por meio de um processo de tentativa e erro, baseado na verificação constante por grupos distintos que realizam experimentos para comprovar ou não as várias hipóteses propostas.

Teorias surgem quando as existentes não explicam novas descobertas. Existe drama e beleza nessa empreitada, na luta para compreender o mundo em que vivemos. Ignorar o que já sabemos é denegrir a história da civilização. O problema não é não saber. O problema é não querer saber. É aí que ignorância vira tragédia.
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MARCELO GLEISER é professor de física teórica no Dartmouth College, em Hanover (EUA), e autor do livro "Criação Imperfeita"


FONTE: Folha de São Paulo, 13 de fevereiro de 2011

Anita Leocadia Prestes chega à Casa de las Américas com doações para a biblioteca da instituição

A presidente do Instituto Luiz Carlos Prestes, Anita Leocadia Prestes, participou na última sexta-feira, dia 11/2, às 14 horas, como convidada especial do evento "Brasil en la Casa", dedicado à literatura brasileira, uma das atividades da Casa de las Américas na XX Feira Internacional do Livro Cuba 2011. Na ocasião, aconteceu o lançamento do seu livro La Columna Prestes, vencedor do Prêmio Casa de las Américas em 1990.

Livros e documentos foram doados por Anita Prestes para o acervo da Biblioteca da Casa de las Américas, fornecendo informações valiosas sobre a história do Brasil e de seus pais, Luiz Carlos Prestes e Olga Benario Prestes.

Anita palestrou por cerca de uma hora sobre a história de seus pais, sua contribuição para os ideais da esquerda brasileira e os esforços em andamento para resgatar essa memória através do Instituto Luiz Carlos Prestes (http://www.ilcp.org.br/), o qual preside.

Entre os livros doados, está Anos tormentosos: Luiz Carlos Prestes: correspondência da prisão (1936-1945). Trata-se de um conjunto de três volumes da correspondência ativa e passiva de Prestes durante seu cárcere (cerca de 900 cartas), organizado pela própria Anita e por Lygia Prestes, irmã do revolucionário brasileiro.  Anita também doou o livro Uma Epopeia Brasileira: a Coluna Prestes, uma versão resumida do presente livro publicado em Cuba, cujo objetivo é divulgar a história de Luiz Carlos Prestes entre as gerações mais jovens do Brasil. Também foram doados, todos de autoria de Anita Prestes, os seguintes exemplares: Os comunistas brasileiros (1945-1956/58): Luiz Carlos e a política do PCB; Os militares e a Reação Republicana; Luiz Carlos Prestes e a Aliança Nacional Libertadora; Luiz Carlos Prestes: patriota, revolucionário, comunista.


FONTES:
http://laventana.casa.cult.cu/modules.php?name=News&file=article&sid=5982

http://www.casadelasamericas.com/ferialibro/feria2011/index.html

Revolucionária sem perder a ternura

Camarada Olga Benario, presente!!! Hoje e Sempre!!!


Em 12 de fevereiro de 1908, nascia uma grande revolucionária, que até o fim de sua vida lutou pelo que considerava justo, bom e o melhor do mundo, ou seja, uma sociedade livre da exploração do homem pelo homem, uma sociedade comunista.

 A grandeza dos sentimentos humanos, a firmeza inabalável de caráter e a convicção profunda na justeza de seus ideais revolucionários transparecem na última carta de Olga Benario Prestes escrita ao marido Luiz Carlos Prestes, e à filha, Anita Leocadia Prestes, no campo de concentração de Ravensbrück, antes de ser conduzida à morte em uma câmara de gás no campo de concentração de Bernburg, em abril de 1942.


CLIQUE SOBRE A CARTA PARA AMPLIAR O TAMANHO DA LETRA

Olga Benário Prestes e Luiz Carlos Prestes, meus pais

Por Anita Leocadia Prestes

Tive o privilégio de ser filha de Luiz Carlos Prestes e Olga Benário Prestes, duas pessoas extraordinárias, que deram suas vidas por uma causa nobre. Dois combatentes revolucionários que se dedicaram inteiramente à luta por justiça social, por liberdade, pelo socialismo e por um futuro melhor para a humanidade.

Olga, grávida de sete meses, foi deportada para a Alemanha nazista pelo governo Getúlio Vargas, em setembro de 1936. Companheira dedicada de Luiz Carlos Prestes, meu pai, a quem salvara a vida de ambos quando foram presos, pela polícia de Filinto Muller, em 54 de março daquele ano, no subúrbio carioca do Méier. na ocasião, ela se interpusera corajosamente entre os policiais e o marido, impedindo seu assassinato.

A deportação de Olga Benário Prestes e Elise Ewert – ambas militantes comunistas alemãs – foi um gesto de boa vontade de Vargas em relação a Hitler, expressando a aproximação então em curso entre os dois governos. Foi também vingança e castigo cruel impostos ao grande inimigo do regime varguista – Luiz Carlos Prestes, o “Cavaleiro da Esperança” para tantos brasileiros.

Olga e Elise viajaram ilegalmente, sem culpa formada, sem julgamento nem defesa. Na calada da noite foram embarcadas no navio cargueiro La Coruña, que partiu rumo a Hamburgo com ordens expressas de não parar em nenhum outro porto estrangeiro, pois havia precedentes de os portuários franceses e espanhóis resgatarem prisioneiros deportados para a Alemanha.

Minha mãe ficou presa incomunicável na prisão de mulheres Barminstrasse (Berlim), onde nasci, em novembro de 1936. Como resultado de importante e vigorosa campanha internacional pela libertação de Prestes e dos presos políticos no Brasil, assim como de Olga e de sua filha, fui entregue pela Gestapo à minha avó paterna – Leocadia Prestes – mulher valente e decidida, que encabeçava a campanha.

Quando me separaram de minha mãe contava com apenas 14 meses de idade. Não pude, portanto guardar nenhuma lembrança dela. Logo depois, Olga seria transferida para outra prisão, em condições muito piores, e mais tarde para o campo de concentração de Ravensbruck. Em abril de 1942, era assassinada numa câmara de gás no campo de Bernburg.

A tragédia que atingiu meus pais marcou minha vida. De que maneira? Poderia ter me tornado uma pessoa amargurada e decrescente da humanidade, convencida de sua maldade intrínseca. Ou poderia ter me levado a pensar que os homens, embora em sua maioria não sejam maus, facilmente se deixam arrastar pela maldade de alguns. sendo assim, não haveria por que acreditar no progresso da humanidade, não existiriam razões para qualquer otimismo em relação ao seu futuro.

Cresci e fui educada no seio de uma família comunista – a família de meu pai, que só pude conhecer em 1945, quando ele, após nove anos de prisão, num isolamento quase total, afinal foi libertado. Minha avó Leocadia, minha tia Lygia, que acabou sendo minha segunda mãe, meu próprio pai, minhas outras tias conduziram-me por outro caminho.

Desde a mais tenra idade, foi-me mostrado o exemplo de meus pais – dois revolucionários comunistas que passaram por indescritíveis sofrimentos em nome da causa maior, a causa da emancipação da humanidade da exploração do homem pelo homem. ou seja, nas palavras de Karl Marx, lutavam para que a humanidade ultrapassasse sua pré-história, ingressando na verdadeira história, fase em que seriam superadas as injustiças e desigualdades sociais, em que não mais existiria a alienação dos homens.

Desde cedo, aprendi com a vida de meus pais, com o exemplo de minha avó e, em especial com a martírio de Olga, que vale a pena lutar por um mundo melhor para toda a humanidade. Aprendi que não devemos compactuar a com a injustiça, que é necessário lutar contra ela e que, apesar de todas as dificuldades, das derrotas e sofrimentos, dos erros e dos fracassos, a humanidade caminha para a frente, e os homens encontram maneiras de aperfeiçoar seus modos de viver.

Hoje, na qualidade de historiadora que sou, entendo que esses ensinamentos recebidos na infância são verdadeiros: a história da humanidade nos mostra que o progresso é a tendência geral das sociedades humanas, embora se realize através de múltiplos e imprevisíveis retrocessos momentâneos, que por vezes podem lutar muito, levando em conta o quanto a vida humana é efêmera.

Em suas cartas enviadas do cárcere, meu pai revela a preocupação de que eu soubesse de que ele nem Olga se sentiam infelizes com a sorte que o destino lhes reservara. Pelo contrário, apesar dos sofrimentos, apesar da imensa tristeza de se encontrarem separados um do outro, longe da filha e dos que mais amavam, consideravam-se felizes por terem consciência do dever cumprido. E nisso, para eles, consistia a mais completa felicidade.

Da mesma forma, minha mãe, nas poucas cartas que conseguiu mandar do cativeiro, expressava o desejo de que eu fosse uma criança feliz e alegre, orgulhosa de meus pais se terem empenhado na luta por um mundo melhor, sem queixas nem arrependimentos. Seu sacrifício não era maior do que o de milhões de outros seres humanos que, naquele momento, enfrentavam os horrores da noite fascista que se abatera sobre a nossa civilização.

Havia, contudo, uma diferença importante. meus pais, distintamente de milhões de inocentes que sofriam e morriam sem conhecer as causas de tamanha desgraça, tinham consciência do fenômeno fascista e do seu perigo para a humanidade. Por isso, haviam lutado contra ele com todas as suas energias. derrotados, arcavam com as conseqüências de seu gesto. Mantinham-se, porém, confiantes de que o fascismo e sua variante alemã – o nazismo – seriam vencidos, como de fato se verificou, com a derrota dos países do eixo, no final da segunda guerra mundial.

Sua confiança decorria da profunda convicção científica que ambos haviam adquirido ao estudar o marxismo e ao travar conhecimento com a experiência pioneira de construção de uma sociedade socialista na União Soviética. A teoria marxista do socialismo científico lhes permitia compreender que o fascismo não podia ser explicado pela loucura de um homem ou pelas tradições autoritárias ou militaristas de algumas sociedades.

O fenômeno fascista expressava basicamente a crise que o sistema capitalista atravessava nos anos 30, representava a resposta do grande capital ao avanço do movimento operário em países como a Itália e a Alemanha.

A construção do socialismo na URSS lhes mostrava a superioridade desse sistema social em comparação o capitalista. Apesar de imensas dificuldades enfrentadas pelo povo soviético, sitiado pelas potências imperialistas, as grandes conquistas do socialismo já eram visíveis através da realização concreta dos direitos sociais alcançados pelos trabalhadores. Nenhum país capitalista fora capaz de resolver como em poucos anos fizera o primeiro país socialista.

Naqueles anos terríveis, quando o fascismo tomava conta da Europa e a guerra revelava toda a sua crueldade, poucos acreditavam na possibilidade de sua derrota. Posso orgulhar-me de que minha família – meus pais, minha avó Leocadia, minhas tias, conhecedora da fibra do povo soviético, jamais tenha duvidado de sua vitória no grande conflito que sacudiu o mundo.
Essa confiança, aliada à compreensão do caráter profundamente retrógrado do fascismo, que o condenava, portanto, ao desaparecimento, permitiram aos meus pais resistir, com firmeza e sem perder as esperanças, às terríveis provações a que foram submetidos durante aqueles anos tormentosos.

Segundo os testemunhos de companheiras do campo de concentração, Olga jamais se entregou ao desespero nem ao conformismo, lutou até o último momento de sua curta vida, infundindo coragem e confiança no futuro em todos aqueles que a rodeavam. Meu pai saiu da prisão para a luta; seu objetivo jamais foi a vingança, mas a conquista de um futuro melhor para o nosso povo e para a humanidade. Foi a esta causa generosa que ele dedicou o restante de sua vida.

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Salve Clementina!

“Uma grande lição que não pode ser esquecida: é a alegre coragem de viver do povo”

Em homenagem aos 110 anos de nascimento de Clementina de Jesus (7/02/1901 a 19/07/1987) trazemos o inspirado texto de José Ramos Tinhorão (que também aniversaria em 7 de fevereiro) sobre o disco de Clementina lançado em 1979. Em meio a lixos culturais da época – o autor, em seu laborioso ofício de dar foco, de destacar o melhor da criação musical do nosso povo realça no texto, com poesia e concisão, o clima de felizes conjunções alcançadas na elaboração do disco e lapida as características eternas daquela artista popular.


“Clementina” é uma festa onde se eleva uma voz que canta para a eternidade [*]

Por José Ramos Tinhorão

A caminho dos 78 anos, a grande cantora brasileira Clementina de Jesus pode ser ouvida novamente em um LP que, tendo por título apenas o seu nome Clementina (odeon 064 422 846), resume na demonstração de vitalidade da intérprete e no simbolismo da capa idealizada por Elifas Andreato uma grande lição que não pode ser esquecida: é a alegre coragem de viver do povo que precisamos imitar, e são as pegadas de seus melhores artistas que devemos seguir.

De fato, para significar o que representa no panorama da música popular brasileira a velha Clementina (que pode estar tendo neste trabalho o seu último disco, tal o desgaste que demonstra, após quase seis anos de uma trombose violenta), Elifas desenhou apenas o sulco de um pé sobre o chão de terra, entre duas folhas caídas, amarelas de outono, mas ao lado das quais brilham outras folhinhas novas, irrompendo da terra em verde renascer.

Não poderia ser mais feliz o artista Elifas Andreato com sua imagem, nem o produtor Fernando Faro ao criar para a gravação de Clementina de Jesus um clima de festa, de ritmo solto e de alegria. E isso porque é realmente como um sinal de futuro e um guia para o caminho que a voz da artista soa no disco: a velha Clementina não é uma cantora comum lançando o seu canto de cisne no ocaso da vida e da carreira, mas a antiga pastorinha dos Natais do início do século em Jacarepaguá, ensinando às meninas de hoje o canto eterno do povo.

Para este disco desde o início tão lindo pelo significado, o produtor convocou em nome da amizade e da admiração por Clementina não apenas alguns dos grandes nomes da música ligados de alguma maneira às fontes populares – Dona Ivone Lara, Matinho da Vila, Clara Nunes, Roberto Ribeiro, Cristina Buarque e João Bosco – mas também um grupo de músicos que, com Dino e César Faria à frente, nos violões, e gente como Jorginho do pandeiro e Luna e Eliseu no ritmo, são capazes de transformar a música de samba numa festa que faz som de discoteca parecer música de procissão.

O resultado de tudo isso é que o LP Clementina, longe de merecer apenas atenção como o derradeiro documento registrando o canto de uma velha artista que se despede, faz Clementina de Jesus renascer em seu canto glorioso como uma rainha carregada em um andor, vozes dos que se juntaram para entoar com ela, em coro, o hino de sua eternidade.


[*] Jornal do Brasil, Caderno B, Rio de Janeiro, sábado, 29/9/1979, página 2

Extraído do livro “Tinhorão – O Legendário” de Elizabeth Lorenzotti, Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 2010.

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Discografia de Clementina de Jesus


Discos-solo


• 1966 - Clementina de Jesus (Odeon MOFB 3463)

• 1970 - Clementina, cadê você? (MIS 013)

• 1973 - Marinheiro Só (Odeon SMOFB 3087)

• 1976 - Clementina de Jesus - convidado especial: Carlos Cachaça (EMI-Odeon SMOFB 3899)

• 1979 - Clementina e convidados (EMI-Odeon 064 422846)


Participações



• 1965 - Rosa de Ouro - Clementina de Jesus, Araci Cortes e Conjunto Rosa de Ouro (Odeon MOFB 3430)

• 1967 - Rosa de Ouro nº 2 - Clementina de Jesus, Araci Cortes e Conjunto Rosa de Ouro (Odeon MOFB 3494)

• 1968 - Gente da Antiga - Pixinguinha, Clementina de Jesus e João da Baiana (Odeon MOFB 3527)
• 1968 - Mudando de Conversa - Cyro Monteiro, Nora Ney, Clementina de Jesus e Conjunto Rosa de Ouro (Odeon MOFB 3534)

• 1968 - Fala Mangueira! - Carlos Cachaça, Cartola, Clementina de Jesus, Nélson Cavaquinho e Odete Amaral (Odeon MOFB 3568)


Coletâneas


• 1999 - Raízes do Samba - Clementina de Jesus (EMI 522659-2)

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Esta página encontra-se em http://www.cecac.org.br/

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Diminui a influência do Ocidente

Por Noam Chomsky

O mundo árabe está em chamas, informou a Al Jazeera no dia 27 de janeiro, enquanto os aliados de Washington perdem rapidamente influência em toda a região. A onda de choque foi posta em movimento pelo dramático levante na Tunísia que derrubou um ditador apoiado pelo Ocidente, com reverberações, sobretudo no Egito, onde os manifestantes enfrentaram a polícia de um ditador brutal. Alguns observadores compararam os acontecimentos com a queda dos domínios russos em 1989, mas há importantes diferenças.

Uma diferença crucial é que não existe um Mikhail Gorbachov entre as grandes potências que apoiam os ditadores árabes. Ao invés disso, Washington e seus aliados mantém o princípio bem estabelecido de que a democracia é aceitável só na medida em que se conforme a objetivos estratégicos e econômicos: ela é magnífica em território inimigo (até certo ponto), mas em nosso quintal, a menos que possa ser domesticada de forma apropriada.

Uma comparação com 1989 tem certa validade: Romênia, onde Washington manteve seu apoio a Nicolae Ceausescu, o mais cruel dos ditadores europeus, até que a aliança se tornou insustentável. Depois, Washington aplaudiu sua derrubada, quando se apagou o passado. É uma pauta típica: Ferdinando Marcos, Jean-Claude Duvalier, Chun Doo Hwan, Suharto e muitos outros gangsteres úteis. Pode estar em marcha no caso de Hosni Mubarak, junto com esforços de rotina para assegurar-se de que o regime sucessor não se desviará muito da senda apropriada.

A esperança atual parece residir no general Omar Suleiman, leal a Mubarak e recém nomeado vice-presidente do Egito. Suleiman, que durante muito tempo encabeçou os serviços de inteligência, é desprezado pelo povo rebelde quase tanto como o próprio ditador. Um refrão comum entre os especialistas é que o temor de um Islã radical requer uma oposição à democracia em bases pragmáticas. Mesmo que possa ter algum mérito, a formulação induz ao erro. A ameaça geral sempre foi a independência. No mundo árabe, os Estados Unidos e seus aliados apoiaram com regularidade radicais islâmicos, às vezes para prevenir a ameaça de um nacionalismo secular. Um exemplo conhecido é a Arábia Saudita, centro ideológico do Islã radical (e do terrorismo islâmico). Outro em uma longa lista é Zia ul-Haq, favorito do ex-presidente Ronald Reagan e o mais brutal dos ditadores paquistaneses, que implementou um programa de islamização radical (com financiamento saudita).

O argumento tradicional que se esgrime dentro e fora do mundo árabe é que não está ocorrendo nada, tudo está sob controle, como assinala Marwan Muasher, ex-funcionário jordaniano e atual diretor de investigação sobre Oriente Médio da Fundação Carnegie. Com essa linha de pensamento, as forças consolidadas sustentam que os opositores e estrangeiros que demandam reformas exageram as condições no terreno.

Portanto, o povo sai sobrando. A doutrina remonta a muito atrás e se generaliza no mundo inteiro, incluindo o território nacional estadunidense. Em caso de perturbação podem ser necessárias mudanças de tática, mas sempre com vista a recuperar o controle.

O vibrante movimento democrático da Tunísia foi dirigido contra um Estado policial com pouca liberdade de expressão ou associação e graves problemas de direitos humanos, encabeçado por um ditador cuja família era odiada por sua venalidade. Essa foi a avaliação do embaixador estadunidense Robert Godec em um telegrama de julho de 2009, filtrado por Wikileaks.

Portanto, para alguns observadores os “documentos (de Wikileaks) devem criar um cômodo sentimento entre o público estadunidense de que os funcionários não estão dormindo no posto”, ou seja, os telegramas escoram de tal maneira as políticas estadunidenses que é quase como se o próprio Obama os tivesse filtrando (como escreve Jacob Heilbrunn, em The National Interest).

Os EUA devem dar uma medalha a Assange, assinala um analista do Financial Times. O chefe de analistas de política externa, Gideon Rachman, escreve que a política externa estadunidense se desenha de forma ética, inteligente e pragmática e que a postura adotada publicamente pelos EUA sobre um tema dado é, em geral, a mesma postura mantida privadamente. Segundo este ponto de vista, Wikileaks enfraquece a posição dos teóricos da conspiração que questionam os nobres motivos que Washington proclama com regularidade.

O telegrama de Godec apoia estes juízos, ao menos se não olhamos mais longe. Se fazemos isso, como reporta o analista político Stephen Zunes em Foreign Policy in Focus, descobrimos que, com a informação de Godec em mãos, Washington proporcionou 12 milhões de dólares em ajuda militar a Tunísia. Na verdade, a Tunísia foi um dos cinco únicos beneficiários estrangeiros: Israel (de rotina), Egito, Jordânia – ditaduras do Oriente Médio – e Colômbia, que há muito tempo tem a pior história de direitos humanos e recebe a maior ajuda militar estadunidense no hemisfério.

A prova A de Heilbrunn é o apoio árabe às políticas estadunidenses dirigidas contra o Irã, conforme mostram os telegramas divulgados. Rachman também se serve deste exemplo, como fizeram os meios de comunicação em geral, para elogiar estas alentadoras revelações. As reações ilustram o quão profundo é o desprezo pela democracia entre certas mentes cultivadas.

O que não se menciona é o que pensa a população…o que se descobre com facilidade. Segundo pesquisas divulgadas em agosto de 2010 pela instituição Brookings, alguns árabes estão de acordo com Washington e com os comentaristas ocidentais no sentido de que o Irã é uma ameaça: 10 por cento. Em contraste, consideram que Estados Unidos e Israel são as maiores ameaças (77 e 88%, respectivamente).

A opinião árabe é tão hostil às políticas de Washington que uma maioria (57%) pensa que a segurança regional melhoraria se o Irã tivesse armas nucleares. Ainda assim, não ocorre nada, tudo está sob controle (como Marwan Muasher descreve a fantasia dominante). Os ditadores nos apoiam: podemos esquecer-nos de seus súbditos…a menos que rompam suas cadeias, o que exigiria ajustar a política.

Outras revelações também parecem apoiar os juízos entusiastas sobre a nobreza de Washington. Em julho de 2009, Hugo Llores, embaixador dos EUA em Honduras, informou Washington sobre uma investigação da embaixada relativa a “aspectos legais e constitucionais em torno da remoção forçada do presidente Manuel Mel Zelaya, em 28 de junho”. A embaixada concluiu que não há dúvida de que os militares, a Suprema Corte e o Congresso Nacional conspiraram em 28 de junho, no que representou um golpe ilegal e anticonstitucional contra o poder Executivo.

Muito admirável, exceto pelo fato de que o presidente Obama rompeu com quase toda América Latina e Europa ao apoiar o regime golpista e desculpar as atrocidades posteriores.

Talvez as revelações mais surpreendentes de Wikileaks tenham a ver com o Paquistão, investigadas pelo analista em política externa Fred Branfman, em Truthdig. Os telegramas revelam que a embaixada estadunidense está bem consciente de que a guerra de Washington no Afeganistão e no Paquistão não só intensifica o sentimento anti-EUA, mas também cria o risco de desestabilizar o Estado paquistanês e inclusive coloca a ameaça do pesadelo final: as armas nucleares poderiam cair em mãos de terroristas islâmicos.

Uma vez mais, as revelações devem criar um sentimento tranquilizador de que os funcionários não estão dormindo no posto (nas palavras de Heilbrun), enquanto Washington marcha inexoravelmente para o desastre.

* Noam Chomsky é professor de linguística do MIT (Massachusetts Institute of Technology).

Este texto foi publicado no diário mexicano La Jornada

Tradução de Katarina Peixoto para Carta Maior:

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

Olga Benario Prestes: um exemplo para os jovens de hoje


A revolucionária, até o último dia de sua trágica existência, manteve-se firme perante o inimigo e solidária com as companheiras

Por Anita Leocadia Prestes

Olga Benario Prestes nasceu em Munique (Alemanha) a 12 de fevereiro de 1908. Aos quinze anos de idade, sensibilizada pelos graves problemas sociais presentes na Alemanha dos anos de 1920, Olga viria a aproximar-se da Juventude Comunista, organização política em que passaria a militar ativamente. Aos 16 anos, apaixonada pelo jovem dirigente comunista Otto Braum, Olga sai da casa paterna e junto com o companheiro viaja para Berlim, onde ambos irão desenvolver intensa atividade política no bairro operário de Neukölln. Embora vivendo com nomes falsos, na clandestinidade, Olga e Otto acabam sendo presos em outubro de 1926. Ainda que Olga tenha ficado detida apenas dois meses, Otto permaneceu preso, acusado de “alta traição à pátria”. Em abril de 1928, Olga, à frente de um grupo de jovens comunistas, lidera assalto à prisão de Moabit para libertar Otto. A ação foi coroada de êxito total, pois além de o prisioneiro ter escapado da prisão de “segurança máxima”, Olga e seus camaradas conseguiram fugir incólumes. A cabeça de Olga é posta a prêmio pelas autoridades alemãs.

Tarefa internacional

Por decisão do Partido Comunista, Olga e Otto viajaram clandestinamente para Moscou, onde a jovem comunista de apenas 20 anos se torna dirigente destacada da Internacional Comunista da Juventude. No final de 1934, já separada de Otto, Olga recebe a tarefa da Internacional Comunista de acompanhar Luiz Carlos Prestes em sua viagem de volta ao Brasil, zelando pela sua segurança, uma vez que o governo Vargas decretara sua prisão. Prestes e Olga partiram de Moscou no final de dezembro de 1934, viajando com passaportes falsos, como marido e mulher, apesar de estarem se conhecendo naqueles dias. Durante a longa e acidentada viagem rumo ao Brasil, os dois se apaixonam, tornando-se efetivamente marido e mulher.

Em março de 1935, Prestes é aclamado, no Rio de Janeiro, presidente de honra da Aliança Nacional Libertadora (ANL), uma ampla frente única, cujo programa visava a luta contra o imperialismo, o latifúndio e a ameaça fascista, que pairava sobre o mundo e também sobre o Brasil. Prestes e Olga chegam ao Brasil em abril desse ano, passando a viver clandestinamente na cidade do Rio de Janeiro. O “Cavaleiro da Esperança” torna-se a principal liderança do movimento antifascista no Brasil e, assessorado o tempo todo por Olga, participa da preparação da insurreição armada contra o governo Vargas, a qual deveria estabelecer no país um governo Popular Nacional Revolucionário, representativo das forças sociais e políticas agrupadas na ANL.

Repressão e prisão

Com o insucesso dos levantes de novembro de 1935, desencadeia-se violenta repressão policial contra os comunistas e seus aliados. Em 5 de março de 1936, Prestes e Olga são presos no subúrbio carioca do Méier por ordem do famigerado capitão Filinto Muller, então chefe de polícia do governo Vargas. A ordem expedida aos agentes policiais era clara – a liquidação física de Luiz Carlos Prestes. No momento da prisão, Olga salvou-lhe a vida, interpondo-se entre ele e os policiais, impedindo o assassinato do líder revolucionário. Uma vez localizados e presos, Prestes e Olga foram violentamente separados. Ele, conduzido para o antigo quartel da Polícia Especial, no morro de Santo Antônio, no centro do Rio. Olga, após uma breve passagem pela Polícia Central, foi levada para a Casa de Detenção, situada então à rua Frei Caneca, onde ficou detida junto às demais companheiras que haviam participado do movimento da ANL.

Extradição

Prestes e Olga nunca mais se veriam. Em setembro de 1936, Olga, grávida de sete meses, era extraditada para a Alemanha hitlerista pelo governo de Getúlio Vargas. Junto com Elise Ewert, outra comunista e internacionalista alemã que participara da luta antifascista no Brasil, foi embarcada à força, na calada da noite, no navio cargueiro alemão “La Coruña”, viajando ilegalmente, sem culpa formada, sem julgamento nem defesa. O comandante do navio recebeu ordens expressas do cônsul alemão no Brasil para dirigir-se direto a Hamburgo, sem parar em nenhum outro porto estrangeiro, pois havia precedentes de os portuários franceses e espanhóis resgatarem prisioneiros deportados para a Alemanha, quando tais navios aportavam à Espanha ou à França. Após longa e pesada travessia, as duas prisioneiras foram conduzidas incomunicáveis para a prisão de mulheres de Barnimstrasse, em Berlim, onde Olga deu à luz sua filha Anita Leocadia, em novembro de 1936.

Numa exígua cela dessa prisão, submetida a regime de rigoroso isolamento, Olga conseguiu criar a filha até a idade de 14 meses, graças à ajuda, em alimentos, roupas e dinheiro, que recebeu da mãe e da irmã de Prestes. Ambas se encontravam em Paris dirigindo a campanha internacional de solidariedade aos presos políticos no Brasil. Com a deportação de Olga, a campanha se ampliara em defesa da esposa de Prestes e de sua filha. Várias delegações estrangeiras foram à Alemanha pressionar a Gestapo, obtendo afinal a entrega da criança à avó paterna – Leocádia Prestes, mulher valente e decidida, a quem o grande poeta chileno Pablo Neruda dedicou o poema Dura Elegia, que se inicia com o verso : “Señora, hiciste grande, más grande, a nuestra América...”

Assassinada numa câmara de gás

A campanha internacional, que atingiu vários continentes, não conseguiu, contudo, a libertação de Olga. Logo depois ela seria transferida para a prisão de Lichtenburg, situada a cem quilômetros ao sul de Berlim. Um ano mais tarde, Olga era confinada no campo de concentração de Ravensbruck, onde juntamente com milhares de outras prisioneiras seria submetida a trabalhos forçados para a indústria de guerra da Alemanha nazista. A situação de Olga seria particularmente penosa, pois carregava consigo duas pechas consideradas fatais – a de comunista e a de judia. Em abril de 1942, Olga era transferida, numa leva de prisioneiras marcadas para morrer, para o campo de concentração de Bernburg, onde seria assassinada numa câmara de gás.

O exemplo

Olga, segundo os depoimentos de todos que a conheceram e conviveram com ela, nunca vacilou diante das grandes provações que teve que enfrentar. Até o último dia de sua trágica existência, manteve-se firme perante o inimigo e solidária com as companheiras. Ao despedir-se do marido e da filha, antes de ser levada para a morte, escreveu: ”Lutei pelo justo, pelo bom e pelo melhor do mundo”; “até o último momento manter-me-ei firme e com vontade de viver”.

A vida e a luta de uma revolucionária como Olga, comunista e internacionalista, não foi em vão; seu heroísmo serve de exemplo e de inspiração para os jovens de hoje.

Anita Leocadia Prestes é professora do Programa de Pós-graduação em História Comparada da UFRJ e Presidente do Instituto Luiz Carlos Prestes.

Artigo publicado originalmente na edição 414 do Brasil de Fato.
http://www.brasildefato.com.br/node/5617

Uma ópera para Olga Benario Prestes

Para homenagear a passagem dos 103 anos de nascimento de Olga Benario Prestes, assista e ouça trechos da ópera Olga, de Jorge Antunes.

Presos da Rua Frei Caneca cantando A Internacional
http://www.youtube.com/watch?v=5wq31TPfLDU


Ária Anita Livre (cena em que Olga recebe a notícia de que a pequena Anita está viva, com a avó)
http://www.americasnet.com.br/antunes/aria_anita_livre_de_Olga


Grande Ária Final de Olga (A carta de despedida)http://www.americasnet.com.br/antunes/grande_aria_final_de_Olga/

sábado, 5 de fevereiro de 2011

Tunísia, Egito, Marrocos...Essas “ditaduras amigas”

Ignacio Ramonet

Uma ditadura na Tunísia? No Egito, uma ditadura? Vendo os meios de comunicação se esbaldarem com a palavra “ditadura” aplicada a Tunísia de Bem Alí e ao Egito de Moubarak, os franceses devem estar se perguntando se entenderam ou leram bem. Esses mesmos meios de comunicação e esses mesmos jornalistas não insistiram durante décadas que esses dois “países amigos” eram “Estados moderados”? A horrível palavra “ditadura” não estava exclusivamente reservada no mundo árabe muçulmano (depois da destruição da “espantosa tirania” de Saddam Hussein no Iraque) ao regime iraniano? Como? Havia então outras ditaduras na região? E isso foi ocultado pelos meios de comunicação de nossa exemplar democracia? Eis aqui, em todo caso, um primeiro abrir de olhos que devemos ao rebelde povo da Tunísia. Sua prodigiosa vitória liberou os europeus da “retórica hipócrita de ocultamento” em vigor em nossas chancelarias e em nossa mídia. Obrigados a tirar a máscara, simulam descobrir o que sabíamos há algum tempo (1), a saber, que as “ditaduras amigas” não são mais do que isso: regimes de opressão.

Sobre esse assunto, os meios de comunicação não têm feito outra coisa do que seguir a “linha oficial”: fechar os olhos ou olhar para o outro lado confirmando a ideia de que a imprensa só é livre em relação aos fracos e aos povos isolados. Por acaso Nicolás Sarkozy não teve a altivez de assegurar que na Tunísia “havia uma desesperança, um sofrimento, um sentimento de angústia que, precisamos reconhecer, não havíamos apreciado em sua justa medida”, ao se referir ao sistema mafioso do clã Ben Alí-Trabelsi?

“Não havíamos apreciado em sua justa medida...” Em 23 anos...Apesar de contar, neste país, com serviços diplomáticos mais prolíficos que os de qualquer outro país...Apesar da colaboração em todos os setores da segurança (polícia, inteligência...) (2). Apesar das estâncias regulares de altos responsáveis políticos e midiáticos que estabeleciam ali descomplexadamente seus locais de veraneio...Apesar da existência na França de dirigentes exilados da oposição tunisiana, mantidos marginalizados como pesteados pelas autoridades francesas e com acesso proibido durante décadas aos grandes meios de comunicação... Democracia ruinosa...

Na realidade, esses regimes autoritários foram (e seguem sendo) protegidos de modo complacente pelas democracias europeias, que desprezaram seus próprios valores sob o pretexto de que constituíam baluartes contra o islamismo radical (3). O mesmo argumento cínico usado pelo Ocidente durante a Guerra Fria para apoiar ditaduras militares na Europa (Espanha, Portugal, Grécia e Turquia) e na América Latina, pretendendo impedir a chegada do comunismo ao poder.

Que formidável lição das sociedades árabes revolucionárias aqueles que, na Europa, os descreviam em termos maniqueístas, ou seja, como massas dóceis submetidas a tiranos orientais corruptos ou como multidões histéricas possuídas pelo fanatismo religioso. E agora, de repente, elas surgem nas telas de nossos computadores e televisores (conferir o admirável trabalho da Al-Jazeera), preocupadas com o progresso social, não obcecadas pela questão religiosa, sedentas de liberdade, cansadas da corrupção, detestando as desigualdades e reclamando democracia para todos, sem exclusões.

Longes das caricaturas binárias, esses povos não constituem de modo algum uma espécie de “exceção árabe”, mas sim se assemelham em suas aspirações políticas ao resto das ilustradas sociedades urbanas modernas. Um terço dos tunisianos e quase um quarto dos egípcios navegam regularmente pela internet. Como afirma Moulay Hicham El Alaoui: “Os novos movimentos já não estão marcados pelos velhos antagonismos como anti-imperialismo, anticolonialismo ou antisecularismo. As manifestações na Tunísia e no Egito são, até aqui, desprovidas de todo simbolismo religioso. Constituem uma ruptura geracional que refuta a tese do excepcionalismo árabe. Além disso, esses movimentos são animados pelas novas metodologias de comunicação da internet. Eles propõem uma nova versão da sociedade civil, onde o rechaço ao autoritarismo anda de mãos dadas com o rechaço à corrupção” (4).

Especialmente graças às redes sociais digitais, as sociedades da Tunísia e do Egito se mobilizaram com grande rapidez e puderam desestabilizar o poder em tempo recorde. Ainda antes de os movimentos terem a oportunidade de “amadurecer” e favorecer a emergência de novos dirigentes entre eles. É uma das raras ocasiões onde, sem líderes, sem organizações dirigentes e sem programa, a simples dinâmica da exasperação das massas bastou para conseguir o triunfo da revolução. Trata-se de um momento frágil e, sem dúvida, as grandes potências já estão trabalhando, especialmente no Egito, para que “tudo mude sem que nada mude”, segundo o velho adágio de O Leopardo. Esses povos que conquistaram sua liberdade devem lembrar a advertência de Balzac: “Se matará a imprensa assim como se mata um povo, outorgando-lhe a liberdade” (5). Nas “democracias vigiadas” é muito mais fácil domesticar legitimamente um povo do que nas antigas ditaduras. Mas isso não justifica sua manutenção. Nem deve ofuscar o ardor de derrubar uma tirania.

A derrocada da ditadura na Tunísia foi tão veloz que os demais povos magrebinos e árabes chegaram à conclusão de que essas autocracias – as mais velhas do mundo – estavam na verdade profundamente corroídas e não eram, portanto, mais do que “tigres de papel”. Esta demonstração está ocorrendo também no Egito.

Daí esse impressionante levante dos povos árabes, que leva a pensar inevitavelmente no grande florescimento das revoluções europeias de 1848, na Jordânia, Iêmen, Argélia, Síria, Arábia Saudita, Sudão e também no Marrocos.

Neste último país, uma monarquia absoluta, na qual o resultado das “eleições” (sempre viciado) é decidido pelo soberano, que designa segundo sua vontade os chamados ministros “da soberania”, algumas dezenas de famílias próximas ao trono continuam controlando a maioria das riquezas (6). Os telegramas divulgados por Wikileaks revelaram que a corrupção chega a níveis de indecência descomunal, maiores que os encontrados na Tunísia de Ben Alí, e que as redes mafiosas teriam todas como origem o Palácio. Trata-se de um país onde a prática da tortura está generalizada e o amordaçamento da imprensa é permanente.

No entanto, como na Tunísia de Ben Alí, esta “ditadura amiga” se beneficia da grande indulgência dos meios de comunicação e da maior parte de nossos responsáveis políticos (7), os quais minimizam os sinais do começo de um “contágio” da rebelião. Quatro pessoas se imolaram, incendiando suas próprias vestes. Produziram-se manifestações de solidariedade com os rebeldes da Tunísia e do Egito em Tânger, Fez e Rabat (8). Acossadas pelo medo, as autoridades decidiram subvencionar preventivamente os artigos de primeira necessidade para evitar as “rebeliões do pão”. Importantes contingentes de tropas do Saara Ocidental teriam sido deslocados aceleradamente para Rabat e Casablanca. O rei Mohamed VI e alguns colaboradores teriam viajado a França no dia 29 de janeiro para consultar especialistas em ordem pública do Ministério do Interior francês (9).

Ainda que as autoridades desmintam as duas últimas informações, está claro que a sociedade marroquina está seguindo os acontecimentos da Tunísia e do Egito, com excitação. Preparados para unir-se ao impulso de fervor revolucionário e quebrar de uma vez por todas as travas feudais. E para cobrar todos aqueles que, na Europa, foram cúmplices durante décadas dessas “ditaduras amigas”.



NOTAS

(1) Ler, por exemplo, de Jacqueline Boucher "La société tunisienne privée de parole" e de Ignacio Ramonet "Main de fer en Tunisie", Le Monde Diplomatique, de fevereiro de 1996 e de julho de 1996, respectivamente.
(2) Quando Mohamed Bouazizi se imolou incendiando-se em 17 de dezembro de 2010, quando a insurreição ganhava todo o país e dezenas de tunisianos rebeldes continuavam caindo sob as balas da repressão, o prefeito de Paris, Bertrand Delanoé, e a ministra de Relações Exteriores, Michèle Alliot-Marie consideravam absolutamente normal ir festejar alegremente em Tunis.
(3) Ao mesmo tempo, Washington e seus aliados europeus, sem aparentemente medir as contradições, apoiam o regime teocrático e tirânico da Arábia Saudita, principal sede do islamismo mais obscurantista e mais expansionista.
(5) Honoré de Balzac, Monographie de la presse parisienne, Paris, 1843.
(6) Ler Ignacio Ramonet, "La poudrière Maroc", Mémoire des luttes, setembro 2008. http://www.medelu.org/spip.php?article111  
(7) Desde Nicolas Sarkozy até Ségolène Royal, passando por Dominique Strauss-Kahn, que possui um “ryad” em Marrakesh, os dirigentes políticos franceses não têm o menor escrúpulo em passar suas férias de inverno entre estas “ditaduras amigas”.
(8) El País, 30 de janeiro de 2011- http://www.elpais.com/Manifestaciones/Tanger/Rabat  
(9) Ler El País, 30 de janeiro de 2011 http://www.elpais.com/..Mohamed/VI/va/vacaciones y Pierre Haski, "Le discret voyage du roi du Maroc dans son château de l´Oise", Rue89, 29 de janeiro de 2011. http://www.rue89.com/..le-roi-du-maroc-en-voyage-discret...188096http://Manifestaciones/Tanger/Rabat  

Tradução: Marco Aurélio Weissheimer

FONTE: http://www.cartamaior.com.br/templates/materiaMostrar.cfm?materia_id=17360

África, o continente de todos

Por Emir Sader

Grande parte da humanidade olha para a África como quem oha pela janela (de um hotel de 5 estrelas) e não como quem olha para o espelho. No entanto, toda a história mundial tem seu espelho na África. Todos os outros continentes - América, Ásia - foram espoliados para que a Europa pudesse trilhar as chamadas revoluções comercial e industrial, no processo de acumulação primitiva. Mas nenhum continente sofreu, além da dilapidação dos seus recursos naturais, da opressão das suas culturas e dos seus povos, a escravidão nas proporções de genocídio que ela assumiu na África.

Praticamente toda a população adulta da África foi submetida à degradante situação de serem levados como gado para trabalhar como escravos, como seres inferiores, para produzir riquezas para a elite branca europeia. O destino da África ficou comprometido pelo colonialismo, pela escravidão e pelas diversas formas de imperialismo. Foi também vítima privilegiada do racismo, da discriminação contra os negros, disseminada pela elite branca por todo o mundo.

A África do Sul, o país economicamente mais desenvolvido do continente, até pouco tempo ainda sofria o apartheid. Mas as elites brancas do mundo consideram a África um caso de continente vítima de si mesma: do tribalismo, do atraso, dos conflitos étnicos, dos massacres, das epidemias, das catástrofes. Tentam fazer a África vítima da natureza e não vítima da história - da colonização, da escravidão, do imperialismo. Um caso perdido, para as potências imperiais. Um caso de opressão, exploração, discriminação.

Hoje a África tornou-se abastecedor de matérias primas para as potências da globalização, que continuam a extrair os recursos naturais por meio de grandes corporações ou diretamente de governos. As mesmas potências que, na Conferência de 1890 concluíram a repartição do continente entre eles, fatiando-o com regra e compasso, hoje disputam entre si os recursos que alimentam seus processos de industrialização e de consumismo exacerbado.

Os colonizadores e os imperialistas não consideram que sejam devedores da África, que devam contemplar como continente privilegiado no apoio dos outros, por tudo ao que submeteram os países e os povos africanos.

Podemos julgar a política externa de cada governo e a visão de cada povo do mundo pela atitude que têm com a África. Ao invés de continente marginal, deveria ocupar o lugar central nas relações internacionais contemporâneas. Toda politica externa que não privilegia a África, está errada.

FONTE: Blog do Emir

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Por que temer o espírito revolucionário árabe?

Slavoj Zizek

A reação ocidental aos levantes no Egito e na Tunísia frequentemente demonstra hipocrisia e cinismo.

O que não pode deixar de saltar aos olhos nas revoltas Tunísia e Egito é a notável ausência do fundamentalismo islâmico. Na melhor tradição democrática secular, as pessoas simplesmente se revoltaram contra um regime opressivo, sua corrupção e pobreza, e demandaram liberdade e esperança econômica. A sabedoria cínica dos liberais ocidentais - de acordo com os quais, nos países árabes, o genuíno senso democrático é limitado a estreitas elites liberais enquanto que a vasta maioria só pode ser mobilizada através do fundamentalismo religioso ou do nacionalismo - se provou errada.

Quando um novo governo provisório foi nomeado na Tunísia, ele excluiu os islâmicos e a esquerda mais radical. A reação dos liberais presunçosos foi: bom, eles são basicamente a mesma coisa; dois extremos totalitários - mas as coisas são simples assim? O verdadeiro antagonismo de longa data não é precisamente entre islâmicos e a esquerda? Ainda que eles estejam momentaneamente unidos contra o regime, uma vez que se aproximam da vitória, a sua unidade se parte e eles se engajam numa luta mortal, frequentemente mais cruel do que aquela travada contra o inimigo comum.

Nós não testemunhamos precisamente tal luta depois das eleições no Irã? As centenas de milhares de apoiadores de Mousavi lutavam pelo sonho popular que sustentou a revolução de Khomeini: liberdade e justiça. Ainda que esse sonho tenha sido utópico, ele levou a uma explosão de criatividade política e social de tirar o fôlego, experiências de organização e debates entre estudantes e pessoas comuns. Essa abertura genuína, que liberou forças de transformação social então desconhecidas, um momento no qual tudo pareceu possível, foi então gradualmente sufocada pela dominação do controle político e do establishment islâmico.

Mesmo no caso de movimentos claramente fundamentalistas, é preciso ser cuidadoso para não perder de vista o componente social. O Talibã é usualmente apresentado como um grupo fundamentalista islâmico que impõe suas leis pelo terror. No entanto, quando, na primavera de 2009, eles tomaram o Vale de Swat no Paquistão, o The New York Times noticiou que eles arquitetaram "uma revolta de classe que explora profundas fissuras entre um pequeno grupo de ricos donos de terra e seus inquilinos desprovidos de um chão". Se, ao "se aproveitar" dos apuros dos agricultores, o Talibã estava criando, nas palavras do New York Times, "um alerta sobre os riscos ao Paquistão, que permanece sendo largamente feudal", o quê impediu os democratas liberais do Paquistão e dos Estados Unidos de, da mesma forma, "se aproveitarem" desses apuros e de tentarem ajudar os agricultores sem terra? Ocorre de as forças feudais no Paquistão serem aliados naturais da democracia liberal?

A conclusão inevitável a ser delineada é que a ascensão do islamismo radical sempre foi o outro lado do desaparecimento da esquerda secular nos países muçulmanos. Quando o Afeganistão é retratado como sendo o exemplo máximo de um país fundamentalista islâmico, quem ainda se lembra que, há quarenta anos atrás, ele era um país com uma forte tradição secular, incluindo um poderoso partido comunista que havia tomado o poder lá sem dependência da União Soviética? Para onde essa tradição secular foi?

É crucial analisar os eventos em andamento na Tunísia e no Egito (e no Iémen e ... talvez, com esperança, até na Arábia Saudita) em contraste com esse pano de fundo. Se a situação for eventualmente estabilizada de modo ao antigo regime sobreviver, apenas passando por alguma cirurgia cosmética liberal, isso irá gerar um intransponível retrocesso fundamentalista. Para que o legado chave do liberalismo sobreviva, os liberais precisam da ajuda fraternal da esquerda radical. De volta ao Egito, a mais vergonhosa e perigosamente oportunista reação foi aquela de Tony Blair noticiada na CNN: mudança se necessário, mas deverá ser uma mudança estável. Mudança estável no Egito, hoje, só pode significar um compromisso com as forças de Mubarak na forma de ligeiramente alargar o círculo do poder. Este é o motivo pelo qual é uma obscenidade falar em transição pacífica agora: pelo esmagamento da oposição, o próprio Mubarak tornou isso impossível. Depois de Mubarak enviar o exército contra os protestantes, a escolha se tornou clara: ou uma mudança cosmética na qual alguma coisa muda para que tudo continue na mesma, ou uma verdadeira ruptura.

Aqui, portanto, é o momento da verdade: ninguém pode arguir, como no caso da Argélia uma década atrás, que permitir eleições verdadeiramente livres equivale a entregar o poder para fundamentalistas islâmicos. Outra preocupação liberal é de que não existe poder político organizado para tomar o poder caso Mubarak parta. É claro que não existe; Mubarak se assegurou disso ao reduzir a oposição a ornamentos marginais, de forma que o resultado acaba sendo como o título do famoso romance de Agatha Christie, "E Então Não Havia Ninguém". O argumento de Mubarak - é ele ou o caos - é um argumento contra ele.

A hipocrisia dos liberais ocidentais é de tirar o fôlego: eles publicamente defendem a democracia e agora, quando o povo se rebela contra os tiranos em nome de liberdade e justiça seculares, não em nome da religião, eles estão todos profundamente preocupados. Por que aflição, por que não alegria pelo fato de que se está dando uma chance à liberdade? Hoje, mais do que nunca, o antigo lema de Mao Tsé-Tung é pertinente: "Existe um grande caos abaixo do céu - a situação é excelente".

Para onde, então, Mubarak deve ir? Aqui, a resposta também é clara: para Haia. Se existe um líder que merece sentar lá, é ele.

(*) Nota do Tradutor: o título original do livro de Agatha Christie é "And Then There Were None", conhecido aqui no Brasil como "O Caso dos Dez Negrinhos".


Referências feitas pelo autor:

http://www.guardian.co.uk/world/2010/feb/02/iran-mousavi-dictatorship-khameini-protests


http://www.nytimes.com/2009/04/17/world/asia/17pstan.html?_r=1


Fonte: http://www.guardian.co.uk/commentisfree/2011/feb/01/egypt-tunisia-revolt

Traduzido por Henrique Abel para o Diário Liberdade.